Índice
Índice
Tree House Villa
Uma casa tradicional, cabanas de telhados de colmo e uma casa na árvore, testemunho vivo de um amor que perdura. Nesta villa da Comporta, entre todos os requintes do conforto, o maior luxo está nas subtilezas da vida
Uma casa na árvore pode ser um quartel-general de aventuras, um espaço mágico de evasão ou tão-só um ninho de amor. Para Júlia Nasi é uma evocação da tia Pequenina Rodrigues, que lha construiu antes de morrer de forma inesperada, em 2015, e que hoje é partilhada com quem fica na Tree House Villa, na zona da Comporta.
“A minha tia disse: ‘a Júlia ia adorar uma casa na árvore…’”, conta. “Foi uma grande surpresa, adorei, e até agora ficou sempre como o meu quarto. Temos outros maiores e mais cómodos, mas a casa na árvore é onde quero estar. Quero acordar ali. É onde sinto o amor da minha tia, é onde a sinto mais.”
Apenas 14 degraus separam do solo a casa rasgada por janelas em todas as paredes menos uma. O deck convida a momentos de ócio: ler um livro, conversar, beber um copo, ou apenas apreciar a natureza e ouvir a melodia dos pássaros. À noite, fica-se mais perto das estrelas do céu. Ou pelo menos parece. Como diz Júlia, a Tree House Villa é muito mais do que uma casa na árvore; é um espaço de evasão e paz, herdado pela mãe, Ana Cristina Nasi, e hoje gerido pelas duas, mãe e filha.
A casa principal, com as tradicionais barras azuis da Comporta, é o espaço comum, com cozinha e sala, onde não falta uma lareira para os dias mais frios. As dez camas disponíveis estão distribuídas também por outra casa de madeira e pelas cabanas de colmo tradicional, colhido nos cabeços do rio. Todas elas requintadas, porque aqui o luxo traduz-se na simplicidade crua das madeiras, das canas, do caniço e também na envolvência natural, com uma vista deslumbrante sobre os arrozais que se colam ao estuário do Sado e ao porto palafítico da Carrasqueira. Aqui imperam os materiais naturais, muitos deles reciclados pela primeira proprietária, que comprou o terreno em 2007, com uma pequena casinha apenas, e transformaria o espaço naquilo que é hoje.
No espaço exterior há duas piscinas, uma para as crianças e outra para adultos, em microcimento, com um deck imenso para apreciar o sol a esconder-se nos campos de arroz. Há também uma lareira e várias mesas, onde os hóspedes podem tomar as refeições do dia num cenário preparado por Ana Cristina Nasi, com flores, louças bonitas e coloridas.
A Villa é a extensão da ligação emocio- nal de Pequenina Rodrigues e da irmã Ana Cristina à Comporta, onde passavam as férias de verão desde os anos 70. Júlia conta que a tia sempre quis ter uma casa na região, mas que não foi fácil encontrá-la e que até lhe chamavam esquisita por nada a satisfazer. Por fim, em 2007, encontrou o terreno com a energia que procurava. Da pequena casinha que ali existia só restam memórias.
Neste local cheio de alma, requinte e bom gosto, em perfeita comunhão com a natureza, sobressai o toque da antiga proprietária: as roupas de cama imaculadas e com rendas e bordados; as camas construídas com madeiras reutilizadas; a decoração das casas de banho;
as louças; a bancada de carpinteiro transformada em bar.
Hoje, a Tree House Villa está disponível para arrendar apenas como um todo.A maioria dos hóspedes é estrangeira. Também há quem venha casar-se à Comporta e ali fique na semana dos preparativos. Muitos noivos escolhem passar a noite de núpcias na Casa da Árvore.
Quem ali entra não tem de se preocupar com nada – um chef cozinha pratos variados, das pastas e saladas às especialidades da gastronomia portuguesa, como o polvo e o bacalhau. Estão ainda incluídos um serviço de limpeza diário e um serviço de concierge, para tratar das solicitações dos hóspedes, desde o aluguer das camas na praia até aos serviços de cabeleireiro e manicure. O objetivo é que os hóspedes só tenham de se preocupar com desfrutar. Maria Henriques
Tree House Villa, Comporta. Diária entre 2.650 euros (época alta) e 4.000 (época alta)
Casa Fuzetta
Em 2012, um casal de advogados londrinos reparou nesta extraordinária casa abandonada no centro de Olhão e transformou-a num destino exclusivo para famílias grandes, celebrações íntimas e retiros de arte ou espirituais.
