É um clássico nos Europeus e nos Mundiais: quantos dos jogadores que jogam por uma determinada seleção nasceram realmente naquele país? A ideia sempre existiu mas foi sublinhada e exacerbada pela França que conquistou o Mundial 2018, onde 19 dos campeões mundiais convocados por Didier Deschamps não tinham nascido em território francês.
Em 2022, no Mundial do Qatar, só quatro seleções levaram uma lista em que todos os jogadores nasceram no país que representam: Brasil, Argentina, Arábia Saudita e Coreia do Sul. Portugal está no 9.º lugar deste ranking, a par do Canadá e da Croácia com sete atletas nascidos além-fronteiras, e este sábado enfrenta o campeão da classificação. Marrocos, adversário da Seleção Nacional nos quartos de final do Campeonato do Mundo, é o país com mais jogadores que não nasceram no próprio território: são 13 em 26.
Entre Bélgica, Canadá, Espanha, França, Itália e Países Baixos, são muitos os internacionais marroquinos que nasceram noutros países — incluindo alguns dos mais conhecidos, como Hakimi, Ziyech e Mazraoui. Esta é a história de cada um deles.
Bilal El Khannous, Bélgica
O jovem médio de 18 anos, que atua no Genk e que realizou parte da formação no Anderlecht, nasceu em maio de 2004 em Strombeek-Bever, um subúrbio de Bruxelas. Filho de dois marroquinos que emigraram para a Bélgica, ainda foi internacional Sub-15, Sub-16 e Sub-18 pelos belgas antes de, na altura em que já atuava nos Sub-20, escolher representar a seleção africana. Foi convocado para o Mundial do Qatar sem ter disputado qualquer minuto pela equipa principal de Marrocos e ainda não foi utilizado por Walid Regragui — ou seja, chega aos quartos de final contra Portugal ainda sem ser internacional marroquino.
Ilias Chair, Bélgica
Nascido em Antuérpia, o médio de 25 anos realizou a formação entre Club Brugge, JMG Academy Belgium e Lierse, mudando-se para Inglaterra para representar o Queens Park Rangers, onde ainda está, em 2017. Filho de pai marroquino e mãe polaca, dois emigrantes na Bélgica, decidiu jogar por Marrocos logo a partir dos Sub-20 e nem sequer foi internacional belga nas camadas jovens. Estreou-se pela equipa principal em junho do ano passado, num particular contra o Gana, e leva 10 internacionalizações.
Selim Amallah, Bélgica
O médio de 26 anos nasceu em Hautrage, bem perto da fronteira com França, e tem ascendência marroquina e italiana. Começou a jogar no Mons, passando também pelo Anderlecht, e tem realizado toda a carreira na Bélgica entre Mouscron, Tubize e Standard Liège, que representa desde 2019. Escolheu jogar por Marrocos ainda muito jovem, nunca chegando a ser internacional belga na formação, e estreou-se pela equipa principal marroquina em novembro de 2019, contra a Mauritânia, numa partida a contar para a qualificação para a CAN. Tem 20 internacionalizações.
Yassine Bounou, Canadá
O guarda-redes de 31 anos é filho de pais marroquinos que tinham emigrado para o Canadá e nasceu em Montreal. Aos três anos, porém, a família regressou desde logo ao país africano, assentando arraiais em Casablanca, com Bounou a dar os primeiros passos no futebol no Wydad Casablanca. A proximidade com Espanha fê-lo saltar para o Atl. Madrid, onde nunca teve grande sucesso, passando depois por Zaragoza e Girona antes de chegar ao Sevilha, onde é uma referência desde 2020 e onde já conquistou uma Liga Europa. Elegível para representar tanto o Canadá como Marrocos, escolheu ser internacional marroquino logo a partir dos Sub-20, estreando-se na seleção principal em agosto de 2013, e é agora o guarda-redes indiscutível da equipa com 49 internacionalizações.
Achraf Hakimi, Espanha
A história do lateral do PSG é uma das mais conhecidas dentro da seleção marroquina — naturalmente, por ser o capitão, a referência e o melhor jogador da equipa. Achraf Hakimi nasceu em novembro de 1998 em Madrid, filho de pais naturais de Marrocos que tinham emigrado para Espanha, e depressa entrou na formação do Real Madrid. Passou 10 anos nas camadas jovens merengues e atraiu a atenção da Real Federação Espanhola, que o chegou a convocar para passar alguns dias integrado numa concentração com o objetivo de representar Espanha internacionalmente. Hakimi, porém, depressa percebeu que queria jogar pelo país de origem dos pais. Representou Marrocos logo a partir dos Sub-20 e estreou-se na seleção principal em outubro de 2016, tendo agora 58 internacionalizações. Saiu do Real Madrid em 2020, depois de já ter estado emprestado ao Borussia Dortmund, notabilizou-se no Inter Milão onde ganhou a Serie A e saltou para o PSG na época passada.
