Como já se tornou hábito na Jornada Mundial da Juventude, o Papa Francisco voltou este sábado a abandonar os papéis onde trazia o discurso escrito para a vigília com os jovens, um dos pontos centrais da JMJ de Lisboa, para improvisar, perante 1,5 milhões de jovens, uma catequese sobre o caminho da vida a partir do episódio da visitação, que dá o mote ao acontecimento. Aqui fica, na íntegra, o discurso feito pelo Papa Francisco na noite deste sábado no Parque Tejo.
Papa pede aos jovens que não julguem: “Olhar de cima para baixo só para ajudar alguém a levantar-se”
“Queridos irmãos e irmãs, boa noite!
Dá-me alegria ver-vos! Obrigado por terdes viajado, caminhado e estardes aqui! Também a Virgem Maria teve de viajar para ver Isabel. ‘Levantou-se e partiu apressadamente’. Poderíamos perguntar-nos: porque é que Maria se levanta e vai apressadamente ter com a prima? Certamente porque acaba de saber que ela está grávida, mas ela também o está. Então, porque foi ela, se ninguém lhe pediu? Maria realiza um gesto não solicitado e sem ser obrigada, simplesmente porque ama e ‘quem ama voa, corre e alegra-se’. É isso que nos faz o amor.
A alegria de Maria é dupla. Ela acabava de receber o anúncio do anjo, que iria receber o redentor, e também a notícia de que a sua prima está grávida. É curioso: em vez de pensar nela, pensa na outra. Porquê? Porque a alegria é missionária. A alegria não é para si próprio, é para levar a alguém. Pergunto-vos: vocês, que estão aqui, que vieram encontrar-se, buscar a mensagem de Cristo, buscar um sentido para a vida, vão guardar isto para vocês ou vão levá-lo aos outros? Que dizem? Não vos ouço! É para levar aos outros. Porque a alegria é missionária! Repitamo-lo todos juntos: a alegria é missionária. Então, eu tenho de levar essa alegria aos outros.
Esta alegria que nós temos, também outros nos prepararam para a receber. Olhemos para trás, tudo o que recebemos. Tudo isso preparou o nosso coração para a alegria. Se olhamos para trás, temos pessoas que foram um raio de luz para a vida. Pais e avós, amigos, padres e freiras, catequistas, animadores, professores. São as raízes da nossa alegria. Façamos um segundo de silêncio e cada um pensa naqueles que vos deram algo na vida, que são como as raízes da alegria. Encontraram-no? Encontraram rostos? Encontraram histórias? Essa alegria, que veio por essas raízes, é a que nós temos de oferecer. Temos raízes de alegria. E também nós podemos ser, para os outros, raízes de alegria. Não se trata de uma alegria passageira, uma alegria do momento. Trata-se de levar uma alegria que cria raízes.
Pergunto-me: como podemos converter-nos em raízes de alegria? A alegria não está na biblioteca fechada — embora seja preciso estudar! Não está guardada a sete chaves. A alegria, há que buscá-la, há que descobri-la no nosso diálogo com os outros, onde temos de dar essas raízes de alegria que recebemos. Isso, às vezes, cansa. Faço-vos uma pergunta: já se cansaram alguma vez? Sim? Não ouço! Cansaram-se alguma vez? Pensem no que acontece quando alguém está cansado. Não tem vontade de fazer nada. Como dizemos em espanhol, uno tira la esponja, porque não tem vontade de seguir. Então, abandona-se, deixa de caminhar e cai.
Acreditam que uma pessoa que cai na vida, que tem um fracasso, que até comete erros pesados, fortes, está terminada? Não. Não oiço! (Não!) O que há que fazer? Não ouço! (Levantar-se!) Levantar-se! Há algo bonito, que quero hoje levem como recordação. Os alpinistas, que gostam de subir montanhas, têm um ditado muito lindo: na arte de subir a montanha, o que importa não é não cair, mas não permanecer caído. Uma coisa linda. Quem permanece caído, jubilou-se da vida, encerrou a esperança, fechou a ilusão, e fica caído. Quando vemos algum amigo nosso caído, o que temos de fazer? Levantá-lo! Forte! (Levantá-lo!) Quando alguém tem de levantar, ou ajudar a levantar uma pessoa, o que faz? Olha-o de cima. O único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima é para ajudá-la a levantar-se. Quantas vezes vemos gente que nos olha por cima do ombro, de cima? É triste. A única situação em que é lícito olhar uma pessoa a partir de cima é…? (Ajudar a levantar-se.)
Isto é um pouco o caminho, a constância de caminhar. Na vida, para conseguir as coisas, é preciso treinar-se no caminho. Às vezes não temos vontade de caminhar, não temos vontade de fazer esforço, copiamos o exame porque não queremos estudar, e não chegamos ao êxito. Não sei se alguém gosta de futebol. Eu gosto! Por trás de um golo, o que há? Muito treino. Por trás de um êxito, o que há? Muito treino. Na vida, nem sempre podemos fazer o que queremos, mas aquilo que a vocação que cada um tem dentro nos leva a fazer.
Caminhar, se caio levantar-me, ou que me ajudem a levantar-me, não ficar caído, e treinar-me no caminho. Tudo isto é possível, não por fazermos cursos sobre o caminho. Não há nenhum curso para nos ensinar a caminhar na vida. Isso aprende-se. Dos pais, dos avós, dos amigos. A vida aprende-se. Isso é o treino do caminho. Deixo-vos com esta ideia, não mais: caminhar, se cairmos levantarmo-nos, caminhar com uma meta, treinar-nos todos os dias na vida. Na vida, nada é grátis. Tudo se paga. Só há uma coisa grátis: o amor de Jesus. Com ele, com a vontade de caminhar, caminhemos na esperança, olhemos as nossas raízes e sigamos em frente. Sem medo. Não tenham medo! Obrigado.”