Conta a história que nesta casa viveu, no início do século xx, um advogado, diplomata, deputado e filantropo olhanense chamado Carlos Fuzeta, que se destacou por ser um acérrimo defensor das pescas e das atividades marítimas. Constava também que estaria ligado à maçonaria e que por isso teria construído no topo do edifício uma incrível torre gótica, cúpula da sua loja maçónica.Mais do que o estilo burguês do edifício, situado no bairro da Barreta, em Olhão, foi este passado que atraiu o casal londrino de advogados. Quando em 2012 vieram visitar um amigo que estava a renovar uma casa na cidade, descobriram, por acaso, primeiro o terraço, depois a torre e, por fim, a história de vida de Carlos Fuzeta.
Classificado em 2013 como imóvel de interesse público, o edifício estivera durante anos ameaçado de demolição. Fora antes disso dividido em duas casas separadas. Tara, que trabalhou durante 15 anos para o cozinheiro Jamie Oliver, e Jonathan Donovan compraram ambas e, em 2017, ao cabo de obras profundas de remodelação, declaram-na pronta para receber grupos que queiram sentir, como eles, a energia de um espaço “do bem”.
Com 12 quartos amplos – que acolhem até 24 pessoas em simultâneo – são, no entanto, os espaços comuns que revelam a alma da casa: o pátio com a pequena fonte onde cabem flores, a cozinha aberta acompanhada de uma enorme mesa exterior onde reina a partilha, o terraço onde a piscina convive em estranha harmonia com as antenas parabólicas e a roupa lavada dos vizinhos. E, claro, a torre com vitrais de cores, que, depois de uma loja maçónica, é hoje o topo inspirado da sala de yoga e meditação.
Sem grande divulgação, o boca a boca tem levado à Casa Fuzetta organizadores de retiros artísticos (de fotografia gastronómica, por exemplo), de espiritualidade e bem-estar, que aqui encontram o cenário perfeito tanto para a realização de atividades coletivas como para momentos de recolhimento.
Sarah Shannon – uma irlandesa que trocou uma carreira corporativa em Dublin pela organização de retiros – explica que nos seus eventos de celebração feminina recebe mulheres de todo o mundo (muitas delas sozinhas), que rapidamente estabele- cem uma relação e partilham experiências entre si, dentro e fora da casa (há passeios pelas ilhas da ria Formosa e idas ao merca- do, entre outros).
Qualquer uma destas atividades é uma tradução contemporâneas da missão de entreajuda que as paredes da Casa Fuzetta testemunharam no tempo de Carlos Fuzeta, quando o advogado e filantropo recebia pescadores em apuros. Hoje, não são as leis dos homens que imperam, mas uma visão comum de serenidade e luz: a real, a de Olhão, e metafórica, que cada um se permite ver. Sandra Gato
Travessa Heliodoro Salgado, 7, Olhão. A partir de 1.875 euros/noite (mínimo 5 noites)
Pico do Refúgio
Em Rabo de Peixe, na ilha açoriana de São Miguel, Bernardo Brito e Abreu recuperou a quinta de família onde a mãe recebia nomes consagrados das artes e devolveu-lhe essa aura. Ao mesmo tempo, passou a receber turistas.
Foi no final dos anos 80 que começaram as primeiras residências de artistas no Pico do Refúgio. Na altura, a quinta na ilha de São Miguel, que em tempos serviu de forte para controlo de piratas e, mais tarde, no século xix, foi fábrica de chá, pertencia à escultora Luísa Constantina, que ali costumava receber amigos artistas durante o verão. O filho, Bernardo Brito e Abreu, hoje com 47 anos, lembra-se bem desses tempos. “Eu tinha 13, 14 anos”, recorda. “Quer artistas já consagrados, quer os alunos dela de Belas-Artes, em Lisboa, ficavam aqui alojados durante as férias.”
