Decidiu há alguns meses que iria concorrer a mais um mandato, teve as conversas com os restantes pares ao longo de dezembro (mesmo que fosse um dado adquirido em termos internos de que se tornara há muito uma inevitabilidade), anunciou a recandidatura em termos oficiais numa das raras entrevistas concedidas no último ano e meio à CNN Portugal a meio de janeiro, formalizou a entrega das listas a 2 de fevereiro. Aí, num momento que se tornou quase um happening à luz do que foram as últimas eleições do clube, quis ser igual a qualquer candidato. Podia ter descido do piso 3 onde se encontra a sala principal da Direção e os gabinetes da SAD – neste caso mais ao fundo no corredor para o lado oposto – para o hall VIP. Ao invés, desceu as escadarias perto do Multidesportivo com os candidatos à liderança dos restantes órgãos e também o mandatário que repete, Júlio Rendeiro, parou para uma curta declaração com algumas perguntas e subiu.
“Venho com um sentimento de dever cumprido. Há cerca de três anos e meio, exatamente neste mesmo hall VIP, tinha dado a garantia que no final do mandato o Sporting estaria melhor. Não está melhor, está muito, muito, muito melhor. É um grande orgulho em nome de todos os membros dos órgãos sociais a forma como cumprimos este mandato, um mandato que fica para a história”, começou por resumir.
“Estamos a falar de seis títulos no futebol, nenhum clube ganhou tanto como o Sporting no futebol, dois títulos com Marcel Keizer, quatro com Rúben Amorim, um dos quais o principal que fugia há 19 anos, os dois treinadores mais titulados dos últimos 13 anos e curiosamente 13 anos depois de termos estado pela última vez nos oitavos da Liga dos Campeões. A nível das modalidades, vários títulos nacionais, 12 títulos europeus, um título mundial, que significam 31% de todos os títulos internacionais do Sporting em 115 anos, tudo apenas em três anos e meio de mandato. A nível financeiro, e apesar da Covid-19 que reduziu drasticamente a receita de todos os clubes de futebol, fizemos uma redução estrutural dos custos em cerca de 15% do grupo Sporting, clube e SAD, com uma evidente valorização dos ativos. Conseguimos recuperar a credibilidade financeira nos mercados, como ficou evidente no último empréstimo obrigacionista. A nível da marca, uma nova Loja Verde online, uma no estádio. Uma verdadeira revolução na comunicação, uma política de comunicação positiva, que aproximou adeptos e sócios de jogadores e treinadores, que é quem realmente interessa. O clube atingiu uma grande pujança, com muito orgulho atingimos 90 mil sócios com quotas em dia e poderia continuar aqui a dizer coisas mas gosto de cumprir horas”, destacou.
“Apelo e acredito a um Sporting dos sócios, que os sócios saibam cuidar do seu clube, e é muito importante a sua presença, para virem dizer de sua justiça. Fico muito contente que o doutor Ricardo Oliveira e o doutor Nuno Sousa venham à campanha e que venham candidatar-se. Este é o momento de falar, é o momento dos candidatos falarem, o que não é normal é falarem durante o ano. Agora sim, é perfeitamente normal, perfeitamente legítimo e é assim que gostamos de ter um Sporting democrático”, concluiu o atual líder.
Ao longo de quase um mês, estes cinco minutos, dos quais os primeiros dois e meio foram a desfilar todos os resultados desportivos, financeiros e institucionais, foram o mais próximo que Frederico Varandas teve mais parecido com uma campanha, talvez até mais do que a hora e meia (com descontos) em que esteve no debate a três com Ricardo Oliveira e Nuno Sousa. Mas não foi por isso que deixou de fazer “campanha”.
