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Política, política, política. A cada novos Jogos Olímpicos, o Comité Olímpico Internacional (COI) reitera que a política fica à porta e que ali apenas conta o desporto. E eis que, todos os anos, a política teima em voltar a entrar — umas vezes de forma mais sorrateira, outras abrindo a porta com estrondo.
Tóquio 2020 não está a ser exceção. Primeiro foi a atleta bielorrussa que recusou competir na prova onde foi inscrita pelo regime de Alexander Lukashenko sem o seu conhecimento, acabando por pedir ajuda ao COI para não regressar ao país. Krystsina Tsimanouskaya acabou por receber asilo humanitário por parte da Polónia e já não voltará à Biolorrússia. Depois, a lançadora do peso Raven Saunders fez um X com os braços, para representar “todos os oprimidos”, no pódio. De seguida, as ciclistas chinesas Cao Shanji e Zhong Tianshi também subiram ao pódio com pins com o rosto de Mao Tsé-Tung. As três últimas atletas ainda podem vir a ser sancionadas pelo COI.
Depois da medalha, o protesto. Raven Saunders sobe ao pódio e faz gesto político
E nem tudo fica por aqui. Há um escândalo em torno do sistema da participação dos atletas russos, cujo país está banido de competir nos Jogos pela estratégia de doping estatal detetada em 2014, que continua a ser falado. Mas já lá vamos. Primeiro, aproveitamos para recordar outros momentos em que a política se infiltrou na competição desportiva mais badalada do mundo.
Guerra (Londres 1948)
Quando falamos de relações entre países, não há tema mais perturbador do que uma guerra. E a II Guerra Mundial deixaria a sua profunda marca em alguns dos Jogos Olímpicos que se lhe seguiram, com as consequências políticas a marcarem fundo os eventos.
Os Jogos de 1948, os primeiros após o fim do conflito, foram em tudo atípicos. Numa Londres pós-Blitz, organizados por um Reino Unido depauperado depois do conflito, ficariam para sempre eternizados como “Os Jogos da Austeridade”. Isso via-se nos detalhes mais pequenos: a cerimónia de abertura foi uma simples largada de pombos e não houve Aldeia Olímpica, com os atletas masculinos a serem alojados num quartel militar e os femininos em dormitórios de uma universidade.
Outro efeito político que se fez sentir foi ao nível da participação: Alemanha e Japão não estiveram presentes em território dos Aliados. O Japão ainda esboçou vontade de o fazer, mas os britânicos aterrorizaram-se com a perspetiva. Como disse um responsável, de acordo com o Independent, “tecnicamente os japoneses ainda são inimigos e não podem estar presentes em nenhum evento onde o Rei esteja presente”. Mas o país não tinha sido expulso do COI, portanto em teoria nada o impedia de participar. No final, contudo, tanto Tóquio como Berlim decidiram não enviar delegações.
Em Londres, os problemas financeiros provocados pela Guerra sentiram-se em tudo. Ainda com o racionamento em vigor, o Governo britânico autorizou a que a dose diária de alimentos para os atletas fosse aumentada. Apesar disso, o racionamento tinha-se feito sentir na preparação para os Jogos: a corredora Sylvia Cheeseman desabafou como por vezes chegou a comer baleia, porque era um tipo de carne não racionado, como relata o The Guardian.
Os estrangeiros eram autorizados a trazerem comida, se os seus governos assim o permitissem, tendo os franceses trazido o seu próprio vinho e os holandeses fruta e vegetais. O New York Times conta que o court de basquetebol foi construído com madeira oferecida pela Finlândia e os aparelhos de ginástica foram dados pela Suíça.
Mas nem tudo são histórias de solidariedade e superação. Londres 1948 também ficou marcado por uma polémica (e bastante política, por sinal): inicialmente, a organização pensou em colocar os prisioneiros de guerra alemães a fazerem a limpeza dos Jogos — algo que um colunista do Daily Express classificou como podendo envolver os britânicos num “evento nada edificante”.
