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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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O Brasil do sul. Aqui há quem não entenda a lógica de ir à praia, só fale alemão e se sinta na Europa

No Rio Grande do Sul há ainda colónias onde se fala alemão, japonês e italiano. Ali vivem pessoas entaladas entre culturas, muitas vezes distantes do país onde nasceram. Um retrato do sul do Brasil.

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Esta reportagem faz parte de uma série de três retratos sobre o Brasil nas vésperas da eleição presidencial — pode ler aqui o da Amazónia e aqui o de Salvador da Bahia.

田尾 やよい (em português Iaioi) é brasileira. Nasceu no Rio Grande do Sul e ali se formou, mas na sua cabeça sente-se um bocadinho mais japonesa. Aos 57 anos esta professora de Ivoti vive, sem saber onde se posicionar, entre dois mundos opostos: um fechado e hierarquizado, outro expansivo e caótico.

Letícia Wierzchowski é uma consagrada autora brasileira, mas as suas origens estão muito longe de Porto Alegre, a sua casa. O avô foi a sua “primeira personagem” e ainda hoje se apresenta como “polonêsa” — o estigma impediu que se naturalizasse a palavra “polaca” por ali. A sua família teve sempre de lidar com a discriminação dos alemães (poucos eram os que os distinguiam) e com o estereótipo de preguiçoso associado aos polacos. Nunca viveu numa colónia.

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Claudio Hillebrand sempre morou em Nova Petrópolis. É brasileiro, mas chegou à escola sem falar português e era muito gozado pelos colegas, que lhe chamavam “alemão batata”. Agora que tudo se inverteu, os mais novos da colónia já só sabem falar português, a maioria nem sequer entende o alemão.

Povoar imensas áreas que estavam desertas, desenvolver a agricultura e branquear a população. Durante séculos, o Rio Grande do Sul foi recebendo pessoas de Portugal, do centro da Europa e da Ásia. Hoje tem inúmeras colónias que preservam os seus costumes e dialetos próximos da língua do país de origem — há mesmo quem nem sequer ainda fale português — e descendentes desses povos que vivem já em cidades como Porto Alegre, que se sentem totalmente brasileiros, mas que mantêm a missão de dar a conhecer os lugares de onde vieram.

“Nós, japoneses, não somos orientados para falar”

Ivoti tem uma pequena colónia japonesa, fica à entrada da Serra Gaúcha, a 30 minutos de Porto Alegre. Na praça central há uma associação cultural, um museu da história da colónia e, no meio, um recinto para os mais velhos jogarem Gateball. Iaioi viveu ali isolada os primeiros anos de vida, no meio de japoneses, e quando começou a lidar com outros brasileiros percebeu como isso a fez diferente: primeiro quando frequentou o ensino médio na cidade de Nova Hamburgo, ali próximo, depois quando entrou para a faculdade em Porto Alegre. “Aí a realidade é outra. Eu fui morar numa casa de estudantes com 40 mulheres vindas do interior do Rio Grande do Sul — descendentes de italianos, de alemães, da região da fronteira [com o Uruguai]. E eu era daqui da colónia, totalmente diferente, era a única ‘japinha’.”

A colónia japonesa de Ivoti

Após a Segunda Guerra Mundial, muitas pessoas no Japão quiseram refazer as suas vidas longe do país, num local onde pudessem ter melhores condições de vida e uma terra para cultivar. Atento ao fenómeno, o governo japonês decidiu que tinha de apoiar essas pessoas — com destaque para os naturais de Kagoshima-Ken, Kumamoto-Ken e Hokkaido que iam colonizar outros países, como aconteceu no Brasil. A Japan Agency Immigration Cooperation, além de financiar a compra de terras no estrangeiro, também emprestava dinheiro para outras despesas de fixação, Quem escolhia o Brasil como destino tinha mais de meia centena de dias de barco à sua espera. A viagem começava sempre no porto de Kobe.

