886kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

GettyImages-1222402983
i

Anadolu Agency via Getty Images

Anadolu Agency via Getty Images

Mais rápidos que a velocidade do som e capazes de transportar ogivas. O que são os mísseis Kinzhal que deixaram a Ucrânia em alerta?

Ucrânia diz ter conseguido destruir, pela primeira vez, um míssil hipersónico Kinzhal, mas continua a temê-los. "Extremamente rápidos" e "precisos", deixaram todo o território ucraniano em alerta.

    Índice

    Índice

Siga aqui o nosso liveblog sobre a guerra na Ucrânia

Imparáveis. A Rússia não escondeu que este era o objetivo que tinha em mente quando desenvolveu os mísseis hipersónicos Kinzhal, um dos sistemas mais sofisticados que possui no seu arsenal. E não poupou nos elogios às suas capacidades, defendendo que não podiam ser abatidos por nenhum sistema de defesa no mundo. Postos à prova no conflito na Ucrânia, estas armas podem agora ter encontrado um adversário à altura: pela primeira vez, foram intercetados e destruídos pela defesa ucraniana com recurso aos Patriot norte-americanos. Mas apesar da vitória, Kiev continua em alerta e esta segunda-feira foram ativadas as sirenes de ataque aéreo um pouco por todo o país, receando-se um novo ataque com os Kinzhal.

O aviso partiu do porta-voz da Força Aérea ucraniana, Yurii Ignat, que revelou durante a manhã que o país estava em prevenção após um caça MiG-31K russo, com capacidade para transportar os mísseis Kinzhal, ter levantado voo. “Quero recordar que não temos suficientes sistemas Patriot que possam proteger os céus da Ucrânia para este tipo de armamento”, advertiu, sublinhando que são “extremamente rápidos” e “precisos”. Mas, afinal, que mísseis são estes que a Ucrânia diz ter abatido pela primeira vez, mas continua a recear?

O que são os mísseis Kinzhal que a Ucrânia diz ter abatido?

O míssil Kinzhal (punhal, em russo) é uma das seis armas de “próxima geração” anunciadas pelo Presidente russo, Vladimir Putin, em 2018, durante o discurso do Estado da Nação. Foi durante essa intervenção, a poucas semanas das eleições presidenciais que viriam a garantir-lhe o quarto mandato, que o líder russo revelou ao mundo que o país tinha desenvolvido e estava a testar uma nova linha de armas estratégicas “invencíveis” e com capacidade nuclear, incluindo os mísseis balísticos hipersónicos Kinzhal.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Rússia, China e África do Sul juntas para exercícios navais

À semelhança de todos os armamentos hipersónicos, os Kinzhal obedecem a duas características: atingem uma velocidade superior a Mach 5 — ou seja, mais de cinco vezes a velocidade do som — e não têm uma trajetória fixa, sendo capazes de executar manobras (verticais e horizontais) enquanto viajam a estas velocidades, como explica o especialista Dmitry Stefanovich, num artigo do Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia.

Estes mísseis fazem parte do arsenal hipersónico russo, que também é composto pelos veículos planadores hipersónicos Avangard, que entraram ao serviço das forças russas em 2019; e os mísseis Zircon, que podem ser lançados a partir de navios de guerra e submarinos, tendo começado a ser produzidos em 2021.

O que são, afinal, misseis hipersónicos?

Os Kinzhal estão ao serviço da Rússia desde 2017 e, segundo o Centre for Strategic and International Studies, conseguem atingir velocidades até Mach 10 (12,350 quilómetros por hora). Com um alcance estimado de entre os 1.500 e os 2.000 quilómetros, são capazes de carregar uma carga de até 480kg, transportando desde ogivas convencionais a ogivas nucleares. As autoridades russas alegam que, pelas suas características, são extremamente difíceis de detetar e intercetar. “Mais ninguém tem algo assim”, assinalou Vladimir Putin no seu discurso de 2018. A sua velocidade permite-lhes “superar todos os sistemas de defesa antiaérea e antimísseis existentes e, acredito, prospetivos”, sublinhou.

