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A eurodeputada Marisa Matias foi diagnosticada com um burnout em 2020. É a primeira convidada da série de entrevistas "Labirinto - Conversas sobre Saúde Mental"
"A sensação que tenho é que, quando foi a campanha das Europeias de 2019, eu já não estava bem"
"Começou por se traduzir num aumento de ansiedade enorme. De repente, o coração dispara, falta de ar, dor, um aperto no peito. É mesmo a sensação de que acabou"
"E depois passou a outros sintomas, de não conseguir controlar as pernas ou os braços, ou achar que estava toda dormente"
"Disseram-me para consultar um psiquiatra. E era uma questão de burnout, de esgotamento"
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A eurodeputada Marisa Matias foi diagnosticada com um burnout em 2020. É a primeira convidada da série de entrevistas "Labirinto - Conversas sobre Saúde Mental"

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

A eurodeputada Marisa Matias foi diagnosticada com um burnout em 2020. É a primeira convidada da série de entrevistas "Labirinto - Conversas sobre Saúde Mental"

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Marisa Matias e o burnout. "Assustei-me quando percebi que podia não recuperar as minhas capacidades cognitivas todas"

Nunca escondeu, mas também nunca falou sobre isso publicamente: em janeiro de 2020, numa consulta de psiquiatria, foi-lhe diagnosticado um burnout e recebeu ordens para parar imediatamente e durante três meses. A situação, na altura, era já considerada grave, muito por causa do mais de meio ano que tinha passado desde os primeiros sintomas, sobretudo físicos. Pelo caminho, Marisa Matias tinha pensado até que tinha uma doença neurodegenerativa grave. Era a única explicação que encontrava para o facto de, aos ataques de pânico que se foram tornando mais frequentes, se ter juntado também a incapacidade de controlar braços e pernas ou os bloqueios que faziam com que simplesmente não conseguisse andar.

Numa entrevista inserida na série “Labirinto — Conversas sobre Saúde Mental“, uma iniciativa do Observador e da FLAD, a eurodeputada do Bloco de Esquerda diz que, quando olha para trás, o que mais lhe custa é não ter percebido rapidamente que poderia ser um problema de saúde mental, ainda para mais quando acompanhou situações semelhantes de colegas e amigos e sempre lidou com temas dessa área nas suas funções políticas. Parar, admite, não foi fácil, porque teve de lidar com o sentimento de culpa. Adaptar-se aos medicamentos, que tomou desde o início de 2020 e até junho deste ano, também não. O momento mais difícil terá sido, porém, quando percebeu que as suas capacidades cognitivas “já estavam comprometidas” — e que poderia não as recuperar totalmente.

Descobriu a psicoterapia — e, com “choque”, percebeu que não tinha nada para dizer quando, numa das sessões, lhe perguntaram o que fazia no seu tempo livre. Ao longo dos meses de recuperação, criou novos hábitos de sono, de pausa e de recuperação, momentos dedicados à sua vida pessoal e uma nova forma de gerir o seu dia-a-dia. Na conversa, gravada no hotel Pestana Palace, em Lisboa, admite que teve medo do dia em que começou a reduzir a medicação e diz que preferia que todo o processo tivesse sido mais rápido, mas sabe que “voltar ao que estava é insustentável”. E também teve de pôr a doença nos pratos da balança quando surgiu a possibilidade de uma candidatura a Belém: “Nunca na minha vida me tinha passado pela cabeça consultar médicos para saber se me candidatava à Presidência da República”.

[Veja aqui e ouça aqui a entrevista completa a Marisa Matias]

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Consegue identificar o primeiro momento em que pensou que alguma coisa não estava bem consigo?
Não.

Foi uma coisa que foi acontecendo?
Foi acontecendo. Porque, na realidade, antes do diagnóstico, eu estive durante muito tempo com sintomas estranhos de várias coisas que não sabia identificar.

Como por exemplo?
Começou por se traduzir num aumento de ansiedade enorme — não sou, normalmente, uma pessoa ansiosa — e um desconforto generalizado. Depois tive alguns ataques de pânico em que achava, sei lá, que estava para morrer — acho que é o que toda a gente acha quando tem um ataque de pânico. Mas isto prolongou-se por muito tempo e era descontinuado, não era uma coisa que eu pudesse identificar com uma cadência muito própria.

"O que senti sempre mais foram sintomas físicos. E quando comecei, depois, em setembro, outubro, novembro, a ter sintomas desse género, de não conseguir controlar as pernas ou os braços, ou achar que estava toda dormente, ou ficar bloqueada, não conseguir andar porque tinha medo de não ter equilíbrio e de cair, isto é tudo surreal porque acaba por dominar todas as ações, todos os dias, todos os movimentos"

Quando diz “durante muito tempo”, estamos a falar de meses?
Acho que mais de um ano. A sensação que tenho, para colocar as coisas em calendário, é que, quando foi a campanha das Europeias de 2019 — que foi em maio, se não me engano — eu já não estava bem, já não me sentia totalmente bem.

