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Eleição dos vice-presidentes, secretários e vice-secretários da Assembleia da República da XV Legislatura. Gabriel Mithá Ribeiro do Chega Lisboa, 31 de Março de 2022. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR
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FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Mithá Ribeiro: "Dizerem que defendia castigos corporais aos alunos, foi o linchamento público de um preto"

O deputado Gabriel Mithá Ribeiro garante que os problemas internos foram resolvidos "dentro de casa" e diz que o Chega "não vai cometer os erros do PSD e CDS" com os professores.

Gabriel Mithá Ribeiro esteve na manifestação dos professores no sábado, apesar de ter sido convocada pela Fenprof e diz que o novo sindicato, o STOP, “tem condições para caminhar” desde que “se mantenha autónomo politicamente”. O que não invalida a intenção do Chega de criar também um movimento sindical.

Para o Chega os problemas da educação resolvem-se com “uma nova ideia de escola” e com uma reforma dos currículos. Mithá Ribeiro diz até que “a questão financeira do ensino é falsa” e que a questão é essencialmente “ideológica”. E acrescenta que o aumento das disciplinas piorou o ensino e criou mais despesa.

Sobre a vida interna do Chega, garante que não esperava um lugar nos órgãos nacionais depois de feitas as pazes com André Ventura e recusa falar do caso da agressão de Bruno Nunes, remetendo o caso para a “intimidade” do partido.

[Ouça aqui o Sofá do Parlamento com o deputado do Chega, Gabriel Mithá Ribeiro]

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Gabriel Mithá Ribeiro, do Chega: “Educação é uma espécie de TAP há 20 anos”

Participou na manifestação de sábado depois de André Ventura ter dito que as ruas também são da direita. Ainda assim, não é estranho estar num protesto que tem como principal cara a Fenprof? 
Não. Temos muito a ideia de que os professores são propriedade da esquerda, mas são um setor representativo da sociedade e há professores de todos quadrantes, de todas as sensibilidade, de todas as religiões. A rua é um espaço público e se a manifestação envolve professores e eu tenho simpatia com a causa, até por dever de consciência devo ir. O ensino é um aspeto fundamental que me fez entrar no Chega. Não se vai reformar nada em Portugal sem uma reforma profunda do ensino. Quem provocou o mal foi a esquerda, portanto compete à direita fazer a tal reforma profunda. Acontece que a direita em democracia nunca teve uma ideia de escola e nunca se conseguiu aproximar dos professores. Esse foi em parte o problema do PSD e do CDS. O Chega não vai cometer o mesmo erro.

O Chega aponta como prioridades da reforma que vai apresentar o estatuto do aluno e a ética escolar. Porque é que essas é que são as prioridades quando os professores definem outras?
Se nos tivessem dado ouvidos não tínhamos chegado a este ponto. A questão financeira no ensino é falsa. Antes de ser financeira, é ideológica. Desde que sou deputado tenho chamado a atenção ao ministro da Educação sobre a questão dos currículos. A educação tem um orçamento anual a rondar os 7 mil milhões de euros. Esse dinheiro chega e sobra, bem gerido, para resolver o problema das progressões, para descongelar integralmente as carreiras, para resolver o acesso ao 5º e 7º escalão e para apoiar os professores deslocados, mas também para os alunos do ensino especial, da música e para as obras nas escolas. O ministério da Educação é um caso de gestão financeira danosa, é uma espécie de TAP que anda aqui há 20 anos. Um aspeto central são os currículos.

E resolvendo os currículos os problemas na educação conseguem-se resolver na globalidade?
É absolutamente fundamental. Se compararmos os currículos dos anos 80 ou 90 com os atuais, cresceram muito. Um conselho de turma que tinha cerca de 8 professores agora tem 13, 14, 15 ou mais. A despesa disparou com o crescimento dos currículos e não melhorou a qualidade do ensino, pelo contrário, piorou. Há outra dimensão que está para além da escola. Se esgotamos os alunos na escola estamos a impedir a integração social em clubes e associações. Os currículos são um erro grave e um sorvedouro de dinheiro que pagava tudo isto. A outra parte é o consumo financeiro das estruturas intermédias da educação, que são verdadeiros parasitas. Tirando o IAVE, que coordena os exames e mesmo assim podia ser emagrecido, pergunto para que é que serve o Instituto de Inovação Educacional ou o Conselho Nacional de Educação. Há uma gestão danosa do ministério da Educação que teria permitido que não chegássemos ao ponto de rutura atual.

