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Falta de abraços, de empatia e do exterior. Como vai crescer esta "geração Covid"?

A pandemia acelerou as dependências online, o sedentarismo e a ansiedade. Psicólogos e investigadores questionam-se sobre o futuro de uma geração que vive a infância e adolescência em confinamento.

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Antes da pandemia a Maria nunca chorava de cada vez que ficava na creche. A separação temporária dos pais não a incomodava e era uma criança particularmente independente. O arranque do confinamento, em março deste ano, obrigou-a a ficar mais tempo em casa na companhia dos pais, sobretudo da mãe, a quem ficou “mais agarrada”. Alexandra Félix nota que a filha de dois anos pede agora mais colo e atenção, além de ter voltado mais vezes à chucha. Talvez por ainda ser pequena, Maria não estranhou as rotinas impostas pela pandemia, incluindo a desinfeção constante das mãos e o uso das máscaras que cobrem grande parte da cara. “Ela própria pede-nos para colocar uma máscara pequena que recebeu, anda sempre com ela atrás. Volta e meia acedo, mas não é uma coisa que incentivo”, esclarece a mãe, de 33 anos.

Medir a temperatura e trocar o calçado à chegada à creche também são realidades que não a afligem — tanto que, não raras vezes, é a própria criança a pedir à mãe para desinfetar as mãos. Apesar das distâncias necessárias, Maria não ficou mais fria nos afetos: habituou-se às videochamadas em família, mas continua a querer sair de casa sempre que os avós vêm à janela falar. Sobretudo agora que a família está a cumprir isolamento profilático.

Realidade semelhante é a de Inês Bretes, cujo filho de seis anos adotou as regras de combate à Covid-19 logo desde o início. Numa fase inicial, em que Inês estava mais descontraída do que o companheiro face à pandemia, foram várias as situações em que o filho a chamou à atenção. Como das muitas vezes em que saíram de casa e, mesmo sem ter ninguém por perto, ele pediu à mãe para usar a máscara. “Desde março que ele sai à rua com a máscara posta”, comenta ao Observador. “Ele pediu-me para comprar uma bolsa de cintura onde guardar o álcool em gel e a máscara. Tem o seu próprio álcool em gel e está sempre em cima de mim quando o boião está a acabar”, acrescenta.

Ainda que só seja possível especular, há já quem fale numa “geração Covid”. Aliás, os termos “coronials” ou “geração C” começam a circular na Internet. Sofia Aboim, socióloga e investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, acredita que é até “natural” que um termo como “coronials” pegue e explica que por geração entende-se não só as crianças que nasceram num determinado período, mas todas aquelas que “passaram a socialização primária” ou a “fase de crescimento e entrada na vida adulta” numa mesma altura. Ainda que não seja possível prever o futuro, a socióloga fala num “trauma social e cultural”. “O impacto na vida das crianças e dos adolescentes depende de quanto tempo isto durar. Temos de esperar para ver, mas sem dúvida que isto vai deixar marcas.”

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"O impacto na vida das crianças e dos adolescentes depende de quanto tempo isto durar. Temos de esperar para ver, mas sem dúvida que isto vai deixar marcas."
Sofia Aboim, socióloga

Os efeitos negativos e positivos da pandemia permanecem por caracterizar, o que é fácil de compreender dado o fenómeno recente. Ainda assim, nunca é cedo para começar a refletir sobre a forma como um ano atípico pode perturbar o desenvolvimento dos mais novos. Talvez por isso Diana Gaspar, psicóloga clínica e autora do livro “E Depois da Covid?”, começa por falar no impacto de uma criança que cresce a olhar para metade de um rosto. A dificuldade de reconhecimento emocional no outro, diz, deve-se à dificuldade em estabelecer empatia dado que os contornos faciais ficam cobertos pela máscara. “Se há dificuldade em reconhecer o outro, o desenvolvimento pode ficar aquém do esperado do ponto de vista da socialização e da inteligência emocional”, uma realidade que pode acabar num “adulto menos apto para a vida em sociedade”, especula.

