Uma viagem pelo dia-a-dia suburbano na Reboleira. Um baile de assassinos de Dinis Machado. Uma casa colorida por discussões do fim do mundo. A arquitetura da violência doméstica. Estas quatro histórias fazem parte do rico e complexo universo de 183 curtas-metragens portuguesas que, entre mais de seis mil candidaturas nacionais e internacionais, foram escolhidas para constar do programa da 31.ª edição do festival Curtas Vila do Conde, que terminou no fim de semana. Objetos tão singulares como complexos, que demonstram a boa saúde do género: António Pinhão Botelho (“Blackpot”), Mónica Lima (“Natureza Humana”), Basil da Cunha (“2720”), Duarte Coimbra (“Final Feliz :)”), Inês Teixeira (“Corpos Cintiliantes”), são só alguns dos nomes que é preciso decorar. Mas também Leonor Teles, Gabriel Abrantes, João Salaviza, são outros autores que começaram precisamente por aqui e têm hoje carreiras consolidadas no cinema.
É, por isso, quase uma verdade absoluta: todos os anos há uma curtas-metragens portuguesas em festivais internacionais, alguma acaba por ser premiada (ou mais do que uma). O caso mais recente, que já ultrapassou a estrondosa marca de mais de cem distinções foi o de “Ice Merchants”, de João Gonzalez, que quase trouxe o Óscar este ano. Entretanto, já saiu das salas portuguesas. Se ficou com curiosidade para saber mais sobre as sinopses do início, das duas uma: ou segue o percurso das obras em questão, nas plateias dos festivais onde poderão ser apresentadas, ou espera que sejam projetadas em salas portuguesas. Mas esta é uma hipótese que muitas vezes não acontece.
[trailer do filme “Ice Merchants” de João Gonzalez:]
Estas curtas-metragens podem passar pela Cinemateca, por plataformas como a Filmin ou o NovoCine, criada por Afonso Mota e Madalena Fragoso, nos canais TVCine, nas viagens da TAP ou na RTP2. Podem ser revisitadas em ciclos específicos como os que acontecem nos Cinemas Trindade ou Batalha, em iniciativas fora das grandes cidades ou até repescadas nos festivais, do DocLisboa ao Fest — Novos Realizadores/Novo Cinema. Mas aquilo que se fez este ano — exibir, a nível nacional, em salas comerciais, um filme de animação premiadíssimo com uma duração de apenas 15 minutos — foi inédito. Este ano, por exemplo, é pouco provável que aconteça, já que não é provável que o feito de “Ice Merchants” se venha a repetir muito em breve. E fora os festivais, escasseia uma estratégia continuada de exibição deste tipo de cinema.
O Observador falou com vários autores, entre produtores e programadores, de Cannes a Vila do Conde, para fazer um raio-x ao universo das curtas metragens, um espaço de experimentação, campo de regresso para velhos cineastas e uma primeira aventura para tantos outros em construção. É lá que mora um financiamento público que não costuma levantar queixas no setor — entre 2013, depois do “ano zero” em que não houve qualquer apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual, até 2022, os apoios para este formato aumentaram 550 mil euros, sendo que o bolo total se fica nos 1.790.000 euros. Em 1993, apenas sete foram apoiadas. Em 2022, o número chegou às 45, mais 25 do que em 2021, por exemplo. Ou não se levantam queixas, ou não há vozes que se consigam queixar. Talvez porque o reconhecimento tem vindo a crescer internacionalmente. Prémios? Annie Awards, Palma de Ouro, Leopardo de Ouro.
Há já muito tempo que a Escola Superior de Teatro e Cinema deixou de ser a única casa para formar talento que começa por dar os primeiros passos nas curtas-metragens. Como bem recorda Ricardo Vieira Lisboa, no blogue à Pala de Walsh, esta foi, durante muitos anos, a única escola de cinema no país. Entretanto, surgiram cursos, com um cruzamento entre áreas, deste as artes plásticas à fotografia ou à sociologia, ou mesmo universidades privadas e cursos técnicos, que desdobraram os criadores um pouco por todo o país. Os próprios festivais têm secções dedicadas a quem está a começar — uma vez com apoio das estruturas educativas, outras vezes sem apoio nenhum –, como o “Take One!” em Vila do Conde ou o “Novíssimos” do IndieLisboa.