Os japoneses chegaram um pouco a todo o Brasil, mas foi em Ivoti, numa região conhecida como Vale das Palmeiras, que 26 famílias decidiram recomeçar, criando uma colónia com alguma expressão. A cada família cabiam em média cinco hectares, segundo informação do Museu, e nos primeiros tempos chegaram a viver em casas de madeira, até que conseguiram construir habitações em alvenaria.

Ainda hoje, quando há casamentos, velórios ou outras cerimónias, as pessoas mais próximas dão um envelope com dinheiro, nunca um presente, tal como mandava a tradição que já nem se usa nas grandes cidades do Japão. Após pagarem as despesas, se sobrar alguma quantia, quem recebeu devolve a demasia, como forma de agradecimento.

Hoje vivem ali à volta de 120 pessoas — já contando com filhos que não moram em Ivoti, mas nas redondezas. São poucos os mais velhos, os que fundaram a colónia.

Nas saídas com as amigas de curso — estudou Letras — sentia que todas as pessoas a olhavam de forma diferente. À noite, depois do banho, lembra-se de ficar ao espelho, “enquanto espremia espinhas”, a tentar perceber o porquê de toda a gente fixar os olhos em si: “Pensava ‘verdade, eu sou japonesa’. E ficava assim me encarando no espelho”. Iaioi quis tantas vezes “desaparecer, para ninguém a olhar, para não ser o centro das atenções”.

Nas aulas, “onde é suposto se expressar”, quase nem falava. Mas aí era também uma questão de educação. “Nós [japoneses] não somos orientados para falar muito, só para falar mesmo o mínimo.” E, quando falam, é “baixinho, sem articular muito e há pessoas que até tapam a boca para se rirem”. Hoje consegue olhar-se de fora, ver quem é e como são os seus. Tem uma posição crítica por tudo ser mais fechado e hierarquizado, mas não consegue fugir do que aprendeu a ser.

Em 1983, a ida para Porto Alegre só não foi mais difícil porque ficou numa residência para raparigas — e a mãe foi lá certificar-se de que era mesmo assim: “Ela nunca saía, mas naquela vez foi, foi de ónibus comigo”. Era uma residência feminina, mas o ambiente não era nada tranquilo, até pela diversidade de pessoas. Tinha  colegas do interior, que eram ferrenhas de esquerda — “o PT tinha sido criado há pouco tempo” —, outras muito religiosas, até iam à missa no fim de semana. Deste último grupo, muitas eram descendentes de italianos e alemães. “Para mim era como se tivesse dado uma volta ao mundo, sem andar muitos quilómetros”, conta ao Observador.

Iaioi dá aulas de japonês em Ivoti, a maioria dos seus alunos não tem origem japonesa

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Nas paixões da juventude também se sentia presa, hoje lembra-se de como uma simples saída de colónia de férias expunha todas as suas diferenças: “Elas queriam ir para onde estavam rapazes e eu dizia: ‘Eu não quero, quero ir para onde está deserto’. Eu era diferente”.

Iaioi foi reprimida pela sua cultura e teve de viver assim num país que não a acompanhava, onde as pessoas se expressam com facilidade e falam de relações com pessoas diferentes e de sexo sem qualquer constrangimento. “Eu nem pensava em casar com um brasileiro, mas tinha lá [na universidade] um rapazinho lindo, moreno, de olhos claros, que as meninas achavam muito bonito”, conta, adiantando que nunca lhe passou pela cabeça que alguém um dia quisesse namorar com ela. “Tenho os olhos puxados e não sou alta.” Na sua cabeça havia uma certeza, se um rapaz lhe sugerisse algo seria “para se aproveitar dela”, nunca seria por “ter interesse”.

“'Como tudo na minha filha é bonito? Ela tem os olhos puxados e panturrilha grossa…' Estava tudo reprimido"
Iaioi, professora de japonês

Era já mãe quando começou a perder alguns complexos: um dia, o ex-namorado da filha disse-lhe que achava tudo bonito na namorada. Mesmo sendo mãe, ficou estupefacta: “Como tudo nela é bonito? Ela tem os olhos puxados e panturrilha grossa…” “Estava tudo reprimido”, admite. Talvez por isso não goste de se ver de decotes, nem com roupas coloridas.