Acha que isso serviria por exemplo para repor o tempo de serviço dos professores que é uma das maiores exigências?
Tudo, mas era preciso esta reforma estrutural. Há responsabilidades diretas de quem tem governado e ninguém quer mexer na questão dos currículos. O PS é que criou isto, o PSD passou pelo Governo e não mexeu, o Bloco de Esquerda e o PCP revêm-se nisto e os sindicatos também. Temos uma sociedade inteira a ser enganada porque as pessoas não querem assumir a responsabilidade do erro que cometeram. A origem do problema é a ideia de escola. Quando os professores reclamam na rua a palavra chave é respeito. Não é só respeito do Governo pelos professores é todos os dias na intimidade da sala de aula, dos alunos pelos professores. O Chega não vai impor nada, mas quer que se discuta a sério a ideia de escola. A que temos está morta e não vale a pena andar a arrastar este cadáver.

Essas contas foram feitas? Se estas reformas pagam as exigências dos professores?
A questão salarial, do descongelamento das carreiras, estamos a falar de 500 a 600 milhões de euros. Mas a questão curricular não é possível contabilizar agora sem decidirmos que currículo queremos. Eu tive um 12º ano com três disciplinas, quatro horas cada. Agora podemos ter 5 ou 6 disciplinas, algumas delas com seis horas. Andamos a brincar com a ideia de escola, a mexer nos currículos e a gastar dinheiro que não se tem.

Casas de banho mistas. "Não é uma questão de propaganda embora para mim essa é uma questão mais simbólica, não é de substância"

Numa dessas questões da ideia de escola, o Chega tem sido o partido que mais tem combatido a ideia das casas de banho mistas, têm até um banner no site a pedir denúncias de casos. Já receberam alguma ou é uma questão de propaganda?
Não é uma questão de propaganda, embora para mim essa seja uma questão mais simbólica. Não é de substância. Nas minhas intervenções em plenário eu peguei o touro pelos cornos. A primeira ideia que tentei semear foi uma autonomia clara entre a educação que é da família e o ensino que é do Estado. Quanto mais peso tem o Estado, menos peso tem a sociedade e mais rápido caminhamos para a ditadura. O Estado anda a esvaziar a sociedade por via do esvaziamento da família, usurpando o direito de educar. O que propomos é uma autonomia clara entre a educação e o ensino e depois vêm as questão da disciplina da cidadania, das casas de banho, etc.

Para ficar claro: não tem conhecimento de denúncias sobre a questão das casas de banho?
Eu diretamente não tenho mas essa é uma questão que a deputada Rita Matias tem acompanhado e que pode responder com maior propriedade. A linha vermelha traçada ao Chega é prejudicial porque queremos discutir as coisas a sério e não nos dão espaço. Na nossa reforma, que é a pedra angular da nossa ideia de escola, o primeiro ponto é resolver a profunda crise institucional portuguesa a partir da sala de aula. A instituição [escola] tem valores como a hierarquia, autoridade e a ordem que foram abandonados. É tão errado despejar estes valores na sociedade, que foi o que Salazar fez. O regime de Salazar deixou as instituições sólidas mas uma sociedade disfuncional e nós desde 1974 pegámos em valores de sociedade e despejámos para cima das instituições.

Mas defende esse regresso ao tempo de Salazar na educação?
Não estou. Estou claramente a dizer que o tempo de Salazar tinha valores que funcionavam bem e regulavam as instituições mas tornaram a sociedade disfuncional e a partir de 1974 cometemos o mesmo erro mas ao contrário. A crise institucional profunda que temos começou na escola e tem que se resolver na escola. Como? Devolvendo aos professores a hierarquia, a autoridade e a ordem. Reformar o estatuto do aluno é dar uma resposta à crise da sociedade. É preciso pacificar as escolas, é preciso discutir isto abertamente com os professores.

Sindicato à direita. "O Chega não é apenas um partido político, é um movimento social. Há valores civilizacionais que se podem passar para outro tipo de organizações"

Voltando aos protestos e às greves. O STOP veio implementar um novo modelo de sindicalismo. O Chega revê-se neste novo modelo? 
Uma das causas da crise portuguesa é que a política meteu-se em tudo, prostituiu tudo. Uma coisa é um partido político outra é o movimento sindical. Os espaços têm que ser autónomos. O que me faz alguma espécie é a politização do movimento. As pessoas podem ter pretensões políticas, têm esse direito. Se o STOP conseguir manter o distanciamento, se não tiver uma conotação clara como a Fenprof tem ao PCP, com essa autonomia talvez tenha espaço para caminhar.

Sendo que Chega também queria entrar no sindicalismo. Esse processo está a atrasar-se porquê?
Não é a atrasar-se. O Chega é um partido recente e tem que ir caminhando. Um partido não se insere à bulldozer na sociedade.

