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Lagarinhos, o povo em armas. Há noventa anos, o rastilho da justiça popular correu pelo sopé da Serra da Estrela

Um homem é assassinado. Apontam-se culpados. O ódio cresce. Os sinos tocam. Na serra, a violência explode. Milhares acorrem ao grito "Mate-se!"

Pouco devia passar da meia noite do primeiro dia de Agosto de 1928 quando os sinos da igreja de Lagarinhos vieram interromper os sonos e pôr os habitantes da aldeia fora da cama. Não eram horas próprias de casamentos, baptizados ou funerais, os acontecimentos sociais que habitualmente faziam ressoar os campanários das igrejas. Tocavam, portanto, a rebate. Mas os sinos de Lagarinhos tinham, ainda, uma particularidade: costumavam tocar a rebate por causa dos Bentos. E cada vez com maior frequência.

Palheiros incendiados, árvores cortadas, culturas destruídas tinham-se tornado habituais na freguesia de Lagarinhos, junto da velha Estrada da Beira. E era tudo obra dos Bentos. Ainda em meados de Julho eles tinham queimado 55 molhos de palha e pouco antes haviam cortado 21 oliveiras. Segundo o povo contava, os Bentos chegaram mesmo a cortar em dada altura 170 pinheiros e, de outra vez, 350 videiras. Em suma, afadigavam-se a destruir pelo menos desde 1925, quando de uma assentada deceparam 500 pés de couve.

Assunção Bento casada com o Pífaro. Vítima ou acusada? (Imagem cedida pelo ANTT).

Na verdade nunca ninguém tinha apanhado Bento algum em flagrante delito nestes prodígios de destruição. Mas também ninguém tinha dúvidas de que a culpa era deles. Já tinham vindo corridos de Mangualde da Serra, de onde eram naturais, e em todas as redondezas, de Vila Nova de Tazem a Gouveia, eram reconhecidos por se tratar de “uma família de degenerados”. Como costumava escrever o regedor nas suas participações: “Apareceu um palheiro incendiado. Tocaram os sinos a rebate. Verificou-se que foram os Bentos”.

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Os bolchevistas de Lagarinhos

A principal vítima dos Bentos era a família Borges de Carvalho, com cujo patriarca, Joaquim Borges de Carvalho, os Bentos tinham tido uma desavença quatro anos antes. Perante as destruições Joaquim Borges de Carvalho, também conhecido como o Chula, tenta as vias legais, queixando-se ao administrador do concelho de Gouveia, Joaquim Belo Rodrigues. (O administrador era a figura que até 1937 exercia as funções de autoridade policial nos concelhos, dele dependendo os regedores, que desempenhavam idêntico papel ao nível das freguesias, onde eram auxiliados por cabos de ordem, uma espécie de polícias sem remuneração.)

A queixa é apresentada no início de Junho mas as destruições praticadas supostamente pelos Bentos remontavam a Janeiro desse ano, oito meses antes, portanto (o Chula devia ser um homem dotado de uma quase infinita paciência). Contudo, o queixoso não aponta quaisquer suspeitos. É o próprio administrador do concelho que desconfia da família Bento, baseado em delitos anteriores noutras povoações, e os manda prender.

José Bento, ao centro, acompanhado pelos seus filhos mais velhos. Por uma vez não podem ser acusados: estavam presos em Gouveia muito antes da morte do Germano.

Três vezes estiveram os Bentos detidos na cadeia de Gouveia. Chegaram, mesmo, a ir a julgamento mas acabaram sempre por ser libertados por falta de provas. Na segunda ocasião em que isto aconteceu foi capturada quase toda a família: José Bento e a mulher, Maria do Carmo, os dois filhos Joaquim e Manuel, as duas irmãs que com eles estavam casadas, Purificação Paraíso e Felicidade Paraíso, e o genro, Manuel Ferrão, o “Pífaro”. A captura de toda a família correspondia a uma espécie de teste laboratorial criado pelo administrador do concelho: se nada acontecesse durante a detenção isso significava que os Bentos eram realmente os autores dos actos de vandalismo praticados em Lagarinhos. E, de facto, nada aconteceu enquanto estiveram encarcerados.

