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Fotografia datada de 24 de julho de 2022 da Praia da Zambujeira do Mar (Odemira). NUNO VEIGA/LUSA
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INE, que incorporou nas novas estimativas dados que ficaram entretanto disponíveis, o que permitiu rever a estimativa

NUNO VEIGA/LUSA

INE, que incorporou nas novas estimativas dados que ficaram entretanto disponíveis, o que permitiu rever a estimativa

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Economia não contraiu no segundo trimestre, mas sol deverá pôr-se depois do verão

Afinal, não houve contração da economia no segundo trimestre, mas sim uma estagnação. Turismo ajudou, consumo privado e investimento não. E depois do verão? Clima menos favorável a caminho.

A economia portuguesa comportou-se melhor no segundo trimestre do ano do que o Instituto Nacional de Estatística (INE) estimou há um mês no final do julho: afinal não contraiu 0,2%, mas estabilizou. Melhor, mas não suficiente para permitir lançar foguetes nem afastar os receios de tempos mais escuros pela frente. Há “riscos desfavoráveis”, apontam economistas ouvidos pelo Observador, alguns já a afetar a economia e outros a espreitar ao virar da esquina: a nova subida das taxas de juro, mais inflação (que abrandou em agosto, mas não deixa os economistas descansados), ainda os custos da energia e uma possível recessão na Alemanha.

Nas contas nacionais trimestrais divulgadas esta quarta-feira, já mais consolidadas do que as divulgadas em julho, o INE aponta para uma estagnação da economia no segundo trimestre do ano, que foi ainda fortemente marcado pela guerra na Ucrânia e os aumentos dos preços entretanto espalhados a praticamente toda (se não a toda) a economia.

Afinal, economia portuguesa estabilizou (e não caiu) no segundo trimestre

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Esta melhoria explica-se pela metodologia usada pelo INE, que incorporou nas novas estimativas dados que ficaram entretanto disponíveis. “Esta revisão reflete a utilização de um conjunto mais alargado de informação, nomeadamente na ótica da oferta, complementando a informação sobre a despesa, onde se destacam alterações no consumo privado em consequência de dados mais recentes do índice de volume de negócios no comércio a retalho“, explica o instituto.

Foi essa atualização que também permitiu rever em alta o crescimento do trimestre em termos homólogos: de 6,9%, como estimado em julho, para 7,1%, uma desaceleração face à variação homóloga de 11,8% no trimestre anterior. O INE justifica, em parte, este crescimento expressivo com o efeito de base de 2021, um ano cujo arranque foi ainda fortemente marcado pelas restrições da Covid-19, com efeitos duros na atividade económica.

Porque faz o INE revisões das estimativas?

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Nas contas agora divulgadas, o INE incorpora mais informação do que nas contas provisórias, “originando revisões em alguns agregados para os trimestres mais recentes”. Em concreto, a informação mais recente nos índices de curto prazo (por exemplo, volume de negócios no comércio a retalho, na indústria e nos serviços, ou preços na produção industrial); os dados mais recentes das estatísticas monetárias e financeiras compilados pelo Banco de Portugal; e as estatísticas recentes do comércio internacional de bens, com recurso a índices que não estavam disponíveis quando as estimativas rápidas foram elaboradas e divulgadas, em julho.

João Borges de Assunção, responsável pelo núcleo de estudos de economia da Católica, nota, ao Observador, que a economia portuguesa “continua a operar acima (+1,1%) da referência do quarto trimestre de 2019, o último período normal antes da pandemia”.

A estagnação em cadeia vem interromper “o crescimento anormalmente elevado que se vinha observando desde o segundo trimestre” de 2021, refere o professor da Católica. Mas não surpreende. Pedro Braz Teixeira, economista da Nova SBE e diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, tinha-se surpreendido era com a contração de 0,2% estimada inicialmente pelo INE.

Na altura, a estimativa rápida surpreendeu também outros economistas, uma vez que se esperava um crescimento, embora baixo, e só o NECEP – Católica-Lisbon Forecasting Lab apontava, à Lusa, para uma contração em cadeia de 0,8%. Os restantes especialistas ouvidos pela agência previam um crescimento desde 0,3% havendo até quem falasse numa superação dos 2,5% do primeiro trimestre (em cadeia).

Procura interna a cair

Afinal, não houve crescimento, nem contração, mas estagnação. Porquê? Por um lado, porque o bom comportamento da procura externa líquida (cujo contributo para o PIB aumentou de 0,4 pontos percentuais no primeiro trimestre para 1,1 pp) foi anulado pelo desempenho menos favorável da procura interna (consumo e investimento), precisamente da mesma forma (-1,1 pp).