Vão-se criando ajudas e outros tipos de apoio: ainda esta semana a ilha do Pico, nos Açores, anunciou que recebeu 16 candidaturas para um concurso de produção audiovisual. Há produtoras, como a Pedra no Sapato, que encontraram a sua galinha dos ovos de ouro neste formato. A Agência da Curta Metragem, criada em 1999 em Vila do Conde, tem trabalhado para prolongar a vida das curtas portuguesas e, dir-se-á, com bastante sucesso internacional. Mas se há cineastas que conseguem ver o seu trabalho chegar às salas e fazer um trajeto que, habitualmente, pode durar, no máximo, dois anos (com o objetivo de, um dia, passar para a longa-metragem), muitas produções dificilmente conseguem chegar ao público português.
De Cannes a Vila do Conde: e depois, fazer o quê?
Inês Teixeira fez-se anotadora. A pessoa responsável por cronometrar e pontuar, para que não existam erros entre a rodagem e a montagem, dos filmes e séries de Tiago Guedes ou até do mais recente sucesso “Rabo de Peixe “(Netflix). Tinha uma história de desejo invisível e adolescente para contar. Fez “Corpos Cintilantes”, da Terratreme, escolhida para estar na Semana da Crítica na edição deste ano em Cannes, que até mereceu elogios do ministro da Cultura Pedro Adão e Silva. Um grande cartão de visita que voltou a ser exibido em Vila do Conde, dois meses depois. Conseguiu o apoio do programa Garantir Cultura, lançado para curar as feridas deixadas pela pandemia de Covid-19, da Câmara Municipal de Leiria, do ICA e da GDA. Inês Teixeira, apesar de se estrear em terrenos tão importantes como o de Cannes, não fala como novata. Sabe bem o que significa mostrar um filme na riviera francesa: “Abre outras portas estar na Semana da Crítica. As curtas têm uma vida ingrata, muito pequena. Se não forem estreadas em festivais, ou, neste caso, em festivais grandes, com muita visibilidade, têm poucas pessoas e poucas sessões”.
A 1629 quilómetros de distância, encontramos Duarte Coimbra. Não é anotador, mas nas curtas-metragens é bom que se saiba fazer de tudo um pouco. Também já esteve em Cannes, na mesma secção de Inês Teixeira, mas em 2018, com o seu “Amor, Avenidas Novas”. Os dois estiveram em Vila do Conde. É um cinéfilo à séria. Tanto adora o último Indiana Jones como foi capaz de rever e rever um único plano de “Los Olvidados” de Buñuel. O seu “O Filme Feliz :)” surgiu para se debruçar sobre a morte de um familiar. Se a vida não resolve a dúvida, o cinema lá terá de o fazer. “Tenho de meter as entranhas cá para fora”, diz. Está neste momento a preparar a sua primeira longa-metragem em coprodução com o Brasil e a Pedra no Sapato. Mas isso fica para outras núpcias. “Nunca penso na vida das curtas-metragens, mas, até durante este festival, falei com a minha produtora sobre como seria bom que existisse um circuito para as curtas-metragens. Nos anos 90, realizadores como o João Nicolau ou o Miguel Gomes estreavam as suas curtas antes de outros filmes. Isso acabou. Era bom haver espaço para repensar essa distribuição para os filmes não estarem dependentes dos festivais e sim ao contrário”, conta ao Observador o autor lisboeta. Uma realidade que parece cada vez mais distante.