Mas o administrador toma, ainda, outra iniciativa: sugere ao governador civil da Guarda (seu superior hierárquico) que seria conveniente afastar de Lagarinhos a família dos Bentos para evitar problemas. O primeiro concorda mas exige um documento subscrito pelos habitantes das aldeia.

Começa, então, a correr um abaixo assinado, organizado por José Mendes Oliva, senhor da Quinta de Ponte Pedrinha e influente político de Gouveia. Acaba por reunir mais de 400 assinaturas de gente de Lagarinhos e de outros lugares vizinhos e nele se pede ao Governo a deportação para a África dos Bentos, por serem bolchevistas.

José Bento. Cunhado do Pífaro incrimina-o. Ao ouvi-lo o povo de Lagarinhos grita “Mata-se o Pífaro!" (Imagem cedida pelo ANTT).

Por esta altura os Bentos, ou seja Bento pai e dois filhos adultos, tidos como os elementos mais perigosos, estavam detidos em Gouveia. As coisas pareciam, assim, estar a caminho de uma solução pacífica. Quanto ao abaixo assinado, é entregue no dia 20 de Julho 1928 ao governador civil da Guarda que o devia levar de seguida para Lisboa e colocar nas mãos do ministro do Interior. Mas nesse mesmo dia rebenta na capital um movimento revolucionário, a Revolta do Castelo, e o governador civil já não faz a projectada viagem.

Começa aqui o primeiro de uma sucessão de ses – ou seja de acasos, de imprevistos que se traduzem noutras tantas bifurcações em que a história podia ter seguido por um lado ou por outro. Teimosamente, neste caso, acabou por seguir sempre pelo lado errado.

Mata-se o Pífaro e quem o defender

O que aconteceu nessa noite de 1 de Agosto de 1928 não se limitou a mais uma leira de feijão destruída. Afonso, filho de Joaquim Borges de Carvalho, entrou em Lagarinhos aos gritos, esbaforido, contando que o seu irmão Germano tinha sido atacado numa choupana na Lagoa da Pedra Vidral, onde se encontrava a dormir, choupana a que logo de seguida tinham pegado fogo. E acrescentou que, antes de conseguir fugir, ainda reconhecera a voz de Maria do Carmo Bento, mulher de José Bento.

Era o que bastava para o povo de Lagarinhos, após o habitual toque a rebate, preparar a vingança de tão bárbaro crime, para o que se armou com os competentes instrumentos usados em casos que tais – paus, enxadas, sachos, forquilhas.

O grupo que inicialmente se forma começa por ir ao local do crime, onde verifica que não só a cabana mas o próprio cadáver de Germano estão completamente carbonizados. Mais tarde, após a autópsia, irá saber-se que a vítima tinha recebido onze golpes de machado, embora nesse momento o estado do corpo, irreconhecível, não permitisse essa macabra contabilidade.

A seguir, fazendo fé no testemunho de Afonso Borges de Carvalho o ajuntamento, agora mais numeroso, vai à Bandoiva, a casa de Maria do Carmo Bento, tirando para fora todos os seres que lá encontrou – duas filhas, três filhos e um neto, a mais velha com 22 anos e os mais novos com quatro – e fazendo seguir todos, entre apupos e gritos, para a Pedra Vidral, onde jazia o Germano.

Maria do Carmo e a filha Rosa, de 22 anos, começam a sofrer as primeiras agressões, o que deve ter contribuído para assustar outros dois filhos, José e João Bento, de 14 e 10 anos. Talvez por isso, e por pressão do interrogatório a que os sujeitaram, acabaram os dois por fazer uma revelação que iria tornar-se trágica. Contam que nessa noite o seu cunhado Manuel Ferrão, o Pífaro, tinha ido a sua casa e tinha estado a cochichar qualquer coisa com a mãe deles, Maria do Carmo. E que, depois disso, os tinham visto sair de casa.