Já tinha esses sintomas de ansiedade, os ataques de pânico?
Não tive ataques de pânico durante a campanha. Ansiedade sim, mas muito esporadicamente. Depois é que comecei, à medida que o tempo foi avançando, a ter medo de estar em circunstâncias, fossem elas quais fossem, e poder ter um ataque de pânico. Mas não estava bem, genericamente. Não consigo colocar assim muitos sintomas particulares. A única coisa era: não estava bem.

Esses ataques de pânico surgiam do nada?
Do nada. E isso era a coisa mais difícil de controlar, não havia uma espécie de gatilho, uma atividade qualquer que eu desenvolvesse e que desse azo a isso. Surgiam do nada e, a par disso, o que estava a acontecer também, já há algum tempo, era o facto de ter muitas insónias — e normalmente não tenho muitas insónias —, dormir muito pouco, não sentir necessidade de dormir e andar sempre cansada ao mesmo tempo. Parece contraditório, mas não é. Entretanto, foram as eleições europeias, voltei para Bruxelas e comecei a sentir o agudizar dos sintomas no verão desse ano, 2019. Aí é que comecei a ter ataques de pânico com mais regularidade e depois disso passou a outros sintomas, do género de ficar bloqueada. Por exemplo, estar a ir trabalhar ou a ir para uma sessão qualquer, uma conferência, o que fosse, e ter a sensação de que não controlava os membros do meu corpo — isto é um bocadinho estranho.

Marisa Matias e o burnout. “Nunca sequer concebi, fazendo o que faço, a possibilidade de parar. Isso não existia”

Era uma sensação física.
Física.

Marisa Matias foi candidata (e eleita) pelo Bloco de Esquerda nas Europeias de 2019
JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
Diz que, apesar de os sintomas serem ainda muito dispersos, já não estava bem nessa altura
JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
Durante a campanha teve episódios de ansiedade. Os ataques de pânico vieram depois, já de regresso a Bruxelas
JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
A eurodeputada conta que tinha insónias e que quase não sentia necessidade de descansar, apesar de andar sempre cansada
LUSA
Durante o verão de 2019 começaram a surgir outros sintomas físicos, já relacionados com o esgotamento
PEDRO GRANADEIRO/LUSA
Por vezes deixava de conseguir controlar os braços ou as pernas, que bloqueavam ou ficavam dormentes
LUSA
Convenceu-se de que podia ter uma doença neurodegenerativa grave, por identificar sintomas sobretudo físicos
LUSA
Mas uma consulta de neurologia despistou essa possibilidade
LUSA
A cabeça de lista do Bloco de Esquerda (BE) às eleições europeias, Marisa Matias, intervém durante o comício "Lado a Lado pelo que é de Todos", no âmbito da campanha para as eleições europeias 2019, em Braga. 21 de maio de 2019. HUGO DELGADO / LUSA
Só em janeiro de 2020, em conversa com uma colega do Parlamento Europeu, percebeu que podia ser uma questão de saúde mental
HUGO DELGADO/LUSA

Não era só não saber o que dizer.
Não. Posso não ter dito coisas muito acertadas, mas o não saber o que dizer nunca me aconteceu.

“Bloquear” podia ser o estar para dizer qualquer coisa e esquecer-se. Mas não era isso, portanto. Era físico.
Não era isso, o que tive mais e que senti sempre mais foram sintomas físicos. E quando comecei, depois, em setembro, outubro, novembro, a ter sintomas desse género, de não conseguir controlar as pernas ou os braços, ou achar que estava toda dormente, ou ficar bloqueada, não conseguir andar porque tinha medo de não ter equilíbrio e de cair, isto é tudo surreal porque acaba por dominar todas as ações, todos os dias, todos os movimentos. E a dada altura achei que estava com um problema neurológico grave. E fui fazer uma consulta de neurologia e não tinha nenhum problema neurológico.

Deixe-me só voltar à questão dos ataques de pânico. Quando passava por esses episódios, alguém à sua volta percebia?
Às pessoas que me eram mais próximas, mesmo que não percebessem, eu dizia. Aconteceu várias vezes ter ataques de pânico quando estava em situações públicas, rodeada de pessoas, portanto tinha de ter alguém que soubesse que eu não estava bem.

Na qualidade de eurodeputada, ou seja, de figura pública?
Aconteceu algumas vezes, sim. Não consigo identificá-las, mas sim.