Jornal da Nova Zelândia destaca campanha de Natal portuguesa

Quase no Natal, Diana Gaspar faz uso do anúncio da Bertrand Livreiros, o mesmo que foi destacado num jornal da Nova Zelândia, para explicar-se melhor. “Há ali coisas muito engraçadas, mas a caracterização preocupa-me imenso. A primeira coisa que a criança faz quando vê o pai é dar-lhe o desinfetante para as mãos”. A preocupação excessiva pode, nesse efeito, “comprometer a forma como nos relacionamos com o outro”. Do ecrã para a vida real, em contexto de consultório chegam-lhe casos idênticos, de pais que partilham cenários em que os filhos, acabados de chegar a casa, vão de imediato lavar as mãos e tirar a roupa. E que acabam, eventualmente, por negligenciar os abraços.

Num estudo publicado no Asian Journal of Psychiatry, a 14 de abril de 2020, sobre a saúde mental dos chineses durante a pandemia da Covid-19, concluiu-se que a prevalência geral de transtornos de ansiedade, sintomas depressivos e má qualidade do sono foi de 35,1%, 20,1% e 18,2%, respetivamente. Nas pessoas mais jovens, predominaram as perturbações de ansiedade e sintomas depressivos, em comparação com as pessoas mais velhas, sendo que os profissionais de saúde foram os que apresentaram o sono de pior qualidade. (…) O risco de os jovens e profissionais de saúde virem a desenvolver algum tipo de doença mental como consequência da pandemia é muito elevado”, escreve Diana Gaspar em “E Depois da Covid-19”

É por isso que a psicóloga diz que o instinto do abraço pode ficar comprometido caso seja muitas vezes impedido. “Se estivermos sempre a passar este tipo de mensagem a criança cresce com esta convicção. Gerações anteriores cresceram com a noção de que não se podia chorar e isso teve um impacto real. O que mais me preocupa é a ausência de afetividade. Os primeiros estudos sobre o vínculo afetivo mostram a importância do toque, do sorriso e da expressão emocional para o desenvolvimento saudável de uma criança.” Um abraço, acrescenta, desperta reações fisiológicas, sensações de conforto e de pertença.

Mais do que as memórias menos positivas, a psicóloga ressalva a modelagem, isto é, o facto de as crianças aprenderem através do que observam. Exemplo disso é o relato de uma mãe que encontrou a filha a brincar com bonecas, medindo-lhes a temperatura. “A criança reproduz na brincadeira a forma como comunicam com ela, o que ela vê à volta.” Diana, que trabalha em Coimbra com pais de crianças a partir dos três anos, insiste que é “preciso corrermos alguns riscos para não nos desumanizarmos por completo.”

Diana Gaspar não é a única profissional de saúde a lançar livros em ano de pandemia. Outros títulos recentes interrogam-se sobre os efeitos psicológicos da Covid-19, como “A Piscologia da Pandemia — Compreender e Enfrentar a Covid-19” (da Pactor), “Histórias da Pandemia” (Manuscrito), o muito mais abrangente “Descomplicar a Mente” (Oficina do Livro) e “Vamos Enfrentar a Tua Ansiedade” (Hora de Ler), encarado pelo psicólogo Paulo José Costa como um instrumento complementar no processo terapêutico que visa combater a ansiedade, o problema que levou mais crianças às consultas do autor.

Considerando crianças dos 10 aos 12 anos, estas gastaram em média 83,68% do dia em atividades sedentárias

© evgenyatamanenko/iStockphoto

“O direito ao brincar está mesmo em risco”

As implicações ao nível do desenvolvimento motor das crianças e dos adolescentes “são inúmeras”, começa por dizer Rita Cordovil, professora na Faculdade de Motricidade Humana (FMH), onde trabalha de perto com o também professor Carlos Neto (que em 2015 alertava, em entrevista ao Observador, que “Estamos a criar crianças totós, de uma imaturidade inacreditável”). Por altura do confinamento total, em março, os níveis de atividade física “desceram imenso” e os de sedentarismo cresceram a pique — as observações tiveram por base um estudo em que esteve envolvida. Considerando crianças dos 10 aos 12 anos, estas gastaram em média 83,68% do dia em atividades sedentárias.

