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O Big Mac faz 50 anos... E Don Gorske já comeu 29.863 destes hambúrgueres

O Observador falou com o norte-americano que come, em média, duas destas sanduíches por dia desde 1972. Tudo isto a propósito do meio século de vida desta que é uma das jóias da coroa da McDonald's

Um homem que fica preso no tempo, vivendo o mesmo dia vezes e vezes sem conta. Em poucas palavras, esta é a história de O Feitiço do Tempo (Groundhog Day, em inglês), filme de culto que teve como protagonista o norte-americano Bill Murray. Sem revelar muito da história, pode dizer-se que a personagem de Murray entra num círculo de desespero por ter de passar pelas mesmas coisas todos os dias. Para muitos, esta ideia pode ser um martírio mas, como tantas vezes acontece, há sempre uma exceção à regra.

Donald A. Gorske é um norte-americano de 64 anos que vive numa espécie de “Dia da Marmota” — e adora. Não se encontra preso num feitiço mas come a mesma coisa há 46 anos: um Big Mac, o hambúrguer mais popular da gigantesca McDonald’s.  “Se tudo correr bem, no próximo dia 4 de Maio, no dia oficial do 50º aniversário do Big Mac, vou atingir o hambúrguer número 30.000!”, diz, do outro lado do telefone.

Está em Font du Lac, Wisconsin, a sua terra Natal. Don — como gosta de ser chamado — contou ao Observador alguns dos mais curiosos pormenores sobre a sua impressionante vida (e dieta).

Don Gorske tem um lugar no The Guinness Book of World Records como o homem que mais Big Macs comeu. Esta foi a foto que lhe tiraram quando entrou pela primeira vez, em 2006. ©D.R.

D.R.

De voz nasalada e plena de simpatia conta como tudo começou. “Eu já era fã de hambúrgueres duplos quando apareceu o Big Mac, em 1968”, explica. No dia em que comprou o carro ao pai — a sua primeira e única viatura — decidiu celebrar conduzindo até ao McDonald’s mais próximo de casa. “Só não tinha ido ainda porque ficava longe, precisava mesmo de carro para lá chegar.”

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A 17 de Maio de 1972, tinha Don pouco mais de 18 anos, pegou no “bonito” Dodge Polara de 1966 (comprou-o por $500) e seguiu em direcção ao restaurante dos “arcos dourados”. “Estava cheio de fome, pedi três Big Macs e uma cola. No total gastei $1,57”, diz. Sentado dentro do carro, devorou as sanduíches num ápice e sentiu que “nunca tinha comido nada assim”. No mesmo dia voltou à McDonald’s para comer mais seis — no total comeu 12 rodelas de hambúrguer. “Era um adolescente! Comia imenso!” Desde então não parou.

“A minha mãe não gostava muito que eu comesse tantos Big Macs, era uma óptima cozinheira e, por causa disso, obrigou-me a ter pelo menos uma refeição normal por dia”, vai contando. A verdade é que este pedido tornou-se obrigação quando Don decidiu sair de casa dos pais: “Tive de lhe prometer que manteria essa regra. E mantive, durante sete anos.” A 1 de abril de 1980 Don foi visitar os pais e durante a visita decide conversar sobre o assunto. Perguntou à mãe se ela se importava que ele só comesse Big Macs e a resposta foi, no mínimo, caricata: “Ela disse-me ‘bem, se eles ainda não te mataram é porque não te devem fazer muito mal…'” Gargalhando, o entrevistado faz uma pequena pausa para contar uma particularidade muito sua.

É provável que já tenha reparado que todas as datas mencionadas neste texto não pecam por falta de precisão – pelo contrário. “Desde muito pequeno que gosto de números. O meu pai tinha quatro carros e eu costumava ver todos os dias quantos quilómetros é que ele percorria.” Esta particularidade viu-se reforçada por causa da mãe, que, por saber desta sua apetência para algarismos, costumava pedir-lhe ajuda para decorar datas de aniversários. O hábito foi crescendo e desde então nunca mais parou de anotar números e dados específicos das mais variadas coisas — de resultados desportivos a consumos de Big Macs.

Don é um homem casado há mais de 40 anos. Mary, a sua mulher — é ela que responde aos e-mails, por exemplo, já que Don não gosta muito de computadores –, conheceu-o pouco depois de ele ter começado a sua “dieta” invulgar. “Ela nunca teve problemas com o meu consumo de Big Macs e não se importa que eu lhe diga que não tem muito jeito para a cozinha”, explica. Nos primeiros tempos depois de terem casado, Mary “ainda tentou” cozinhar para os dois, mas, como explica o norte-americano, “aquilo nunca correu muito bem” e o resultado final “sabia sempre mal”. Posto isto, Don propõe um acordo: ele podia manter a sua dieta ‘bigmaquiana’ e em troca nunca criticaria os cozinhados de Mary. Negócio fechado. O facto de nunca terem tido o hábito de “comer sentados à mesa”,  até mesmo depois do nascimento de Gabe e Gideon (os dois filhos), fez com que fosse mais fácil conciliar as dietas (Mary come “normalmente”). “Ela sempre me pediu outra coisa: que nunca ficasse gordo”, acrescenta Don antes de soltar uma gargalhada. O facto é que don se manteve em forma durante este tempo todo — algo surpreendente.

