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Juan Bernardo Fuentes Curbelo era deputado do PSOE por Las Palmas e renunciou após a divulgação do caso

Europa Press via Getty Images

Juan Bernardo Fuentes Curbelo era deputado do PSOE por Las Palmas e renunciou após a divulgação do caso

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"Mediador". O escândalo de corrupção que explodiu em Espanha: inclui políticos do PSOE e pagamentos com prostitutas e cocaína

O escândalo começou num esquema de corrupção nas Canárias, mas rapidamente tomou proporções nacionais em Espanha — primeiro porque envolve um deputado do PSOE e depois porque não se resume a ele.

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As palavras-chave do escândalo que rebentou em Espanha poderiam servir para a sinopse de um filme: políticos e empresários envolvidos num esquema em que os pagamentos implicavam festas com prostitutas, cocaína e viagra. Os detalhes revelados nos últimos dias pela imprensa espanhola destapam uma alegada rede de corrupção que envolve um ex-deputado do PSOE e que tomou proporções nacionais, numa altura em que faltam três meses para as eleições regionais espanholas.

O esquema terá ocorrido entre os últimos meses de 2020 e o primeiro semestre de 2021 e assenta numa alegada rede de corrupção em que empresários das Canárias ligados à agricultura e pecuária pagavam por favores e benesses a pessoas consideradas influentes e capazes de intervir ao mais alto nível da política nacional. Estes empresários – há pelo menos 12 envolvidos – pretendiam, por exemplo, garantir alguma subvenção ou licença, ou ficar livres de algum processo ou, por outro lado, conseguir acordos comerciais vantajosos ou apoios, bem como fazer parte da ZEC, a Zona Especial Canária, que tem um regime fiscal favorável.

Agora, os vários suspeitos estão acusados de corrupção passiva, tráfico de influência, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e associação criminosa. Juan Bernardo Fuentes Curbelo, o principal arguido e deputado do PSOE, que teve de renunciar ao cargo — ainda que apenas após muitas pressões —, ficou em liberdade depois de ser ouvido e diz ser uma “vítima” de consciência tranquila.

Uma denúncia arquivada que virou escândalo

Conhecido como “Caso Mediador”, tudo começou com uma queixa que nada tem a ver com o escândalo. De acordo com o El Mundo, o ex-diretor da área de desporto do município de Tenerife, Ángel Luis Pérez Peña, apresentou uma denúncia contra Marcos Antonio Navarro Tacoronte — o homem que viria a ser considerado o mediador de todo o esquema.

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Naquela altura, o que estava em causa eram alegados gastos não autorizados no cartão de Ángel Peña, no valor de 2.750 euros. Marcos Tacoronte, ouvido na polícia, assegurou que todos os pagamentos eram consentidos e mostrou-se crente de que o queixoso estava apenas a querer esconder informações da mulher.

A queixa não deu em nada, acabou arquivada, mas houve um pormenor que permitiu destapar todo o esquema: o próprio Marcos Antonio Navarro Tacoronte autorizou escutas ao seu telemóvel, o advogado chegou a dizer que a justiça não podia ficar com os telemóveis por ter “informações que afetam o Governo”, e isso terá aguçado a curiosidade do juiz. Assim se desenrolou a primeira ponta do novelo de corrupção.

Do mediador às visitas ao parlamento que custaram 10 mil por pessoa

Marcos Antonio Navarro Tacoronte é o homem que dá nome ao caso e é visto como central em todo o esquema por ser o elo de ligação entre as várias partes. Apesar de ser a cola do processo e um dos mais envolvidos, foi também ele quem denunciou os crimes — e quem colecionou provas.

Das mãos de Navarro saíram as fotografias e vídeos que têm vindo a ser publicadas nos jornais espanhóis, onde se veem os protagonistas da história em quartos com mulheres e a consumir droga.

O El Mundo conta que tudo começou com um pedido de ajuda de Taishet Fuentes, diretor-geral de Pecuária das Canárias e sobrinho de Juan Bernardo Fuentes Curbelo (o deputado do PSOE conhecido como Tito Berni), que atuava no lugar do tio. O objetivo era que uma multa de 78 mil euros fosse revista através da alteração de um expediente que passasse de grave a leve.