Nos anos 80, e por “razões de saúde”, a família mudou-se para Nova Iorque e foi lá que vários artistas passaram a“acampar no sofá”, conta Bernardo. “Era um achado ter alguém que desse guarida a portugueses em Nova Iorque. Por exemplo, o [artista plástico] Miguel Palma esteve uns dois meses à procura de galeria. A [escultora] Clara Menéres também passou lá algum tempo…”
Quando Luísa Constantino morreu, em 1990, Bernardo, na altura com 15 anos, herdou a quinta em Rabo de Peixe. Aos 18 anos entrou na Marinha e só voltou a terra fixa mais de uma década depois, quando arranjou um cargo em Ponta Delgada como “diretor de uma estação de rádio naval”. Foi então, em 2005, que decidiu pegar na histórica quinta da família e transformar os antigos celeiros e fábrica de chá em oito lofts e apartamentos com casa de banho e kitchenette. Quando abriram, passados três anos, a atividade principal era o mergulho – Bernardo era o instrutor. Entretanto, começou a receber pedidos de alojamento de artistas, “amigos e conhecidos”, em troca de uma obra de arte – e aí veio uma “bola de neve”, diz, a lembrar os tempos dos amigos da mãe, nos anos 80.
A partir de 2015, as residências artísticas tornaram-se mais oficiais e em parceria com outras entidades e festivais (por exemplo, o festival Walk&Talk, também em São Miguel). No ano seguinte, Thurston Moore, músico dos Sonic Youth, era um dos artistas em residência, a ganhar inspiração para as canções do álbum a solo que viria a lançar, com um videoclipe gravado na ilha.
As residências acontecem entre novembro e março, por convite. Nessa altura, há dias de ateliê aberto a hóspedes e à comunidade local. Durante o resto do ano, quem fica alojado no Pico do Refúgio pode ver algumas peças deixadas por artistas nos quartos, na receção ou nos espaços exteriores da propriedade, como uma cadeira de 4 metros feita pelo sul-coreano Lee Hun Chung. O público pode ainda participar em eventos temáticos, como o último jantar, em maio, preparado por chefs locais e que incluiu uma conversa com o fotógrafo Daniel Blaufuks.
“Os alojamentos não devem ser ilhas dentro das ilhas”, considera Bernardo, que também acabou por conhecer a mulher, a fotógrafa Andrea Santolaya, numa residência na quinta. “A sustentabilidade não deve ser só a nível ecológico; deve ser também a nível social. Estamos inseridos numa comunidade e devemos devolver alguma coisa à comunidade.” Clara Silva
Roda do Pico, 5, Rabo de Peixe, São Miguel. A partir de 114 euros (mínimo duas noites)
Casa Vale da Lama Eco Resort
Viver do que a terra dá, aprender a ouvir os ecossistemas, encontrar uma comunidade de pessoas com os mesmos valores. Nesta quinta de Odiáxere, há quem venha passar um dia; há quem chegue a ficar um mês.
Primeira indicação :mais do que ficar numa quinta na zona de Odiáxere (Lagos), vai conhecer um ecossistema. São cerca de 43 hectares para percorrer livremente só com a condição que é também a única regra desta casa: respeito. Pela natureza, pelo que já lá está, pelos outros. Apesar do imenso espaço exterior, existe uma única zona de fumadores e cada hóspede tem uma honesty tab (entregue à chegada), onde vai colocando todos os ex- tras consumidos. Não há relatos de abusos nem de situações constrangedoras. E talvez isso aconteça porque ao fazer check-in na Casa Vale da Lama a sensação seja a de pertença a uma comunidade, nem que seja por uma noite (há quem chegue a ficar um mês).
Numa altura em que se banalizaram conceitos como sustentabilidade e ecologia, é refrescante perceber que, para alguns, esse é um modo de vida não discutível e muito menos apregoado. Os 12 quartos (há um projeto de expansão previsto para 2023) são simples sem serem austeros, têm ligação direta ao exterior e não incluem ar condicionado. O restaurante vegetariano e vegano usa os produtos da quinta e está aberto a visitantes: qualquer pessoa pode ter a experiência farm to fork, com pizzas feitas no forno exterior, burritos reconfortantes ou, ao pequeno-almoço, ovos de todas as formas e feitios produzidos, com toda a naturalidade, pelas galinhas da quinta.