Perguntou à mãe se ela se importava que ele só comesse Big Macs e a resposta foi, no mínimo, caricata: "Ela disse-me 'bem, se eles ainda não te mataram é porque não te devem fazer muito mal...'" Gargalhando, o entrevistado faz uma pequena pausa para contar uma particularidade muito sua.

Qual é o segredo para manter a forma e evitar doenças graves? “Acho que sou um tipo com sorte”, respondeu. “Devo ter um óptimo metabolismo porque nunca tive excesso de peso e o meu colesterol nunca foi além dos 165.” A ideia de que o fast food e os hambúrgueres são prejudiciais à saúde é conhecida, mas Donald parece ser imune a quaisquer malefícios deste género. “A Mary é enfermeira e ela própria controla o meu estado de saúde. Nunca me diagnosticou doença nenhuma!”  Seria de esperar que, por esta altura, a própria empresa McDonald’s já o tivesse abordado para uma campanha de publicidade ou um qualquer cargo de embaixador da marca, mas não, nada disso aconteceu. Tirando “um pequeno evento publicitário”, em que distribuiu “o famoso molho especial [o que rega todos os Big Macs]” a uns quantos clientes em Las Vegas, Don diz que nunca recebeu qualquer dinheiro ou benefício por causa da sua dieta. “Faço isto porque adoro Big Macs e a McDonald’s, é tão simples quanto isso. Considero-me um sortudo porque posso comer a minha comida favorita todos os dias!”

Na prática, o consumo destes hambúrgueres (todos eles são sempre comidos em 16 dentadas) segue um padrão quase matemático. Gorske não come pequeno-almoço “desde sempre, quase”, por isso a sua primeira refeição dá-se pelo meio-dia e é composta sempre pelos mesmos elementos: Big Mac, coca-cola e parfait de frutos vermelhos (nos McDonald’s dos EUA existe esta sobremesa que é tida como “light”. Tem iogurte na sua base e leva vários tipos de frutos — “A minha mulher obrigou-me a comer isto para garantir que como alguma fruta”). Mais ao fim do dia, por volta das 18h, volta a repetir o menu. Don diz que nos dias em que costuma ter mais fome ainda vai ao terceiro.

Guarda as caixas de cada hambúrguer e de cada parfait, assim como todos os recibos e “alguns sacos de take-away.” Prefere comer os seus hambúrgueres em casa, na sua pequena-varanda, apesar do McDonald’s onde costuma ir ter uma zona conhecida como “Donald Gorske’s Booth”, uma espécie de cubículo que foi construído exactamente no lugar de estacionamento onde Don comeu o seu primeiro Big Mac (o edifício original foi remodelado e o novo espaço ergueu-se poucos metros ao lado do inicial). “Até têm lá uma fotografia minha.”

Donald Gorske já foi engraxador de sapatos, repositor de máquinas de venda automática e guarda-prisional numa prisão de segurança máxima. Actualmente é reformado e isso, diz, “dá jeito”, já que lhe permite ir “ao seu” McDonald’s todas as terças e quintas-feiras — “É muito engraçado. Quando entro [no restaurante em questão] eles gritam logo ‘O Don chegou!’ Em cada visita ao McDonald’s costumo gastar, em média, cerca de 30$, e compro sempre hambúrgueres a mais.”

No total, desde 1972 Don só passou oito dias sem comer Big Macs. Uma tempestade de neve ou um feriado fecharam o restaurante favorito e o seu stock caseiro estava a zeros. Sim, leu bem, “stock”: Gorske compra sempre Big Macs a mais porque alguns desses vão diretos para o congelador. Para evitar passar um dia sem comer a famosa sanduíche de dois andares, Don congela algumas, assim está sempre prevenido. “Não noto grande diferença entre um Big Mac congelado e um fresco. É claro que gosto mais do fresco, mas, no final, o sabor delicioso é sempre igual. Não sei, talvez já me tenha habituado ao sabor com que eles ficam depois de serem aquecidos no micro-ondas.” Durante a conversa telefónica o entrevistado fez questão de ir ao seu congelador para avisar que estava bem de provisões: “Ainda aqui tenho três no congelador, estou bem. Como um daqui a nada e o resto fica para depois.”

Don na celebração do Big Mac número 20.000 no "seu" McDonald's, em Font Du Lac, Wisconsin, nos EUA. ©D.R.

D.R.

