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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Manifestações este sábado. Polícia em peso nas ruas, agentes descaracterizados e um alerta de "risco para ordem e segurança"

Depois dos distúrbios desta semana, PSP reforça policiamento no centro de Lisboa com duas manifestações a acontecer ao mesmo tempo: uma contra a violência policial e outra de apoio aos polícias.

A PSP admite que existe “algum risco para a ordem e segurança públicas” este fim de semana na sequência da morte de Odair Moniz, o homem baleado por um agente na madrugada da última segunda-feira no bairro da Cova da Moura. Por isso o forte dispositivo policial para conter os distúrbios e os protestos das últimas noites vai manter-se pelo menos até segunda-feira, sobretudo nos bairros de risco, e haverá um reforço de segurança devido às duas manifestações deste sábado e ao velório e funeral de Odair, marcados para sábado e domingo.

A grande preocupação está centrada nos protestos marcados para a mesma hora deste sábado. De um lado, a manifestação da Vida Justa “contra a violência policial nos bairros” e em homenagem ao homem de 43 anos baleado pela PSP em circunstâncias com muitas incongruências que estão a ser investigadas pela Polícia Judiciária. Do outro, a contramanifestação convocada pelo Chega para apoiar a polícia e “pelo Estado de Direito”. Como as duas manifestações têm lugar no centro de Lisboa, ainda que já não se cruzem pelas ruas da capital, como inicialmente esteve previsto, a PSP admite que existe “algum risco”, mesmo garantindo que “estão reunidas as condições de segurança”.

E é por isso que esta polícia vai estar em peso nas ruas por onde vão passar as manifestações. O policiamento será reforçado com a presença da Unidade Especial de Polícia e das Equipas de Intervenção Rápida e a PSP vai ainda ter, segundo apurou o Observador, agentes descaracterizados entre os manifestantes para garantir que não há confrontos.

O objetivo é que a presença dos agentes nas ruas, só por isso, seja um fator dissuasor de violência. "Numa primeira fase, a postura será mais de reserva. Se correr bem, vamos deixar desenvolver com toda a normalidade. Só há intervenção se alguma coisa correr mal", acrescentou a mesma fonte.

“A polícia irá promover constante visibilidade e mobilidade dos meios policiais destacados para esta operação de segurança, de forma a prevenir e evitar a existência de situações de alteração da ordem pública”, explicou ainda a PSP em comunicado enviado durante a tarde desta sexta-feira. No fundo, explicou mais tarde fonte desta polícia ao Observador, o objetivo é que a presença dos agentes nas ruas, só por isso, seja um fator dissuasor de violência. “Numa primeira fase, a postura será mais de reserva. Se correr bem, vamos deixar desenvolver com toda a normalidade. Só há intervenção se alguma coisa correr mal”, acrescentou a mesma fonte.

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Ataques contra a PSP e elementos de extrema-direita infiltrados

Mas há outro motivo que preocupa a PSP, que está responsável pela segurança destas manifestações. O protesto marcado pela Vida Justa surge na sequência da morte de Odair Moniz e insurge-se contra a “violência policial nos bairros”. Tendo em conta a forte presença da polícia no percurso da manifestação, a possibilidades de ataques contra os agentes ali presentes não está descartada. Ainda assim, a organização tem feito apelos, através das redes sociais, para que não aconteçam situações de violência.

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“Atenção às ações que possam ferir trabalhadores e pessoas inocentes, como a que sucedeu a um motorista de autocarro em Santo António dos Cavaleiros”, referiu a organização da manifestação, acrescentando que esta será “uma marcha pacífica”. E deixaram ainda um aviso: “Alertamos as pessoas para falsas manifestações convocadas por elementos de extrema-direita que se fazem passar por convocatórias dos bairros”. Ou seja, teme a possibilidade de existirem falsos manifestantes entre a marcha.

O protesto marcado pela Vida Justa surge na sequência da morte de Odair Moniz e insurge-se contra a "violência policial nos bairros". Tendo em conta a forte presença da polícia no percurso da manifestação, a possibilidades de ataques contra os agentes ali presentes não está descartada.

Cova da Moura. A história da morte de Odair contada por quem estava à janela

Já do lado da extrema-direita, a manifestação do Chega promete “mostrar que há um país que não tem medo de estar ao lado dos polícias”, referiu o partido liderado por André Ventura, também nas redes sociais. “A polícia está a sofrer um ataque sem precedentes e nós temos de os defender”, lê-se ainda nas partilhas. Aqui, no entanto, os agentes da PSP parecem estar mais tranquilos quanto a represálias contra si. Mas a violência pode acontecer em caso de manifestantes se cruzarem, mesmo que os percursos tenham sido alterados e já não terminem ambos no mesmo local.

MAI diz que dispositivo policial vai manter-se no terreno este fim de semana

O clima que se viveu esta semana, e que ainda se vive, é de tensão. Muitos moradores dos bairros da Grande Lisboa protestaram contra a atuação da polícia nestas zonas. Foram queimados caixotes do lixo, arderam carros e autocarros — tudo em protesto pela morte de Odair Moniz na sequência de dois disparos de um agente da PSP, na Cova da Moura. O agente, aliás, já foi constituído arguido pelo crime de homicídio simples. É neste contexto de tensão que as duas manifestações vão acontecer este sábado e é este clima que aumenta o risco de segurança apontado pela PSP.