"Em janeiro de 2020, eu estava numa reunião no meu gabinete no Parlamento Europeu com uma colega italiana e acabei por começar a falar com ela sobre isso, de que tinha ido a uma consulta de neurologia, que estava com uns sintomas estranhos, não sabia muito bem o que é que se passava comigo, e ela disse-me que o pai dela tinha passado exatamente pelo mesmo e era uma questão de saúde mental"

Como é que isso se gere?
É horrível. Não se gere. É tentar concentrar-me naquilo que estou a fazer, naquele momento, naquela ação concreta, tentar fazer o melhor que sei e que posso naquelas circunstâncias, mas desejar que acabe rápido para poder parar e respirar e recentrar. É uma situação muito complicada — em qualquer circunstância, não apenas quando se está em público. Às vezes até me sentia mais indefesa e incapaz quando isso acontecia quando estava sozinha e não tinha ninguém a quem poder dirigir-me, dizer, pedir ajuda, o que fosse.

Para quem nunca teve um ataque de pânico, como é que o descreveria, além dessa sensação de morte iminente?
De repente, o coração dispara, é falta de ar, é dor, um aperto no peito, é mesmo a sensação de que acabou, de que alguma coisa muito grave está a acontecer. Eu acho que isso deve ser comum a toda a gente ou, pelo menos, a uma grande parte das pessoas que têm ataques de pânico. No início, ou pelo menos nos primeiros que se tem, a sensação que temos é de que estamos a ter um ataque cardíaco, uma coisa desse género.

Quando vai a uma consulta de neurologia, pensa que é neurológico porque todos os sintomas são físicos? Nunca lhe ocorreu antes dessa consulta que poderia ser uma coisa do âmbito da saúde mental e não da sua saúde física?
Sempre dei muita atenção à saúde mental, mas à dos outros, acho. Sempre foi uma questão que entendi como prioritária, no meu trabalho, no dia a dia. Acho que uma das coisas com as quais tive mais dificuldade em lidar foi como é que eu trabalhava tanto nestas questões relacionadas com a saúde mental, no Parlamento, na Comissão de Saúde Pública, sempre me preocupei, e nos primeiros meses, como tinha sintomas físicos, não me passar pela cabeça que pudesse não ser físico e ser uma coisa relacionada com a saúde mental. É, de facto, um bocadinho aquela coisa de “em casa de ferreiro, espeto de pau”. A pessoa olha para os outros, acompanha, percebe as dificuldades, tenta desdramatizar no sentido de tratar de igual modo a saúde mental como tratamos a saúde física, mas depois acabei por não fazer isso comigo própria. E foi isso: os primeiros sintomas que tive, sendo físicos, achava que eram do foro neurológico. E depois desenvolvemos todo o tipo de teorias — eu já achava que estava com uma doença neurodegenerativa muito grave, uma coisa qualquer desse género, e não era. Entretanto, em janeiro de 2020, estava numa reunião no meu gabinete no Parlamento Europeu com uma colega italiana e acabei por começar a falar com ela sobre isso, de que tinha ido a uma consulta de neurologia, que estava com uns sintomas estranhos, não sabia muito bem o que se passava comigo, e ela disse-me que o pai dela tinha passado exatamente pelo mesmo e era uma questão de saúde mental. E logo nessa semana marquei uma consulta no centro médico do Parlamento Europeu, que tinha na altura — e ainda tem, espero eu — equipas especializadas em que questões relacionadas com esgotamentos, burnouts, depressões, etc.. Nessa consulta disseram-me para consultar um psiquiatra, que foi o que fiz logo passado pouco tempo, e era uma questão de burnout, de esgotamento.

Portanto, quando teve a perceção de que podia ser uma questão  do foro mental e não físico, também não teve nenhuma resistência, não sentiu o estigma.
Não. Aliás, como disse, já trabalhava há tantos anos as questões de saúde mental, nem sequer me passava pela cabeça andar a dizer às pessoas para eliminarmos e combatermos o estigma e depois ter alguma espécie de estigma ou de vergonha em relação a isso.

Mas é possível que, depois, quando nos acontece, se sinta pelo menos algum peso do estigma.
Não, eu senti-me um bocadinho descontente comigo mesma por não ter identificado os sintomas e por ter demorado tanto tempo, porque acho que arrastei durante demasiado tempo e foi por isso que, quando cheguei finalmente ao diagnóstico, já estava numa situação extrema. E depois recordei-me de uma série de situações. Por exemplo: uma colega minha, deputada irlandesa, que tinha tido um burnout também há alguns anos, mas, no caso dela, por não ter sido diagnosticado a tempo, acabou por se transformar já numa situação sem retorno. Quando ela parou, parou mesmo. E vive hoje isolada numa aldeia na Irlanda, não teve capacidade de voltar a trabalhar ou a desempenhar funções que lhe exijam uma capacidade intelectual, mental… deixou de ter essa disponibilidade. Acompanhei tudo isso e não identifiquei. Mas, quando me foi diagnosticado, não criei nenhum tipo de barreira para mim própria. Foi: “É isto, temos de lidar com isto, vamos tratar”.