Donald Gorske admite comer outras coisas sem ser Big Macs (“Como, sim, mas há de ser numa proporção de 95% de Big Macs para 5% de tudo o resto”). “Ainda há uns tempos comi macarrão com queijo, por exemplo.” Mas hambúrgueres de outras marcas? Raramente ou quase nunca. A propósito deste tema, Don recorda o episódio em que comeu pela primeira vez um hambúrguer da Burguer King, grande rival da marca criada por Ray Kroc em 1954: “Um dia um amigo fez uma aposta: se eu comesse um Whooper [a sanduíche ex libris da Burguer King] ele dava-me 5$. Eu aceitei, comi, ele deu-me o dinheiro e depois usei-o para comprar Big Macs!”

O “Sr. Big Mac”, como alguns lhe chamam, pode ser um devorador implacável destas sanduíches, mas ao mesmo tempo também será, muito provavelmente, um dos maiores colecionadores de objetos relacionados com a McDonald’s. “Acho que por esta altura já era capaz de fazer um pequeno museu”, revela ao Observador. De entre a extensa lista de artefactos que guarda há bonecos de Happy Meals dos anos 70, caixas de hambúrgueres, gravatas, uniformes e muito, muito mais. A caixa de um dos primeiros Big Macs a ser cozinhado é uma das coisas que mais estima.

Don diz que não consegue explicar o porquê de fazer isso, “é demasiado complexo”, mas sente que “aquilo algum dia” lhe “pode dar jeito”. Além disso, criou uma profunda relação emocional. “Eu gosto do McDonald’s porque sempre foi uma espécie de porto-de-abrigo. Em alturas menos boas da minha vida, em momentos em que não tinha muitos amigos, o McDonald’s era um sítio que me fazia sentir feliz. Acho que isso explica um bocado a minha ligação à marca.”

No total, desde 1972 Don só passou oito dias sem comer Big Macs. Uma tempestade de neve ou um feriado fecharam o restaurante favorito e o seu stock caseiro estava a zeros. Sim, leu bem, "stock": Gorske compra sempre Big Macs a mais porque alguns desses vão diretos para o congelador. 

30.000 Big Macs — este é o grande marco que Donald Gorske sabe que vai alcançar em breve. “Estou muito entusiasmado com isso”, explica, afirmando que apesar de não estarem planeadas grandes festas ou coberturas mediáticas do “Big 30.000”, como lhe chama, há uma pequena celebração prevista no McDonald’s da sua cidade. Até ao dia em que esta entrevista foi publicada, domingo, 18 de fevereiro de 2018, Donald comeu 29.863 Big Macs. Ao Observador afirma que tem tudo pormenorizadamente catalogado e calculado para que nunca haja confusões de números.

Por mais voltas que se dê, contudo, é impossível não regressar ao tema da segurança alimentar. Durante muito tempo, preocupações com a qualidade da comida ou o seu teor de gorduras passaram ao lado de muita gente, mas de há uns bons tempos a esta parte, todo esse paradigma mudou, seja pelo contributo de documentários como o Super Size Me (onde Donald entrou, por acaso) ou pelo activismo de pessoas como o chef Jamie Oliver. A marca tentou, e continua a tentar, melhorar a vertente nutricional da comida que vende mas. mesmo assim, é difícil dissociar McDonald’s de toda a gordura que a palavra “fast food” traz consigo. Sobre isso, Don não generaliza: “A mim nunca me fez mal, por isso continuo a comer. As pessoas que não se dão bem com este tipo de comida, claramente devem afastar-se dela.” Sobre este assunto vai ainda mais longe, dizendo que o seu caso é diferente do de muitos norte-americanos (e não só). “Acho que problemas de obesidade estão associados ao overeating (“comer demasiado”, em português), eu só como aquilo que sinto ser o suficiente e talvez seja por isso que não tenho problemas de saúde.”

Já quase no fim da conversa, Donald Gorske foi confrontado com uma pergunta que diz já ter respondido “mil vezes”. Vai manter esta dieta para sempre? “Sim, vou comer Big Macs até morrer”, explica. Mary, a sua mulher, é um pouco mais racional e já lhe disse várias vezes que “no dia em que tiver de por o Big Mac numa trituradora” e dar-lhe de comer “por uma palhinha”, “acabou-se!” Curiosamente, numa das suas variadíssimas aparições televisivas (Donald esteve, por exemplo, no programa de Oprah Winfrey e de Jimmy Kimmel), esse desfecho, o do Big Mac por uma palhinha, já lhe foi proposto. “No programa do George Lopez [apresentador de um talk show] ele pôs um Big Mac num liquidificador, juntou um bocado de Coca-cola, misturou tudo e eu bebi. Não é que estava bom?” ri. “Assim já sei que quando chegar à fase da palhinha vou poder continuar — sabe-me bem à mesma.”

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