O Euro-2024 terminou este domingo, com Espanha a conquistar o troféu depois de vencer Inglaterra na final de Berlim, e colocou um ponto final num mês inteiro de jogos de futebol praticamente diários. Sem que o triunfo espanhol possa ser contestado, já que foi consistentemente a melhor equipa, o fim do Campeonato da Europa abre a porta a uma velha questão: quem surpreendeu e quem desiludiu?
Do lado das revelações, Lamine Yamal e Nico Williams são os nomes óbvios, ainda que Mikautadze e Calafiori já tenham transferências praticamente asseguradas e Kobbie Mainoo e Marc Guéhi tenham confirmado que foram apostas certeiras. Do lado das desilusões, saltam à vista os nomes consagrados: Ronaldo, Mbappé, Van Dijk e Lukaku estiveram todos abaixo do esperado e nenhum conseguiu sequer chegar à final.
As 11 revelações, de Itália à Geórgia e passando pela Roménia
Riccardo Calafiori, Itália
- 3 jogos, 1 assistência, eliminado nos oitavos de final
Tal como tinha sido antecipado, o jogador do Bolonha foi uma das revelações do Euro-2024. Titular nos três jogos da fase de grupos, teve uma colaboração fulcral para o golo de Mattia Zaccagni que garantiu a decisiva vitória contra a Croácia na última jornada e só falhou os oitavos de final por castigo, sendo um dos motivos das dificuldades da equipa de Luciano Spalletti contra a Suíça. Numa movimentação previsível, está muito perto de ser reforço do Arsenal de Mikel Arteta para a próxima temporada.
Lamine Yamal, Espanha
- 7 jogos, 1 golo, 4 assistências, vencedor do Campeonato da Europa
Todos sabiam que era um talento geracional, poucos poderiam adivinhar que ia ter tanto impacto. Lamine Yamal foi absolutamente imprescindível para Luis de la Fuente, mostrou-se um dos elementos mais importantes da movimentação ofensiva de Espanha e somou recordes começados por “o mais novo a”, desde a simples participação no Campeonato da Europa ao golo, passando pela conquista do troféu. Pelo meio, marcou um dos melhores golos da competição e em plena meia-final, contra França.
Ferdi Kadioglu, Turquia
- 5 jogos, eliminado nos quartos de final
Numa seleção de Vincenzo Montella que proporcionou alguns dos melhores jogos do Euro 2024 e que contava com valores individuais fortes, como Arda Güler ou Hakan Çalhanoğlu, o ala do Fenerbahçe soube evidenciar-se e mostrar que já está vários níveis acima daquele onde ainda joga. Entrou no radar de vários clubes da Premier League e, pelo meio, bateu um recorde: com os 12,2 quilómetros que correu contra a Áustria, tornou-se o dono da maior distância percorrida na história dos Europeus.
Georges Mikautadze, Geórgia
- 4 jogos, 3 golos, 1 assistência, eliminado nos oitavos de final
Quando muitos achavam que Khvicha Kvaratskhelia ia ser a estrela da Geórgia, Georges Mikautadze tornou-se uma das referências da equipa de Willy Sagnol que derrotou Portugal e que conseguiu chegar aos oitavos de final na estreia no Campeonato da Europa. O avançado marcou três golos em quatro jogos e, pelo meio, já garantiu uma transferência para o Mónaco e um salto para a Ligue 1.
Dennis Man, Roménia
- 4 jogos, 2 assistências, eliminado nos oitavos de final
Incluído numa seleção que foi uma das surpresas do Euro-2024, pela qualidade do futebol praticado e o facto de ter ficado no primeiro lugar do Grupo E, o avançado do Parma consagrou-se como uma das referências de Edward Iordanescu e teve como ponto alto a exibição contra a Ucrânia, onde assinou duas assistências. De forma natural, já tem sido associado a Lyon e B. Dortmund.
Marc Guéhi, Inglaterra
- 6 jogos, 1 assistência, finalista do Campeonato da Europa
Em condições normais, com Harry Maguire na convocatória, nunca teria sido titular. Face à lesão do central do Manchester United, porém, assumiu o lugar ao lado de John Stones no eixo defensivo de Inglaterra e tornou-se uma das pedras basilares de Gareth Southgate, justificando por completo não só a chamada como o voto de confiança. Nome bem conhecido da Premier League, por estar no Crystal Palace desde 2021, tem sido associado a Arsenal e Manchester United.