Além de desfrutar da tranquilidade da piscina (o sistema circular de aproveitamento de água evita desperdícios) ou brincar com as galinhas – que até podem querer entrar em quarto alheio –, pode aproveitar para aprender. Há aulas de permacultura, mas basta conversar com Delfina Barroca, a proprietária e mentora do espaço, para ficar a par das vantagens do Holistic Management (uma forma de planeamento agrícola desenvolvida por Allan Savory em que, entre outras ações, os animais vão sendo mudados de “casa” de modo a interagirem com todo o terreno sem sobrecarregarem apenas uma área). Por outras palavras, “mimic nature”, emular a natureza, é a filosofia desta quinta, tão marcante em dimensão como em pedagogia. Sandra Gato
Quinta Vale de Lama, EM534, CP 325-Odiáxere, Lagos. A partir de 85 euros
Casa Céu Guest House
Num antigo armazém de pesca de Olhão, um casal em processo de desaceleração criou um paraíso tranquilo para adultos, com produtos locais, ventos marroquinos e uma atenção cuidada e pessoal.
No meio do casario denso de Olhão, entre ruas estreitas de estendais com roupa e terraços contíguos, uma casa branca, com bicicleta à porta onde, assim que entramos, nos pedem que troquemos os sapatos por umas babouches marroquinas. Quem nos recebe são Lara Gomes e Dário Trapletti, um casal unido na suavidade do trato. São eles a Casa Céu. Céu porque a luz de Olhão é especial. Céu porque o terraço é a alma da casa. Céu porque é o segundo nome de Lara.
Nascida em Moçambique, filha de pais portugueses, Lara mudou-se ainda jovem para a Suíça, onde fez vida e acabou por conhecer o suíço-italiano Dário. O desejo de desacelerar, o apelo dos laços familiares e a busca por sabores de verdade conduziram-nos a este recanto de Olhão, em tempos um armazém de pescas, abandonado quando o encontraram. Com a certeza de querer alterar só o indispensável, transformaram-no numa guest house fresca e arejada (o intenso calor algarvio fica à porta), com apenas quatro quartos e camas feitas à medida, em alvenaria, onde acolhem quem procura o mesmo que eles: tranquilidade, tranquilidade, tranquilidade…
Das frequentes viagens a Marrocos trazem as especiarias que usam na cozinha, a música e os candeeiros de palha que embalam o pôr do sol no terraço. O amor que os une reflete-se em cada detalhe. E por saberem da imprescindível mudança de foco sempre que há crianças por perto, optaram por um conceito para maiores de 18 anos.
Desde a limonada com a fatia de bolo caseiro que nos acolhe à chegada, ao pequeno-almoço com iogurte e granola caseiros, passando pelo jantar à base de produtos frescos da época comprados no mercado de Olhão e com um toque mágico de especiarias (disponível segundo marcação uma ou duas vezes por semana), tudo é cozinhado e preparado por Lara e servido por Dário – que mostra com orgulho a sua garrafeira onde já residem vinhos seus, produzidos na Quinta da Lapa, na região do Tejo. Neste momento são seis as referências, com um nome e o retrato desenhado pelo pai de Lara, como homenagem às pessoas que reconstruíram esta casa típica portuguesa onde corre uma brisa de África. Sandra Gato
Rua da Liberdade, 1A, Olhão. A partir de 105 euros (quarto pequeno) e 125 euros (os outros três)
Casa do Barco
De frente para o mar do Burgau, ergue-se, plácida e inspiradora, a casa de férias construída pela artista plástica e pelo marido, agora disponível para arrendar.
Na década de 1980, a artista plástica Helena Almeida e o marido, o arquiteto e escultor Artur Rosa, construíram uma casa no Burgau de onde se ouve o mar. A moradia, a poucos quilómetros da praia da Luz, tornou-se o destino de todos os verões, o único local que sabia a férias: viagens eram em trabalho, e a casa de Sintra (que em breve também poderá ser arrendada) destinava-se aos fins de semana. Com eles levavam as netas Branca e Madalena Cuvier, hoje artistas plásticas, que, por tudo o que lá viveram juntos, são as herdeiras deste espaço, que se chama “do barco” porque o avô era velejador. O barco à vela ainda lá está, onde ele o deixou.