Na contabilidade da própria PSP foram registadas 123 ocorrências, detidos 21 suspeitos e outras 19 pessoas identificadas. Há registo de sete feridos: dois polícias que foram apedrejados e cinco civis, esfaqueados e queimados (um motorista da Carris em estado grave). Cinco carros da polícia ficaram danificados e houve um ataque a uma esquadra. Cinco autocarros foram atacados — quatro incendiados e um apedrejado — e 16 carros e duas motas foram também incendiados. Casos que ocorreram na Área Metropolitana de Lisboa, nos concelhos de Almada, Amadora, Barreiro, Cascais, Lisboa, Loures, Odivelas, Oeiras, Seixal, Setúbal e Sintra, tendo sido registada ainda uma ocorrência de incêndio num ecoponto na cidade de Leiria.

A esta tensão acrescentam-se as “características físicas e sociais dos espaços comunicados para as concentrações e respetivos desfiles”, descreve a PSP, e ainda a hora de início das manifestações — as duas estão marcadas para as 15h. Os manifestantes que vão juntar-se ao coletivo Vida Justa vão começar o protesto na rotunda do Marquês de Pombal. Depois descem a Avenida da Liberdade e terminam na Praça dos Restauradores. Já aqueles que vão marcar presença no protesto do Chega vão concentrar-se na Praça do Município, mesmo à frente da Câmara Municipal de Lisboa, sobem depois pela rua de São Paulo e terminam frente à Assembleia da República. Ainda assim, e apesar de todas estas condicionantes, a PSP insiste que “estão reunidas as condições de segurança necessárias para a realização dos eventos”.

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Vida Justa mudou percurso, mas PSP ainda não tinha emitido parecer

Esta quarta-feira, o coletivo Vida Justa anunciou a marcação da sua manifestação. Um dia depois, o Chega avançou com a sua. As duas convocatórias foram entregues na Câmara Municipal de Lisboa, mas inicialmente os dois protestos tinham o mesmo destino: a Assembleia da República.

E sempre que há uma manifestação marcada, a PSP tem, obrigatoriamente, de fazer uma análise do respetivo risco. Apesar do direito à manifestação, o parecer desta polícia pode ser negativo, caso encontre motivos fortes que não garantam a segurança da mesma. Nesse caso a Câmara Municipal pode não autorizar a sua realização — como aconteceu, por exemplo, com a manifestação do grupo de extrema-direita 1143.

Até à hora de almoço desta sexta-feira, o relatório de risco ainda não tinha sido concluído e o coletivo Vida Justa acabou, mesmo antes de a PSP emitir qualquer parecer, por alterar o destino da sua manifestação.

Até à hora de almoço desta sexta-feira, o relatório de risco ainda não tinha sido concluído e o coletivo Vida Justa acabou, mesmo antes de a PSP emitir qualquer parecer, por alterar o destino da sua manifestação. “O Vida Justa condena a decisão das autoridades de permitir que o Chega termine a sua contramanifestação no mesmo local da manifestação ‘Sem Justiça não há Paz’, na Assembleia da República. Por isso, decidimos alterar o local de destino da sua manifestação para os Restauradores”, anunciou a organização.

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Face a esta mudança, a PSP explicou que, caso o percurso da manifestação da Vida Justa não tivesse sido alterado, provavelmente quem teria de mudar a sua rota seria o Chega. “Quem comunicou primeiro exerce, se não houver constrangimentos de maior, a primazia da escolha do local e itinerário, reservando as maiores condicionantes para o segundo comunicante”, explicou a PSP em comunicado, acrescentando que teve conhecimento da alteração do percurso através das notícias, “sem esperar pelo parecer da PSP”.

Zonas de trânsito condicionado durante a tarde deste sábado

Depois da análise de risco, a PSP decidiu que estará condicionada a circulação em 14 ruas e avenidas de Lisboa: Praça do Marquês de Pombal, Avenida da Liberdade, Praça dos Restauradores, Avenida Braamcamp, Avenida Alexandre Herculano, Rua de São Bento, Praça do Município, Rua do Arsenal, Rua do Comércio, Rua Nova do Almada, Rua Garrett, Praça Luís Camões, Calçada do Combro e Rua Dom Carlos I.

Mas, para além do centro de Lisboa, o reforço policial vai manter-se nos bairros onde têm sido registados distúrbios. Com destaque para a Cova da Moura e o Zambujal. Até porque a tensão mantém e a possibilidade de mais desacatos também. Sendo que depois das manifestações ocorre o velório de Odair Moniz. O corpo do estará em câmara ardente a partir das 16h deste sábado, na Capela Mortuária da Igreja da Buraca.

Já o funeral do homem de 43 anos que morreu depois de disparos do agente da polícia, após uma fuga e perseguição, vai realizar-se no domingo, pelas 14h30, para o cemitério da Amadora. Uma semana depois do incidente fatal.

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