Nico Williams, Espanha
- 6 jogos, 2 golos, 1 assistência, vencedor do Campeonato da Europa
De um lado, Lamine Yamal. Do outro, Nico Williams. Luis de la Fuente apostou em dois jovens para potenciar e movimentar o ataque de Espanha e nenhum desiludiu, com o avançado do Athl. Bilbao a assumir-se claramente como um dos melhores jogadores do Euro-2024. Marcou contra a Geórgia e na final, justificou o voto de confiança e tem sido constantemente relacionado com o Barcelona, com Joan Laporta a confirmar que gostaria de repetir a dupla de atacantes da seleção espanhola na Catalunha.
Dan Ndoye, Suíça
- 5 jogos, 1 golo, eliminado nos quartos de final
Chegou ao Euro-2024 com apenas uma internacionalização, mas nem isso impediu que se tornasse uma das figuras da Suíça na competição. O avançado do Bolonha foi um dos elementos mais importantes para Murat Yakin, aproveitou a oportunidade e evidenciou a velocidade impressionante para ajudar a seleção suíça a assumir-se como uma das surpresas do Europeu. De forma normal, já está na lista do Manchester United e da Juventus enquanto possível reforço no mercado de verão.
Jerdy Schouten, Países Baixos
- 6 jogos, eliminado nas meias-finais
Num meio-campo neerlandês que ficou órfão de Frenkie de Jong ainda antes do Euro 2024, Jerdy Schouten assumiu a complexa tarefa de organizar o jogo da equipa de Ronald Koeman. Foi quase sempre o eixo de equilíbrio que funcionava como verdadeira base dos Países Baixos e naturalmente, depois de ter regressado a casa para representar o PSV após quatro anos no Bolonha, tem atraído o interesse do Inter Milão e de uma possível nova vida na Serie A.
Kobbie Mainoo, Inglaterra
- 5 jogos, finalista do Campeonato da Europa
Gareth Southgate começou por apostar em Trent Alexander-Arnold ao lado de Declan Rice, no meio-campo de Inglaterra, mas depressa percebeu que tinha uma solução mais viável no banco de suplentes. O médio do Manchester United chegou ao Euro-2024 ao mais alto nível, depois de uma grande temporada na Premier League, e deixou bem claro que é um dos nomes do futuro.
Giorgi Mamardashvili, Geórgia
- 4 jogos, eliminado nos oitavos de final
Se é certo que a qualidade do guarda-redes do Valencia já era conhecida e reconhecida, também é certo que ficou garantida no Euro 2024. O guarda-redes da Geórgia fez exibições impressionantes contra a Turquia e Portugal, ainda na fase de grupos, e foi um dos responsáveis pelo facto de a goleada imposta por Espanha nos oitavos de final não ter sido ainda mais expressiva. Do Valencia, quase de certeza, Mamardashvili vai saltar para um tubarão europeu.
Os 11 flops, com muitos nomes consagrados pelo meio
Cristiano Ronaldo, Portugal
- 5 jogos, 1 assistência, eliminado nos quartos de final
As palavras já foram ditas e repetidas, mas é impossível passar ao lado do Campeonato da Europa de Cristiano Ronaldo. O capitão da Seleção até começou bem, com exibições coletivas e de apoio aos companheiros, mas deixou que a frustração se tornasse protagonista a partir da derrota contra a Geórgia. No fim, não conseguiu tornar-se o mais velho de sempre a marcar em Europeus e despediu-se da competição pela porta pequena.
Kylian Mbappé, França
- 5 jogos, 1 golo, 1 assistência, eliminado nas meias-finais
Começou desde logo azarado, ao partir o nariz nos últimos minutos do jogo contra a Áustria, e nunca conseguiu mostrar-se ao mais alto nível. Marcou apenas um golo e de grande penalidade, nunca teve a capacidade de liderar o ataque de França e só desequilibrou com recurso à velocidade, ainda que com poucas ou nenhumas consequências. No fim, após a eliminação contra Espanha nas meias-finais, admitiu que não esteve ao melhor nível.
Dominik Szoboszlai, Hungria
- 3 jogos, uma assistência, eliminado na fase de grupos
Depois de ter falhado o Euro-2020 por lesão, chegou ao Euro-2024 enquanto capitão e com a esperança clara de levar a Hungria à fase a eliminar. Não conseguiu carregar o país até aos oitavos de final, acusou o peso da responsabilidade e prolongou a temporada pouco conseguida no Liverpool, deixando a competição sem qualquer golo marcado e com escassos momentos de qualidade.