A segunda fase da recompra dos VMOC que ficou fechada nos últimos dias
Já depois do fecho do mercado, com as entradas de Marcus Edwards e Slimani e as saídas por empréstimo de Jovane Cabral e Tiago Tomás (entre outras operações feitas), e numa altura em que os resultados do primeiro semestre do exercício 2021/22 estavam a ser encerrados, Frederico Varandas fixou-se num dossier que podia alterar ainda mais as contas da eleição. E conseguiu: depois de ter garantido a recompra dos VMOC ao preço de 30 cêntimos por ação, o que iria reduzir o montante total de 135 milhões para 40,5 milhões, os últimos dias foram marcados por várias reuniões e encontros para fechar a segunda fase do processo dos Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis, onde existia ainda uma dívida vencida de 47 milhões de euros. E o anúncio foi feito mesmo ainda esta sexta-feira, na véspera do sufrágio.
A SPORTING CLUBE DE PORTUGAL – FUTEBOL, SAD (adiante Sporting SAD ou Sociedade) vem, nos termos e para efeitos do cumprimento da obrigação de informação que decorre do disposto no artigo 17.º do Regulamento (UE) n.º 596/2014, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de abril, prestar a seguinte informação ao mercado:
1. O acionista Sporting Clube de Portugal (adiante SCP) deu conhecimento à Sociedade da formalização, na presente data, de um contrato de compra e venda com o Banco Comercial Português, S.A. tendo por objecto a aquisição, por transação realizada fora de mercado regulamentado, de:
(i) 27.416.953 Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis, emitidos em 17 de Janeiro de 2011 pela Sporting SAD, com vencimento em 26 de Dezembro de 2026, com o código ISIN PTSCP1ZM0001 (os “Valores Sporting 2010”) e
(ii) 56.000.000 Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis, emitidos em 16 de Dezembro de 2014, pela Sporting SAD, com vencimento em 16 de Dezembro de 2026, com o código ISIN PTSCPEZM0000 (os “Valores Sporting 2014”); Ambos em conjunto adiante abreviadamente designados por Valores;
2. O SCP poderá, querendo, exercer o direito de opção de vencimento antecipado dos Valores, nomeadamente nas datas de pagamento de juros, que são, respetivamente, quanto aos “Valores Sporting 2010” os dias 26 de Dezembro de cada ano até 2026 e quanto aos “Valores Sporting 2014” os dias 16 de Dezembro de cada ano até 2026;
3. O exercício do direito de opção de vencimento antecipado determinará a entrega ao SCP de ações da Sporting SAD correspondentes ao valor nominal dos Valores, as quais, nos termos do Regime Jurídico da Sociedades Desportivas, por serem subscritas pelo clube fundador da Sociedade, serão ações de categoria A;
4. Em resultado da conversão dos Valores, bem como da conversão de VMOC que na presente data já eram detidos pelo SCP e pela Sporting SGPS, SA (adiante Sporting SGPS), ao SCP passarão a ser imputados os direitos de voto de 126.321.668 (cento e vinte e seis milhões, trezentos e vinte e um mil, seiscentos e sessenta e oito) ações da Sporting SAD, representativas de uma participação de 83,90% (oitenta e três vírgula noventa por cento) do capital social e dos direitos de voto na Sociedade, dos quais, de forma direta, serão imputados os direitos de voto de 101.359.378 (cento e um milhões, trezentos e cinquenta e nova mil, trezentos e setenta e oito) ações da Sporting SAD, representativas de uma participação de 67,32% (sessenta e sete vírgula trinta e dois por cento) e de forma indircta, por via do controlo conjuntamente exercido pela Sporting SGPS, os direitos de voto de 24.962.290 (vinte e quatro milhões, novecentos e sessenta e dois mil duzentos e noventa) ações da Sporting SAD, representativas de uma participação de 16,58% (dezasseis vírgula cinquenta e oito por cento).
Se este era um tema que unia os três candidatos, numa perspetiva de manutenção obrigatória da maioria do capital social da SAD pelo Sporting, a resolução da questão acabou por esvaziar parte do debate que existia em torno do processo de como fazer essa recompra. E aquilo que deveria acontecer apenas num eventual segundo mandato em caso de eleição foi antecipado para o final do mandato iniciado em setembro de 2018, com a notícia a ser também acompanhada pela explicação de toda a operação de financiamento à CMVM.