Alguns dos acusados pela morte do Pífaro: Francisco Martins (1),António Albuquerque (6) Joaquim Prata (7)Joaquim Borges Carvalho (9) Maria do Rosário (10) Afonso Carvalho(11) (Imagem cedida pelo ANTT)

Para a multidão furiosa isto era a prova de que o crime tinha sido planeado pelos Bentos. Além disso, estava encontrado o segundo responsável pela morte do Germano: era o Pífaro. Tratava-se agora de ir buscá-lo a casa, em Paços da Serra.

Por esta altura, José Mendes Oliva, ao saber que tinham ido à procura do Pífaro, disponibiliza o seu automóvel para alguém ir avisar o administrador do concelho. A seguir, afasta-se dos acontecimentos.

Uma vez em Paços da Serra a turba cerca a casa do Pífaro e exige ao regedor da freguesia, Joaquim Marques Pratas, que o prenda. Feito isto, o regedor prepara-se para conduzir o Pífaro para Gouveia mas é interceptado por dois habitantes de Lagarinhos: que não valia a pena porque o administrador do concelho já se encontrava no local do crime à espera do Pífaro para o levar consigo. Além disso, eles responsabilizavam-se pela vida do homem, dando a sua palavra de honra ao regedor Joaquim Pratas.

Quem dizia isto eram Francisco Borges Martins e António Ribeiro de Albuquerque (conhecido pelo Bota Abaixo), duas “pessoas importantes” de Lagarinhos. Tinham tido influência da decisão de ir buscar o Pífaro, assim como tinham agora evitado que ele fosse levado para Gouveia, deixando-o disponível para o que a gente da aldeia entendesse fazer com ele. Conseguiam fazer-se ouvir pelo povo e tinham poder de liderança. Podiam, por isso, ter evitado o que veio a seguir.

No meio de grande algazarra, o grupo acaba por chegar à Pedra Vidral, o local do crime, onde o regedor constata que não há administrador algum. Em vez dele, a cada momento se vai concentrando mais povo. Vinham de Pinhanços, Santa Marinha, Moimenta da Serra, Vinhó, Rio Torto, Vila Nova de Tazem. Todos conheciam a fama dos Bentos, todos partilhavam o mesmo ódio com os de Lagarinhos. Chegou a ser calculado em três mil o número de participantes e espectadores, estimativa que mesmo sendo exagerada dá ideia do fenómeno de massas que foi a vingança de Lagarinhos em 1928.

Encostado à parede de um palheiro, próximo do cadáver do Germano, o Pífaro é guardado pelo regedor de Paços e dois cabos de ordem. Surpreendentemente não se defende, não proclama inocência. Em dado momento terá mesmo acendido um cigarro, um gesto que talvez tenha sido considerado desafiador ou afrontoso porque logo parte uma pedra que lhe acerta na cara.

Um dos presentes, José Mendes Cabral, irmão da professora de Lagarinhos e também ele professor na vizinha aldeia da Nespereira, apela à calma e à entrega do Pífaro à justiça. Sem resultado. Segundo explica “a exaltação era muito maior nas mulheres.”

A certa altura ouve-se uma voz que grita: “mata-se o Pífaro e quem o defender segue o mesmo caminho.” Começa, então, a primeira agressão. Uma centena de homens e mulheres furiosos cai sobre o suposto homicida do Germano com paus e pedras. Uma sacholada vaza-lhe um olho. Fica bastante maltratado mas continua vivo.

Maria do Carmo está a um canto, caída por terra depois de ter sido agredida. Finge-se de morta mas vai entreabrindo um olho de vez em quando para conhecer a evolução dos ânimos e avaliar as suas possibilidades de sobrevivência.