Na altura deputado do PSOE deu a ordem para que o assunto fosse resolvido e, como recompensa, caíram na conta da associação desportiva que lidera 5.500 euros. “No que toca a gado, nas Canárias não se fazia nada que não passasse por Tito Berni. Falava com ele quatro vezes de manhã e duas à tarde e criámos um vínculo muito forte”, contou Navarro Tacoronte em entrevista ao El Mundo.

O “mediador” diz que o esquema saiu do seu controlo, que o deputado queria “mais e mais”. “Eram quinze dias em Madrid e já não aguentava mais. Era a noite inteira em festas e no congresso no dia seguinte de óculos de sol”, recordou, acusando Juan Fuentes Curbelo de “controlar os pequenos e grandes empresários” e de “ninguém o denunciar por deixar de conseguir benefícios”.

António Navarro Tacoronte revelou que a visita de sete empresários ao parlamento espanhol rendeu 10 mil euros por cada um.

Navarro Tacoronte não poupa nas palavras: “Há uma conspiração da máfia nas Canárias e no Governo. A sombra de Juan Bernardo [Fuentes Curbelo] sempre esteve no conselho, ele podia ligar para um secretário de Estado e pedir qualquer coisas.”

E o esquema chega até a questões nacionais, já que Navarro conta que tinha acesso a “relatórios do Tesouro” quando o ex-deputado ia a Madrid. No que toca a membros do governo, Navarro recusa-se a dizer quem foram os dois ministros para quem diz ter trabalhado numa das gravações e é pouco claro sobre o envolvimento de secretários de Estado. A maioria do PSOE.

Porém, não deixa de revelar que a existência de um almoço onde comeu com 15 deputados, “todos das comissões de Energia e Finanças”, devido a questões relacionadas com painéis solares. “Ninguém é santo. Não era só um almoço. Já é ilegal um empresário pagar a refeição dos deputados… fala-se em painéis solares, que é o que o empresário vende e fala-se de diferentes regulamentos de acordos com as províncias, fala-se em mudar especificações”.

Questionado sobre o número de empresários que tinham estado no parlamento espanhol (congresso) a convite do deputado, Navarro responde que foram sete e que cada um pagou 10 mil euros.

Para receber benefícios seria sempre necessário fazer uma primeira transferência de 5 mil euros para o tal clube, a Asociación Deportiva Tetir, presidida pelo deputado socialista. Haveria ainda cartões, onde era carregado dinheiro, entregues aos beneficiados. Todos os gastos dos encontros com políticos e mediadores, também eram pagos por quem queria pedir alguma coisa: o custo médio de uma tarde/noite, segundo o El Mundo, que incluíam voos, hotéis, jantares e os extras teriam um custo médios de 3 a 3.500 euros. Havia sempre um primeiro passo antes de cada festa: pagar o depósito na Direção-Geral de Pecuária ou no comando da Guardia Civil.

Entre as várias revelações que fez, Navarro, o “mediador”, contou ainda que organizava as férias e festas com prostitutas de luxo. “Eu ligava e dizia: ‘fecha o clube, vou aí com um conhecido seu, chego às 12 horas’”, revela, realçando que parte das festas aconteceu em plena pandemia da Covid-19, em confinamento.

Fuentes Curbelo era, até agora, deputado do PSOE. Foi detido, saiu em liberdade depois de ser ouvido perante o juiz e diz ser uma "vítima".

Deputado renunciou, ficou em liberdade e diz ser “uma vítima”

Juan Bernardo Fuentes Curbelo, que era deputado do PSOE pela província de Las Palmas, renunciou ao cargo quando se tornou público que estava envolvido numa operação de combate à corrupção, a 14 de fevereiro — ainda longe de todas as informações que agora são conhecidas.

Fuentes Curbelo foi detido no âmbito do “Caso Mediador” e saiu em liberdade depois de ser ouvido perante o juiz.

Chegou a ser diretor-geral de Pecuária do governo das Canárias, um cargo que deixou depois ao sobrinho, Taishet Fuentes, outro dos principais suspeitos da operação.

Em entrevista ao La Provincia e ao El Día, o ex-deputado admitiu que conheceu o “mediador” em 2019 na altura em que era diretor-geral, no seguimento de uma visita relacionada com as energias renováveis, mais precisamente com painéis fotovoltaicos.