"Parar foi muito complicado. Porque há sempre a sensação de estar a falhar, de não estar a cumprir a missão que temos, de que há coisas que não vão ser feitas, de que há pessoas que não vão ter resposta. Portanto, até conseguir esvaziar a cabeça das coisas que tinha para fazer, demorou muito tempo, acho que mais de um mês. Até conseguir começar a dormir e a descansar, demorou muito tempo."

Como é que foi ouvir esse diagnóstico? Já percebi que reagiu com naturalidade, mas foi mais assustador perante a gravidade possível se tivesse passado mais tempo?
Naquele momento também não foi propriamente muito agradável, nunca é, porque o médico disse-me imediatamente que eu teria de parar totalmente, que não havia nenhuma alternativa. E eu nunca sequer concebi, fazendo o que faço, a possibilidade de parar. Isso não existia.

Porquê?
Porque nós temos trabalho todos os dias, porque — quem está na política sabe disso — não se pára, não há um horário de trabalho normal no dia a dia, não há fins de semana, não há férias, no sentido convencional. Há alguns tempos de descanso, mas é uma atividade que sempre pensei como uma missão, uma comissão de serviço que não é para fazer a mesma função a vida toda, faz-se num período de anos e nesses anos há uma dedicação exclusiva a essa atividade. Mas, de facto, percebi que estava enganada e que tinha mesmo de parar, não havia volta a dar.

Percebeu logo, nesse momento, ou ainda tentou perceber se conseguia tentar conjugar as duas coisas?
Conjuguei um bocadinho, por uma razão muito simples: estava com várias tarefas em mãos e havia uma em particular para a qual pedi um tratamento de exceção, porque, se eu não o fizesse, não era apenas eu, era toda a instituição que ficava em causa. Na altura, tinha sido nomeada chefe de missão da União Europeia no Sri Lanka, tinha feito as duas primeiras missões e faltava a terceira, que foi em janeiro de 2020. E era preciso que eu, enquanto chefe de missão, fosse lá apresentar os resultados. Falei com o médico e expliquei-lhe: é uma nomeação do Alto Representante da União Europeia, do chefe maior da política internacional, não há ninguém que me possa substituir, o que é que eu faço nestas circunstâncias? E o que ele me disse foi que talvez fosse melhor eu ir, já medicada, não sozinha, teria de ir acompanhada, mas para não parar com a sensação de que tinha falhado numa coisa absolutamente essencial e em que ninguém me podia substituir. Nestas coisas da vida percebemos que todos somos substituíveis — eu já sabia que era substituível, mas percebi melhor nesta circunstância. Em relação a essa tarefa em concreto, foi a única coisa que fiz durante três meses de baixa.

De resto, parou.
Parei.

Como é que foi isso para alguém que tinha uma conceção da vida pública de não parar?
Foi muito complicado. Parar foi muito complicado. Porque há sempre a sensação de estar a falhar, de não estar a cumprir a missão que temos, de que há coisas que não vão ser feitas, de que há pessoas que não vão ter resposta. E embora eu trabalhe com gente maravilhosa, em quem tenho perfeita e total confiança, nós temos muito trabalho. Somos uma equipa pequena, portanto as coisas são muito divididas, e elas iam ainda por cima ficar com as minhas funções. Obviamente, havia funções minhas com as quais ninguém podia ficar, as funções de representação não são transmissíveis, portanto pararam durante esses meses. Isso foi difícil, foi a sensação de que estaria a sobrecarregar ainda mais as pessoas que trabalham comigo, a sensação de que, se eu falhasse na equipa — e não era por ser eu em particular —, nós não teríamos capacidade de dar resposta a tudo o que tínhamos em mãos. Portanto, até conseguir esvaziar a cabeça das coisas que tinha para fazer, demorou muito tempo, acho que mais de um mês. Até conseguir começar a dormir e a descansar, demorou muito tempo.

Não deu por si a fazer batota? Mandar só aquela mensagem ou só aquele email…
Não, não fiz. Nunca me foi limitado o acesso ao telefone, a não ser para razões de trabalho — e-mail sim, não podia ver — e basicamente respondia às perguntas de como estava e perguntava às pessoas como é que estavam.

Havia essas regras, por exemplo: “O email não pode ver”?
Havia, essa regra foi-me dada, de não poder ver o email.

E todas as regras tinham a ver com trabalho ou havia também regras para a vida pessoal?
Eu depois, além da psiquiatria, fiz também terapia. E uma das coisas que foi para mim muito chocante foi, nas primeiras sessões de terapia, não ter nada para responder sobre o que é que eu fazia nos meus tempos livres, porque a minha vida toda girava em torno do trabalho. E uma pessoa não ter essa percepção — eu não tinha, pelo menos, até começar as ter de responder a perguntas para as quais não tinha resposta. Desse ponto de vista, era-me incutido até que desenvolvesse atividades de foro mais pessoal, que começasse a fazer exercício físico — que não fiz, isto não se pode dizer, mas era uma das coisas que é recomendada ainda agora e que eu prometo a mim própria que hei-de começar um dia —, caminhadas… mas, na verdade, não logo. Primeiro comecei a fazer medicação, que era uma coisa a que não estava habituada.