[trailer oficial do filme “Filme Feliz :)”]
Ao contrário do que se possa pensar, Duarte Coimbra quer fazer filmes para o maior número de pessoas. Não é por se andar em festivais alternativos que se ganha uma aversão ao comercial. O realizador trabalha com amigos, bastou olhar para a sua entourage em Vila do Conde. Colocou-os outra vez à frente do ecrã, mas este “Filme Feliz :)” foi feito para a família. Esta forma de trabalhar mais comunitária faz com que, para se viver (e não sobreviver) do cinema — uma realidade ainda não alcançada por Duarte Coimbra –, seja preciso trabalhar em filmes de pares. Aconteceu, por exemplo, já na competição nacional deste Curtas. Foi assistente de realização de Mónica Lima em “Natureza Humana”, também produzido pela Pedra no Sapato. “Interessa-me trabalhar com outras pessoas. É muito diferente de mim. Se for preciso esperar horas para filmar um gato no mesmo sítio com uma iluminação perfeita, espera-se. E às vezes é mesmo preciso saber esperar pelo gato”, conta.
Aqui, o tal gato chama-se o próximo festival. O próximo prémio. Ou o próximo sítio, se é que ele vai existir, onde o filme será exibido. Porque a competição é muita. A qualidade ainda mais. E o que aconteceu com João Gonzalez precisa de um conjunto específico de fatores quase irrepetível. “É um epifenómeno, não se consegue ter progressão, acontece tudo tão rápido”, garante. É melhor relembrar: mais de seis mil candidaturas foram enviadas para um único festival num país com cerca de dez milhões de habitantes. Mesmo assim, denotando-se um certo desalento, pelo menos na geração mais jovem de cineastas nacionais, parece não haver rivalidades. E pouca vontade de parar. “Já não temos todos as mesmas referências. Antes, em Portugal, vias um filme do António Reis e não sabias quando o voltarias a ver. Agora, com o telemóvel, podes estar a ver uma curta-metragem búlgara. Cada um, em Portugal, tenta fazer o seu caminho, mas não deixa de haver união, não sinto essa competição.” É preciso, portanto, “encontrar um lugar para o que quer que seja isto a que chamamos de cinema português”. “Estamos há muitos anos a tentar encontrar esse sítio e comunhão”, revela.
Miguel Dias é diretor da Agência da Curta Metragem, instituição apoiada pelo ICA que nasceu em 1999 em Vila do Conde. O objetivo é fazer com que a curta-metragem nacional chegue o mais longe possível. Tem ganhado cada vez mais destaque internacional, mas dificilmente consegue fazer regra do que aconteceu a João Gonzalez. O paradigma vai demorar a ser alterado. “Não há muitas portas que se abram a seguir às curtas-metragens serem exibidas em festival. Faltam canais de distribuição. É o que nós tentamos inventar. Tentar prolongar essa vida. Mas o fenómeno do João Gonzalez é raro. Penso mesmo que este ano não existe nenhum projeto que possa fazer esse percurso ou o da Laura Gonçalves com o seu ‘Homem do Lixo’. É normal”, revela.
De Cannes a Vila do Conde: mas e o circuito comercial?
Apesar dos números positivos de espectadores nos cinemas portugueses no primeiro semestre deste ano, Miguel Dias acredita que os efeitos provocados pelo novo coronavírus mudaram os hábitos de consumo. E se mudam para o consumo de longas-metragens, também o fazem para curtas. “Pode ser que agora se esteja a recuperar, sinto isso nesta edição do festival, mas também pode ser circunstancial. Ou tem a ver com o programa. Nunca sabemos.” Se faltam espectadores e canais de distribuição, será que faltam também apoios? Não tanto. A norte, o Porto, por exemplo, tem hoje um programa anual só dedicado às curtas-metragens. Mas ainda estamos longe do que se passa em França, por exemplo. “O ICA continua a ser quase o único a quem recorrer para se ter investimento na produção. Noutros países, como França, existem outros mecanismos de financiamento. Há até canais de televisão, como o Canal Plus, que compram essas obras”. Miguel Dias revela que já foram feitas abordagens anteriores aos grandes distribuidores portugueses para que aquilo que aconteceu em “Ice Merchants” pudesse não ser um epifenómeno, mas não foi possível chegar a um plano. Ou a uma estratégia. Sobretudo porque “os distribuidores não estão muito interessados porque vão perder tempo de anúncios e de trailers ou mesmo tempo de uma sessão”. E o público. Quem vai ver o novo episódio da saga “Missão Impossível” quer ver uma curta-metragem antes? Difícil de responder ou é raro perguntar?