“Ainda antes do confinamento, as crianças já estavam confinadas, devido a uma confrangedora falta de tempo e de espaço”

Entre as principais conclusões da investigação, que teve em conta um universo de 2159 rapazes e raparigas até aos 13 anos, está a ideia de que crianças com um espaço exterior em casa e com a companhia de outra criança foram “significativamente mais ativas”, enquanto aquelas cujos adultos de referência estiveram em teletralho apresentaram níveis mais reduzidos de atividade física.

Ao Observador, Rita Cordovil cita um segundo estudo com base numa amostra de uma escola em Lisboa, que ainda não foi publicado, com a seguinte conclusão: a maior parte das crianças (54 rapazes e 60 raparigas, do segundo ao quarto ano; média de idades de 7 anos) teve tendência para regredir ao nível da competência motora durante o confinamento total, sendo que muitas chegaram a ganhar peso. Ainda que esta seja uma realidade passível de ser alterada com o tempo, a professora salienta outra preocupação: “Crianças com maiores níveis de obesidade e que se mexem menos na infância vão, em princípio, culminar em adultos que valorizam menos a atividade física”.

Aquando do início do ano escolar em 2020, a Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP) reforçou a função socializante da escola e a importância dos recreios, ao escrever que “é essencial que se retomem as brincadeiras nos intervalos das aulas e que estes tenham uma duração adequada”. Mais tempo de receio e mais tempo dedicado à prática de Educação Física no exterior, bem como o regresso de quadros competitivos nas atividades desportivas, fazem parte da solução apontada por Rita Cordovil, mas não só. “Na comunidade deviam existir soluções para as crianças se mexerem. Precisamos que elas venham para a rua. O direito ao brincar está mesmo em risco”, garante.

"Crianças com maiores níveis de obesidade e que se mexem menos na infância vão, em princípio, culminar em adultos que valorizam menos a atividade física".
Rita Cordovil, professora na Faculdade de Motricidade Humana (FMH)

Foi precisamente numa ótica de defender “o direito a brincar” que vários nomes — incluindo Rita Cordovil e Carlos Neto — assinaram uma carta aberta em setembro, pedindo a autarquias e a juntas de freguesia para “aumentar as áreas para brincar nos seus territórios” e a entidades como o Ministério da Educação, e ainda a professores e assistentes, para reconhecer “o tempo para brincar espontâneo e livre como um tempo terapêutico, fundamental para melhorar as aprendizagens curriculares”. A carta em questão já foi entregue aos diferentes grupos parlamentares.

Numa altura em que muito se fala de criar condições para que as crianças recuperem o tempo de aprendizagens curriculares perdido, pouco se fala de criar condições para que as crianças recuperem o tempo de brincar perdido. Muitas crianças viram-se subitamente longe dos amigos, longe da sua intimidade e dos seus segredos, longe do contacto com a natureza e com o espaço exterior, longe dos níveis necessários de atividade física, longe de um tempo para criar e imaginar o mundo de uma outra forma com os seus pares, longe de um tempo para se auto-regularem e se superarem”, lê-se na respetiva carta aberta.

Em outubro, Graça Freitas frisou que a utilização de parques infantis encerrava “riscos acrescidos”, desaconselhando a sua utilização por serem equipamentos que “nem sempre são devidamente higienizados”. Já no início de novembro, a resolução do conselho de ministros assegurava que os parques infantis continuariam fechados.

Eventuais atrasos no desenvolvimento motor dos mais novos podem ainda gerar problemas de concentração e até de irritabilidade. Está tudo “hiper relacionado”, conclui a investigadora Rita Cordovil, assegurando que existe uma relação entre competência motora e performance em testes cognitivos.

A pandemia acelerou o uso de ecrãs

Durante o confinamento que fechou os portugueses em casa em meados de março, a dependência online acentuou-se, com 75% dos jovens a admitirem que passaram a estar mais tempo ligados aos ecrãs do que numa altura pré-Covid — 62% disseram que não se sentiram motivados para as aulas online, 14% afirmaram estar bastante irritados e outros 14% muito tristes.

