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Retirada do Twitter: "Ian Storror"

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O mais esquecido dos génios da música

Townes Van Zandt abdicou de tudo -- do dinheiro, das mulheres, dos filhos, da saúde -- para se dedicar às canções. Marcou Bob Dylan, Neil Young e Willie Nelson. Se estivesse vivo, faria hoje 72 anos.

“Townes é o melhor compositor de canções do mundo, e eu subirei à mesa de café do Bob Dylan, com as minhas botas de cowboy, e di-lo-ei” (Steve Earle, músico e amigo de Townes Van Zandt)

Poucos músicos se terão preocupado tão pouco com a sua autopromoção como ele. Talvez por isso, aquele que é um dos mais relevantes cançonetistas americanos da segunda metade do século XX faria hoje 72 anos, se estivesse vivo, e poucos o recordam. Ele que abdicou de tudo para perseguir aquilo que, nas palavras do seu filho, J. T. Van Zandt, “o deixava completamente obcecado”: a música. O próprio o assumiu, numa entrevista dada a uma rádio norte-americana, reproduzida no filme “Be here to love me: a film about Townes Van Zandt”:

"A dado momento percebi que podia realmente fazer isto [música], mas era preciso deixar tudo para trás: a família, o dinheiro, a segurança, a felicidade, os amigos. Rebentar com tudo. Pegar na guitarra... e ir."

Com uma paixão pelos blues e pela música country e a folk norte-americana, Townes foi um músico maldito tocado por um dom único: nunca se encaixou na indústria musical e foi-se autodestruindo com o tempo, mas deixou um legado marcante. Foi descrito inúmeras vezes como “uma figura de culto”: alguém que, “embora não seja muito conhecido, é conhecido por gente suficiente para ser famoso”, numa descrição curiosa de um jornalista que o entrevistou na fase inicial da sua carreira. Um estatuto explicado, entre outras razões, pelo desinteresse do músico na promoção do seu trabalho e pela dificuldade com que se foi deparando na relação com as editoras a que esteve ligado.

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Numa entrevista reproduzida no filme “Be here to love me”, o próprio reconhecia que os álbuns que editou no seu período mais produtivo — entre 1968 e 1972 — não se estavam a vender propriamente bem, manifestando ainda desinteresse quanto à procura de um sucesso a larga escala: “Nenhum deles [dos álbuns] vendeu mais de 7 mil exemplares. Estão a vender-se de uma forma muito lenta. Se me tornarei uma estrela ou não é algo com que ele [Kevin Eggers, o seu manager na altura] está preocupado. Mas escrever uma boa canção, sabes, é o que mais me preocupa. (…) Não tenho a preocupação de encher os fãs de coisas, é tudo tão errado [esse lado publicitário da indústria].”

A sua história merece ser contada — tanto quanto a sua música merece ser ouvida. Uma história que envolve problemas com álcool e drogas (que viriam a causar a sua morte, aos 53 anos), tratamentos de choque com insulina (já em desuso na medicina moderna, mas que lhe prescreveram ainda em jovem, induzindo-o em comas diários e provocando-lhe a perda das memórias de infância) e um conjunto de comoventes canções desencantadas com a vida e com o mundo que o rodeava, que enfrentava quase sempre de atitude libertina e com um chapéu de cowboy na cabeça. Dedicou a vida a tentar escrever canções “perfeitas”, como diria mais tarde, abordando o seu processo de composição: “Cada canção que escrevo tem de ser perfeita. Não pode haver nenhuma frase, nenhuma vírgula, nenhuma pausa errada. [As canções que escrevo] têm de ser sobre alguma coisa de que valha a pena escrever.”

Não foi um hippie no final dos anos 60, embora partilhasse com eles o gosto pela liberdade, pelo álcool e pelas drogas (o vício da heroína, por exemplo, mas também do LSD e da cocaína). A delicadeza dos temas e álbuns que foi compondo tornavam-no mais um intérprete trágico do que um defensor da paz e do amor. Como o descrever? “Compositor triste” será sempre uma tentação — mas essa é uma descrição em que Townes não se revia, como disse numa entrevista televisiva a uma estação holandesa, em 1995, dois anos antes de morrer:

"Nem todas as [minhas] canções são tristes. Tenho algumas que não são tristes, são desesperadas. Totalmente desesperadas. Não achas a vida triste?"