Apesar das críticas, o problema destes jovens criadores não se centra exclusivamente no início ou no meio da fase de vida de uma curta-metragem. Apoios existem, escolas, técnicos e décors. Os festivais programam-nos. E mais: esses festivais conseguem ter melhor números de espectadores do que muitas estreias em salas comerciais de Portugal. Funciona como uma distribuição alternativa. Uma teoria arriscada, mas que a Agência da Curta-Metragem acredita ser verdadeira, já que pede, todos os anos, esses mesmos números aos organizadores dos diversos certames cinematográficos. “Nós somos contra plataformas de acesso gratuito, se é uma obra artística terá de ter um valor comercial. Por outro lado, por vezes, alguns destes projetos atingem um grande número de espectadores em festivais. Num desses, o Clermont-Ferrand, há sessões que se repetem várias vezes [em festivais como o Curtas Vila do Conde também]. Estamos a falar de cerca de cinco mil pessoas. É mais do que o número que se consegue em salas portuguesas.”
Há dez anos que André Guiomar realiza curtas-metragens e há quatro que se tornou produtor, na sua Olhar de Ulisses. O centralismo tem-lhe dado jeito. Filma muito na zona de Guimarães e no interior do país. “Tem sido uma belíssima descoberta. Tem facilitado imenso porque se consegue a atenção das câmaras municipais, que acreditam nas histórias e no nosso cinema. É certo que tem sigo uma grande descoberta e entusiasmante, de procurar novas carreiras, mas o circuito é limitado, começa e acaba nos festivais. A luta é o que fazer com elas a seguir. Não estão em formato físico, lojas como a Fnac não vendem DVDs de curtas. Sobra-nos um mercado com um bilhete sem saída.” Ou se criam páginas pessoais/empresariais, ou tenta-se um contrato anual com plataformas como a Filmin ou os canais TVCine, tal como André já conseguiu. Porque apesar do apoio do ICA, muitas vezes, o que acontece, é o orçamento derrapar. Ou seja, na “fase de pós-produção, já chegamos a penar”.
Como a competição está mais alta do que nunca, é, segundo André Guiomar, normal que os festivais tentem amplificar essas vozes. Até as que ainda não estão preparadas. “Por vezes dão um empurrão a quem se sente que tem mais sangue na guelra. Mas depois, haverá sempre muita gente descontente para o resto da vida porque nunca conseguiu prosseguir a sua carreira no cinema. Não há espaço para tanta gente.” Tal como defende Duarte Coimbra, estes cineastas estão sempre perante uma corrida de sobrevivência, onde “quem chega à Meca” é quem consegue fazer a sua longa-metragem. Quem não consegue, vira-se para outras áreas técnicas.