Segundo a BBC, o secretário de Estado dos Olímpicos — sim, o cargo foi criado —, concordou. Em vez disso, e para serem afastados da vista, os prisioneiros alemães não trabalharam nas limpezas; foram, em vez disso, usados como mão-de-obra para construir uma estrada em direção ao Estádio de Wembley.
Dúvidas houvesse sobre a influência política da II Guerra Mundial nestes Jogos, ficaram esclarecidas. Até a estrela do evento, a holandesa Fanny Blankers-Koen (que ganhou quatro medalhas de ouro), relembrou as duras privações dos tempos de preparação para os Olímpicos: “Havia pessoas a serem levadas, amigos meus da Resistência foram mortos, havia fome e as pessoas pediam comida na rua”, disse numa entrevista ao The Times em 1982.
Boicotes (Melbourne 1956, Moscovo 1980, Los Angeles 1984)
Não só as guerras armadas afetaram Jogos Olímpicos. Também a Guerra Fria teve impactos tremendos nos Jogos e não apenas num único evento. Os casos mais flagrantes foram os boicotes dos Jogos de 1980 (em Moscovo) e a retaliação em 1984 (Los Angeles).
Os EUA lideraram o boicote a Moscovo e conseguiram convencer mais de 60 países a juntar-se a si. O motivo foi a invasão soviética do Afeganistão — assunto suficientemente político por si só —, mas é impossível excluir a decisão do Presidente Jimmy Carter do contexto mais lato de toda a Guerra Fria. A retaliação da URSS surgiu quatro anos depois, não participando nos Jogos da cidade norte-americana e convencendo outros 14 países a juntarem-se. Pelo meio, vários atletas viram os seus sonhos olímpicos desfeitos: “Tenho de aceitar a conclusão inevitável: sou um peão”, chegou a desabafar a atleta de heptatlo Jane Frederick.
Os Jogos de Melbourne (1956) foram alvo de vários boicotes (da China pela participação de Taiwan e de alguns países árabes pela crise do Suez), mas o mais famoso foi o que fizeram Espanha, Suíça e Holanda pela invasão soviética da Hungria nesse mesmo ano. Um episódio que provocaria um dos momentos políticos mais tensos de toda a História dos Jogos: o sangrento jogo de pólo aquático entre a URSS e a Hungria, que teve insultos, vaias, pontapés e murros debaixo de água acima do normal para o desporto e acabou com um atleta soviético a esmurrar um dos adversários, Ervin Zador. Como se recorda na Smithsonian Magazine, os nadadores soviéticos tiveram de ser escoltados pela polícia até ao balneário, enquanto Zador foi assistido e teve de levar oito pontos.
A Guerra Fria levaria a outros momentos pontuais de alta tensão. Também em Melbourne, a checa Olga Fikotová e o norte-americano Harold Connoly, lançadores de disco e martelo respetivamente, conheceram-se e apaixonaram-se. Até aqui, a política não foi problema. No regresso a Praga, Fikotová participou num evento oficial e deparou-se com o seguinte: “Disseram-me que trouxe de Melbourne 50% de honra e 50% de vergonha, porque tinha andado enrolada com um fascista americano”, relatou anos mais tarde ao Financial Times, já depois de se ter casado com Connoly e mudado para os EUA.
Outra checa, Vera Caslavska, protagonizaria também um momento político tenso, desta vez na Cidade do México (1968). Na sequência da invasão soviética sobre a Primavera de Praga, a ginasta ganhou o ouro numa das disciplinas, mas empatada com a soviética Larisa Petrik. No pódio, quando o hino soviético foi tocado e a bandeira da URSS hasteada, Caslavska fez questão de baixar a cara e recusar olhar para a bandeira.
Racismo (Berlim 1936, Cidade do México 1968, Montreal 1976)
Não faltam também momentos na História dos Jogos em que a política pode não ter sido tão evidente, mas se revelou numa certa forma de ativismo. Os casos mais claros são os ligados a protestos contra o racismo.
Cronologicamente, tudo começou em Jessie Owens, é claro. Não porque o atleta norte-americano tenha sido protagonista de uma forma de protesto, mas porque o facto de ganhar quatro medalhas de ouro nuns únicos Jogos acabou por ser, de certa forma, um gesto político. Isto porque Owens era afro-americano e estava a competir nos Jogos de Berlim, que o Terceiro Reich quis usar como instrumento de propaganda da supremacia da raça ariana — propósito destruído pelas medalhas de Owens.