GettyImages-956355934

AFP via Getty Images

O Chefe de Estado russo tem destacado por várias vezes que Moscovo é um líder global no desenvolvimento e produção de mísseis hipersónicos. Mas a Rússia não é o único país a apostar no desenvolvimento deste tipo de armamento. Os Estados Unidos estão ativamente a desenvolver armas hipersónicas e, em abril de 2022, juntaram-se à Austrália e ao Reino Unido para anunciar um acordo no qual contemplavam a cooperação para alcançar esse objetivo. Essa também tem sido uma aposta da China, enquanto o Irão, Israel e a Coreia do Norte conduziram alguns testes de pesquisa iniciais sobre estas tecnologias, segundo revelaram as autoridades norte-americanas.

A Ucrânia foi o palco escolhido pela Rússia para testar as capacidades dos mísseis hipérsonicos Kinzhal. A 19 de março de 2022, as forças russas dispararam pela primeira vez em combate um destes equipamentos. Na altura, o Ministério da Defesa russo, liderado por Sergei Shoigu, confirmou o ataque, alegando que tinha sido atingido um depósito de munições no Sul da Ucrânia.

Desde então, os Kinzhal já foram usados, ainda que em número reduzido, em vários ataques ao território ucraniano. Até agosto do ano passado tinham sido usados por três vezes e “por três vezes mostraram as suas características impressionantes”, garantiu Shoigu numa entrevista ao canal Rossiya-1. “Mais ninguém tem, para já, um míssil destes: hipersónico e com tal velocidade e capacidade de ataque. São impossíveis de detetar ou intercetar”, sublinhou o ministro, acrescentando que estavam a ser usados para atacar alvos de “particular importância”.

A eficácia destes equipamentos na “operação especial militar” — termo usado pelo Kremlin para se referir à guerra na Ucrânia — também foi defendida por Valery Gerasimov, chefe do Estado-maior russo que assumiu o comando pessoal das ações no território ucraniano em janeiro deste ano. “Os sistemas de mísseis Kinzhal provaram ser altamente eficazes e invulneráveis às capacidades de defesa aérea ucranianas”, afirmou. O próprio Presidente norte-americano, Joe Biden, chegou a admitir que os mísseis Kinzhal eram “quase imparáveis”, após a sua utilização na Ucrânia.

Já este ano, no início de março, os Kinzhal voltaram a ser postos à prova, desta vez num ataque massivo que envolveu o lançamento de mais de 80 mísseis de vários modelos e drones Kamikaze. O resultado: seis mortos, centenas de milhares de habitações sem eletricidade por todo o país. No mais recente ataque, na semana passada, a Rússia voltou a disparar um destes equipamentos, mas, pela primeira vez, a defesa ucraniana terá sido bem sucedida a abatê-lo.

Kinzhal vs. Patriot: o primeiro embate

Sábado, 4 de maio, 02h40. Sobre o céu de Kiev, um míssil lançado pelas forças russas foi abatido pela defesa anti-aérea ucraniana. Nada de novo nos mais de 14 meses de guerra, não fosse tratar-se de um míssil hipersónico Kinzhal, destruído com recurso ao sistema norte-americano Patriot.

A confirmação partiu das autoridades ucranianas, mas não chegou no próprio dia. À falta de declarações oficiais, a hipótese foi ganhando forma e começou a ser noticiada por alguns meios de comunicação. No domingo, já o jornal Ukrainska Pravda noticiava a possibilidade de um míssil Kinzhal russo ter sido destruído por um Patriot, citando o Defense Express, empresa ucraniana com experiência na análise de questões de segurança nacional e cooperação militar e parceira da indústria de defesa ucraniana (Ukroboronprom).

epa10581777 American Patriot surface-to-air missile system presented at the Warsaw-Radom Airport in Radom, 20 April 2023. At the airport in Radom, Polish soldiers are trained in the use of the 'Patriot' missile systems and the 'Mala Narew' and 'Pilica' anti-aircraft systems. Deputy Prime Minister and Polish Minister of Defense Mariusz Blaszczak, who was present during the training, informed that this is the first training during which soldiers do not use post-Soviet systems.  EPA/Pawel Supernak POLAND OUT

Pawel Supernak/EPA

Publicando imagens dos destroços do míssil, o Defense Express avançava que pelas características deveria tratar-se do Kh-47 Kinzhal, informação inicialmente desmentida pelo porta-voz da Força Aérea ucraniana, que garantiu à estação de televisão ucraniana Suspilne que nenhum míssil balístico tinha sido destruído ou sequer detetado no espaço aéreo a 4 de maio. “Embora a possibilidade de o seu uso ter sido apontada, não foi registado o lançamento de nenhum míssil balístico”, garantiu Yurii Ihnat.

