Quebrar a rotina, mudar de cenário e dedicar alguns dias a atividades que dão gozo ou a não fazer simplesmente nada, são três mandamentos das férias do verão que toda a gente ambiciona alcançar. Os membros da realeza também. Quando chega julho e agosto os chefes de estado têm o seu merecido descanso dos compromissos públicos e privados e também trocam os seus palácios da cidade por refúgios onde possam desfrutar de uns dias descontraídos e em privacidade. Algumas destas residências de férias são privadas, heranças ou projetos de restauro; todas beneficiam da Natureza, seja à beira mar ou no meio do campo, e todas têm a sua própria história. Reunimos cinco moradas onde a realeza europeia desfruta do verão.
Palácio de Marivent, em Palma de Maiorca
Marivent é o refúgio de verão da família real espanhola há mais de 50 anos, mas as origens deste palácio remontam à década de 20 do século passado. O engenheiro grego Joan de Saridakis chegou a Palma de Maiorca em 1923 com a mulher, a escultora Laura Mournier, depois de ter trabalhado como engenheiro em minas, no Chile. Foi num terreno com 33 mil metros quadrados, a poucos quilómetros da cidade de Palma e com vista para a baía de Palma que decidiu construir uma casa para a família.
O projeto coube ao arquiteto Guillem Forteza i Pinya e, quando a casa/palácio ficou pronto, em 1925, foi batizado de Marivent, Mar e Vento. Quando Saridakis morreu, em 1963, decidiu deixar a casa ao governo da ilha, com a condição de a tornarem num museu onde a sua coleção de arte com mais 1300 obras e dois mil livros pudesse ser visitada pelo público gratuitamente. Durante cerca de uma década o seu desejo foi cumprido. Em 1972 o chefe da casa do então príncipe Juan Carlos, que era maiorquino, conseguiu que Marivent fosse cedida aos futuros reis de Espanha.
Depois de obras de renovação e a criação de uma piscina, que dona Sofia supervisionou, no ano seguinte a casa tornou-se a residência de verão da família real. Em 1975 tornar-se-iam reis de Espanha na sequência da morte de Franco. Alguns móveis, obras de arte e livros foram reclamados pelo herdeiro do engenheiro grego. O filho da segunda mulher alegou que o contrato foi quebrado e parte do recheio foi retirado de Marivent. No entanto, renunciou à casa que se mantém destino da família real no calor de agosto.
Quando Juan Carlos I e dona Sofia eram reis, havia todos os anos uma sessão fotográfica em família no palácio. Também receberam muitos convidados bem conhecidos, como por exemplo os príncipes Carlos e Diana com os filhos. Atualmente, os reis Felipe e Letizia continuam a fazer deste palácio a sua residência de férias em Maiorca, mas as fotografias em família são tiradas em outros cenários pela ilha. Os jardins estão abertos ao público gratuitamente sempre que a família real não está instalada no palácio. Contam com mais de 40 espécies vegetais próprias daquele local e ainda 12 esculturas de Joan Miró criadas no período entre 1969 e 1981 e que foram doadas pela família do artista.
A quinta real de Bygdøy, Oslo
O rei Haakon V Magnusson ofereceu a Quinta de Bygdøy à rainha Eufemia em 1305 e desde então a propriedade entrou para o leque de residências usadas pela família real norueguesa e é a mais antiga. A quinta data da Idade Média e pertencia a um mosteiro. No século XIX a família real começou a passar lá tempo e foi até lá que o rei Christian Frederik viveu durante o seu curto reinado de alguns meses em 1814, segundo se pode ler no site da casa real. No século XVIII a casa foi redesenhada em estilo barroco e em 1837 o rei Carl Johan comprou a quinta ao estado, mandou refazer o jardim francês barroco numa versão mais inglesa e aumentar o lago. Alguns anos mais tarde, o rei Carl IV vendeu a propriedade de volta ao estado, mas ficando com ela ao seu dispor.