“Não tinha nenhum tipo de vínculo com o governo das Canárias e no parlamento, como compreenderá, legisla-se, não se faz intermediação para operações comerciais nem nada disso”, defendeu, enquanto negou em absoluto que tenha beneficiado alguém.

E questiona: “Como pode existir um esquema de organização criminal em que o suposto cabecilha, que sou eu, segundo a polícia, não conhece nada do general da Guardia Civil que dizem que é o segundo? Em nenhuma parte das diligências consta nenhuma referência ou prova de que eu o conheça.”

Fuentes Curbelo assegurou que é uma “vítima” e que “é profundamente falso que se tenha organizado uma viagem com empresários, como se pretende fazer ver na imprensa, que tenha começado no parlamento, continuado em festas e terminado em discotecas”.

Na casa de Francisco Espinosa Navas, tratado como o “general corrupto”, foram encontrados mais de 60 mil euros escondidos em caixas de sapatos, roupa e numa mala.

O “general corrupto” e o sobrinho do deputado

Além do “mediador” e do ex-deputado, que têm estado no centro das atenções mediáticas pelo cargo que ocupava, há outros nomes no caso. Um deles é Francisco Espinosa Navas, que tem sido tratado como o “general corrupto”. Era o ex-chefe do comando da Guardia Civil de Las Palmas à altura dos contecimentos e foi o único suspeito que ficou em prisão preventiva pelo alegado envolvimento no caso.

A imprensa espanhola revela que foi encontrada uma quantia significativa de dinheiro em casa do general — mais de 60 mil euros escondidos em caixas de sapatos, uma mala e roupa. No dia da detenção tinha ainda em sua posse uma anotação manuscrita de um número de conta na Bélgica.

Já Taishet Fuentes, o sobrinho de Fuentes Curbelo de quem herdou o cargo de diretor-geral de Pecuária do governo das Canárias quando o tio passou a deputado, acabou por sair por perda de confiança. Também pertence ao PSOE e tinha sido o nome escolhido para encabeçar a lista do partido à câmara municipal de Antigua nas eleições regionais de maio deste ano. Alegadamente, é um dos organizadores e frequentadores das festas com prostitutas, cocaína e viagra que foram expostas por várias fotografias.

Nas escutas há uma que está a ser apontada como uma prova de que as festas existiam: “Estão aqui à porta do hotel, estão ótimas. Já vamos subir os quatro.”

PSOE preocupado e comissão pedida

Em comunicado, o PSOE/Canárias resolveu instaurar um processo disciplinar e suspender provisoriamente tanto o deputado como o sobrinho, notando que a resposta do partido à corrupção será sempre “contundente e exemplar”.

De acordo com o El Periódico, o PSOE está preocupado com as consequências do caso, nomeadamente porque em Espanha estão marcadas eleições regionais para daqui a três meses (um barómetro, numa altura em que o PP surge à frente nas sondagens). O partido já terá contactado os deputados que estiveram presentes no jantar com Fuentes Curbelo e em conferência assegurou que “não há outro deputado” envolvido no esquema de corrupção.

Ainda assim, entre os membros da direção há receio de que sejam divulgadas mais informações, bem como fotografias e vídeos. “Há muitos nervos”, segundo as fontes ouvidas pelo jornal espanhol, que notam um ambiente de desconfiança que é visto como injusto por vários colegas de bancada que, alegadamente não sabendo, marcaram presença no encontro.

O ministro espanhol da Agricultura, Pescas e Alimentação, Luís Planas, reagiu ao caso e deixou uma esperança: “Esperamos e desejamos que não haja mais do que saiu.”

Deixando claro que a postura do governo é que se “purgue aquilo que há para purgar”, o governante disse ainda ser “repugnante e lamentável” tudo o que tenha a ver com corrupção.

No seguimento das últimas notícias, a secretária-geral do PP, Cuca Gamarra, anunciou que o partido vai solicitar uma comissão de investigação no parlamento espanhol sobre o “Caso Mediador”.

O processo levou também o congresso a mudar o procedimento das visitas ao local, passando a ser necessária o preenchimento de um documento com nome completo, número de identificação e outras observações pertinentes.

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