A infância, a juventude e os choques de insulina

Townes van Zandt nasceu a 7 de março de 1944, na cidade de Fort Worth (estado do Texas), no meio de uma família próspera norte-americana. O início do seu percurso musical começou em 1956, quando viu Elvis Presley tocar no programa de televisão The Ed Sullivan Show. A música de Elvis (e a popularidade que com ela conseguia junto das mulheres) causou uma forte impressão ao jovem Townes Van Zandt, que tinha então 12 anos. Pediu ao pai a sua primeira guitarra — e recebeu-a no Natal desse mesmo ano.

Dois anos depois, Townes Van Zandt mudou-se com a família para a cidade de Boulder, no estado do Colorado. Terá sido um bom estudante, já que quatro anos depois, com 18 anos, teve um bom resultado no SAT, um teste requerido para o ingresso nas faculdades do país. De 0 a 1600, teve uma classificação de 1170, equivalente, a 16,2 valores na escala europeia (de 0 a 20). Com o resultado, conseguiu entrar na universidade do Colorado Boulder, mas no segundo ano de licenciatura os seus pais, preocupados com os excessos com o álcool e com alguns episódios que protagonizou, foram buscá-lo, levando-o para Houston, no Texas, para onde a família se havia entretanto mudado.

Num desses episódios, Townes Van Zandt atirou-se (ou deixou-se cair) da janela da residência universitária onde vivia — um apartamento situado num quarto andar de um prédio em Boulder. Viria, nos anos 70, a descrever essa vida enquanto estudante da universidade do Colorado Boulder, explicando que nesses tempos andava a fazer “apenas coisas loucas e selvagens: estar sempre bêbado, beber vinho barato (…), fechar-me uma semana, mais coisa menos coisa, dentro do meu apartamento, tirar o telefone da ficha, ouvir muito a música de Lightnin’ Hopkins e as músicas da fase inicial do Bob Dylan”. Quanto à queda, recordou-a da seguinte maneira:

“Decidi que me iria inclinar e tentar perceber como é que era a sensação (…) de [estar a] perder o controlo e em queda [livre]. Percebi que, para a compreender, teria de cair. Comecei a inclinar-me, de costas, de forma muito lenta, prestando muita atenção [à sensação] e caí. Aterrei, quatro andares abaixo, exatamente de costas. Consigo lembrar-me perfeitamente do impacto da queda, de como me senti. Meu Deus.”

Histórias como esta fizeram com que os seus pais o levassem à University of Texas Medical Branch, situada na cidade costeira de Galveston, para um diagnóstico clínico (o seu colega de quarto, Bob “MaverickMyrick, diz que estes o foram buscar interrompendo uma festa em que ambos estavam). Aí, foi-lhe diagnosticada “depressão maníaca” — uma doença que anos mais tarde veria o seu nome ser substituído pelo termo “transtorno bipolar”. Com a recomendação dos médicos e com o consentimento dos seus pais, foi submetido a uma terapia de choques de insulina, um tratamento psiquiátrico muito em voga nos Estados Unidos nas décadas de 40 e 50, que consistia em injetar os pacientes com grandes doses de insulina, induzindo-os em comas diários. Caiu em desuso durante os anos 60, mas Townes Van Zandt não se livraria dela.

A sua primeira mulher, Fran Petters, deu o seu depoimento sobre esse período no filme que retrata a sua vida: “A família dele achou mesmo que ele precisava de ajuda, e os médicos disseram-lhes que era ali que teria o melhor tratamento. Puseram o Townes em choques de insulina, acho que durante quase três meses”. Uma decisão de que, segundo revelou a sua irmã, Donna Spence, a mãe de Townes se viria a arrepender: “No ano em que morreu, a minha mãe disse-me que se pudesse mudar alguma coisa na vida dela, não teria dado permissão aos médicos para submeter o Townes àqueles tratamentos”.

Os tratamentos tiveram um efeito forte na personalidade de Townes Van Zandt: para além de ter perdido todas as suas memórias mais antigas (a partir daí as únicas imagens que tem da sua infância provêm de fotografias, não de lembranças), mudaram-no, como explicou a sua primeira mulher, Margaret Brown, à realizadora do filme documental sobre o músico: “Ele continuava relativamente charmoso, mas eu percebia que estava diferente”.