Resistiu a isso?
À medicação não resisti, mas a adaptação foi complicada.

Porquê?
Por causa dos efeitos secundários da medicação, só por isso, mais nada. Ficava com náuseas — basicamente era isso, no início, muitas náuseas. E às vezes até era difícil comer, por causa das náuseas. Mas era isso: se pudesse, fazer caminhadas, coisa que eu não fazia logo no início nem era totalmente aconselhado que fizesse, porque durante esse primeiro mês, sobretudo, praticamente não saí de casa. Acho que saí duas vezes para ir ao supermercado, fazer compras.

"Eu estava afastada e a questão de estar ausente do trabalho, não estar a participar nas atividades, obviamente era muito visível e iam-se fazendo perguntas das pessoas que estavam no parlamento. A todas as pessoas com quem eu trabalho disse sempre: 'Quando perguntarem, digam a verdade'"

Por opção?
Por opção e também por obrigação, porque depois o que é que aconteceu? Eu entrei de baixa mesmo em fevereiro, nesse primeiro mês estava mais limitada no que podia fazer por causa do risco dos ataques de pânico, de tudo isso, porque depois começaram a ficar mais recorrentes e eu própria tinha receio de ir sozinha tentar fazer uma caminhada, tinha medo de ficar bloqueada, de não conseguir ir a lado nenhum.

O que é “passar a ser mais recorrente”, aconteciam todas as semanas?
Passaram a ser quase todas as semanas. Senão todas as semanas, quase todas as semanas. E, portanto, nesse primeiro mês, eu própria também [quis ficar mais em casa] para me habituar a tentar forçar-me a dormir, a descansar — dormia para aí quatro a cinco horas por noite, normalmente, tinha de criar hábitos de poder dormir mais, umas sete horas, qualquer coisa por aí. E depois, quando me disseram que devia começar a sair, fazer grandes caminhadas, contactar com outras pessoas, começou o confinamento. E o confinamento em março e ainda em abril em Bruxelas foi muito, muito rigoroso. Tinha de haver uma razão para sair. Então, acabei por sair ainda menos.

Sente que a sua recuperação foi prejudicada pela pandemia — quando devia começar a fazer uma série de coisas, era impossível fazê-las?
Não sei. A recuperação em si seguiu todos os tempos que me foram dados pelas equipas médicas. Desse ponto de vista, se houve um atraso não dei por ele. Foi-me dito que teria de estar três meses sem trabalhar, depois retomaria a 50% e depois a 75% e, depois do verão, a 100%. E que teria de fazer medicação quase um ano e meio, até ao verão deste ano, que eu acabei de fazer até ao início de junho — terminei, na realidade, no final de maio, início de junho deste ano. Portanto, esses tempos foram sempre cumpridos. E confesso que, numa primeira fase, o confinamento até foi uma ajuda. Eu estava afastada e a questão de estar ausente do trabalho, e de não estar a participar nas atividades, obviamente era muito visível e iam-se fazendo perguntas das pessoas que estavam no parlamento. A todas as pessoas com quem eu trabalho disse sempre: “Quando perguntarem, digam a verdade, não há problema nenhum, nenhuma necessidade de esconder ou de fazer uma interpretação, seja ela qual for”. Disse sempre para dizerem a verdade. Mas depois esse tipo de trabalho e a própria atividade parlamentar foi suspensa, em março. O Parlamento encerrou durante umas semanas, muitas das coisas começaram a funcionar à distância, mas foi preciso adaptar os sistemas, não foi imediato, e portanto ajudou-me nesse sentido — senti que não estava a falhar tanto.

Teve menos sentimento de culpa?
Exato. E foi uma ajuda.

Muita gente perguntou? E a muita gente foi dito o quê?
Que eu estava com um burnout e que estava de baixa. Houve várias pessoas a perguntar, a mim não tanto, mas as pessoas que se iam cruzando no corredor com as pessoas da equipa perguntavam o que é que se passava e o que era dito era isso. Mas, na verdade, a ajuda que senti foi essa — o sentimento de culpa foi reduzido a metade quando as atividades foram suspensas durante umas semanas.

Porque depois, quando reabriram, já podia voltar pelo menos a 50%.
Sim. E depois a 75% — 50% foi só duas semanas.

Foi fácil fazer essa adaptação gradual ou teve algum recuo?
Não tive recuo, mas não foi fácil. Teve de ser tudo muito rigoroso para me obrigar a ter horas de descanso.

A não saltar logo para os 100%?
Sim.

