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Artigo atualizado ao longo do dia
O dia socialista foi de tradição em tradição até à novidade final: um comício de fecho de campanha na Praça do Município de Lisboa. De manhã, Pedro Marques fez uma arruada em Moscavide e depois almoçou na Cervejaria Trindade onde “mudou a fórmula do molho, mas não o PS”, registou o líder António Costa. E onde falou Eduardo Ferro Rodrigues para assinalar que “estas eleições também são um momento importante para o processo político português”, elogiando a “geringonça” e pedindo “um grande resultado da esquerda em geral e do PS em particular”. No final da descida do Chiado, outra tradição, foi o próprio líder socialista que levantou o candidato do chão debaixo do Arco da Rua Augusta.
Marques seguiu na arruada quase sempre em terceiro plano, com António Costa e até Fernando Medina a liderarem os contactos com as pessoas com quem se cruzavam no Chiado. No final chegou uma imagem que vale por mil descrições do que foi esta campanha de Pedro Marques às Europeias, com o próprio líder do PS a carregá-lo em ombros para que falasse às pessoas que acompanharam a arruada. O cabeça de lista às Europeias pediu “uma grande vitória no domingo” e agradeceu a “força que Lisboa deu à campanha do PS”. No final, Pedro Marques não escapou a ser atirado ao ar pelo líder socialista que o segurava.
No final a descida do Chiado foi o próprio António Costa que levantou o candidato em ombros. pic.twitter.com/Jli0DauieP
— Observador (Eleições) (@OBSEleicoes) May 24, 2019
Na arruada seguiam outros membros do Governo, como Siza Vieira ou Pedro Nuno Santos (e tinham estado mais no almoço da Trindade), que vinham bem atrás da liderança da comitiva onde António Costa ia disparado de um lado ao outro da rua para cumprimentar pessoas e entrar em lojas. Até à banca das cerejas, no final da Rua do Carmo, foi para perguntar o que está a sair mais: “Então o que vende mais, morangos ou cerejas?”. “Talvez as cerejas”, respondeu a vendedora que mal o viu virar as costas comentou: “Este foi mais simpático que o outro”. O outro? “Foi o PSD que passou aqui ontem, mas nem parou aqui”, disse ao Observador.
Na segunda fila da comitiva, na descida do Chiado, seguiam os candidatos da lista do PS às Europeias, que faziam um cordão, de braços dados, atrás de Costa e companhia. Pedro Silva Pereira, Carlos Zorrinho, Margarida Marques, Maria Manuel Leitão Marques e Isabel Santos. Pelo caminho, os jotas iam atirando papelotes das varanda e pediu: “Parem com isto”. O líder do PS-Lisboa ligou de imediato para mandar parar os sonoros disparos.
Costa nega críticas à esquerda. “Quando as coisas estão no bom sentido é preciso prosseguir”
Não que Costa tenha dito mais às pessoas por quem passou do que o habitual “muito bem” com que remata qualquer conversa de rua. Mas a descida do Chiado — embora não tão expressiva como outras que o PS já teve — deixou evidente a popularidade do primeiro-ministro. “Deixe-me dar-lhe um beijinho”, dizia uma senhora que furou a barreira de seguranças (que voltou a ser forte, como em Coimbra), interrompendo as declarações de Costa à imprensa. Já Pedro Marques, o homem que lidera a lista do PS que vai a votos no domingo, passou quase despercebido .
Aos jornalistas, o primeiro-ministro voltou a defender a construção de “uma grande frente progressista que permita virar a página da direita conservadora que PSD e CDS representam em Portugal e cujas políticas têm criado o caldo de cultura do qual as forças de extrema direita emergem”. Quanto à sua presença constante em campanha, ao lado do candidato, Costa não se incomoda que o acusem de nacionalizar as Europeias. Diz que nunca teve “ilusões que, mais tarde ou mais cedo, a oposição ia querer transformar estas eleições numa avaliação do Governo e antes que eles pedissem, eu adiantei-me logo”.
É mesmo um voto de confiança que peço”, admitiu sem rodeios.
