O entusiasmo trazido pelas projeções iniciais, que apontavam para a possibilidade de o Livre eleger pela primeira vez um eurodeputado, deram lugar a um sabor amargo. Pela terceira vez, o partido falha o objetivo de conseguir representação no Parlamento Europeu, ficando-se pelos 3,8%. Ainda assim, o discurso da liderança é otimista e com destaque para um crescimento “sustentável”. Os olhos já estão postos no futuro, mas não deixam de revisitar o passado marcado pela ausência de Rui Tavares nos primeiros dias de campanha eleitoral.
O porta-voz do Livre optou por não se comprometer quando questionado sobre se não se arrepende de não ter estado mais presente na campanha. A resposta a essa questão foi vaga (“Tudo faz a diferença num resultado tão próximo da eleição”), mas o mesmo não aconteceu quando o tema foi o que se segue para Francisco Paupério. “O futuro do Francisco é o que ele queira dentro do partido e o que a gente quer que ele queira”, afirmou.
Do lado de Paupério também chegaram garantias que continuará ligado ao Livre, embora circulem com frequência rumores de rotura com a direção. “Sou membro da Assembleia e pretendo continuar dentro do Livre. Acho que a intenção do Livre é também continuar comigo”, começou por dizer, antes de ser interrompido por aplausos. “Acho que estamos bem”, atirou, de seguida.
A bola “bateu na trave” e não entrou. Rui Tavares reconhece “frustração”, mas destaca crescimento do Livre
Ao início da noite a confiança era notória. Conhecidas as projeções das televisões portuguesas para as europeias, que apontavam a hipótese do Livre eleger um eurodeputado, o porta-voz do partido subia ao palco para sublinhar que as probabilidades de Francisco Paupério estar a representar Portugal no Parlamento Europeu eram “francamente boas”. Por essa altura Rui Tavares admitia que iam acompanhar a contagem até ao último voto na expectativa de assegurar a eleição do cabeça de lista, que afinal não viria a concretizar-se. “É uma noite triste para o Livre”, assumiria horas depois, já com a contagem terminada em todos os distritos e faltando apenas apurar os consulados.
“É um resultado em que o Livre duplica os seus votos, tem cerca de 150 mil votos, 3,75%. Em principio este é um resultado que elege para o Parlamento Europeu, mas, infelizmente, devido ao método de Hondt e à grande polarização que as eleições tiveram não nos permitiram alcançar esse sonho”, afirmou o porta-voz ao lado do cabeça de lista. “É daquelas situações em que a bola bate na trave, vem cá baixo à linha e até o VAR e ficamos a acreditar que podia ter entrado”, acrescentou.
Apesar de o resultado ser longe do esperado, o porta-voz destacou várias vitórias do partido nesta noite. Desde logo o facto de terem conseguido mais do que duplicar os votos em relação às últimas europeias e aumentar a percentagem em relação às ultimas legislativas. “Percentualmente é o melhor resultado do Livre de sempre. Até há poucos meses era 3,2% e o que esta candidatura conseguiu percentualmente, numas eleições que tem menos participação dos que as legislativas, foi um resultado de 3,75%. Já são muitas eleições seguidas em que o Livre cresce sempre”, sublinhou. Rui Tavares reconheceu que não é um crescimento exponencial, mas “sustentado”: “Nós estamos confortáveis com isso.”
O porta-voz notou também a vitória em vários consulados, como Berlim e Helsínquia, e descreveu “resultados extraordinários” em várias zonas urbanas do país. “Tivemos também muita gente que não votou no livre nas legislativas por causa do voto útil e agora pode finalmente votar no Livre”, considerou.
Agora é tempo do Livre fazer a sua reflexão, assumiu Rui Tavares, assumindo a “frustração” de não avançar com os “muitos” projetos para mudar a Europa e para ter uma voz ecológica no Parlamento Europeu. Garantiu, no entanto, que o Livre “é um partido que vai teimar e insistir” e apontou já para as eleições autárquicas.
Para Paupério, com discurso otimista apesar da derrota, “nada acaba aqui”
Falhar a eleição significa, a título pessoal, que não fará a desejada viagem de caravana com a namorada e as duas cadelas de grande porte até ao Parlamento Europeu. Com os planos que confessou no podcast Bom Partido ter a ficarem para trás das costas e apesar de reconhecer que esta foi uma noite “triste”, Francisco Paupério fez um discurso otimista perante as dezenas de pessoas que o aplaudiam no Teatro da Luz, em Lisboa, salientando o crescimento do Livre em relação às últimas europeias.
“Tínhamos esta esperança de que hoje estaríamos aqui em festa. Infelizmente, não aconteceu. Mas se não foi desta vez, temos a certeza de que daqui a cinco anos o Livre estará representado no Parlamento Europeu”, assegurou o cabeça de lista que, perante aplausos efusivos, garantiu que “nada acaba aqui”. “Se não foi desta vez, da próxima, temos a certeza, o Livre vai estar no Parlamento Europeu”, reiterou.
Até 2029, ano em que se realizarão novas eleições europeias, Paupério acredita que o partido “vai continuar a falar da Europa” e a “apresentar propostas para a Europa”. O Livre ambicionava, na terceira vez em que concorre, conseguir finalmente representação no Parlamento Europeu. O objetivo não foi alcançado, mas o candidato lembrou que o partido “soube sempre reinventar-se” e mostrou-se confiante de que “saberá sair mais forte desta experiência”.
Em jeito de reflexão, e à semelhança de Rui Tavares, Francisco Paupério disse que estas europeias mostram que o “Livre está a crescer de forma sustentada” e que “eleição após eleição continua a crescer”. “[As eleições] mostram que as pessoas cada vez mais têm confiança no Livre e acima de tudo que não perdem essa confiança”, afirmou o cabeça de lista. As declarações do candidato parecem ser refletidas nos números: o partido mais do que duplicou o número de votos em relação a 2019 (com 13 consulados ainda por apurar conta já com 148.117 votos contra os 60.575 que conseguiu há cinco anos).