Numa colónia como a de Ivoti, as coisas ainda são mais antiquadas do que noutras colónias que foram fundadas gerações antes, e os casamentos de japoneses com pessoas de fora da comunidade continuam a não ser a normalidade.

No caso da sua família, esse assunto sempre foi mais pacífico. A irmã é casada com um descendente de alemães, mas, apesar de terem aceitado, os pais começaram logo a autoconvencerem-se de que era um bom partido. “Diziam-nos ‘ah, mas ele trabalha e pode sustentar a família’.” A mãe de Iaioi, que já morreu, sempre lhe contou que há bons e maus em todo o lado: “Tem japoneses que não são bons e brasileiros que são bons, muito queridos”. E talvez por isso hoje sinta mais liberdade para ser crítica e para tentar ceder à cultura brasileira.

Yoshimichi Kybo, morador em Ivoti, costuma passar os sábados a jogar Gateball

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Mas há coisas em que os japoneses ganham o seu coração: a comida — não aguenta comer muito feijão, come misoshiro e faz omeletes à japonesa —, o costume de não ir à praia — pergunta-se mesmo o que é que as pessoas fazem numa praia — e a contemplação da natureza, às vezes até de “uma formiga”. É por isso que se sente 60% japonesa e só 40% do país onde nasceu e foi criada.

Basta sair da escola de língua japonesa onde Iaioi dá aulas para encontrar Yoshimichi Kybo. Tem 81 anos e está na praça central a jogar com os amigos — cada jogo tem 30 minutos e, das duas equipas, a que, usando um taco, fizer passar mais bolas pelos pequenos portões vence o jogo. É uma tarde de sábado como tantas outras. Nasceu no Japão e não fala português, mas vai entendo algumas palavras.

Nasceu no Japão e também nunca cedeu a trocar a comida do seu país. “As pessoas da minha idade comem comida japonesa, os mais novos é que comem comidas típicas daqui. Eu como arroz branco, sem óleo, e misoshiro, que é uma sopa padrão, que tem legumes e tofu”. Quanto à parte cultural, também mantém, “no núcleo há Karaoke, joga-se este jogo e depois trabalhamos na agricultura”, conta Yoshimichi Kybo.

“As pessoas da minha idade comem comida japonesa, os mais novos é que comem comidas típicas daqui. Eu como arroz branco, sem óleo, e misoshiro, que é uma sopa padrão, que tem legumes e tofu"
Yoshimichi Kybo, morador de Ivoti

É um dos casos de pessoas que viveram a adaptação ao Brasil depois de uma viagem que parecia não terminar e lembra que, em 1960, japoneses no Rio Grande do Sul eram uma raridade. Ainda assim, não sentiu discriminação: “Naquele tempo, deixava a porta aberta, não havia ladrão, a adaptação foi boa”, até porque quando chegou havia muito alemães e a “Alemanha era um país aliado do Japão”.

“Acompanho a atualidade política do Brasil, mas, como sou japonês, nem voto, mas as gerações abaixo têm um engajamento político maior. Sou uma liderança aqui, assisto notícias em português, mas também vejo televisão japonesa.” Yoshimichi teve três filhos, um morreu num acidente de carro, os outros dois estão muito integrados na sociedade brasileira: um é médico, em Porto Alegre, e outro formado em Ciências da Comunicação, em Nova Hamburgo. Os três estudaram em escolas públicas também, nunca foi preciso colocá-los no ensino privado, porque ali a rede estatal funciona.

Neste Brasil, o serviço público de saúde também está longe de ser o problema que é noutros estados. Aliás, há um contentamento generalizado com o serviço prestado.