Anos mais tarde, o atleta aproveitaria para relembrar que o racismo não era um problema exclusivo da Alemanha Nazi: “Quando regressei ao meu país, depois de todas as histórias sobre Hitler, não me deixavam sentar na parte da frente do autocarro”, relembrou, a propósito das políticas de segregação racial nos EUA. “Não fui convidado para apertar a mão a Hitler, mas também não fui convidado para apertar a mão ao Presidente.”
Se há dois homens que certamente abanariam a cabeça em uníssono ao ouvir estas frases, são precisamente Tommie Smith e John Carlos. Os dois sprinters norte-americanos medalhados em 1968, na Cidade do México, protagonizaram o momento que ficaria para sempre marcado como um dos gestos mais políticos de sempre nuns Jogos Olímpicos: na subida ao pódio, ergueram os punhos fechados para protestar contra o racismo nos EUA. Entre eles, para receber a prata, estava o australiano branco Peter Norman, que decidiu apoiá-los usando um autocolante do Projeto Olímpico pelos Direitos Humanos — organização a que Smith e Carlos estavam associados e que protestava contra o racismo no desporto.
Os dois norte-americanos foram imediatamente expulsos da Cidade do México e, no regresso aos EUA, foram recebidos com uma chuva de críticas. John Carlos afirma mesmo que os insultos públicos e as ameaças de morte anónimas terão contribuído para o suicídio da sua mulher, quase dez anos depois. “Num minuto estava tudo luzidio e feliz, no momento seguinte era o caos e a loucura”, disse. “Não tinha emprego, não tinha estudos e estava casado e com um filho pequeno de sete meses.”
Ainda sobre o triângulo política, racismo e Jogos Olímpicos, não podemos deixar de referir os Jogos de Montreal, em 1976. É mais um caso de boicote, mas desta vez por uma questão claramente ligada à desigualdade racial: 30 países africanos recusaram ir ao Canadá, em protesto contra a tour da equipa de rugby da Nova Zelândia ter passado pela África do Sul. O objetivo era o de chamar a atenção para a violenta política de apartheid no país.
Terrorismo (Munique 1972, Atlanta 1996)
Em 1972, os Jogos Olímpicos enfrentariam aquele que foi provavelmente o seu momento mais negro. Depois da recusa do COI em permitir a participação nos Jogos de Munique de uma delegação palestiniana, o grupo terrorista Setembro Negro decidiu atacar.
Mark Spitz, o norte-americano de origem judaica, já tinha feito História ao conquistar as suas sete medalhas na natação, e dormia tranquilamente quando oito homens armados invadiram um dos apartamentos da Aldeia Olímpica onde estavam atletas israelitas. Logo ali, fizeram seis reféns. De seguida, dirigiram-se a outro dos apartamentos onde estavam membros da delegação israelita e depararam-se com alguns dos atletas de luta livre, que lhes fizeram frente. Um deles — Yossef Romano, veterano da Guerra dos Seis Dias — foi imediatamente morto, tendo outro colega tido o mesmo fim. Os restantes nove foram feitos reféns, tendo de contemplar os cadáveres dos colegas à sua frente durante 17 horas.
Nuns Jogos onde a segurança não foi prioritária — a Alemanha queria projetar uma imagem “amigável”, com pouca gente armada, para contrastar com os Jogos de 1936 —, os terroristas apressaram-se a fazer exigências. Às 5h da manhã, recorda a Sports Illustrated, o grupo atirou duas folhas de papel da varanda com as suas exigências: libertação de 234 prisioneiros em Israel e dos dois líderes das Baader-Meinhof (grupo terrorista de extrema-esquerda alemão), presos na Alemanha. Depois, a ameaça: se tal não for cumprido, cada refém começaria a ser executado a cada hora.
