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Brazilians Go to Polls in Tight Elections Polarized between Lula and Bolsonaro
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Lula da Silva acha que vitória é "apenas questão de tempo". Será assim tão simples?

Candidato do PT mostrou-se confiante em nova vitória a 30 de outubro. Mas primeiro tem de namorar eleitorado de Tebet e definir política económica — bem como manter a humildade.

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Guilherme Ferraz Filho foi um dos muitos brasileiros que na noite de domingo se juntaram na Avenida Paulista, prontos para festejar a muito provável vitória de Lula da Silva nesta primeira volta — e, quem sabe, a sua eleição sem necessidade de um segundo turno, matematicamente possível de acordo com algumas sondagens. Poucas horas depois do início da contagem, porém, demonstrava algum nervosismo, à medida que Jair Bolsonaro permanecia teimosamente à frente na contagem dos votos: “Bolsonaro surpreendeu. Imaginava que a votação dele fosse ser ainda menor do que as pesquisas indicaram. Ainda é uma comemoração, mas tenho medo do que pode acontecer“, desabafou o economista ao UOL.

Horas depois, Guilherme respirava de alívio. Com a chegada dos resultados do Nordeste e das grandes cidades dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, Lula passava para a frente e consolidava a sua vitória este domingo, conquistando pouco mais de 48% dos votos, contra 43% de Bolsonaro. O sonho de uma eleição resolvida na primeira volta, contudo, esfumava-se. E com um resultado do adversário acima do que previa a maioria das sondagens, bem como resultados positivos no Congresso para muitos bolsonaristas, o “medo” de que falava Guilherme acentuava-se entre os apoiantes do candidato do PT.

Brazilians Go to Polls in Tight Elections Polarized between Lula and Bolsonaro

Apoiantes de Lula da Silva juntaram-se na Avenida Paulista

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Lula da Silva sabe-o, ou não fosse um veterano da política brasileira. Talvez por isso, no seu discurso de reação aos resultados tentou tranquilizar as hostes petistas: “Sempre achei que a gente ia ganhar essas eleições. E quero dizer-vos que vamos ganhar essas eleições”, garantiu. “Isto para nós é apenas uma prorrogação.”

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A História está do seu lado. Desde a redemocratização do Brasil, em 1989, nunca um vencedor na primeira volta derrapou e perdeu a eleição à segunda. A isso soma-se o facto de Lula — como o próprio repetiu no seu discurso — também nunca ter sido eleito Presidente no primeiro turno, conseguindo, no entanto, vencer no segundo tanto em 2002 como em 2006. Mas em política não há favas contadas e ainda há quatro semanas de uma dura campanha pela frente. Que obstáculos tem Lula de ultrapassar para garantir que não vê a vitória esfumar-se?

Lula prepara-se para oferecer ministério a Tebet em troca de apoio

O primeiro passo para a campanha do petista é garantir apoios. E onde pode ir buscá-los? Aos restantes candidatos para lá de Bolsonaro, é claro. Tem o PDT de Ciro Gomes, mas os maus fígados entre Ciro e o PT ensombram essa relação. Felizmente para Lula, desta vez o candidato do PDT ficou bem longe dos 12% que alcançou em 2018, tendo tido agora apenas 3% dos votos.

Simone Tebet, do MDB, foi a grande surpresa entre as candidaturas da chamada “terceira via”. Estreante e candidata por um partido do centro, reuniu 4% dos votos na primeira volta — e conquistar os seus eleitores é fulcral para a candidatura de Lula da Silva nesta segunda volta. Além disso, há que garantir que o apoio do centro-direita que ainda se recusa a apoiar Bolsonaro, personificado no PSDB, não foge.

Para isso, há dois planos já em marcha dentro do PT. Um é conseguir o apoio de figuras de proa do PSDB como o senador Tasso Jereissati e Eduardo Leite, garante a Folha de S. Paulo. O outro é namorar Simone Tebet, oferecendo-lhe um ministério em troca de apoio, avança o Estado de S. Paulo.

Bolsonaro Debates Without Lula As They Show Different Strategies in the Final Stretch of The Campaing

Campanha de Lula vai tentar garantir o apoio de Simone Tebet, do MDB, que reuniu 4% dos votos

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Antes da eleição deste domingo, as sondagens apontavam claramente que, num cenário de segunda volta, os eleitores de Ciro Gomes e Simone Tebet apoiariam Lula — 38% dos eleitores do primeiro e 34% dos da segunda tinham Lula como segunda opção.