A dedicação à música e (sempre) o álcool e as drogas

A partir daí, a sua vida prosseguiu, ainda longe da sua grande aposta na música: entrou na Universidade de Houston, onde ingressou num curso de preparação para a licenciatura em Direito, juntou-se a uma fraternidade universitária, casou e tentou entrar na Força Aérea, mas foi impedido. Precisava que um médico lhe assinasse uma declaração garantindo que tinha as condições psicológicas requeridas, mas o diagnóstico foi o contrário. “Um maníaco depressivo [hoje dir-se-ia bipolar] agudo” era a sua descrição clínica à data.

Em janeiro de 1966 o seu pai morreu e Townes Van Zandt viria a abandonar a universidade de vez, com 21 anos, para se tornar músico. Nessa altura, trabalhava às sextas-feiras e sábados à noite, tocando em pequenos clubes. Não ganhava muito (segundo o músico Wrecks Bell, que o conhecia à data, chegou a receber apenas 10 dólares por noite), mas, a par de outros biscates, conseguia assegurar a subsistência mínima do casal — e o próprio, recorda Kevin Eggers, “quase desprezava o dinheiro”.

Em casa, instalou um pequeno estúdio, onde, segundo a sua mulher, ficava “três, quatro horas” isolado a tocar. Foi nesses tempos que escreveu a sua primeira canção editável, “Waitin’ around to die”, que apresentou à sua mulher, Fran Petters. Esta viria mais tarde a dizer que, por essa altura, estando ambos na casa dos 20 anos e tendo acabado de casar, esperava que da sua guitarra e voz saísse uma balada amorosa, não uma canção depressiva que parecia pedir à morte que se aproximasse. A partir daí fez-se à estrada, passando a viajar constantemente entre o Colorado, Nashville e Texas.

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“Waitin’ around to die” viria a ser incluída no primeiro LP de Townes van Zandt, For the sake of the song, lançado dois anos depois (em 1968). E Townes Van Zandt apareceria a tocar a canção no documentário “Heartworn Highways”, estreado em 1981 e filmado entre 1975 e 1976, que procurava mostrar a realidade do movimento outlaw country (country fora da lei) no país. No filme, Townes van Zandt seria ainda filmado a beber uísque em pleno dia e a disparar a sua arma (que gostava de ter por perto), no atrelado em que vivia à data, na cidade de Austin (Texas). Um dos presentes, “Uncle” Seymour Washington, seria filmado a chorar depois de Townes van Zandt tocar o tema:

1968 a 1972: 6 álbuns em 4 anos e um tema especial

Foi nesse ano, 1968, que começou o período mais prolífico de Townes Van Zandt, que durou 4 anos: até 1972, lançaria seis álbuns, todos merecedores de reconhecimento posterior. Nestes discos estão aquelas que são consideradas as maiores obras-primas da carreira de Van Zandt, com canções “desesperadas”, como ele as descreveria mais tarde. Faria também músicas de ritmo mais acelerado, com coros femininos e ambiente descontraído, mas nem essas, salvo uma ou outra exceção, deixavam de transparecer uma tristeza profunda. E seria sobretudo pelas mais melancólicas que seria recordado.

No último álbum desse período, The late great Townes Van Zandt (título irónico, como se o músico já tivesse morrido e fosse um LP póstumo), estaria incluída a canção que o catapultaria para o sucesso comercial: “Pancho and Lefty”, que curiosamente só se tornou um êxito absoluto anos mais tarde, depois de músicos como Willie Nelson e Merle Haggard a terem interpretado, popularizando-a em todo o mundo.

Nesse álbum estava ainda outro tema singular, “If I needed you”. Uma canção que Townes Van Zandt compôs, segundo afirmou mais tarde num programa televisivo, enquanto dormia (isso mesmo):

“Estava a viver com o Guy e [com] a Susanna Clark [casal de músicos e amigos de Townes Van Zandt] e estava a preparar um álbum. [Um dia] estava a dormir e tive um sonho de que era um cantor folk. E esta era a canção que estava a tocar. Tinha um lápis e uma caneta junto à cama. Acordei a meio da noite, escrevi-a e acordei no dia seguinte.” Já acordado, não alterou uma linha da canção que sonhou, garantiu ainda.