A SPORTING CLUBE DE PORTUGAL – FUTEBOL, SAD (adiante Sporting SAD ou Sociedade) vem, nos termos e para efeitos do cumprimento da obrigação de informação que decorre do disposto no artigo 17.º do Regulamento (UE) n.º 596/2014, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de abril, informar o mercado, nos seguintes termos:
Na presente data, a Sporting SAD participou na alteração aos termos e condições da operação de titularização de créditos denominada “Lion Finance no. 1”, concluída em 20 de Março de 2019, na qual a Sagasta Finance – STC, S.A. (“Sagasta”) interveio na qualidade de emitente, operação esta que teve como objeto a titularização de créditos decorrentes do contrato de cessão de direitos de transmissão televisiva e multimédia, de exploração da publicidade estática e virtual do Estádio José Alvalade, de distribuição do canal Sporting TV e direitos de patrocinador principal, celebrado a 28 de Dezembro de 2015, entre a Sporting SAD, a Sporting Comunicação e Plataformas, S.A. e a NOS Lusomundo Audiovisuais, S.A.
A alteração à Lion Finance no. 1 concluída, na presente data, teve por objeto a emissão pela Sagasta de obrigações de titularização adicionais, no montante adicional de EUR 38.500.000, a título de acréscimo do preço de compra e venda de créditos relacionados com os direitos de transmissão televisiva e multimédia e com os direitos de distribuição do canal Sporting TV (adiante Créditos), destinada a substituir passivos, financeiros e não-financeiros.
Os Créditos cedidos nesta operação servirão para colateralizar a emissão de obrigações titularizadas até ao reembolso integral das mesmas, tendo ficado assegurados mecanismos contratuais necessários, que permitirão à Sporting SAD recuperar a titularidade ou benefício económico dos Créditos, simultaneamente com o reembolso das obrigações titularizadas, o que poderá acontecer antecipadamente e a qualquer momento na sequência de solicitação da Sociedade, os quais não se encontram na sua exclusiva disponibilidade.
Em paralelo, ainda à luz do acordo que tinha sido alcançado com Millenium BCP e Novo Banco, tinham sido fechadas mudanças em diversas condições de reembolso obrigatório e reforço das Contas Reserva: “a redução da percentagem de afetação de fundos do “Excesso de venda de passes de jogadores” de 50% para 30%, na proporção de 15% ao reembolso antecipado obrigatório e 15% ao reforço das Contas Reserva; e a redução da percentagem do mecanismo de Cash Sweep de 60% do Cash Flow Disponível após Serviço da Dívida Permitida para 30%, a afetar na proporção de 15% ao reembolso antecipado obrigatório e 15% ao reforço das Contas Reserva”. “No âmbito deste acordo, o Grupo Sporting procedeu à regularização de todas as obrigações pecuniárias vencidas, encontrando-se assim em cumprimento perante os Bancos”, explicou a sociedade desportiva verde e branca em comunicado emitido em novembro de 2019.
Em paralelo, a apresentação dos resultados do primeiro semestre da SAD registou também valores positivos (e já esperados) de 9,5 milhões de euros, “um resultado que demonstra a resiliência da Sporting SAD e o início da estabilização dos efeitos adversos causados pela pandemia, que tinham causado o resultado negativo de 6,9 milhões de euros do período homólogo”. “Foi o melhor resultado operacional de sempre sem transações com jogadores, no valor de 20,9 milhões de euros (considerando os períodos homólogos); e o volume de negócios semestral foi de 89,1 milhões de euros, incluindo os rendimentos com a participação na fase de grupos da Champions League no valor de 36,2 milhões de euros e excluindo 9,6 milhões de euros relativos à passagem aos oitavos de final a reconhecer no segundo semestre”, salientou.
“A recuperação da receita de bilheteira situou-se nos 8,2 milhões de euros, em virtude da abertura dos estádios com possibilidade de realização de jogos com lotação completa a partir de outubro (…) Houve um recorde de vendas de cinco milhões de euros no merchandising que, apenas num semestre, ultrapassou o melhor valor de vendas de uma época inteira (…) Foi delineado um percurso de sustentabilidade financeira que pressupõe a estabilização do resultado operacional sem a transação de jogadores que, este semestre foi de 20,9 milhões de euros. O resultado operacional global é de 16,5 milhões de euros, que contrasta, em larga escala, com o valor negativo de 1,2 milhões de euros verificado no período homólogo. De salientar que gastos e perdas operacionais sem transações de jogadores sofreram um acréscimo de 29% (13,4 milhões de euros) devido a duas principais rubricas: gastos com pessoal e fornecimentos e serviços externos. Porém esta subida é maioritariamente causada por efeitos positivos, por consequência de mérito desportivo e de crescimento de performance operacional”, destaca o mesmo Relatório e Contas emitido a 28 de fevereiro.