Federico Chiesa, Itália
- 4 jogos, eliminado nos oitavos de final
Depois de ter sido uma das figuras da Itália que conquistou a última edição do Campeonato da Europa, deixou-se ultrapassar por Barella, Scamacca e até Zaccagni no ranking de importância para Luciano Spalletti e não conseguiu repetir a sua melhor versão, que tinha estado em evidência há três anos. Com o futuro ainda por definir, entre a manutenção na Juventus e um salto para a Roma ou o AC Milan, não conta com o Euro 2024 para o ajudar a confirmar valor.
Virgil van Dijk, Países Baixos
- 6 jogos, eliminado nas meias-finais
Depois de uma temporada onde já provocou e causou muitas dúvidas, no Liverpool, não conseguiu afastar fantasmas no Campeonato da Europa. Apesar de ser naturalmente imprescindível para Ronald Koeman, até por ser capitão, errou em vários lances capitais e teve posicionamentos quase infantis que abriram a porta a golos ou situações de perigo. Não está claramente no melhor momento da carreira e isso ficou em evidência no Euro 2024.
Robert Lewandowski, Polónia
- 2 jogos, um golo, eliminado na fase de grupos
Entrou no Campeonato da Europa ainda lesionado, falhou a primeira jornada da fase de grupos e acabou por ser vítima de um falhanço coletivo da própria Polónia. Tal como a seleção de Michał Probierz, que foi uma das principais desilusões do Euro-2024, não conseguiu contrariar o favoritismo dos adversários e despediu-se da competição sem grandes memórias.
Antoine Griezmann, França
- 6 jogos, eliminado nas meias-finais
Depois de ter sido um dos elementos mais importantes para Didier Deschamps tanto no Euro 2016 como no Mundial 2018, confirmou a trajetória descendente ao serviço de França e foi recorrentemente um dos elementos mais apagados da seleção. Não marcou nenhum golo, não fez qualquer assistência e despediu-se do Campeonato da Europa sem ter assinado qualquer momento diferenciador.
Benjamin Sesko, Eslovénia
- 4 jogos, eliminado nos oitavos de final
Entrou no Euro 2024 enquanto uma das principais promessas, associado a Arsenal, Manchester United e Chelsea, mas nunca conseguiu confirmar o potencial. Não marcou qualquer golo, só apareceu em situações de transição rápida e teve até poucas oportunidades para bater os guarda-redes adversários, acabando eliminado pelas defesas contrárias. Sem que esteja em causa a qualidade do avançado do RB Leipzig, esperava-se mais numa altura da carreira em que pode saltar para outras paragens.
Andriy Lunin, Ucrânia
- 1 jogo, eliminado na fase de grupos
O guarda-redes da Ucrânia entrou no Euro 2024 depois de uma temporada em que assumiu a titularidade do Real Madrid, em que conquistou a La Liga e em que ganhou a Liga dos Campeões. No Campeonato da Europa, porém, não conseguiu prolongar as boas indicações. Cometeu erros crassos na jornada inaugural da fase de grupos, perdeu o lugar para Trubin e nunca recuperou a confiança de Serhiy Rebrov.
Romelu Lukaku, Bélgica
- 4 jogos, 1 assistência, eliminado nos oitavos de final
O Euro-2024 do avançado da Bélgica foi quase um sketch de um programa de comédia. Entre oportunidades desperdiçadas, golos anulados e lances caricatos, nem sequer conseguiu inscrever o próprio nome da lista de marcadores do Campeonato da Europa e é uma das individualidades que justifica o falhanço coletivo dos belgas. Mais uma vez, a “melhor geração de sempre” ficou pela metade.
Marcelo Brozovic, Croácia
- 3 jogos, eliminado na fase de grupos
Depois de ter sido um dos melhores jogadores do Mundial do Qatar, não conseguiu repetir o nível e o rendimento e é uma das explicações para a ausência de resultados da Croácia, que viu a passagem aos oitavos de final ser roubada pelo golo tardio de Zaccagni. A par de Modric e Kovacic, os eternos companheiros de meio-campo, poderá ter-se despedido do Campeonato da Europa sem qualquer memória.