Os dados apresentados e avançados em primeira mão por Ivone Patrão, psicóloga e terapeuta familiar no ISPA — Instituto Universitário, dizem respeito a um estudo com a chancela do projeto “Geração Cordão” realizado com jovens dos 12 aos 18 anos (a média de idades rondou os 15), considerando uma amostragem de 189 jovens e o período entre março e junho (os dados só começaram a ser reunidos em abril) — a 12 de março, o Governo decidiu que todas as escolas de todos os graus de ensino suspenderiam as atividades presenciais, as quais retomaram apenas no 3.º período para os 11º e 12º anos (as restantes aulas presenciais só foram retomadas em setembro; pré-escolar e creches reabriram em maio).

“Correremos todos o risco de desaprender a comunicar entre nós. Para alguns pode haver um processo de adaptação e até de rejeição.”
Ivone Patrão, psicóloga e terapeuta familiar no ISPA — Instituto Universitário

A investigadora identificou dois grandes riscos: o fazer as refeições na companhia de tecnologias e o ter acesso às mesmas durante a noite, o que perturbou a higiene do sono. “Percebemos que eram os mais velhos, a partir dos 15 anos, que residiam em meio urbano, que já tinham reprovado pelo menos uma vez e que tinham deixado de fazer exercício físico que tinham acesso aos ecrãs à noite”. Curiosamente, as raparigas mostraram-se mais dependentes do que os rapazes, levando Ivone Patrão a especular sobre a necessidade de socialização destas (ainda que os jogos online dos rapazes seja uma “socialização camuflada”).

Em comparação com estudos pré-Covid notou-se uma redução na partilha de conteúdos privados e na comunicação com desconhecidos. Não sei se isso aconteceu por estarem todos na mesma casa ou se por os pais perceberem ou não com quem os filhos estavam a falar”, continua.

Mas há outros dados a assinalar: dos 335 pais inquiridos, com um média de idades de 42 anos, apenas 8% percebem que os filhos têm dependência online; já dos 171 professores inquiridos, com uma média de idades de 47 anos, 81% consideram que os alunos estão dependentes da tecnologia. A disparidade de perceções entre pais e professores é notória, salienta Patrão, que considera que os dados podem ter várias interpretações.

A investigadora e autora (“O Pássaro Nimas dá Asas à Diversão”, lançado a 3 de dezembro, quer servir de orientação para pais e professores considerando um uso mais eficaz das tecnologias) afirma ainda que, no geral, estamos a fazer cada vez menos uma socialização mista, aquela que cruza comunicação presencial e digital, focando-nos sobretudo no online. As consequências inevitáveis da pandemia implicam que o treino das competências de comunicação ao vivo e a cores seja descurado, sendo que na socialização digital existe “muita fuga” e “muito evitamento”.

“Correremos todos o risco de desaprender a comunicar entre nós”, garante. Jovens com vulnerabilidades psicológicas, com uma baixa autoestima, que estejam mais isolados ou sejam menos resistentes à frustração e que gostem do mundo digital vão, quando tudo normalizar, “ser empurrados para o mundo presencial” sem o desenvolvimento de determinadas valências. “Para alguns pode haver um processo de adaptação e até de rejeição.”

A socióloga Sofia Aboim acredita que a utilização da Internet está para durar mesmo finda pandemia, muito embora “crianças de famílias mais qualificadas e com mais recursos tenham outro tipo de apoio”. Aboim traça ainda o seguinte cenário: “Um ano ou dois com uma escolarização atípica vai trazer custos e potenciar atrasos”.