Também a questão em torno do pagamento da percentagem respetiva aos italianos da Sampdoria por Bruno Fernandes ficou resolvida e entra no mesmo documento. “Em 26 de novembro de 2021, a Sporting SAD e a Unione Calcio Sampdoria assinaram um acordo relacionado com a mais valia da venda de Bruno Fernandes ao Manchester United. Este acordo definiu um plano de pagamentos até julho de 2022, mas previa uma extensão dos prazos de pagamento até outubro 2023, caso a Sporting SAD e a Sampdoria conseguissem negociar com uma instituição de crédito a antecipação do valor a pagar à Sampdoria. Em 11 de janeiro de 2022, a Sampdoria concluiu a operação de antecipação do risco Sporting declarando não ter nada mais a receber desta transação, tendo a Sporting SAD comunicado tal evento à UEFA”, esclarece sobre um assunto que levou a que a UEFA colocasse em causa a participação dos leões nas provas europeias.
“Foi um mandato histórico, só no futebol com seis títulos, mais do que os rivais juntos”
Antes, no único debate a três realizado no canal do clube, Frederico Varandas tinha feito uma defesa de três anos e meio de mandato tendo em conta sobretudo o período com Rúben Amorim de um maior sucesso desportivo no futebol (juntando-se assim às modalidades), tentando passar ao lado do que foi acontecendo no período anterior sobretudo a nível institucional como se viu em várias Assembleias Gerais do clube.
“Estamos numa situação muito melhor em termos financeiros mas não deixa de preocupar. Quando entrei tínhamos dois anos de receitas antecipadas e agora temos menos de dois; sobre as receitas em fevereiro já batemos o recorde de receitas operacionais sem contar com a venda de jogadores; sobre os jogadores caros, sei que fracassámos em alguns e vamos voltar a fracassar mas a taxa de acerto melhorou como vemos no Matheus Nunes, o Nuno Santos, o Pote… Tínhamos 120 milhões de necessidade de tesouraria, impostos do primeiro semestre em atraso e uma estrutura de custos altíssima. Reduzimos de 75 milhões para 60 milhões. O défice estrutural era de 30 milhões de euros e está nos dez milhões de euros. Reduzimos custos, aumentámos receitas e tivemos sucesso desportivo. Tínhamos um buraco de mais de 100 milhões de euros todos os trimestres e abatemos passivo até 2021, onde surgiu a Covid-19. A gestão do Sporting assenta na gestão desportiva. Em três anos e meio, o Sporting reduz custos e valoriza o ativo. O plantel do Sporting nunca valeu tanto, pelo Transfermarkt está avaliado em 250 milhões”, frisou o atual líder.
“Fico contente por ver os candidatos satisfeitos pela gestão da parte desportiva. Acredito que ambos são apaixonados pelo Sporting e seguem o clube há décadas, quando se fala em dois anos erráticos… Foi um mandato histórico pois só no futebol são seis títulos, mais que os rivais juntos. Acho que os treinadores que serviram o Sporting devem ser respeitados. Marcel Keizer nos últimos 13 anos é o treinador mais bem sucedido a seguir a Rúben Amorim. E se formos a 2001, Marcel Keizer é o terceiro. Quando se fala de uma época desastrosa ganha dois títulos… A nossa base é a formação e vai continuar a ser. Reformulámos os relvados, os quartos, criámos a unidade de performance, temos recursos humanos altamente qualificados, criámos o departamento de observação, temos uma metodologia de treino transversal a toda a Academia, reativámos a equipa B, a formação da Academia foi reconhecida como a melhor do ano, cortámos custos e aumentámos o investimento da formação em dois milhões. A equipa B é o reflexo do modelo no treino focado no jogador. Podíamos ter uma equipa B com o Daniel Bragança, o Gonçalo Inácio ou o Gonçalo Esteves, creio que considera que essa equipa seria competitiva…”, salientou a propósito da parte do futebol.