Se esse foi o período mais produtivo da carreira de Townes van Zandt, ele não decorreria sem problemas: entre os seis álbuns, divorciou-se (em 1970) e teve uma overdose de heroína (em 1971), que quase lhe provocou a morte. Mas foi a partir de meados dos anos 70 que esteve num maior hiato de composição, dedicando-se mais à sua vida pessoal: em 1974 foi viver com a sua namorada da altura, Cindy Morgan, que se viria a tornar a sua segunda mulher quatro anos mais tarde, em 1978.

Pelo meio, deixou o seu anterior manager, Kevin Eggers, para assinar com John Lomax III (neto do historiador da música folk John Lomax e filho de Alan Lomax). Mais tarde despedia-o, voltando a contratar Kevin Eggers. Tudo na mesma década em que continuou a usar e abusar de álcool e drogas. Depois de The Late Great Townes Van Zandt (1972) só viria a lançar o álbum seguinte de originais seis anos mais tarde (“Flyin’ shoes”); e o sucessor deste último (“At my window”) demoraria nove anos a sair.

No início dos anos 80, a sua relação com Cindy Morgan deteriorou-se e os dois separaram-se em 1983, devido (entre outras razões) à sua relação extra-conjugal com Jeanene Munsell, que engravidou com um filho seu. Townes Van Zandt viria a assumir o filho, separando-se da anterior mulher e casando-se com Jeanene, de quem se divorciaria em 1994. Teve três filhos: o primeiro, J. T. van Zandt, com a primeira mulher (Frahn Petters), os últimos dois com Jeanene Munsell (William Vincent e Katie Belle). Os três surgem no documentário Be here to love me: a film about Townes Van Zandt e o mais velho, J. T. Van Zandt, explica porque é que a dedicação total do pai à música foi menos poética do que parece:

“Por um lado, acho que é uma decisão muito corajosa pôr tudo de parte e perseguir a única coisa com a qual estás obcecado. Mas, por outro lado, se tens uma personalidade suscetível aos vícios, então é uma ótima desculpa e se te alimenta os vícios é na realidade uma decisão um pouco fraca. Pôr tudo de lado e dedicar-te apenas a uma coisa [é errado], porque obviamente neste mundo tens pessoas que se preocupam contigo e há muito mais coisas na vida para além de escrever canções.”

1990: a década do declínio e da morte

Depois de uma década conturbada nos anos 80, Townes van Zandt entrou num centro de reabilitação em 1988 (algo que já havia feito mais de uma mão cheia de vezes). A sua decisão levou a que um dos seus amigos mais próximos, Bob Moore, deixasse também de beber: este chegou mesmo a lembrar mais tarde que a sua decisão foi encorajada por Townes Van Zandt, que costumava dizer que “bastam duas pessoas para ter uma reunião”, referindo-se às reuniões dos alcóolicos anónimos.

Em 1989, foi um mês para a Europa. Quando regressou, em meados de junho, Bob Moore estava no aeroporto para o receber, alcoolizado, como o próprio admitiu posteriormente. Quando o viu nesse estado, conta o seu amigo, Townes Van Zandt atirou-lhe um olhar amedrontado, “como se soubesse o que aí vinha”.

Em 1990 (sete anos antes de morrer) participou na digressão do grupo norte-americano The Cowboy Junkies, que durou dois meses e o levou não apenas a vários pontos dos EUA, mas também ao Canadá. Em outubro desse ano tocou numa pequena discoteca de Berlim, num concerto em que se apresentou sóbrio e espirituoso, cativando os alemães que o foram ver — algo totalmente diferente do que fez três anos depois, em Austin, onde se apresentou a um concerto tão embriagado que não conseguiu terminar uma única canção. Esses foram os piores anos da sua vida, como relata o seu filho, J. T. Van Zandt:

"Ele [quando estava embriagado] podia ser extremamente cruel para as pessoas que gostavam dele. Muitas foram as noites em que ia para a cama e ou chorava ou insultava-o: filho da puta. Mas, inevitavelmente, nas manhãs seguintes, depois de uma noite dessas, não interessava o quão bêbado tinha estado (e estava-o ao ponto de achares que ele estaria inconsciente), encontrava-o junto à minha cama, de manhã, esperando que eu acordasse, quase com lágrimas nos olhos, preparado para pedir desculpa. Dizia apenas: é fodido, pá, é fodido."