“O principal impacto identificado até à data pela maioria dos estudos efetuados relaciona-se com perturbações de ansiedade", diz a psicóloga Rute Agulhas

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“Uma geração mais germofóbica? Acredito que sim”

“O principal impacto identificado até à data pela maioria dos estudos efetuados relaciona-se com perturbações de ansiedade – medos, fobias, perturbação de ansiedade generalizada e perturbação obsessivo-compulsiva. Em muitas situações, em comorbilidade com quadros mais depressivos”, começa por esclarecer Rute Agulhas, psicóloga forense e membro do Conselho Jurisdicional da Ordem dos Psicólogos Portugueses. O nível de impacto é determinado por fatores prévios de vulnerabilidade, como “a idade e nível de desenvolvimento, perturbações mentais pré-existentes, serem economicamente desfavorecidos ou permanecer em quarentena devido a infeção ou medo de infeção”. Curiosamente, um inquérito divulgado e realizado recentemente pelo Financial Times, ao qual mais de 800 pessoas com idades compreendidas entre os 16 e os 30 anos responderam, revelam que as dificuldades acrescidas da pandemia estão a traduzir-se num ressentimento crescente para com as gerações mais velhas, que estão em melhor situação e têm maior influência política.

A ansiedade é uma característica fisiológica que todos os seres humanos experimentam, faz parte do processo de sobrevivência. O problema surge quando não são usadas estratégias funcionais para a enfrentar, situações em que uma ansiedade latente pode comprometer processos de aprendizagem. No futuro podem surgir consequências como a intolerância à frustração, o centrar nos aspetos negativos ou até mesmo a propensão para a depressão, explica Paulo José Costa, psicólogo e autor do livro “Vamos Enfrentar a Tua Ansiedade”, dirigido a crianças dos 6 a 12 anos e publicado recentemente.

"Há vida para além da Covid, podemos criar atividades e melhorar a forma como estamos com a família nuclear. A memória das crianças vai ser proporcional à forma como estamos a passar este momento."
Diana Gaspar, psicóloga clínica

“Vai haver um antes e um depois [da Covid-19] com mais condições negativas do que positivas. O ser humano tem uma capacidade de adaptação extraordinária, mas as pessoas mais vulneráveis têm tendência para serem hipervigilantes e vão ficar ainda mais reativas”, continua. O especialista em psicologia educacional acredita que podemos estar perante uma geração mais germofóbica: “É muito mais fácil enfrentar um medo cujo objeto é visível. Quando é invisível não sabemos se está ou não presente e há propensão para desenvolver esse medo mais abstrato e essa germofobia”. Os cuidados excessivos no combate à pandemia, incluindo o medo da perda efetiva, são conceitos associados a esta geração: “Serão adultos com certeza mais vulneráveis”, acrescenta Diana Gaspar.

A par da ansiedade, há também outra questão: Rute Agulhas afiança que o confinamento em casa e o maior tempo passado em família favoreceu, em alguns casos, um aumento de violência. “Violência a nível do casal, à qual as crianças ficaram ainda mais expostas, a par de violência direta (física e/ou emocional) sobre as crianças e adolescentes. Os diferentes serviços que trabalham no sistema de promoção e proteção referem isto de uma forma muito transversal, em Portugal e não só”.

Questionada sobre o que é imprescindível numa altura destas, a psicóloga forense, autora do “Manual de primeiros socorros para pais e filhos” (publicado gratuitamente na pandemia), fala na necessidade em criar alguma estabilidade e previsibilidade para as crianças, mas também na distribuição de afetos e na comunicação ajustada. “As crianças devem sentir que são ouvidas e compreendidas, que têm um espaço para partilhar as suas dúvidas, receios e angústias, e que o meio envolvente as ajuda de alguma forma. Ainda, a possibilidade de brincarem, de conviverem (ainda que à distância) com familiares e amigos, e de cultivarem hábitos diários promotores de bem-estar (sono, alimentação e exercício físico).” Rute Agulhas assegura que é cedo para falar numa “geração Covid” e lembra que as crianças e os jovens podem ser “muito mais resilientes do que aquilo que, por vezes, pensamos”.

Já Diana Gaspar diz que o primeiro passo para assumir a tão precisa serenidade é perceber o que controlamos e o que não controlamos, bem como criar momentos em que nos mostramos para além da máscara e evitar alarmismo ou controlo excessivos. “Há vida para além da Covid, podemos criar atividades e melhorar a forma como estamos com a família nuclear. A memória das crianças vai ser proporcional à forma como estamos a passar este momento.”

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