“Há três anos e meio decidimos que nos íamos candidatar pois acreditávamos que era possível melhorar o Sporting. O Sporting está muito melhor mas podemos continuar a crescer, sabemos o que custou reerguer clube mas sabemos que precisamos de acabar com a diferença estrutural para os rivais. É para uma geração abaixo dos 18 anos que decidimos candidatar-nos agora. Falta de empatia com os sócios? Nunca vamos ter o culto da personalidade. Se há coisa que sinto é que esta Direção tem consigo os sócios anónimos. Sobre a união, com todo o respeito que tenho pelos candidatos, li o programa de ambos e penso que é difícil mais união: não alteravam o treinador ou o programa desportivo, só o presidente pois gostavam de ser presidentes. Após o jogo com o Manchester City vi o episódio do Backstage e emocionei-me. Mandei uma mensagem para a minha equipa. Penso que foi um capítulo final de como unir o Sporting. Após uma derrota, vimos os sócios a agradecer. Todos os sócios estavam a aplaudir o que o Sporting fez nos últimos anos e para mim e para a minha equipa todo o trabalho e os sacrifícios foram recompensados”, disse sobre o clube.
“Ainda há muito para fazer e temos perfeita noção. Não cumpri a promessa da App pois em três anos e meio não dá para fazer tudo mas vamos ter um novo site e uma nova aplicação. A nível de comunicação tentámos fazê-lo de uma forma positiva para dar a conhecer os jogadores e treinadores com o Backstage e o ADN Sporting, e ficamos satisfeitos por ver os outros a copiar. Este mandato ficou marcado pela pandemia em que estivemos dois anos sem contacto social. Sobre o processo eleitoral na campanha decidimos dispersar o voto mas há uma diferença entre ser candidato e ser presidente e precisamos de credibilizar o processo eleitoral. Defendo que cada sócio possa votar onde estiver através de uma revisão de estatutos. O Sporting é um clube nacional e internacional, há empresas credíveis no mercado que podem permitir aos sócios votar nas Assembleias Gerais e esse será um processo gigante”, concluiu sobre outros temas.
Março de 2020 e um momento de viragem com a chegada de Rúben Amorim
Hoje, tudo parece “fácil”; no início, não foi assim. E foi o próprio Frederico Varandas que chegou a reforçar que iria terminar o mandato, sinal de que tinha consciência de todas as movimentações que existiam para a marcação de uma Assembleia Geral Extraordinária (ou destitutiva) ou mesmo para se avançar para um novo ato eleitoral. “O clube é ingovernável. Quando me candidatei, muitos amigos e gente do Sporting disseram-me que ia candidatar-me para o lugar de governação mais difícil do país, ainda mais do que o posto de primeiro-ministro. O número de presidentes que sai constantemente é um sinal de instabilidade e de que é muito mais difícil de ganhar do que nos outros lados. Mas acredito que vou mudar isto”, disse em outubro de 2018, um mês e meio depois da eleição. “Era muito fácil para nós reduzir este ruído: cedíamos e pagávamos a quem faz barulho e exige dinheiro para apoiar. Mas há momentos em que não podemos vacilar, em que temos de estar do lado certo da história, por mais que isso nos custe, por mais que isso nos doa, por mais que isso implique risco, desgaste e confronto”, destacou mais tarde, em novembro de 2019.