Seguiu-se um dia de completo caos. A polícia alemã não estava preparada para lidar com um caso daquela complexidade, sem unidades anti-terrorismo nem negociadores especializados. A certo ponto, o Setembro Negro decidiu alterar a sua exigência, passando a pedir um avião para fugirem para o Egipto, levando consigo os reféns. No aeródromo, estalaria o pânico, com os atiradores alemães a atacarem. Ao todo, nenhum refém israelita sobreviveria e cinco dos terroristas seriam mortos, bem como um dos polícias alemães.
A violência do ataque nunca seria esquecida. Shaul Ladany, atleta de marcha e sobrevivente do Holocausto que estava presente em Munique, conseguiu escapar ao Setembro Negro. Mas recorda-se de ter ouvido um responsável dos Jogos a argumentar com um dos terroristas, pedindo para que fosse “humano” e deixasse paramédicos da Cruz Vermelha entrar. A resposta marca-o ainda hoje, como recordou ao Times of Israel: “Os judeus também não são humanos”, disse o atacante.
Os Jogos de Munique estiveram interrompidos por 24 horas, mas foi decidido que continuariam, para que o espírito olímpico não fosse “esmagado” pelo terrorismo. Em 2012, foi equacionado fazer-se um minuto de silêncio pelas vítimas, mas o COI hesitou, temendo boicotes de nações árabes. Agora, em Tóquio, a cerimónia de abertura contou com um momento de homenagem ao que aconteceu em Munique 1972.
Embora seja um dos pontos mais dramáticos da História dos Jogos, a ação do Setembro Negro não foi a única de caráter terrorista a marcas uns Jogos Olímpicos. Em Atlanta, em 1996, um pequeno atentado provocou duas mortes e mais de 100 feridos, quando uma bomba caseira explodiu no Parque Olímpico. Uma das vítimas foi Alice Hawthorne, que tinha viajado com a filha de 14 anos (que ficou ferida) para assistir aos Jogos; a outra foi Melih Uzunyol, um repórter de imagem turco que morreu de ataque cardíaco quando se dirigia para o meio da confusão para cobrir o que tinha acontecido.
Se inicialmente não se tinha a certeza que a bomba que continha o explosivo foi lá colocada por motivos políticos ou não, rapidamente as autoridades começaram a tratar o caso como terrorismo. O tempo dar-lhes-ia razão. O responsável foi um jovem de 29 anos chamado Eric Rudolph, líder de um movimento chamado Identidade Cristã, que se opunha aos judeus e condenava as influências “demoníacas” no mundo. Tencionava que a sua ação pusesse um fim aos Jogos, como recorda a Atlanta Magazine, para “envergonhar o governo”. Nos anos seguintes, colocaria ainda bombas numa clínica onde se realizavam abortos e num bar gay. Só seria detido em 2003. Cumpre atualmente pena de prisão perpétua.
Pelo meio, os Jogos ainda ficaram marcados pela detenção de Richard Jewell, segurança que agiu de imediato para conter os danos, mas que acabaria por ser considerado suspeito pelas autoridades pela sua diligência. O seu caso daria azo ao filme de Clint Eastwood O Caso de Richard Jewell (2019) e a sua honra reposta com a detenção de Rudolph.
Mas apesar de o atentado de Atlanta ter causado muito menos vítimas do que em Munique, também deixou a cidade e a organização em choque. “Havia muitas perguntas: Será que isto foi um incidente isolado? Irá haver mais bombas? Como é que podemos continuar com os Jogos quando duas pessoas morreram? Alguns disseram que não deviam continuar, mas eles foram para a frente. Havia um precedente, os Jogos de Munique de 1972. Tinham sido mais letais, mais consequentes e muito mais significativos. E esses também continuaram”, recordou anos à Atlanta Magazine Ed Hula, jornalista que cobriu os Jogos de Atlanta.
Doping (Montreal 1976, Tóquio 2020)
O tema é quase transversal a todos os Jogos Olímpicos da Era Moderna, mas não necessariamente político. Porquê então incluí-lo aqui? Porque, por vezes, não falamos de substâncias tomadas por atletas individuais, mas por programas estatais de doping.