Porque essa era a tendência, mesmo depois de ter passado pelo que passou?
Era a tendência pelo acumular de trabalho que existia e pelas coisas que eu tinha de fazer. Ao mesmo tempo, eu própria estava a policiar-me e a dizer “não posso voltar ao que estava, porque é insustentável”. Mas a tendência era “agora ponho só mais este bocadinho e mais este”. Mas acho que, quando trabalhamos em equipa, com todos orientados para o mesmo, acaba por ser mais fácil, porque toda a gente ajuda. Muitas das solicitações nem sequer me chegavam, eram barradas antes de me chegarem.

"Nunca na minha vida me tinha passado pela cabeça consultar médicos para saber se me candidatava à Presidência da República. Na altura disseram que, se eu tinha vontade de o fazer, até era capaz de ser uma coisa positiva para eu própria voltar a poder ter uma atividade plena, com todas as dimensões"

Nunca quis apressar o processo?
Não queria apressar o processo, mas queria, de certa forma, que ele fosse mais rápido em si mesmo. Não era eu ultrapassar etapas, isso não quis fazer, mas obviamente que queria que fosse mais rápido, que não tivesse de estar tanto tempo. Mas percebo que era absolutamente necessário, porque, quando foi feito o diagnóstico, percebi que as minhas próprias capacidades cognitivas já estavam comprometidas e que teria de recuperá-las. Isso para mim foi um choque enorme.

Como é que percebeu isso?
Foi-me dito. Percebi porque me foi dito pelos médicos.

Não tinha ainda essa noção.
Não, não tinha. Achava que o comprometimento das capacidades cognitivas tinha a ver com falta de sono, de descanso. E tinha, mas era mais do que isso.

No meio disso, já saída dessa fase mais crítica de recuperação, surge a candidatura à Presidência da República. O que tinha acabado de acontecer teve algum peso na sua decisão ou na forma como ponderou fazê-lo?
Sim, teve peso. Por exemplo, nunca na minha vida me tinha passado pela cabeça consultar médicos para saber se me candidatava à Presidência da República.

Fez isso?
Fiz, claro que sim.

O que é que lhe disseram?
Na altura disseram que, se eu tinha vontade de o fazer, até era capaz de ser uma coisa positiva para eu própria voltar a poder ter uma atividade plena, com todas as dimensões.

Isso acontece quando? Ainda no verão?
Falei com os médicos no final de julho, início de agosto de 2020, como uma possibilidade. E depois voltei a falar com eles em setembro, já mesmo como uma possibilidade mais concretizável.

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Quando concorreu à Presidência da República já tinha passado a fase crítica da sua recuperação. Ainda assim teve de perguntar aos médicos se teria condições para o fazer
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Garante que, se os médicos entendessem que era ainda cedo, não teria concorrido
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FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

E se lhe tivessem dito: “Se calhar não é uma grande ideia”?
Eu não teria avançado. Não teria. Acho que uma das formas que nós também temos de nos respeitarmos e de respeitar a saúde mental e de a proteger é perceber que, da mesma forma que, se nos dizem que temos uma perna partida, não podemos caminhar, se tivermos um esgotamento e nos dizem que não temos condições para avançar numa determinada direção, não devemos fazê-lo. É um processo mais difícil de fazer a ligação, mas ela existe. Agora, desde as primeiras conversas que tive com os médicos, eles disseram que a fase crítica já tinha passado, já tinha passado tempo suficiente para se poder pensar o que seriam atividades que até poderiam ser importantes do ponto de vista de cumprir todo o tipo de atividades que esta minha missão tem associadas.

E não lhe impuseram nenhuma condicionante?
Não, as condicionantes imponho a mim própria, de acordo com o que me disseram. Dormir quatro ou cinco horas por noite já não é aceitável para mim, nem possível. Quer dizer, posso dormir quatro ou cinco horas uma noite de vez em quando, não posso dormir quatro ou cinco horas todas as noites. Mesmo ter semanas inteiras sem dias de descanso, posso fazê-lo, mas durante um período curto e depois tenho de compensar. Isso, mesmo que ninguém me dissesse, passou a ser assim.

O que é que mudou mais? Houve alguma coisa que fosse um hábito e que tenha ficado completamente para trás? Mesmo quando já pôde trabalhar a 100%, o que é que nunca mais foi igual para si?
Passei a ter tempo para mim, que era uma coisa que não tinha. O tempo para mim, o tempo para ler, para estar com família e amigos, passou a ser um tempo exatamente ao mesmo nível de prioridade do tempo de trabalho e não era assim. Eu encaixava o tempo para mim nos buraquinhos, nos intervalos, poucos, que ia tendo no tempo de trabalho.