Já confrontado com as declarações de Rui Rio, que chamou à geringonça “roda dos enjeitados”, Costa disse que a ouviu “com particular mau gosto. Mas tem sido uma nova característica do doutor Rui Rio”. Costa também desvalorizou que existam críticas suas aos parceiros de esquerda. “Há um debate sobre uma visão diferente sobre a Europa que não surpreende ninguém em Portugal e não foi isso que comprometeu a construção dessa solução, nem a produção de bons resultados”. Depois disse que era “irreversível” a política de reposição de rendimentos: “Não temos novos riscos de voltar para trás e mesmo quando Pedro Passos Coelho volta à campanha, não vai voltar ao Governo”, garantiu. Sobre a “geringonça” disse que “quando as coisas estão no bom sentido é preciso prosseguir”.
Ferro na cervejaria a salvar a honra da “geringonça” e a pedir “um grande resultado para a esquerda”
A Ferro “cheira-lhe o que vai acontecer” no domingo: “O PS vai ter uma grande vitória”. Mas o socialista também foi ao tradicional almoço de campanha para acalmar os ânimos dos últimos dias, em que ia em crescendo o ataque aos parceiros do Governo no Parlamento, BE e PCP. E também para separar águas entre o papel destes dois partidos na União Europeia e a utilidade que mostraram dentro de portas. “Daqui a poucos meses temos legislativas”, disse Ferro que considera que as Europeias, por isso mesmo, “ou são um travão a que a experiência bem sucedida dos últimos quatro anos possa ser continuada em outubro, ou são um reforço para que essa experiência que tem conseguido tão bons resultados possa continuar”.
Assim, o ex-líder do partido diz ser “fundamental que haja um grande resultado da esquerda em geral e do PS em particular”. E ainda separou os planos, explicando que “não é preciso fazer um desenho para se perceber que o sistema de alianças que tem funcionado em Portugal não é reproduzível à escala europeia. Tanto que, no acordo feito, não constavam questões de solidariedade política à escala europeia”.”Há que distinguir as duas lógicas de compromisso”, rematou.
Ferro ainda saudou Pedro Marques pela “campanha sem falhas” e em que “foi provocado de forma violenta”. E depois ouviu o líder António Costa sublinhar as referências feitas na Europa à mesma “geringonça”, salientado que se falava da solução política portuguesa como uma “espécie de aldeia gaulesa dos livros do Astérix, como o último Governo socialista na Europa. O que podemos dizer é que esta aldeia tem de crescer bastante”.
“Em quem votam os candidatos dos outros partidos para a Comissão?”
Mas logo de seguida apontou para as diferenças europeias face à esquerda quando questionou: “E agora, os candidatos dos outros partidos em quem vão votar para presidente da Comissão Europeia? à nossa esquerda não sabemos” e “à direita vão votar em Manfred Weber”, referindo-se ao candidato apoiado pelo PPE à Comissão como o homem que defendeu sanções a Portugal por violação do limite do défice.
E isto para pedir o voto no PS: “Ou vão votar em quem não se sabe em quem votará para presidente da Comissão, ou no PSD e CDS que vão votar em quem quis sancionar Portugal, ou vão votar no PS que apoia a eleição de um um socialista para a Comissão que pode começar a fazer na Europa o que começámos a fazer há três anos”.
Costa também fez o apelo ao voto recordando tempos em que “à pala de acreditar e confiar nas sondagens já muita gente teve muitos desgostos em muitas eleições”. “Não liguem ao que dizem as sondagens”, preveniu perante a sala de socialistas onde se contavam vários governantes, entre eles os ministros Vieira da Silva, Augusto Santos Silva, Mário Centeno, Eduardo Cabrita, Siza Vieira, Graça Fonseca, Nelson Souza e Mariana Vieira da Silva. Na mesa de honra estava também o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, o líder do PS-Lisboa Duarte Cordeiro (e também membro do governo) e a secretária-geral Adjunta do PS, Ana Catarina Mendes.
Pedro Marques falou para insistir no apelo ao voto na vitória da “esperança” sobre “o medo” no próximo domingo. “Não é tempo de aventureirismos de um pé dentro e outro fora”, reforçou ainda sublinhando a mensagem dos últimos dias sobre a “ambiguidade” dos parceiros de esquerda na Europa.
De manhã, o PS passou por Moscavide, numa arruada que costuma fazer sempre até porque naquela localidade nunca perdeu uma eleição desde 1975. Pedro Marques distribuiu “rosinhas socailistas”, como ia dizendo às senhoras que presenteava com a flor símbolo do partido.