A Casa do Barco pertenceu a uma das mais importantes artistas plásticas desta era, mas não é uma casa-museu. Pelo contrário. Exibe memórias, como as serigrafias na parede da sala e flashes estratégicos de azul Klein, deixa ainda espaço à imaginação, mas existe hoje como casa de férias para famílias ou grupos de amigos até 10 pessoas, longe do rebuliço do Algarve. Por perto, a possibilida- de de isolamento e o pão fresco do Burgau,a uma curta caminhada de distância.
Partilhar a “sua” casa de férias foi uma resolução fácil para Branca e Madalena. O melhor dos avós mora nelas e não em objetos que alguém possa descuidar. Quando lá voltam, as atuais proprietárias recordam-na como a casa onde dormiam sestas em dias quentes e comiam ao som da brisa.
Para Madalena, será sempre um barco, como aquele em que via o avô partir e chegar; para Branca, é uma catedral onde consegue encontrar-se com o seu interior e tomar decisões. Desde há alguns meses que é também um espaço aberto a quem dele quiser usufruir – e que poderá vir a expandir-se no muito espaço que ainda existe entre a casa e o mar. Sandra Gatões. Desde há alguns meses que é também um espaço aberto a quem dele quiser usufruir – e que poderá vir a expandir-se no muito espaço que ainda existe entre a casa e o mar. Sandra Gatões. Desde há alguns meses que é também um espaço aberto a quem dele quiser usufruir – e que poderá vir a expandir-se no muito espaço que ainda existe entre a casa e o mar. Sandra Gato
Cama da Vaca, Luz. A partir de 200 euros (mínimo sete noites, em época alta, ou quatro fora de época)
Camping Bus
Piscina, hot tub e ovos caseiros: neste antigo autocarro da Rodoviária Nacional os pormenores fazem a diferença.
O pai de Ricardo Marcelino estava cético de que o Arrabal, no concelho de Leiria, pudesse tornar-se um local turístico, mas o autocarro dos anos 60 que a família recuperou tem atraído gente de todo o mundo: “China, Estados Unidos, Brasil, Venezuela, Singapura, Canadá…”, enumera Ricardo. Além dos portugueses, que preencheram as reservas durante a pandemia.
Em 2017, com as irmãs Sandra e Salete, Ricardo decidiu criar um alojamento diferente na quinta dos pais. Descobriram um antigo autocarro da Rodoviária Nacional que ele e o cunhado Fernando, “pessoas poliva- lentes”, demoraram ano e meio a restaurar. E, logo em maio de 2019, receberam a visita da diretora do Airbnb, com o convite para fazerem parte do Airbnb Plus, onde estão os melhores alojamentos.
Em 2020 juntaram uma piscina à cozinha equipada, dois quartos, casa de banho, ar condicionado e uma “internet muito boa”, requisito do Airbnb Plus. O ano passado, o pai, carpinteiro, que já tratara das madeiras do camping bus, construiu uma “hot tub” em madeira para banhos quentes no inverno.
“O que faz a diferença são os detalhes”, garante Ricardo, que trabalha por turnos numa fábrica de vidro da Marinha Grande. Como o pão fresco e os ovos das galinhas da quinta que levam aos hóspedes de manhã ou as bolachinhas e os sabonetes artesanais feitos pela irmã Salete. A mãe, Albina, dedica-se à jardinagem e Ricardo pôs QR codes em cada árvore da quinta, para as identificar em várias línguas. As mais de 100 críticas no Airbnb são unânimes: 5 estrelas. A família já comprou mais um autocarro, de outro modelo, que também vai recuperar. “Depois logo vemos.” Clara Silva
Airbnb.com. A partir de 130 euros/noite (mínimo duas noites)
Moinho de Maneio
Na tranquilidade beirã, a par de sete casinhas de xisto reabilitadas, uma bolha pressurizada permite a sensação de dormir ao relento com conforto caseiro.
Há a bolha e há a bolha dentro da bolha. Comecemos por aquela em que se dorme. Trata-se de uma enorme e esférica tenda, estrategicamente posicionada numa ladeira virada para a ribeira da Bazágueda, onde se pode pernoitar num quarto confortável mas ter a experiência de dormir quase ao relento, rodeados a 360o de natureza. Já a bolha em que está esta bolha é mais conceptual, mas não deixa de ser real: é o próprio Moinho do Maneio, o turismo rural que fica a oito quilómetros de Penamacor – e a infinitos mais do resto do mundo. O lema da casa é “ouvir o silêncio” e, assim que lá se chega, percebe-se porquê.
