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Família despejada vivia com os dois filhos numa carrinha. Empresário arranjou-lhes casa e pagou um ano de renda

Casal com dois filhos vive numa carrinha no Algarve. Depois da reportagem na RTP, empresário arranjou-lhes casa e pagou um ano de rendas. A publicação no Facebook provocou uma onda de solidariedade.

— Conhece um empresário do ramo automóvel aí em Santarém que se chama Jorge Veríssimo?

— Conheço sim. Por aqui dizem que ele é um benemérito e está sempre a ajudar quem precisa.

Assim que Jorge Verissimo chegou a casa, a mulher apressou-se a mostrar-lhe a história que tinha visto na RTP e que durante toda a tarde lhe permaneceu na cabeça. Era sobre um casal que fora despejado de casa com dois filhos pequenos e que acabou a viver numa carrinha, no Algarve. Pai e mãe descreviam todos os seus esforços para garantir que os dois filhos mantinham o ensino à distância numa altura de confinamento por causa da Covid-19.

Jorge pegou no comando da televisão, recuou na programação e encontrou as a imagens de Ana Sofia, o marido Jorge e os filhos Pamela e Cristiano. O casal contava que trabalhava como caseiros, a cuidar de uma casa naquela zona. Faziam todo o tipo de trabalhos domésticos e em troca tinham uma casa para viver, até que ele teve problemas de saúde e deixou de poder fazer as atividades habituais. Os patrões, segundo contavam, acabaram por despejá-los, dando-lhes cinco mil euros como uma espécie de indemnização.

O casal, temendo um processo judicial ou um outro despedimento, acabou por aceitar. Ao menos aquele era um valor seguro no imediato, disseram na reportagem televisiva. E foi com esse valor que ambos compraram uma carrinha. Ana Sofia explicava como fazia para conseguir ter uma secretária para cada um dos filhos, porque não queria que a falta de uma casa afetasse os seus estudos. Mostrava como reconstruiu a sua casa e a sua vida sob quatro rodas, com esperança que depois da pandemia tudo pudesse voltar ao normal.

Jorge e a mulher Susana (Imagem retirada, com a sua autorização, do Facebook de Jorge Verissimo)

O post it com o número da Santa Casa da Misericórdia que o levou à família algarvia

No dia seguinte, Jorge voltou a ver as imagens no seu escritório do stand onde vende carros — uma empresa que abriu há cinco anos e que, segundo ele, lhe trouxe a vida confortável que lhe permite agora ajudar outras pessoas, como tem feito.Procurou uma forma de contactar o casal e viu que a família era ajudada pela Santa Casa da Misericórdia de Faro. Pesquisou o número de telefone, escreveu-o num post it, mas o trabalho dominou o resto do dia e nada fez. Quando voltou a lembrar-se desta família era sábado e ninguém atendia do outro lado.

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Ao Observador, o empresário conta por telefone que no dia seguinte foi quase como que uma publicação “divina” que lhe apareceu no seu feed da rede social Facebook. Alguém apelava à ajuda daquela família e colocava o contacto de telemóvel de Ana Sofia. “Liguei-lhe e disse-lhe que estava disposto a oferecer-lhe um ano de rendas de uma casa. Mas como em Faro as rendas eram altas, perguntei se podia afastar-se daquela zona”, conta, sempre sob ressalva que não o fez para ser enaltecido.

"Eu só queria garantir que esta família tinha um teto para passar o verão, o inverno e o natal. Dar-lhes tempo também para passar esta fase da pandemia e depois a economia melhorar no Algarve e eles poderem encontrar uma alternativa"
Jorge Verissimo

O casal explicou-lhes que não queria afastar-se da escola das crianças nem sequer ir para um local que obrigasse à sua transferência. E Jorge, também ele com uma filha de seis anos, compreendeu. “Só queria garantir que esta família tinha um teto para passar o verão, o inverno e o natal. Dar-lhes tempo também para passar esta fase da pandemia e depois a economia melhorar no Algarve e eles poderem encontrar uma alternativa”, explicou.