A confirmação oficial das autoridades só viria a chegar uma semana depois, pelo próprio comandante da Força Aérea. “Parabéns ao povo ucraniano por um feito histórico”, começou por escrever Mykola Oleshchuk na conta oficial de Telegram. “Sim, conseguimos destruir o ‘inigualável’ Kinzhal”, escreveu no post, acompanhado pelo emoji de um relâmpago.

Oleshchuk confirmou a data do ataque como 4 de maio, acrescentando que o míssil russo tinha sido disparado a partir de um caça MiG-31K. Não foi mais longe nos detalhes, dizendo apenas que tudo seria divulgado “a seu tempo” para não beneficiar as forças russas.

Para já, os Estados Unidos não se pronunciaram oficialmente sobre o caso, mas ao New York Times três oficiais norte-americanos confirmaram o feito. Esta parece ser a primeira prova de que estes mísseis hipersónicos russos, apresentados por Putin como invencíveis, podem ser derrotados pelos atuais sistemas de defesa ocidentais. E este episódio demonstrou, assim, o papel potencialmente revolucionário dos Patriot, um dos sistemas mais caros que os Estados Unidos já forneceram à Ucrânia.

Ucrânia canta vitória com os Patriot, enquanto os analistas assumem posição cautelosa

“Um sonho.” Foi assim que o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, descreveu os sistemas norte-americanos Patriot à sua chegada a Kiev, em abril deste ano. Durante vários meses, estes equipamentos estiveram na lista de desejos da Ucrânia, que conseguiu finalmente assegurá-los após a viagem do Presidente Volodymyr Zelensky aos Estados Unidos, na primeira deslocação ao estrangeiro desde o início da guerra. Não é conhecido o número de sistemas que a Ucrânia tem ao seu dispor. Apenas se sabe que foram fornecidos pelos Estados Unidos e pela Alemanha, que admitiram ter enviado pelo menos uma bateria, e que os Países Baixos disponibilizaram dois lançadores.

Estes sistemas de defesa foram usados pela primeira vez em 1980, estreando-se na Guerra do Golfo para abater os mísseis balísticos iraquianos Scud. Cada bateria está avaliada em cerca de 4 milhões de dólares, enquanto os lançadores podem custar cerca de 10 milhões. Dado o custo elevado e o número de pessoas necessárias para os pôr a funcionar — entre 80 e 90 operadores –, pensava-se que só seriam utilizados pela Ucrânia contra aeronaves russas ou mísseis hipersónicos. Para já, funcionaram e destruíram algo que Putin dizia ser invencível.

"Atingir um Kinzhal russo com um míssil Patriot seria difícil, mas não impossível", explicou Ian Williams, do Center for Strategic and International Studies, em entrevista ao New York Times.

Para já, os analistas independentes são cuidadosos e estão relutantes em confirmar que o Kinzhal foi de facto intercetado por um Patriot, até que seja disponibilizada mais informação. Consideram, no entanto, que em determinadas condições esta é uma possibilidade que pode ser contemplada. “Atingir um Kinzhal russo com um míssil Patriot seria difícil, mas não impossível”, defendeu Ian Williams, do Center for Strategic and International Studies, em entrevista ao New York Times. O especialista aponta que há vários fatores em jogo, nomeadamente a posição do sistema de defesa, a direção na qual seguia o míssil russo e se estava ou não a fazer manobras.

A Ucrânia, por outro lado, tem sido rápida a celebrar vitória. “A Rússia dizia que os Patriot eram uma arma norte-americana desatualizada e que as armas russas são as melhores do mundo. Bem, agora há confirmação de que trabalham eficazmente mesmo contra um míssil hipersónico”, afirmou o porta-voz da Força Aérea em declarações ao Channel 24. Para o responsável ucraniano, esta é uma “chapada na face da Rússia”.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.