Para ilustrá-lo, dois casos. Começamos pelo programa da antiga República Democrática Alemã (Alemanha de Leste). O programa mostrou os seus incríveis resultados em 1976, nos Jogos de Montreal, quando a delegação da RDA arrecadou 40 medalhas de ouro. Só na natação feminina, as alemãs de leste conquistaram o ouro em 11 dos 13 eventos.
Só anos mais tarde se soube que tal não era resultado do treino, mas dos esteróides e hormonas masculinas que as atletas da RDA eram obrigadas a tomar, sem sequer o saberem.
A sua saúde ressentir-se-ia para o resto da vida: é o caso de Birgit Boese, que hoje em dia tem arritmias, pressão arterial alta, diabetes, problemas neurológicos e renais e movimenta-se com ajuda de canadianas. Foi uma das várias antigas atletas alemãs que receberam compensações em 2006 pelo governo alemão e uma das farmacêuticas envolvidas no escândalo. Ao todo, estima-se que nove mil atletas tenham sido abrangidas pelo programa, a grande maioria ainda quando eram menores de idade.
Mas não se pense que a questão dos programas estatais de doping são coisas do passado. Desde que um denunciante deu a conhecer o programa russo aplicado nos Jogos de Inverno de Sochi, em 2014, que a Rússia enfrenta uma punição pelo seu programa estatal de aplicação de substâncias ilegais aos seus atletas. O país foi banido dos eventos olímpicos, mas, em 2020, a pena foi reduzida: passou a permitir-se a participação de qualquer atleta que nunca tenha testado positivo, a nível individual.
É por isso que, agora em Tóquio, vemos tantas medalhas a serem atribuídas a atletas que trazem uniformes onde se lê a sigla ROC — abreviatura de Russian Olympic Committee. A bandeira russa não pode ser desfraldada e, quando os atletas sobem ao pódio, em vez do hino do seu país, ouvem o Concerto para Piano Nº1 de Tchaikovsky. “No fundo do meu coração, sinto-me triste por não poder ouvir o meu hino nacional no pódio”, lamentou o nadador russo Evgeny Rylov.
Mas Rylov, que ganhou o ouro nos 200m costas, é o símbolo vivo das complicações políticas que este escândalo de doping envolve. Senão, vejamos o que aconteceu na conferência de imprensa com o nadador norte-americano Ryan Murphy, que perdeu contra ele: “É muito esgotante mentalmente ouvir que estou a competir numa corrida que provavelmente não é limpa”, afirmou. A sua colega, Lily King, reforçou a acusação contra os russos, nunca referindo, no entanto, nomes — mas deixando a insinuação no ar: “Há um país que devia ter sido banido e, em vez disso, levou uma pequena palmada e fez só uma reformulação da sua bandeira nacional”.
Não foram os únicos atletas a falar sobre o tema. A canoísta Megan Kalmoe, também norte-americana, disse sobre as adversárias Vasilisa Stepanova e Elena Oriabinskaia que “é feio ver uma dupla que não devia sequer estar aqui a sair com uma medalha de prata”. E os russos ressentem-se das acusações: o tenista Daniil Medvedev perdeu a cabeça quando um repórter lhe perguntou se sentia um “estigma”, dizendo que não iria responder à pergunta. “Devia ter vergonha e devia estar fora dos Jogos”, disse ao jornalista em causa.
Para além dos atletas, o caso do doping russo já atinge proporções maiores. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, inspirou-se nos britânicos Queen e fez um discurso onde utilizou a expressão em inglês “We Will Rock You”. Os media russos perceberam a indireta e apressaram-se a lançar a campanha, com hashtag a acompanhar: #WeWillROCYou.
E, perante as críticas do nadador norte-americano Ryan Murphy, o ROC reagiu oficialmente: “É preciso saber perder, mas nem toda a gente sabe fazê-lo. Aqui vamos nós: outra vez a mesma conversa sobre o doping russo”, escreveu o organismo num tweet. E a resposta continuou, dura no tom, deixando claro que esta não é uma questão meramente desportiva: “A propaganda em inglês está a jorrar suor verbal nos Jogos de Tóquio. Através da boca de atletas ofendidos por terem perdido. Não vos vamos consolar. Perdoamos os mais fracos. Deus é o seu juiz e aquele que nos ajuda.”