“Se escapas desta, Pífaro…”

Em 1921, sete anos antes da morte do Germano, o jornalista Severo Portela publica uma novela intitulada O Crime de Lagarinhos onde em 12 páginas e por 25 cêntimos se fornecia uma quantidade razoável de sangue (uma cabeça decepada, mais precisamente), alguma loucura e até uma pitada de erotismo (sugerido). Terá sido premonição, dotes divinatórios? Nunca ninguém tinha escrito sobre Lagarinhos. E logo um crime. Certo é que a novela de Portela ficou muito aquém do que na realidade veio a acontecer em naquela aldeia.

Em 1921, sete anos antes da morte do Germano e do linchamento do Pífaro, o jornalista Severo Portela publica a novela O Crime de Lagarinhos. Ainda dizem que os jornalistas não têm intuição!

Depois do primeiro assalto o regedor de Paços pede ajuda a Borges Martins e a Ribeiro de Albuquerque mas eles escusam-se, refugiando-se na impossibilidade prática de o fazerem: “Então você quer que a gente se meta a elas?” Mas também não demonstram grande preocupação pelo curso dos acontecimentos. Borges Martins torna-se mesmo o autor de uma frase que iria ficar célebre em tribunal: “Se escapas desta, Pífaro, bem podes mandar um borrego todas as semanas ao senhor regedor de Paços”.

A presença do cadáver desfigurado do Germano, à vista de todos, e o cheiro pestilento do corpo queimado, sob o calor de Agosto, não ajudam a acalmar os ânimos. Mas apesar disso o povo está agora mais contido.

É então que surge outro habitante de Lagarinhos, Aires Albuquerque do Amaral Cardoso, septuagenário aposentado depois de ter sido advogado e conservador do Registo Predial em Gouveia. Ao chegar ao local onde tinha sido morto o Germano indigna-se, insulta o Pífaro e ameaça-o com uma bengala de junco (isto segundo o próprio Aires Albuquerque no seu depoimento, embora haja testemunhas que digam terem-no visto agredir o Pífaro com essa bengala).

Um cabo censura-o: “então o senhor doutor, que é homem de leis, está a acender o povo?” Mas as leis de pouco ou nada aqui serviam porque o seu ódio não se distinguia dos ódios dos restantes habitantes de Lagarinhos que das leis nem conheciam (a maioria deles) o alfabeto em que eram escritas.

Tenha de facto batido ou tenha feito um gesto simbólico, a bengala de junco de Aires de Albuquerque rematou o destino do Pífaro, incitando na prática o povo a lançar-se em novo assalto, embravecendo-o quando já tinha acalmado.

O regedor de Paços tinha-se ausentado entretanto, por sentir necessidade de petiscar qualquer coisa. No regresso uma mulher informa-o: “acabaram de matar o Pífaro. Se não morreu, está por pouco. O senhor doutor Aires deu uma bengalada e aquilo foi o rastilho.”

Tinham passado três horas desde o toque dos sinos a rebate. O Pífaro estava agora moribundo mas ainda houve quem tentasse cobri-lo de lenha e pegar-lhe fogo. Só então chega o administrador do concelho, o mesmo que Borges Martins e a Ribeiro de Albuquerque tinham garantido estar há muito à espera do Pífaro na Pedra Vidral. Vinha de camioneta, com polícias, mas tinha perdido precioso tempo em Paços da Serra, para onde lhe disseram que se tinha encaminhado a turbamulta. Quanto ao Pífaro, acaba por morrer a caminho de Gouveia.

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Nas culturas populares, as almas penadas são aquelas que ainda não transitaram plenamente do mundo dos vivos para o mundo dos mortos, ou seja para o repouso eterno. Este parecia ser o destino dos defuntos Germano e Pífaro nesse Verão de 1928.