Mas isso não entra em choque com o que está a dizer da politização dos movimentos sindicais?  
Entraria se o Chega quisesse sobrepor o seu ideal político ao movimento sindical. O Chega não é apenas um partido político, é um movimento social. Há valores civilizacionais que se podem passar para outro tipo de organizações. O respeito, o conservadorismo, a hierarquia, a ordem, por aí fora. Há uma parte da reivindicação do que é a dignidade da condição do professor que o movimento sindical não tem apanhado. Um dos aspetos é fazer tudo para impedir que os professores expulsem os alunos mal comportados das salas de aulas. Se esse aluno não for expulso é mais provável que destrua o ambiente de sala de aula, do que propriamente o ambiente converter o aluno. Isto é de uma gravidade enorme. É a própria lei e o estatuto do aluno que tem promovido a indisciplina. O movimento sindical podia ter olhado para isto, para a dignidade do professor, em que mais de metade está em sofrimento físico e psicológico e a outra metade desmotivada. Isto é uma hecatombe.

Quando entrei no Chega passei a ter menos convites para a comunicação social face aos que tinha antes. Eu gostava de discutir a questão racial de forma séria.

André Ventura foi reeleito presidente do Chega no final de janeiro. Com as sondagens atuais é realista dizer que o Chega quer ultrapassar o PSD? 
Dizer é, mas o Chega tem que fazer um caminho. Essa é uma ambição de longo prazo mas tudo aquilo que é necessário para fazer um partido grande, o Chega tem percorrido esse caminho das pedras. No gabinete de estudos tivemos um cuidado enorme em preparar um programa político a sério. Até mentiram sobre as 9 páginas do programa do Chega.

As propostas do Chega não são valorizadas?
Acho que o racismo passou à história. Eu assumo-me como negro, fui vice-presidente do Chega, tenho uma investigação profunda sobre a questão racial e nunca fui convidado para um debate sobre racismo. Isto é normal? Fizemos um trabalho de reorganização ideológica do Chega. O programa político do Chega é muito sólido e muito bem arrumado. Alguém me convidou para discutir o programa do Chega? Mandam umas patacoadas, mentem.

Mas pode fazer essa discussão diariamente no Parlamento
Não, porque também não tenho muito espaço. Não temos muito tempo de intervenção. Se eu quero mudar a fundo o ensino, vim para um partido, com ideias arrumadas, para intervir objetivamente no ensino e na questão racial. Mas não temos espaço para nos afirmarmos.

Mas isso não será um problema interno? O Chega é a terceira maior força política, a questão do espaço já não é propriamente uma questão
Não é interno. Eu escrevo ocasionalmente no Observador desde 2014, escrevo livros e estou no espaço público e esta é a primeira entrevista que dou. Quando entrei no Chega passei a ter menos convites para a comunicação social face aos que tinha antes. Eu gostava de discutir a questão racial de forma séria. Houve um programa de uma televisão que disse que eu defendia castigos corporais aos alunos, o que é evidentemente mentira. Olhei para aquilo, africano como sou, disse: é o linchamento público de um preto. Eu nem me assumo como negro, que é o simpático da esquerda. Quando uma pessoa quer liberdade para pensar é tratado como no tempo colonial, desaparece da imprensa.

Agressão de Bruno Nunes. "Há espaços da intimidade dos partidos, da família, das empresas que têm que existir. Eu não vou alimentar esta questão. Por mim não têm mais achas na fogueira"

O ponto já ficou assente mas hoje o assunto é outro. Terminamos com o segmento final, a Defesa da Honra, e com a reeleição de André Ventura. Não era de esperar um sinal de pazes feitas com a atribuição de um lugar nos órgãos nacionais do partido? 
Podia ser, como podia não ser. Podia ter havido maior renovação, como podia não ter havido. Voltamos ao aspeto das instituições. Para funcionarem bem, as instituições precisam de uma certa intimidade. Eu fiz tudo e continuo a fazer para reservar questões internas do Chega para dentro do Chega.

Porque há coisas que podem não ter sido esclarecidas. Por exemplo, a questão da agressão de Bruno Nunes. Existiu ou não?
É mais um aspeto da intimidade. Eu não toco nelas.

Mas sendo esclarecido publicamente podia encerrar a questão.
Não arruma e nós devíamos discutir a fundo o papel da comunicação social porque há espaços da intimidade dos partidos, da família, das empresas que têm que existir. Eu não vou alimentar esta questão. Por mim não têm mais achas na fogueira. Sempre olhei para o Chega como um partido em fase de crescimento e nessa fase há tensões, conflitos e problemas internos mas resolvemos esses problemas dentro de casa. Posso garantir que sempre que tive questões falei com o presidente André Ventura, que é um homem de princípios e com quem eu posso falar.

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