De facto, a procura interna passou de um contributo positivo (+2,1 pp no PIB no primeiro trimestre) para um contributivo negativo nos três meses seguintes. Especificamente, o consumo privado recuou, apesar de pouco (0,3%). João Borges de Assunção, da Universidade Católica, acredita que já foi alcançado o “pico” deste indicador no primeiro trimestre do ano, quando esteve 1,1% acima do quarto trimestre de 2019.

Pedro Braz Teixeira, do Fórum para a Competitividade, destaca, por sua vez, que a queda do consumo interno foi mais acentuada nos bens duradouros (-1,3% em cadeia), o que mostra que “as famílias já estão a sentir o impacto da inflação com a diminuição do poder de compra“. A tendência será para piorar, antecipa.

É que se este segundo trimestre ainda não foi afetado pela subida das taxas de juro — já que muitos créditos à habitação não foram revistos até ao final do segundo trimestre — os próximos trimestres já não serão imunes a este efeito, que visa conter a inflação suprimindo o consumo. Resultado: “No terceiro trimestre vamos contar com os impactos da inflação somado à subida das taxas de juro, penalizando mais o consumo interno“, diz o economista.

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Paulo Rosa, economista-sénior do Banco Carregosa, também indica que “os efeitos negativos da inflação mais elevada desde março de 1994 são cada vez mais visíveis na economia portuguesa, nomeadamente ao nível da diminuição do rendimento disponível, penalização do consumo privado e desaceleração da formação bruta de capital fixo [investimento]”.

Aliás, os dados do INE revelados esta quarta-feira revelam ainda que as despesas de consumo final das famílias aumentaram 4,2% no segundo trimestre face ao mesmo período de 2021 — ainda muito marcado pela pandemia —, mas em cadeia diminuíram 0,3%.

O poder de compra dos portugueses começa também a esvaziar-se pelo esgotamento das poupanças da pandemia. Numa nota divulgada pela unidade de estudos económicos e financeiros do BPI, o banco salienta que “a queda em cadeia do consumo foi extensível a todas as componentes, com exceção da despesa em bens alimentares, o que se explicará com as questões em torno dos estrangulamentos nas cadeias de produção e uma maior parcimónia na utilização das poupanças acumuladas durante os períodos de confinamento.”

Turismo a segurar

Foi, então, o turismo a evitar uma queda. A procura externa líquida puxou mais pela economia no segundo trimestre do ano (1,1 p.p.) do que no anterior (0,4 p.p.), resultado de um crescimento das exportações (4,7%, em cadeia) mais expressivo do que das importações (2,2%).

João Borges de Assunção destaca que as exportações de bens aumentaram 5% e as exportações de serviços 4,2%, “evidenciando a recuperação da fileira do turismo que, entretanto, se deverá ter mantido no terceiro trimestre”.

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Pedro Braz Teixeira acredita que o turismo vai ajudar no conjunto do ano. Desde logo devido ao terceiro trimestre, marcado pelo verão. Aliás, segundo os dados divulgados esta quarta-feira pelo INE, em julho, o turismo de não residentes (medido através das dormidas) já voltou aos níveis de 2019 (as dormidas dos residentes já tinham regressado antes aos valores pré-Covid).

O efeito tenderá, no entanto, a desvanecer para o final do ano, à medida que o verão acaba, assim como as poupanças. “O setor do turismo tem acrescentado valor ao PIB nacional, impulsionado não só pela necessidade de viajar novamente depois de dois anos de pandemia, bem como pela guerra na Ucrânia que deslocou algum turismo do leste europeu para outras paragens e Portugal foi um dos beneficiados pela sua localização geográfica. Todavia, à medida que o verão se aproxima do fim e as poupanças são consumidas, é provável que o contributo do turismo desacelere”, explica Paulo Rosa, do Banco Carregosa.

Paula Gonçalves, do BPI, salienta a evolução das exportações de bens, que “também têm tido bom comportamento”. “Ou seja, não tem sido apenas o turismo”, a puxar pela economia, conclui.

Incerteza arrefece investimento

João Borges de Assunção, da Universidade Católica, aponta como a “principal surpresa negativa” o investimento, que caiu 4,4%, o que anula “uma parte dos ganhos alcançados nos dois trimestres anteriores” e está “significativamente abaixo do benchmark”, nos cálculos do docente. Ainda assim, está 5,1 pontos percentuais acima do nível pré-pandemia, o que mostra “uma evolução globalmente favorável nos últimos dois anos”.

