Donald Trump discursava há precisamente 12 minutos quando o público da sede da campanha republicana em Palm Beach, na Florida, se fez ouvir. “Elon! Elon!” Do púlpito, Trump interrogou a audiência: “Quem?”. “Elon!”, gritaram de volta. O ex-presidente norte-americano que se prepara para voltar à Casa Branca, fez-lhes a vontade. “Deixem-me que vos diga que temos uma nova estrela. Uma estrela nasceu. Elon.”
Não foi preciso sequer dizer o apelido para depreender que o então candidato republicano (que ainda não foi oficialmente declarado vencedor) se referia a Elon Musk, CEO da Tesla, fundador da empresa de foguetões SpaceX, e apoiante declarado de Trump. “Ele é um tipo fantástico. Estávamos sentados juntos esta noite”, disse o candidato presidencial numa altura em que já corria pelas redes sociais uma fotografia de ambos sentados à mesa na noite desta terça-feira enquanto decorria o apuramento dos resultados eleitorais.
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— Elon Musk (@elonmusk) November 6, 2024
No discurso de vitória, o futuro Presidente dos Estados Unidos dedicou largos minutos àquele que considera “um tipo especial”, “um super génio”. “Temos de proteger os nossos super génios, não temos assim tantos”, rematou Donald Trump.
Elon Musk, 53 anos, tem sido um dos principais apoiantes de Trump e defensor do movimento MAGA (sigla de Make America Great Again — Tornar a América Grande Outra Vez, em tradução livre). O magnata norte-americano de origem sul-africana, CEO da Tesla e o homem mais rico do mundo, tem estado ativamente empenhado em fazer campanha por Donald Trump, tendo criado até um comité de ação política, o America Pac, para promover ações de apoio à candidatura republicana.
Entre outras iniciativas, Musk lançou a 19 de outubro uma lotaria de cheques de um milhão de dólares (920 mil euros) por dia até à data das eleições a quem apoiasse uma petição em defesa da liberdade de expressão e do direito às armas. O concurso foi aberto a eleitores registados em sete estados chave: Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wisconsin. O objetivo era seduzir eleitores indecisos a registarem-se e votarem em Donald Trump.
Mas a 28 de outubro, o Procurador Distrital de Filadélfia, Larry Krasner, democrata, processou Musk numa tentativa de bloquear o concurso na Pensilvânia, alegando que os pagamentos equivaliam a uma “lotaria ilegal com regras mal definidas”. Já esta segunda-feira, um juiz da Pensilvânia acabaria por autorizar oferta de um milhão de dólares de Elon Musk aos eleitores.
“Esta noite, o povo dos Estados Unidos deu a Trump um mandado claro para a mudança”, escreveu Musk esta terça-feira. “O futuro vai ser fantástico”, lê-se numa outra publicação com uma fotografia do lançamento de um foguetão espacial.
Elon Musk: “Estou pronto para servir a América se a oportunidade surgir”
Não é claro o papel que Elon Musk pode desempenhar com a vitória de Donald Trump, mas, na rede social X (antigo Twitter), o empresário partilhou um tweet de uma publicação onde se lê como legenda à fotografia com Trump e Dana White: “CEO, CMO, CTO dos EUA” (siglas para Chief Executive Officer, Chief Marketing Officer e Chief Technology Officer).
Em setembro, o Wall Street Journal reportou que Trump tinha prometido a Musk um lugar no governo caso vencesse as eleições. Na altura, Musk reagiu no X dizendo estar “ansioso para servir a América se a oportunidade surgir”. “Não preciso de salário, nem de título, nem de reconhecimento”, escreveu.
Agora, o mesmo jornal avança que Musk deverá receber “um papel na auditoria das despesas e regulamentos federais numa administração Trump através de um Departamento de Eficiência Governamental” e que o CEO da Tesla “terá provavelmente um lugar à mesa onde muitas dessas decisões são tomadas, dando-lhe a oportunidade de adaptar a política aos seus próprios interesses financeiros”
Num artigo publicado esta quarta-feira, o diário avança que Elon Musk deverá sair largamente beneficiado com a vitória de Trump, já que as empresas de Musk, incluindo a Tesla e a SpaceX, são reguladas por várias agências federais. O jornal alerta para potenciais conflitos de interesse caso Musk se envolva ativamente numa comissão sobre despesas públicas. Recorda o WSJ que as empresas de Musk dependem de decisões governamentais, como “que foguetão utilizar para um lançamento espacial, quantos satélites permitir na órbita baixa da Terra, se os carros sem condutor podem circular nas autoestradas”, pode ler-se.
Pese embora as notícias da imprensa norte-americana e as declarações de Musk, na última semana, poucos dias antes das eleições, a 1 de novembro, Musk escreveu no X: “Para ser claro, nunca pedi nenhum favor a Donald Trump, nem ele me ofereceu nenhum.”