Em 1995, dois anos antes de morrer, esteve num programa de televisão holandês, onde mostrou que o desespero das suas canções era o desespero que tinha perante a vida. Questionado sobre quais eram os seus objetivos para o futuro, mostrou-se hesitante e pouco esperançado: “Quero fazer um novo álbum, só com originais. E então [pausa], sabes [longa pausa], quer dizer, tenho muitos objetivos. Tenho de ser pai e isso já é um objetivo em si mesmo. [Pausa]. Esse tipo de coisas. Mas gostaria de escrever algumas canções que fossem tão boas que ninguém as compreenda – incluindo eu“.

No ano seguinte, em 1996, foi contactado pelo baterista dos Sonic Youth, Steve Shelley, que lhe disse querer gravar um disco seu na editora da banda, Ecstatic Peace. Townes Van Zandt concordou – ficou “entusiasmado”, segundo revelou posteriormente a sua terceira mulher – e as sessões de gravação ficaram agendadas para dezembro desse ano.

Entre o dia 19 e 20 desse mês, Townes Van Zandt caiu nas escadas que se encontravam à porta de sua casa. Depois de ter ficado uma hora imobilizado no exterior, conseguiu arrastar-se até dentro de casa e ligou à ex-mulher, Jeanene, que enviou dois amigos para o irem ajudar. Levaram-no para dentro de casa e não foi hospitalizado, porque se recusou a ser internado. Passou então a semana do Natal no sofá, sem se conseguir deslocar sequer até à casa de banho.

Determinado a fazer o álbum que a editora de Steve Shelley (o baterista dos Sonic Youth) se propunha a editar — disse a Jeanene que tinha “mais um disco dentro” de si e que tinha de o fazer –, surgiu no estúdio (de Memphis) transportado numa cadeira de rodas. Mas não o chegaria a gravar: a meio, Steve Shelley cancelou as sessões devido ao comportamento e ao alcoolismo de Townes Van Zandt. O membro dos Sonic Youth recordou esses momentos em entrevista para o filme de Margaret Brown:

“Acho que estava a beber muito para acabar com as dores [que sentia]. Era uma situação verdadeiramente complicada. No meio de uma das nossas pausas enviei o Townes de volta para o hotel, para poder descansar.”

Dois ou três dias depois do Natal, acedeu finalmente a ser hospitalizado — depois de ter obrigado a ex-mulher a prometer-lhe que não o deixaria lá. Os raio-X que lhe foram feitos revelaram uma fratura do colo do fémur esquerdo e foram feitas várias cirurgias pequenas. Os médicos pediram à sua ex-mulher que o deixasse permanecer no hospital, mas esta levou-o para sua casa.

O músico começou a ter delírios, mas, depois de beber álcool e tomar medicamentos (não prescritos pelos médicos, que alegadamente se recusaram a fazê-lo devido ao seu historial de abuso de drogas) terá ficado lúcido por um breve período. No dia 1 de janeiro de 1997, com 53 anos, teve uma paragem cardíaca, resultante de vários anos de excessos e vícios. Foi descoberto morto pelo seu filho Will, que chamou Jeanene. Ela ainda tentou reanimá-lo, sem sucesso.

Fizeram-lhe dois funerais: um no Texas, que acolheu sobretudo familiares próximos, e outro numa grande igreja de Nashville, em que estiveram amigos, conhecidos e fãs. O legado que deixou é hoje mais reconhecido do que foi, por exemplo, no final da década de 1960 e início dos anos 1970 (altura em que esteve mais ativo e em que deixou as suas maiores obras-primas musicais).

Já foi citado como inspiração por músicos como Bob Dylan (que era aliás seu fã e alguém que Townes Van Zandt também muito apreciava, mas com quem nunca quis tocar), Neil Young e Willie Nelson, por exemplo. Ele que não foi, afinal, (apenas) um músico maldito, ou alguém que não se encaixou na indústria. Townes Van Zandt não se encaixou na própria vida, mas deu-lhe uma beleza diferente com as suas canções, de que todos somos herdeiros.

Texto editado por Tiago Pereira

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