“Não sou rico nem quero parecer, também nasci e cresci numa família modesta onde o luxo nunca abonou, mas pelo menos tinha um quarto debaixo de um teto. Com esforço, seriedade, trabalho e muito sacrifício, graças a Deus, agora a vida permite-me ajudar quem acho que merece ser ajudado. Não quero mudar o mundo sozinho (nem consigo). Se podia ir de férias com esse dinheiro? Podia! Mas assim deito-me de noite na minha cama com um sorriso ainda maior nos lábios”, lia-se no apelo que publicou na rede social Facebook.

https://www.facebook.com/jorge.verissimo.94/posts/3761847147197752

A reação de Ana Sofia — que tem sido bombardeada com telefonemas e que agora prefere não se expor e resguardar a sua família — foi a de alguém que não estava à espera de tamanha oferta, e que muito menos estava a acreditar no que se passava. Nesta altura a família já estava instalada numa pensão por dois meses, uma resposta do poder local à reportagem da RTP — mas a cozinha continuava a funcionar na carrinha.

Na publicação na rede social, Jorge apelou também a amigos que tivessem uma casa em Faro que ele pudesse arrendar para a ajudar esta família. E a resposta chegou de um deles em apenas seis horas. A casa, mobilada, estava fechada e está agora a ser preparada para poder receber esta família nos próximos dias.

Não é a primeira vez que Jorge ajuda outras famílias e há quem o acuse de fazer publicidade

Não é a primeira vez que Jorge ajuda quem mais precisa. Aos 38 anos, conta que começou a trabalhar ainda com 16 porque os pais não tinham dinheiro. Trabalhou na distribuição alimentar, foi fiel de armazém, teve uma série de empregos de onde não tirava mais do que um salário mínimo. Até que, há cinco anos, decidiu ir trabalhar por conta própria no ramo automóvel. Começou por ter uma frota de três carros, hoje tem mais de uma centena.

Desde então têm sido vários os pedidos que lhe chegam, grande parte para patrocinar eventos desportivos ou para contribuir para as festas populares. Mas quando começaram a surgir pedidos de ajuda para crianças, começou a preferir apoiar causas sociais. Com outros empresários, já ajudou três crianças com doenças raras que precisaram de tratamento no estrangeiro. Chegou mesmo a doar material para as vítimas dos incêndios de Pedrógão (mesmo que três anos depois tenha visto como foram gastos 1, 8 milhões de euros “para fazer um memorial às vítimas dos incêndios”, como constatou numa publicação).

https://www.facebook.com/jorge.verissimo.94/posts/3710245682357899

Por vezes os seus apelos fazem com que mais pessoas apoiem as suas causas, como aconteceu com um amigo que lhe quis dar um mês da renda que agora pagou à família algarvia. Jorge disse-lhe que já tinha pago um ano e sugeriu-lhe que então pagasse uma 13.ª renda. Têm também aparecido várias pessoas disponíveis para ajudar com bens materiais.

Há, porém, também aqueles que criticam e que dizem que está a ajudar apenas para promover a sua empresa. “Para mim é uma causa da minha empresa porque o dinheiro que tenho é de lá, não vejo qualquer problema em assumi-lo”, diz.

“Compreendam os mais céticos que a ideia não é colocar uma família a viver em casa à boa vida com tudo pago, mas sim dar uma folga temporal até que a situação do país melhore, ainda mais no Algarve que vive de turismo que não existe nesta fase. Os que têm filhos devem entender o desespero de alguém que vive numa situação destas”, escreveu na segunda publicação que fez sobre este caso do Algarve, onde conta como o seu apelo tinha tido, à data, “5793 partilhas / 1388 comentários / 5.9M de likes”, e que foram muitas as chamadas e mensagens recebidas, muitas delas a que foi incapaz de conseguir responder.

Certo é que depois desta história os pedidos de amizade e ajuda dispararam. De repente tem mais de um milhar de pedidos de amizade e de mensagens de pessoas a dizer que vão ser despejadas e que também precisam de ajuda. Jorge não pode ajudar todos e nem todos precisam de ajuda igual.

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