Durante a Segunda Guerra Mundial, o Estoril teve um papel importante: soube acolher refugiados de várias nacionalidades e classes sociais. É também para honrar esse legado, lembra Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, que se realizam, desde 2009, as Conferências do Estoril. No ano em que estas passam a ter periodicidade anual, o autarca, que está associado ao evento desde o princípio, recorda momentos especiais protagonizados por líderes políticos e religiosos, intelectuais e desportistas, mas também pela atriz Daryl Hannah, que, num jantar, pediu uma lagosta para a devolver ao mar.
O que espera desta 8.ª edição das Conferências do Estoril?
As expectativas são sempre altas. A primeira edição aconteceu em 2009 e já tivemos mais de 13 mil participantes, de mais de 100 países diferentes, mais de 400 oradores, entre os quais 30 antigos chefes de Estado. Entretanto, envolvemos a Nova School of Business and Economics e, este ano, pela primeira vez, a Nova Medical School. Isto corresponde a uma aposta nossa no talento do futuro. Repare que o nosso objetivo nunca foi ter a nata da nata da sociedade, que também é bem-vinda, mas sim despertar jovens para o futuro da nossa comunidade.
O facto de a Nova Medical School se ter associado agora o que significa para as Conferências?
É muito importante. É claro que não foi a pandemia que trouxe o tema da Saúde para a discussão pública, mas ajudou muito a que isso acontecesse com outra frequência. Hoje, a Saúde está, de facto, no centro do debate. Com o campus da Nova Medical School prestes a mudar para Carcavelos, fazia todo o sentido endereçarmos este convite para que se juntasse a nós.
Com esta edição as Conferências passam também a ter uma periodicidade anual. O que vos levou a tomar essa iniciativa?
Sentimos que estávamos a ser injustos com uma parte dos alunos da Nova, que, na sua maioria, são estudantes de mestrado, muitos dos quais estrangeiros. Vários deles perdiam a oportunidade de participar nas Conferências quando elas se realizavam de dois em dois anos.
Está envolvido neste processo desde o princípio: como é que tudo começou?
Tínhamos a consciência de que Cascais sempre foi um local de tolerância desde a Segunda Guerra Mundial, quando recebíamos aqui políticos, famílias reais, espiões, empresários em fuga. Procuramos fazer algo importante com esse legado e cedo, com estas Conferências, conseguimos atrair Prémios Nobel, grandes investigadores, estadistas, intelectuais, empresários de vários áreas e artistas. Outra preocupação nossa, desde o princípio, é a relação com a juventude e com a comunicação social. Neste momento, envolvemos outras instituições, como as faculdades referidas, e nós, Câmara Municipal, funcionamos sobretudo como um facilitador e um organizador — eventos como estes são dos cidadãos, das pessoas, não deste ou daquele político e sua equipa. Nós sempre quisemos realizar conferências independentes, mesmo sabendo que uma autarquia está filiada a uma determinada ideologia.
A ideologia nunca foi um critério?
Nunca, mas estou convencido que este envolvimento das escolas nas Conferências reforça essa tendência. A pluralidade política, religiosa, ideológica foi sempre uma preocupação nossa, mas a diversidade de parceiros reforça esse objetivo.
Se tiver de fazer um historial, que momentos mais especiais destacaria?
Agora que se fala tanto do diálogo inter-religioso, recordaria um debate entre o Cardeal Patriarca, D. Manuel Clemente, o rabino Abraham Skorka, grande amigo do Papa Francisco, e o sheik Munir. Mas também tivemos momentos inesquecíveis com Lech Walesa, o homem da libertação da Polónia, ou Gary Kasparov, o antigo campeão de xadrez, a alertar-nos para quem, de facto, é Putin. Foi há perto de dez anos e ele avisou-nos, com uma clarividência assinalável, sobre este caminho de radicalização da sociedade russa. Mas também houve momentos caricatos, como o protagonizado pela atriz de Hollywood, Daryl Hannah, a pedir uma lagosta num jantar para a libertar no mar. Mas, se um dia escrever um livro sobre a história das Conferências, vou ter muitas outras para contar.
Este artigo faz parte de uma série sobre as Conferências do Estoril, evento do qual o Observador é media partner. Resulta de uma parceria com a Nova Medical School of Business and Economics e a Câmara Municipal de Cascais. É um conteúdo editorial independente.