O rei Haakon VII, que reinou entre 1905 e 1957, e a rainha Maud fizeram da Quinta de Bygdøy a residência de verão da família real, onde a rainha podia pôr em prática o seu gosto pela jardinagem. A tradição de fazer férias na península de Bygdøy, em Oslo, continuou a ser seguida pelo sucessor, o rei Olav V. Contudo, quando este morreu em 1991, a família deixou de passar lá férias durante cerca de 15 anos. O edifício esteve em reabilitação entre 2003 e 2007, ano em que os atuais reis, Harald V e Sonja, voltaram a rumar a Bygdøy na época quente. A família tem também propriedades privadas e, entre elas, residências dedicadas a férias, como é o caso de Mågerø em Tjøme. Os príncipes herdeiros, Haakon e Mette-Marit têm duas casas de férias, uma em Uvdal e outra em Flatholmen.
Nos séculos XVII e XVIII era costume das classes altas nos países escandinavos passarem o inverno na cidade e o verão no campo, por isso cabia às quintas abastecerem as casas dos donos na cidade também, e assim foi até ao início da década de 1990. Em 2004 o Rei Harald pediu que os direitos de utilização da quinta passassem a ser do Museu Norueguês do Folk e os da propriedade fossem transferidos para o estado, por isso atualmente esta residência real pertence ao estado norueguês e está ao dispor do Rei. A quinta orgânica pode ser visitada segundo marcação e aos sábados na primavera e no outono. Os visitantes podem ver os animais, entre eles 60 vacas (a quinta é o maior produtor de leite de Oslo), 90 vitelos, 20 ovelhas, 12 póneis, porcos, galinhas e coelhos e ainda uma estufa com flores, vegetais e frutas, segundo o site VisitNorway.com.
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Castelo de Cayx, França
Era uma vez no verão de 1974, quando a rainha Margarida da Dinamarca passava férias na casa de infância do marido, Le Cayrou, em França, onde o casal descobriu a casa de férias perfeita. O Château de Cayx estava à venda ali perto, a apenas 15 quilómetros, e não resistiram. Margarida era soberana há dois anos e meio e tinha já casado com o francês Henri Marie Jean André, conde de Laborde de Monpezat, em 1967. Conheceram-se em Londres, quando o companheiro trabalhava como secretário na embaixada de França na capital britânica.
O pequeno castelo precisava de obras e foi a família real que tratou da renovação. Há partes do edifício que remontam ao século XV, altura em que tinha o papel de fortaleza. Os pequenos príncipes, Frederik (atual Rei) e Joachim ficaram responsáveis por pintar os bancos do jardim, conta a própria casa real. O castelo fica no sul de França, perto de Bordéus e está, portanto, munido de uma propriedade vinícola. Henrik nunca gostou de ser príncipe, preferia ter sido rei consorte da Dinamarca, mas seria em França que teria o seu reino já que foi no Château de Cayx que se tornou um especialista em vinho. Durante 40 anos produziu e vendeu o seu próprio vinho e depois passou a tarefa para a empresa Vinovalie, que reúne quatro castelos naquela localidade.
No século XVIII este castelo foi a casa de marquês que foi também escritor, figura destacada da academia francesa e ainda produtor de vinho. No século XX tornou-se a casa de férias da família real da Dinamarca. A rainha e o marido passavam o verão no seu castelo francês e tornou-se uma tradição. Margarida gostava de pintar e ir ao mercado e reunir a família nas férias privadas. Foi lá que todos se juntaram para celebrar o 80º aniversário do príncipe Henrik em 2014 e, mesmo depois da sua morte, em fevereiro de 2018, a rainha continuou a rumar a França.
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Palácio de Solliden, Suécia
Foram os problemas de saúde da princesa Victoria que levaram à construção do Palácio Solliden. Na ilha de Öland, no Mar Báltico e na costa sul da Suécia, o clima era mais seco e aliviava os problemas respiratórios da princesa, por isso, foi lá que esta residência de verão foi construída, começou a 25 de setembro de 1903 e a dona mudou-se a 15 de setembro de 1906, pode ler-se no site do palácio.