Munir Mohamedi, Espanha
Nascido em maio de 1989 em Melilla, bem perto da fronteira com Marrocos, o guarda-redes começou a dar nas vistas no Ceuta e passou pelo Almería e pelo próprio Melilla antes de saltar para o Numancia. Passou dois anos no Málaga, abandonando Espanha em 2020 para assinar pelo Hatayspor da Turquia, mudando-se já este ano para o Al Wehda da Arábia Saudita. Filho de pais marroquinos, chegou a declarar a intenção de representar Espanha internacionalmente, mudando de ideias em 2014 e estreando-se por Marrocos em março do ano seguinte num particular contra o Uruguai. Suplente crónico de Bounou, soma 44 internacionalizações.
Romain Saïss, França
O experiente central de 32 anos nasceu em Bourg-de-Péage, a 80 quilómetros de Lyon, e é filho de mãe marroquina e pai francês. Com formação no Valence, passou por Clermont, Le Havre e Angers antes de merecer o salto para Inglaterra — onde integrou o Wolverhampton de Nuno Espírito Santo que acabou por conquistar o histórico regresso à Premier League. Passou seis anos no Wolves, tornando-se um dos capitães de equipa e titular habitual ao lado da armada portuguesa, e só deixou os ingleses no último verão para assinar pelo Besiktas da Turquia. Saïss nunca representou outro país que não Marrocos internacionalmente e estreou-se pela seleção logo em novembro de 2012, num particular contra o Togo, tendo agora 70 internacionalizações.
Sofiane Boufal, França
O avançado de 29 anos nasceu em Paris, filho de pais marroquinos que ainda vivem em França, mas sempre representou Marrocos e estreou-se pela seleção logo em março de 2016, tendo agora 36 internacionalizações. Boufal realizou toda a formação no Angers, de onde saiu em 2015 para passar por Lille, Southampton e Celta Vigo antes de regressar ao clube francês há duas temporadas.
Walid Cheddira, Itália
Nascido em Loreto, localidade conhecida pela Basílica de Santa Casa que anualmente leva milhões de peregrinos até lá, o avançado de 24 anos é filho de pais marroquinos que emigraram para Itália. Formou-se em pequenos clubes italianos, como o próprio Loreto e o Sangiustese, e teve a primeira grande oportunidade em 2019 quando assinou pelo Parma. Contudo, nunca se afirmou e passou por vários empréstimos antes de aterrar no Bari, da Serie B, que representa atualmente. Internacionalmente, Cheddira sempre jogou por Marrocos e estreou-se pela seleção principal no passado mês de setembro, num particular contra o Chile, somando agora três internacionalizações.
Hakim Ziyech, Países Baixos
Tal como acontece com Achraf Hakimi, também a história de Ziyech é uma das mais conhecidas devido ao sucesso do avançado do Chelsea. O jogador nasceu em Dronten, bem no centro dos Países Baixos, e é filho de pais marroquinos. Formado nos clubes locais antes de saltar para o Heerenveen, foi naturalmente abordado pela Federação neerlandesa e chegou a representar o país onde nasceu nos Sub-20 e nos Sub-21, optando depois por jogar por Marrocos a nível sénior e estreando-se pela seleção principal marroquina em outubro de 2015. Ziyech passou também pelo Twente e pelo Ajax, tendo chegado às meias-finais da Liga dos Campeões com os últimos, e assinou pelo Chelsea em 2020, conquistando precisamente a Champions com os blues. Tem 47 internacionalizações.
Noussair Mazraoui, Países Baixos
O lateral de 25 anos nasceu em Leiderdorp, próximo de Roterdão, mas cresceu em Alphen aan den Rijn. Tal como praticamente todos, é filho de emigrantes marroquinos nos Países Baixos e foi internacional pelo país africano logo nos Sub-20 e nos Sub-21, estreando-se pela seleção principal em 2018 e somando agora 19 internacionalizações. Depois de ter começado a formação no Alphense Boys, foi um produto da prodigiosa academia do Ajax e também fez parte da equipa de Erik ten Hag que chegou às meias-finais da Liga dos Campeões, saltando para o Bayern Munique no verão passado.
Sofyan Amrabat, Países Baixos
Nascido e criado em Huizen, na área metropolitana de Amesterdão, o médio de 26 anos também é filho de pais marroquinos mas chegou a representar os Países Baixos nos Sub-15. Estreou-se por Marrocos no Mundial Sub-17 e já não voltou atrás, tornando-se internacional em 2017 num particular contra a Tunísia e tendo agora 43 internacionalizações. Dividiu a formação entre o HSV De Zuidvogels e o Utrecht, notabilizando-se nestes últimos para dar o salto para o Feyenoord e depois para o Club Brugge da Bélgica. Chegou a Itália por empréstimo, atuando no Hellas Verona, e assinou pela Fiorentina já em 2020.
Zakaria Aboukhlal, Países Baixos
O avançado de 22 anos nasceu em Roterdão e tem mãe marroquina e pai líbio. Representou os Países Baixos até aos Sub-20 mas, muito por ter crescido inserido na comunidade marroquina que existe naquela cidade neerlandesa, acabou por decidir jogar por Marrocos e rejeitou também a seleção da Líbia, onde também podia atuar. Estreou-se em novembro de 2020, contra a República Centro Africana e na qualificação para a CAN, e tem agora 14 internacionalizações. Realizou a formação entre o Willem II e o PSV, atuando na equipa de Eindhoven antes de se mudar para o AZ Alkmaar e depois para o Toulouse, que representa desde o verão passado.