Uma semana não era ainda passada sobre a trágica madrugada de 1 de Agosto e já o Afonso Borges de Carvalho aparecia com peripécias surpreendentes. Dizia que tinha sido agredido pela viúva do Pífaro, Assunção Bento, e por mais dois desconhecidos que o atiraram para um poço de onde a custo conseguiu escapar. Acontecera isto a 6 de Agosto. Mas antes que o sol se pusesse nesse mesmo dia já estava a admitir que tudo não passava de uma comédia e que fora instruído por Felicidade Paraízo, a mulher de Joaquim Bento, que o convencera “mediante muitos prometimentos”. Para acabar o dia o Afonso apresenta uma terceira versão da história do poço: continuava a ser uma intrujice mas a autora era agora a sua cunhada Maria do Rosário, casada com o seu irmão António Carvalho, e não a Felicidade Paraíso.

Joaquim Bento e o pequeno José Bento. Costumava escrever o regedor nas suas participações: “Apareceu um palheiro incendiado. Verificou-se que foram os Bentos." (Imagem cedida pelo ANTT).

Mas o mais estranho estava para vir e tem lugar logo na madrugada do dia seguinte. O Afonso, que desde a noite fatídica parecia ter-se viciado na prática de manter os habitantes de Lagarinhos permanentemente acordados, através de revelações assombrosas, confidencia que todas as destruições atribuídas aos Bentos tinham afinal como autor ele próprio. Mas isto não era nada comparado com o que tem a acrescentar: fora ele que matara o irmão Germano. E fizera isso sozinho? Para responder a isto tinha três versões diferentes. Na primeira tinha tido como cúmplice a Maria do Carmo Bento, noutra esse papel era desempenhado pela cunhada Maria do Rosário e na terceira tinha agido só mas por instigação da mesma cunhada.

Durante 15 horas o Afonso tinha ocupado em permanência a autoridades de Gouveia, atarefadas a prender, interrogar e acarear as sucessivas mulheres que o irmão do malogrado Germano vai acusando. A vida não estava fácil para o administrador do concelho que por sinal até estava de licença quando os acontecimentos de Lagarinhos vieram perturbar a pacatez das abas da Serra da Estrela.

Afonso Borges de Carvalho irmão do Germano acusa todos, a si mesmo e a cunhada Maria do Rośario pela morte do irmão.

Imaginação parecia que era coisa que não falta ao irmão do malogrado Germano desde que a meningite o atacara em pequeno. Por isso no dia 8 de Agosto, em depoimento ao juiz da comarca declarou que tinha sido cúmplice de Maria do Carmo e também do Pífaro na morte do irmão, para logo a seguir dizer que tinha sido ele o único executante, embora por influência da cunhada Maria do Rosário, mulher do Germano. E a novela das revelações vai prosseguir nos dias seguintes.

Por fim, no dia 14 de Agosto é vez de o pequeno João Bento desabafar: ele e o irmão José, que andava agora desaparecido, tinham mentido ao acusar a mãe e o cunhado e que o tinham feito por terem sido ameaçados.

Com tudo isto, ficaria o crime de linchamento impune? A pedido do juiz da comarca de Gouveia tinha sido requerido à Polícia de Investigação Criminal um agente, sendo nomeado Artur Pereira Pinto. Das suas inquirições resultou que foram enviados a julgamento vários suspeitos da autoria da morte do Pífaro, entre eles Borges Martins, Ribeiro de Albuquerque e o doutor Aires Albuquerque.

O julgamento acabou por se realizar no ano seguinte e do acordão então proferido, a 7 de Maio de 1929, resultou a absolvição de todos os réus, por o tribunal considerar que se tratou de um crime colectivo. Mais exactamente de um crime em que os indivíduos praticam actos que solitariamente não praticariam e em que se torna difícil identificar um agente específico.

Ainda no fim do mesmo mês, no dia 30, foi a vez de os Bentos serem absolvidos dos crimes de devastação e fogo posto. No meio do tumulto causado pela sua morte perde-se o fio à morte do Germano.

Enfim, é caso para se perguntar, porque se mentia tanto? Talvez a resposta para isso estivesse numa confidência de Afonso ao enviado especial d’O Século: o maior desejo que ele tinha era ver a sua fotografia no jornal.

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