A vida das curtas nem sempre é uma animação: pode ser um documentário sem fim
A animação, que vive uma era multipremiada, já desde Regina Pessoa (ganhou o Grande Prémio em 2006 com “História Trágica com Final Feliz”), faz parte da Academia de Hollywood e é uma das grandes referências nesta área, ajudou a fazer deste um dos géneros mais consagrados fora de portas. Agora é a vez de João Gonzalez ou de Laura Gonçalves. Na ficção, quando João Salaviza venceu a Palma de Ouro em Cannes com o seu “Arena”, houve um grande despertar de interesse para aquilo que andava ser feito neste campo. Bsata olhar para a secção Un Certain Regard de Cannes, onde o realizador português, ao lado de Renée Nader Messora, venceu o Prix d’Ensemble da mais recente edição com “Flor do Buriti”, documentário sobre a comunidade indígena Krahô. Está já consagrado, é inegável. Em Vila do Conde, estiveram programadores de Cannes, da Berlinale ou de Annecy, algo que não acontecia, de forma tão habitual, num passado recente. Os prémios atraem a atenção sobre o nosso cinema. Mas também tapam os bastidores de uma arte feita com muito suor e lágrimas.”A explicação é a qualidade feita com dificuldade. Se há formato que tem dado dimensão ao nosso cinema é este”, explica Nuno Rodrigues, um dos diretores do Curtas, a par de Miguel Dias e Mário Micaelo. Estes programadores vêm descobrir novos autores para programar no estrangeiro já sabendo que o selo de qualidade estará garantido. E as conquistas de uns servem de sementes de futuro para os outros. No entanto, a palavra é sempre a mesma, mesmo com esse prestígio: sobrevivência.
Mas há quem se tenha fartado de sobreviver. A motivação dos prémios ou a rota dos festivais não é já suficiente. Marta Monteiro, que esteve com o seu “Sopa Fria” em Vila do Conde, curta de animação sobre violência doméstica, vai parar de trabalhar neste formato. “Nunca fiz dinheiro com uma curta”, começa por explicar. Vive em Penafiel, onde só existe uma sala de cinema. Apesar do maior mediatismo à volta do seu género cinematográfico, a realizadora e também ilustradora decidiu que vai parar de fazer filmes. “Fazer é muito desgastante. Temos uma janela temporal para produzir um filme com os apoios que existem. Faz com que o processo tenha de ser acelerado. Tenho dificuldade em acompanhar esse ritmo. Os orçamentos também condicionam a quantidade de pessoas que se podem colocar na equipa. Deixo de ter disponibilidade para acompanhar o percurso dos meus filmes, porque o meu outro trabalho exige que esteja em casa a ilustrar”, diz. Com este seu “Sopa Fria”, por ser um tema sensível e impactante na agenda mediática, Marta Monteiro tem alguma esperança que possa ter uma vida mais prolongada.
Pedro Neves, ex-jornalista e documentarista há mais de duas décadas, que mostrou o seu “Sonhos de Uma Revolução” no Curtas, totalmente rodado em Moçambique, não vai deixar de filmar. Mas sabe que é preciso não parar de pedalar. E ainda que vaticine que o género em que se especializou começa sempre a correr de trás, não se desdobra num discurso pessimista. “Câmara na mão e uma ideia na cabeça”, o lema cunhado pelo documentarista brasileiro Glauber Rocha tem-lhe servido de guia. Já não são precisas régis gigantes ou grandes aparelhos técnicos. Por vezes, duas pessoas e uma câmara chegam. O problema é sempre saber terminar o documentário e largar as histórias reais que se levam para casa. É de Leiria, mas estudou no Porto. Venceu prémios em diferentes países e são deles alguns documentários que têm marcado diferentes momentos políticos do nosso país, como “Acima das Nossas Possibilidades”), no período da troika em Portugal.
Como todos os outros autores, vive do trabalho no seu cinema e no dos outros. Não tem soluções para a distribuição, ainda que venha de um tempo em que, tal como acontecia nos anos 90, era possível ver na sua terra várias curtas-metragens antes do grande filme em estreia. “O documentário parte ainda mais atrás porque há festivais que não o programam. Não é o caso português. Houve um momento em que tive de decidir dedicar-me a isto a 100%. Durante muito tempo não ganhei um tostão”, conta. Esse tempo mudou. Todos os géneros de cinema têm hoje um vasto menu de conteúdos em Portugal. A sua produção não pára. Mas há questões que permanecem: “Não são modas, são problemas. Uma vez, uma colega jornalista contou-me que a sua antiga editora achou estranho ela estar a fazer uma peça sobre sem-abrigo, vinte anos depois de ter começado a carreira precisamente a falar sobre isso. Respondeu: mas porquê? Já não existem?”.