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O tema da corrupção voltou novamente ao topo da agenda. Um relatório do GRECO — o Grupo de Estados contra a Corrupção –, um órgão do Conselho da Europa, diz que Portugal não cumpriu 73% das recomendações para o combate à corrupção. Marcelo Rebelo de Sousa pegou novamente no assunto e disse que esta é “uma grande prioridade para Portugal” e que dar continuidade às investigações de corrupção é “responder ao apelo da sociedade portuguesa e das sociedades democráticas”.
O Observador contactou oito políticos — todos antigos governantes ou titulares de altos cargos públicos. Oito responderam ao desafio que era responder a uma pergunta directa: “Alguma vez foi alvo de uma tentativa de corrupção?”
As respostas negativas superaram as positivas — mas, entre as negativas, várias foram as histórias contadas sobre como procuraram fugir a situações mais incómodas ou que estratégias utilizaram ao longo da vida para não serem apanhados em situações dúbias. Mas também existiram aqueles que denunciaram os nomes e os momentos em que foram abordados.
[Ouça aqui as declarações dos 8 políticos à Rádio Observador]
Ana Gomes
Ex-eurodeputada do Partido Socialista
“Se alguma vez existiram tentativas de corrupção? Sim, embora disfarçadas. Um dos casos foi com um eurodeputado português, Mário David [antigo eurodeputado do PSD]. Havia sanções ao Zimbabué, no tempo do [Robert] Mugabe, e eu recebo um email enviado por ele para vários deputados, mas para mim também. (…) Que o Ministro do Comércio queria fazer uma grande ofensiva de promoção das oportunidades comerciais e que ele estava a organizar uma ida de um grupo de deputados a título pessoal, com tudo pago, hotéis de primeira, viagens de primeira. Obviamente que não sei aceitei, mas é demonstrativo dos esquemas de corrupção em que entram algumas pessoas.”
Mário David foi contactado pelo Observador para responder, mas recusou comentar.
Álvaro Santos Pereira
Ex-ministro da Economia
“Comigo as pessoas sabiam que não tinham hipótese. Eu atuaria logo com quem tentasse pisar o risco. Denunciaria logo. Nunca ninguém tentou. O que acontece não é corrupção, mas é algo indireto, que é a feitura de leis. Houve uma altura em que os privados, especialmente na área da energia, perguntaram a alguém no Ministério da Economia: ‘Vocês têm pouca gente, não querem que façamos a lei e depois vocês fazem o que quiserem?’. Isso era o que se fazia anteriormente e é gravíssimo. Não pode acontecer.”
Luís Campos e Cunha
Ex-ministro das Finanças
“Não me lembro de nada, mas também as funções em que estive não eram muito suscetíveis. Eu não fui ministro das Obras Públicas, que é onde aparece a maior parte da corrupção. Não estive em cargos suscetíveis de fazerem a diferença nesse tipo de problemas”.
Guilherme D’Oliveira Martins
Ex-ministro da Educação, da Presidência e das Finanças
“É indispensável haver cautelas e prevenções especiais. Eu, no exercício de funções, evito sempre reuniões que possam de algum modo ser equívocas, misturar coisas oficiais com questões particulares. É fundamental separar as águas. Em segundo lugar: em reuniões importantes, nunca estar só. Haver alguém que connosco partilha responsabilidades e que tem conhecimento do que está em causa. Nesse contexto, isso nunca aconteceu, mas da minha parte houve sempre uma preocupação de prevenir essas situações. (…) O fundamental é prevenir. Os riscos existirão sempre. Ninguém está acima dessa possibilidade e por isso é separar as águas e ser muito claro.”
António Bagão Félix
Ex-ministro da Segurança Social e do Trabalho e ex-ministro das Finanças
“O que vi foram formas de lobby institucional que são legítimas no exercício de cargos públicos. Podemos olhar para elas e decidir de acordo com o que é o bem comum. Mas situações corruptíveis, jamais. Normalmente, a corrupção atrai mais as pessoas que possam ser tendencialmente ou teoricamente corruptíveis e eu sou implacável nesses domínios, obviamente ninguém se atreveu a fazê-lo.”
João Cravinho
Ex-ministro do Equipamento, Planeamento e Administração do Território
“Tirando uma aproximação muito suave e até de uma forma bastante difusa, sem qualquer força muito imaginativa para abrir conversa, há 50 anos fui objeto de uma aproximação. Mas foi o único caso, pelo contrário evitei muitos atos de corrupção. Felizmente tenho o orgulho de dizer que ninguém seria capaz de me fazer aderir. Nunca tive convites, aproximações ou abordagens, exceto esta que terminou na primeira frase.”
Maria de Belém
Ex-ministra da Saúde e ex-ministra da Igualdade
“Uma vez, há muitos anos, antes de estar num cargo público de destaque, estava eu num gabinete de um ministro e sugeriram-me uma coisa qualquer desse género. Claro que foram logo corridos. Mas não posso dizer que tenha sido muito assediada, se calhar faço cara feia.”
José Silva Peneda
Ex-ministro do Emprego e da Segurança Social
“Comigo não. Nunca houve. Estive muitos anos no Governo. Nunca ninguém me abordou. Ninguém.”