"Pensei várias vezes: 'Eu gostava de falar disto, mas, se eu for falar disto, em vez estar a ajudar estou ainda a ajudar a estigmatizar mais', porque, como existe muito esta lógica de muito ódio no confronto com a política e com quem faz a política em Portugal, em vez de estar a ajudar a desdramatizar, a reduzir o estigma, estou a ajudar para que o facto de pessoas que me querem combater politicamente usem também isto, não só contra mim, mas também contra pessoas que passam pelo mesmo tipo de problema"

Durante aquela campanha, se calhar também ajudou ter sido uma campanha atípica, não foi uma campanha de estrada.
Foi atípica de todas as formas, e depois ainda por cima tive um acidente, caí no dia 27 de dezembro, e tive uma fratura nas costelas, enfim. Foi uma campanha em confinamento, eu já estava recuperada, mas depois estava cheia de dores nas costelas o tempo todo.

Não se arrependeu a meio?
Não, não, não. Não me arrependi porque achei e continuo a achar que era importante, independentemente de os resultados não terem sido positivos. Achei e continuo a achar que era importante.

E sentiu que as pessoas à sua volta estavam particularmente atentas para também não permitir que fosse demais ou sentiu normalidade total?
Os tempos não eram normais e, portanto, não havia forma de comparar. Muitas das atividades e ações foram à distância, não havia o contacto com as pessoas, os horários de campanha foram muito mais reduzidos do que numa campanha tradicional e, portanto, os próprios tempos que estamos a viver e que estávamos a viver ainda de forma mais limitada no início deste ano acabaram por determinar um tipo e um ritmo de campanha completamente diferentes. Só o facto de não haver, por exemplo, jantares de campanha e discursos a seguir a jantares de campanha já era uma diferença enorme em termos das horas de descanso, de sono e de recuperação para o dia seguinte. Os próprios tempos determinaram uma forma diferente de fazer campanha e muito menos pesada fisicamente desse ponto de vista.

E quando deixar de ser assim? Se for candidata outra vez numa próxima campanha, também vai estar atenta a isso? Porque as campanhas são, de facto, muito exigentes até a esse nível — o candidato está em Faro às 9h da manhã de um dia e termina num jantar-comício, se for necessário, em Braga.
Sim, às vezes corre-se o país num dia.

  • A entrevista, inserida na série do Observador "Labirinto - Conversas sobre Saúde Mental", foi a primeira vez que a eurodeputada falou publicamente sobre a doença que a afetou
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Isso para si passará a ser uma questão?
A questão de ter algum tempo para descansar, sem dúvida. Sem dúvida. De salvaguardar algumas horas de sono… quer dizer, se calhar, em campanha, oito horas de sono ou de descanso é pedir muito, mas seis, vá lá, é melhor do que quatro. Porque às vezes, em campanha, é menos do que quatro. Mas tempo de descanso, sim, de recuperação, de esvaziar a cabeça.

Em algum momento de todo este processo ponderou falar disto publicamente, nas redes sociais, numa entrevista, até durante a candidatura? Isso passou-lhe pela cabeça ou sempre foi uma coisa que quis guardar para si?
Não quero guardar para mim nem quero não guardar para mim. Lidei sempre com a naturalidade de que, perante as perguntas, nunca iria inventar uma história para esconder uma coisa que aconteceu e em relação à qual não só não tenho vergonha como acho que devemos mesmo enfrentar e assumir como um problema de saúde que não pode estar sempre sujeito a este tipo de tratamento, de esconder, como se fosse uma coisa fora do normal ou do comum, ou de que uma pessoa se deva envergonhar. Desse ponto de vista, nunca houve essa barreira. Em termos de falar publicamente sobre o assunto, ou seja, tomar eu a iniciativa de falar publicamente sobre o assunto, passou-me pela cabeça algumas vezes, mas depois coloca-se uma questão, para mim, que é: acho que devemos falar publicamente sobre os assuntos — porque a nossa vida não é mais importante do que a das outras pessoas, porque não somos mais especiais, porque somos pessoas iguais — se entendermos que isso pode ser ajuda para alguém ou que pode ajudar a normalizar, a naturalizar e a combater o estigma. Acho que isso é que deve ser feito. Ao mesmo tempo, os tempos que vivemos, sobretudo na política em Portugal, e de que eu me apercebi com uma degradação profunda nos últimos anos, são tempos em que se cultiva muito a linguagem do ódio, da agressão por agredir, sem nenhuma finalidade que não seja a agressão pura e dura, a diminuição das pessoas. E pensei várias vezes: “Eu gostava de falar disto, mas, se for falar disto, em vez estar a ajudar estou ainda a ajudar a estigmatizar mais”, porque, como existe muito esta lógica do amor/ódio, mas de muito ódio no confronto com a política e com quem faz a política em Portugal, em vez de estar a ajudar a desdramatizar, a reduzir o estigma, estou a ajudar para que o facto de pessoas que me querem combater politicamente usem também isto, não só a mim, mas também a pessoas que passam pelo mesmo tipo de problema. E esta é uma equação que ainda não resolvi totalmente na minha cabeça.