Novo restaurante Italiano na Avenida da Liberdade - Libertá. 16 de Março de 2022, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Exportações de serviços subiram 4,2%, "evidenciando a recuperação da fileira do turismo

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Não é a evolução do segundo trimestre contraditória com um Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que já está no terreno? Pedro Braz Teixeira, do Fórum para a Competitividade, considera que o PRR está “quase paralisado” em Portugal. Além de que, embora ajude, “não é decisivo”. O economista explica que a “bazuca”, dentro do investimento, é uma componente “relativamente pequena”.

Paula Gonçalves, do BPI, refere que o investimento é “uma componente particularmente volátil” e que o recuo face ao primeiro trimestre pode incorporar “um efeito de correção” após trimestres de crescimento consecutivo mais forte. “Não me parece que tenha a ver com os fluxos do PRR mas antes com fatores de correção, efeito de expectativas, inflação, incerteza e aumento dos juros“, defende.

Os especialistas concordam que, com a incerteza da guerra e os impactos da inflação, as dúvidas crescem nas empresas, que acabam por adiar decisões de investimento. “A crescente crise energética, que se assiste particularmente na Europa, impulsiona a já elevada inflação, e força o BCE a adotar uma postura cada vez mais austera. E diante destes cenários, a incerteza cresce e os empresários retraem-se, e esperam para materializar investimentos mais avultados”, diz Paulo Rosa.

Paula Gonçalves aponta no mesmo sentido: “O comportamento do consumo privado e do investimento deverá justificar-se pelo efeito da inflação e consequente queda do rendimento disponível real, para além do impacto da incerteza no adiamento de decisões de compra e investimento”.

O valor acrescentado bruto, ou seja, o valor gerado pela economia, a preços constantes, subiu pouco em cadeia (0,6%), mas mais em termos homólogos (7,5%), com o maior contributo a vir dos serviços.

Final do ano menos favorável

As perspetivas para o final do ano são menos favoráveis para a economia portuguesa do que a realidade mostrou até aqui, mas alguns economistas esperam, ainda assim, que as contas nacionais e públicas possam ficar melhor do que o estimado pelos vários organismos. Para este ano, o Governo projeta um crescimento de 4,9%, enquanto o Conselho das Finanças Públicas aponta para 4,8%, a OCDE para 5,4%, o FMI para 5,8%, o Banco de Portugal para 6,3% e a Comissão Europeia para 6,5%.

Segundo a nota do BPI, a economia “enfrenta riscos desfavoráveis que poderão afetar a atividade, sobretudo na transição de 2022 para 2023, afetando de forma mais significativa o crescimento da economia em 2023″.

O valor acrescentado bruto, ou seja, o valor gerado pela economia, a preços constantes, subiu pouco em cadeia (0,6%)

HUGO DELGADO/LUSA

Essas “perspetivas menos favoráveis” têm origem nas “tensões no mercado de energia na Europa”, que o BPI estima que se irão prolongar, “pressionando em alta os preços dos bens energéticos e impactando negativamente no consumo e nos custos de produção”. A procura também será afetada, com o aumento das taxas de juro, indica.

Pedro Braz Teixeira, do Fórum para a Competitividade, vê um cenário “bastante negativo” pela frente, “com desaceleração económica, aumento dos custos de energia, inflação, intervenção do BCE mais dura, corte da Rússia no fornecimento de gás”. O economista antevê “um agravamento das condições externas, com possível recessão na Alemanha que arrasta a zona Euro”. “Uma recessão na Alemanha chega cá por todos os lados.”

Já João Borges de Assunção assinala as “diferenças pronunciadas entre o crescimento nominal e real, especialmente nas componentes externas, com os deflatores em cadeia das exportações e importações a alcançarem máximos históricos de 7,2% e 6,5%, respetivamente”. Isso fará com a evolução do PIB seja “muito sensível a qualquer perturbação” com origem externa, nomeadamente em matéria de preços.

Na prática, a atual pressão generalizada sobre os preços torna o exercício da contabilidade nacional particularmente difícil e exigente. Assim, é de esperar que possam ocorrer oscilações importantes no PIB enquanto se mantiver a atual perturbação no mecanismo de preços (externos)”, antevê.

O professor da Católica acredita que a economia portuguesa poderá ter alcançado um pico no início do ano, olhando para o comportamento da procura interna e, em particular, do consumo privado e do investimento.

Daí que as expectativas estejam altas quanto aos apoios anti-inflação que o Governo vier a anunciar na próxima semana — e podem ajudar a mitigar os impactos negativos.

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