Victoria de Baden era uma princesa alemã que se casou com Gustav, o príncipe herdeiro da Suécia, em 1881. Viriam a tornar-se reis em 1907. Ainda princesa, encomendou o palácio ao arquiteto Torben Grut, a quem foi também entregue o projeto do Estádio de Estocolmo para os Jogos Olímpicos de 1912. A fonte de inspiração para o palácio foi a villa italiana que o médico sueco Axel Munthe tinha em Capri, de nome San Michele. Depois da morte da princesa Victoria, foi o marido, o rei Gustav V, quem assumiu a responsabilidade do palácio e decidiu abrir ao público o parque à sua volta.
Atualmente, o palácio pertence ao Rei Carlos Gustavo da Suécia. O neto da original dona do retiro passa ali parte do seu verão com a rainha Silvia e também com outros membros da família real. O Rei mantém os jardins abertos ao público. Há espaços no jardim de inspiração renascentista italiana e inglesa. Os súbditos aproveitam e reúnem-se para ver a família real, especialmente, no aniversário da atual princesa herdeira Victoria, que se celebra a 14 de julho. Em 1992 foi construído um pavilhão que todos os anos no verão recebe uma exposição temática.
Castelo de Balmoral, na Escócia
O Castelo de Balmoral está profundamente ligado à família real britânica, já que é a sua residência de férias na Escócia, em Aberdeenshire, desde o século XIX. E, como tantos outros elementos históricos desta família, faz parte da história de amor da rainha Victoria e do príncipe Alberto. Era o local de eleição de Isabel II para passar as férias de verão. Este espaço está cheio de boas memórias da família, mas também de momentos tristes. Foi lá que vimos Isabel II cumprir o seu último ato oficial como Rainha, ao dar posse a Liz Truss como nova primeira-ministra e foi lá que morreu dias depois, a 8 de setembro de 2022. Era também lá que a rainha estava com os netos William e Harry quando Diana, princesa de Gales, morreu num acidente de carro em agosto de 1997.
Em 1842 o casal recém casado, Victoria e Alberto, visitou pela primeira vez a Escócia e deixou-se encantar. Então em 1848 compraram o Castelo de Balmoral sem o conhecer, mas a surpresa foi boa e quatro anos mais tarde adquiriram também o terreno que o envolvia. O príncipe Alberto decidiu depois começar a construir um castelo maior com espaço para a família numerosa. Foi a própria rainha quem colocou a primeira pedra e as obras demoraram três anos, ficou acabada em 1856 e ditou a destruição do anterior, segundo se pode ler no site do castelo. Esta é uma residência privada e a rainha Victoria deixou-a em testamento ao filho que viria a ser o Rei Eduardo VII. Foi passando de geração em geração até chegar a Carlos III, que resolveu manter a tradição da mãe e fazer desta a sua residência de férias de verão onde ao longo da sua estadia vai reunindo a família.
Este verão o castelo abriu pela primeira vez ao público entre 1 de julho e 4 de agosto e mostrou espaços por onde só membros da família real e seus convidados haviam passado. Os bilhetes custavam 100 libras e 150 com chá da tarde, como manda a tradição (118 e 177 euros, respetivamente) e esgotaram em 24 horas assim que foram colocados à venda no passado mês de abril. Os visitantes puderam ver o gongo para o jantar que toca desde 1805 e o papel de parede encomendado pela rainha Victoria. A visita passa também pela sala de jantar principal onde convive a família real e os seus convidados e pela sala de jantar familiar onde se toma pequenos almoços e chá da tarde, conta a BBC, que fez uma visita guiada. O Rei encomendou um labirinto de cardos que ainda está a ser feito, mas já está acessível ao público.