Acha que é possível que isso aconteça depois desta entrevista?
Não sei, mas esta parte já está resolvida. A partir do momento em que resolvi dar esta entrevista, espero que seja mais para ajudar a naturalizar e a normalizar e a perceber que isto são coisas que acontecem, a que temos de dar atenção, que acontece a toda a gente, que é horrível, mas que podemos dar a volta ou tentar dar a volta. Espero que funcione mais para isso, espero que não funcione como uma arma de arremesso para quem está a passar por estas situações agora, sinceramente.

Esta foi a primeira vez que lidou com a sua saúde mental?
Que eu tenha tido perfeita consciente do que estava a fazer e como, sim.

E apesar de ser atenta até à saúde mental dos outros e à temática, mudou a forma como passou a olhar para a questão?
Do ponto de vista da preocupação pública, política e social, não mudou grande coisa, para ser honesta, porque o trabalho que fiz na área da saúde pública e da saúde mental, e continuo a fazer, sempre foi muito dependente do testemunho das pessoas que passam pelas situações, de procurar ouvi-las, perceber os seus contributos para que possamos ter intervenções públicas e políticas mais eficazes, que respondam melhor às necessidades das pessoas. O que mudou, sim, foi na minha relação comigo própria e na interação com as outras pessoas, estou particularmente atenta e desperta para sintomas vários. Nas pessoas que me são próximas, que são mais amigas, com quem trabalho, às vezes é inevitável começar, se calhar, a sobre-diagnosticar problemas que possam existir e a chamar a atenção das pessoas e a dizer “Mas isso acontece-te com frequência?”, “Mas vê lá, vai ver, vai-te tratar, podes estar com um problema”. Isso aconteceu.

"Fui gradualmente percebendo que me sentia bem. Se já estou totalmente liberta do medo de que possa voltar a acontecer? Não. Acho que vai demorar mais tempo"

Porque se assustou?
Assustei-me quando percebi que podia não recuperar as minhas capacidades cognitivas todas e tenho também, acho eu, a clareza de perceber que quando nós entramos deste lado, quando entramos do lado de quem tem um problema destes, será difícil voltar a sair totalmente, no sentido de que estamos mais atentos. Eu estou, pelo menos, mais atenta e penso que isto pode voltar a acontecer, portanto tenho de me cuidar, de me tratar, tenho de cuidar das pessoas, no sentido de perceber que é uma parte tão integrante da nossa vida e que pode ser tão recorrente como qualquer coisa física que nos possa acontecer.

Mas já teve um momento de pensar: “Eu já estou bem”?
Como disse, deixei de tomar a medicação no final de maio, totalmente, já estava com um nível de medicação bastante reduzido — isso também é uma das coisas, a adaptação à medicação é complicada, depois ganhamos imenso peso com a medicação, depois deixar a medicação também é outro processo — e eu, de certa forma, não tenho nenhum problema em dizer que, na primeira fase em que comecei a reduzir, tive algum medo. Tinha a proteção e tive algum medo de, sem essa máscara, perceber que ainda não estava bem. Mas fui gradualmente percebendo que me sentia bem. Se já estou totalmente liberta do medo de que possa voltar a acontecer? Não. Acho que vai demorar mais tempo.

Além de procurar sinais nos outros, também está sempre à procura de sinais em si?
Não tanto à procura de sinais, senão isso acaba por ser uma canseira e não se faz mais nada. Não tanto isso, mas usar o princípio da precaução mesmo a sério, de continuar a fazer as coisas que tenho de fazer, mas percebendo que há barreiras que não se podem passar.

E se é verdade que mudou rotinas e começou a introduzir muito mais o descanso, a vida pessoal, mudou alguma coisa na perceção sobre si própria? O que é que mudou em si, como pessoa?
Acho que nos muda sempre, até mesmo o próprio processo de recuperação obriga-nos a fazer uma coisa que muitas gente não faz — eu não fazia —, que é pensar sobre mim, pensar em mim, tentar conhecer-me, um processo de autoconhecimento, de autoavaliação, que eu nunca tinha feito. Por exemplo, nunca tinha feito terapia e é uma ferramenta importantíssima e muito útil e que pode ajudar muita gente.

Mas assustadora?
Mas assustadora, sim. Porque obviamente temos de olhar para dentro. Desse ponto de vista, sim, conheço-me muito melhor agora.

Agradecimentos: Pestana Hotel Group

“Labirinto – Conversas sobre Saúde Mental” é uma série de entrevistas do Observador em parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. Em cada conversa, os convidados — figuras públicas de várias áreas, da política ao entretenimento — fazem um relato pessoal e detalhado da forma como lidaram ou lidam ainda com problemas de saúde mental — os sintomas, os tratamentos, as recaídas e a recuperação — num esforço para combater o estigma associado a este tipo de doenças.

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

Uma parceria com:

Fundação Luso-Americana Para o Desenvolvimento Hospital da Luz

Com a colaboração de:

Ordem dos Médicos Ordem dos Psicólogos

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