A propriedade de 20 hectares estava na família de Rui há mais de 200 anos e o Moinho do Maneio, que foi em tempos uma pequena aldeia, estava ao abandono. Foi em 2002, depois de muitos anos a viver em Lisboa, que Rui e Anabela, jornalista e engenheira, decidiram regressar às origens e recuperar as pequenas e devolutas casas de xisto.
O plano inicial não era muito ambicioso: a ideia era ter uma casinha de férias. Mas os projetos foram-se sucedendo e a vontade de criar também. Hoje o Moinho do Maneio é composto por sete casas – recuperadas e decoradas num estilo rústico, mantendo as paredes em xisto e as vigas de madeira originais – e ainda pela famosa bolha. Trata-se de uma tenda insuflada com ar pressurizado, apenas com um quarto, para onde se entra por uma antecâmara isolada a fechos-éclair, que permitem tapar as saídas de ar e manter a tenda insuflada. O que não fica isolado é o ambiente em volta: as azinheiras e freixos que rodeiam a estrutura, a ribeira que passa a poucos metros de distância e se faz ouvir toda a noite, e o céu – quanto menos cheia estiver a lua, mais se veem as estrelas. Atrás da bolha, há um pequeno abrigo de madeira, com uma casa de banho portátil instalada e, a 200 metros, já na aldeia recuperada, fica a casinha que complementa este espaço, com uma sala de estar e uma casa de banho completa.
Não há televisões nem rede de telemóvel e o wi-fi só funciona em dois pontos da propriedade, mas nenhum hóspede corre o risco de se entediar. Além dos mergulhos na piscina e na ribeira de água cristalina, faz-se canoagem, tiro ao arco e stand up paddle, salta-se no trampolim, passeia-se de bicicleta e em jipes todo-o-terreno, além das sessões de reiki, pilates e massagens disponíveis. Isto para não falar do que aí vem. “Queremos ter uma sauna a lenha e, quando o antigo moinho estiver a funcionar, que está quase a acontecer, vamos poder começar a fazer pão.” Mariana Abreu Garcia
Ribeira da Bazágueda, EM569, KM 6,8 – Penamacor. A partir de 130 euros
Floating Álvaro
Dormir no rio, passear no rio, sentir o rio. Entre Castelo Branco e Coimbra, é possível viajar sem sair do lugar.
Num meandro do rio Zêzere, entre Castelo Branco e Coimbra, balança o Floating Álvaro, baptizado em honra da pe- quena aldeia de xisto que dali se avista, no topo de uma íngreme encosta. Atracado no porto de Álvaro, o barco-casa (ou será a casa-barco?) nasceu em sonhos num de muitos fins de semana de pesca.
“Lembrei-me de um barco de passeios, mas queria um que fosse mais versátil, onde se pudesse dormir”, explica Pedro Castanheira, guarda da gnr há 18 anos. Seguiram-se quatro anos de busca de uma embarcação adequada à zona, e mais um para a construção e a montagem de uma estrutura que na altura nem existia em Portugal.
Com seis metros por 14, a estrutura de madeira divide-se em dois patamares. No de baixo, quase todo envidraçado, ficam a sala com kitchenette (onde podem dormir duas pessoas), os dois quartos (um de casal e outro com um beliche) e uma casa de banho pequena mas totalmente equipada. O ar condicionado garante o conforto térmico no verão e uma salamandra o aconchego necessário no inverno.
Um deck em madeira contorna a casa, com espaços de convívio na proa e na popa, convites irresistíveis a banhos de sol e saltos para a água. No andar de cima, uma segunda zona de refeições com um grelhador, uma longa bancada de apoio e uma mesa de jantar fazem-nos sonhar com reuniões de amigos. Até porque, além de pernoitar, também pode alugar o Floating Álvaro para passeios no rio ou eventos no porto, e viajar sem sair do lugar. Mariana Abreu Garcia
Este artigo foi originalmente publicado em julho de 2022, na revista Observador Lifestyle, n.º16.