Mas, depois dos resultados desta noite, restam muitas dúvidas sobre a fiabilidade dos estudos de opinião. Numa eleição com uma abstenção acima do habitual, que teve o menor número de votos nulos e em branco desde 1994 e em que o resultado de Lula bateu certo com o previsto pelas sondagens, o resultado melhor do que o esperado para Bolsonaro significa que este foi buscar votos aos eleitores que tencionavam apoiar Ciro e Simone — que os estudos de opinião previam que teriam em média 5% dos votos cada um. Por isso, dar como certa uma transferência direta de votos do MDB para o PT é uma jogada arriscada e que não chega.

Viragem ao centro, sobretudo na economia, pode ser decisiva

Chegamos então ao segundo passo que a campanha de Lula irá provavelmente dar ao longo das quatro semanas de campanha que aí vêm: explicitar o seu programa eleitoral e tentar encostá-lo o mais ao centro possível. Vera Magalhães, jornalista de O Globo, previu na noite de domingo que a campanha de Lula terá agora de “fazer mais definições programáticas e de equipa” e que o candidato a vice e antiga figura histórica do PSDB, Geraldo Alckmin, “ganha peso” na campanha.

O antigo rival Alckmin — derrotado estrondosamente por Lula na eleição de 2006 e agora tornado seu apoiante — ganha peso porque, perante um eleitorado que está agora mais à direita do que no tempo dos anteriores governos de Lula, a política económica da candidatura irá naturalmente encaminhar-se para o centro para obter mais votos.

Lula Meets Politicians, Artists and Personalities One Week From Elections

Aproximação ao centro em termos de propostas pode dar destaque a Geraldo Alckmin, candidato a vice de Lula, nesta fase da campanha

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O coordenador da campanha, Rui Falcão, já havia dito ao início da noite que “o mercado quer outras definições, como quem será o ministro da Fazenda [Finanças]”, mas que Lula não iria dar esses pormenores para já. Ao longo das próximas semanas, porém, poderá sentir-se tentado a fazê-lo, se considerar que o nome apresentado é “centrista” o suficiente para captar mais votos.

O tom será o de focar nos temas que afetam “a vida do povo”, garantiu uma fonte próxima de Lula à Folha ao final da noite. Isso significa uma coisa: foco na economia. E, perante uma campanha que se prevê ainda mais radicalizada na segunda volta, Lula terá de continuar a parecer moderado nas propostas se quiser garantir que a vitória não lhe escapa.

Não subestimar o bolsonarismo envergonhado

Nenhuma estratégia, porém, é infalível. Até porque, além da matemática dos votos e das estratégias programáticas, a política faz-se de elementos menos tangíveis. Lula parece acreditar que a mística em torno da sua figura pode trazer o elemento que falta. E, pouco depois do discurso oficial da noite de domingo, falou novamente na Avenida Paulista para sublinhar que a vitória é “apenas uma questão de tempo”. “Eu nunca ganhei no primeiro turno, parece que o destino quer que eu trabalhe um pouco mais”, disse aos apoiantes ali presentes. Nada que custe a um homem que garante adorar “fazer campanha”.

Mas não é certo que o carisma chegue no futuro, como aconteceu no passado. Lula pode ter sido o mais votado este domingo, mas não só Bolsonaro ficou acima do que previam as sondagens como os resultados no Congresso evidenciam uma vaga bolsonarista que veio para ficar.

No Senado, os partidos centristas MDB e PSD deixaram de ter as maiores bancadas, que estão agora claramente à direita (PL de Bolsonaro e União Brasil). Múltiplos ex-ministros bolsonaristas venceram eleições para o Senado e para a Câmara dos Deputados, como Damares Alves, Ricardo Salles, Sérgio Moro e o vice-presidente Hamilton Mourão. Por fim, com a derrota histórica na eleição para governador de São Paulo, o bastião do centro-direita que era o PSDB perde a sua relevância política, enterrado pelo bolsonarismo.

Brazilians Celebrate 200th Anniversary of Independence

Sondagens ficaram aquém no que diz respeito a captar o apoio real a Bolsonaro e aos candidatos que lhe são próximos

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Resultados que podem ser explicados por um “voto envergonhado” que não se reflete nas sondagens, como alvitrou à BBC Brasil Brian Winter, editor-chefe da revista America’s Quarterly, especializado em política brasileira. “Está claro que o Brasil, assim como os Estados Unidos, tem um eleitor conservador que não aparece de forma adequada nas pesquisas. Como na Itália, Suécia, Estados Unidos e Reino Unido, há uma população conservadora muito energizada que os media e outros consistentemente subestimam.”

Perante este cenário, a vitória de Lula continua a ser “provável”, mas não é “de jeito nenhum” inevitável, diz o analista. E, assim sendo, talvez seja útil a Lula da Silva fazer menos discursos onde toma a vitória por tão certa como fez na noite deste domingo. Afinal, na política, a humildade também pode ser um trunfo.

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