Varandas diz que “Sporting não tem futuro” se a direção for destituída
Até esse momento, muito tinha acontecido após uma eleição que não acalmou as hostes leoninos, como se viu numa deslocação aos Açores e numa viagem a Londres para defrontar o Arsenal onde se voltou a ouvir essa contestação. E todos os meses havia algo a agitar o clube, entre a expulsão de sócio do ex-presidente Bruno de Carvalho, as buscas que levaram à detenção de Nuno Mendes (Mustafá) na sede da Juventude Leonina, o fim do protocolo com as claques, os chumbos dos Relatório e Contas e Orçamentos do clube, episódios como aquele em que centenas de adeptos tiveram de se descalçar para aceder a Alvalade na bancada Sul, o acerto de contas com o passado através de uma auditoria que se tornou pública sem haver um culpado interno, os reforços sem rendimento desportivo ou posteriormente financeiro, os sucessivos maus resultados desportivos que nem mesmo com a conquista da Taça da Liga e da Taça de Portugal por Marcel Keizer apaziguaram os protestos. Era nesse contexto que o clube chegava ao início de março de 2020.
Numa semana, tudo ficou mais denso. E ficou porque, apesar de já ter havido antes uma manifestação contra a Direção do Sporting, o maior movimento coincidiu com a estreia de Rúben Amorim em Alvalade pelos leões frente ao Desp. Aves no seguimento de uma semana onde quase todos criticaram o investimento de mais de dez milhões num treinador com curta experiência na Primeira Liga. Os leões venceram por 2-0 numa partida com pouco mais de 20 mil espectadores e, uns dias depois, o país teve o primeiro confinamento devido à pandemia, o que levou a que Frederico Varandas fosse novamente chamado para cumprir serviço militar como médico. Nesse final de temporada, com dez jogos, o Sporting acabou na quarta posição. E, logo no arranque da época seguinte, falhou o acesso à fase de grupos da Liga Europa. Depois, tudo mudou. Nos resultados, com quatro títulos num ano (duas Taças da Liga, Campeonato e Supertaça). Na vertente europeia, com a segunda passagem de sempre aos oitavos da Champions. A nível de política desportiva e contratações, com a rentabilidade dos reforços que foram chegando a Alvalade a subir de forma exponencial.
Com o futebol a ganhar e as modalidades a continuarem o processo que já existia com inúmeros títulos no plano nacional e internacional entre futsal, hóquei em patins, basquetebol, andebol, voleibol, atletismo e outros desportos olímpicos, Varandas foi falando cada vez menos. À exceção de momentos mais institucionais, e de intervenções como a que teve no Dragão após a partida do Campeonato com o FC Porto, foram raras as entrevistas ou mesmo as declarações públicas nos últimos dois anos. E foi isso que voltou a marcar esta campanha no último mês, remetendo para as principais linhas programáticas as respostas.
“Os tempos mudaram. Vivemos hoje numa nova Era: a Era do Propósito. Entrámos numa nova Era porque existe uma nova visão do mundo, um novo conhecimento científico e uma auto-consciência do papel de cada um e da tecnologia como seu braço armado. A natureza das relações mudou. Muito em concreto na relação do Homem e das organizações entre si e com o planeta. Mas, acima de tudo, muda a cada dia muito rapidamente, a uma velocidade sem precedentes. Existe uma nova consciência individual sobre a necessidade de um modelo socioeconómico que assegure a sustentabilidade ambiental. Existe uma nova consciência sobre os benefícios da colaboração altruísta e intergeracional para uma melhor vivência em sociedade. Existe uma nova consciência sobre o papel crítico do desporto em benefício da saúde pública – física e mental – e do seu papel central a nível social e de entretenimento como catalisador das relações humanas. Vivemos numa era digital e global”, começa por explicar para dar contexto à integração do desporto na sociedade.
“A nossa proposta consiste num Sporting como ator principal desta nova Era. Por uma nova Era Verde. Com um propósito claro e visível. Um Sporting inspirando as pessoas a tornarem-se na melhor versão de si mesmas para que elas próprias possam inspirar outros. Através do desporto, através da sua marca, através dos seus. Um clube líder do seu próprio destino e deste caminho a nível mundial no âmbito dos clubes desportivos. Assumimos uma visão expansionista para o clube enquanto organização, preservando e partindo do seu epicentro – o Desporto”, advoga antes de elencar algumas medidas como o novo site, a App que já estava no programa de 2018, uma maior aproximação aos associados, mudanças nos estatutos ou a transformação digital mas que no fundo visam sobretudo dar continuidade aos últimos três anos e meio.