Nelson Hayashi tem 65 anos. Morou fora de Ivoti uns anos, mas voltou porque o pai lhe pediu

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Ao seu lado, a assistir ao jogo, está Nelson Hayashi, 65 anos — a primeira geração a nascer no continente americano. Os pais chegaram em 1954 ao Brasil, dez anos antes de ter sido fundada a colónia de Ivoti, e viviam perto de Santa Catarina. Fala um português com cadência nipónica e não esconde que a sua vida é muito mais japonesa do que brasileira, apesar de ele ser brasileiro no papel: “Toda a raça tem a preocupação de manter as suas raízes e há sempre uma dificuldade de aceitar outras raças. Mesmo os alemães eram muito fechados”, conta com um sorriso inocente e ao mesmo tempo desafiador. Mas o país agora “está bem aberto”, ele até tem uma tia “da raça africana”. “O mundo existe dentro do Brasil e isso enriquece uma nação, mas aqui também há mesquinharias”, ri-se sem adiantar muito.

Nelson saiu da comunidade para trabalhar durante uns anos e, a determinada altura, o pai disse-lhe que já estava a ficar velho e que precisava que ele voltasse. Ele voltou, a hierarquia mandou. Ali são poucos os da primeira geração a nascer no Brasil e menos ainda os que já se identificam mais como brasileiros do que como japoneses. Ele é uma exceção.

“Bom, numa partida de vólei entre o Japão e o Brasil, eu fico ali… torcendo para o Japão, torcendo para o Brasil, fico meio dividido, né? Mas acho que a tendência é realmente, como brasileiro, no fim torcer mais pelo Brasil”
Nelson Hayashi, morador de Ivoti

“Bom, numa partida de vólei entre o Japão e o Brasil, eu fico ali… torcendo para o Japão, torcendo para o Brasil, fico meio dividido, né? Mas acho que a tendência é realmente, como brasileiro, no fim torcer mais pelo Brasil”, continua, a rir.

Dois dos seus quatro filhos foram viver para o Japão, numa viagem contrária à dos avós — queriam estudar e ganhar mais dinheiro. “Um dia, de certo, eles vão voltar também”, suspira, dizendo que também ele chegou a tentar a vida durante 14 anos no Japão “para ganhar um pouquinho de dinheiro”, mas que acabou por regressar ao Brasil.

“Tive uma deceção quando cheguei lá pela primeira vez, pensava que o povo japonês era mais amistoso, mas eles são bastante fechados. Mas com o tempo você vai se acostumando”, diz, brincando que agora se “aposentou e vive vagabundo”. Aproveita o tempo para representar a colónia no SUS, o serviço nacional de saúde do Brasil, e que diz ser um exemplo para muitos países.

Na colónia japonesa de Ivoti são várias as modalidades praticadas

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O afastamento dos mais jovens da colónia, como aconteceu com os quatro filhos de Nelson, pode estar relacionado com a busca de melhores condições de vida, mas também com uma fuga à pressão colocada por esta comunidade.

Iaioi sente que “num ambiente familiar, como aqui em Ivoti, se uma pessoa mais velha não disser para você fazer algo, para falar, você não faz, fica esperando”. “Por isso é que o homem japonês, descendente, que a gente chama nikkei, ou a mulher, muitas vezes não se sobressaem. O trabalho na agricultura é muito louvável, porque é daí que nós sobrevivemos. Mas alguns sentem que têm de sair, para a vida académica ou para outra área.” Aquilo de que se vai apercebendo é que, nesses casos, quase nunca chegaram a posições de topo: “Um ou outro é militar, porque era o sonho da família, e esses chegaram longe por mérito e por serem bons a respeitarem hierarquias, a obediência, mas nunca por se expressarem, por serem falantes”.

Outros que também acabam por não ser tão bem vistos nas colónias são os que já não falam japonês: são criticados pelos mais velhos. “Dizem ‘nem fala japonês direito’. E eu pergunto ‘e eles que estão há 60 anos aqui e não falam português… nem entendem”, atira a professora de língua japonesa — que hoje dá aulas a 25 alunos, só dois com origens japonesas —, lembrando que os jovens às vezes até têm receio de fazer uma tradução de um líder da colónia, porque se algo correr mal a culpa é dele. “Muitos, como eu, tiveram de seguir a sua vida e estudar em português. O mundo aqui é em português, não podem ficar todos parados a falar japonês, na agricultura.”

Iaioi vive entalada naquela sala de aula entre dois mundos e vai tentando mudar e mudar-se. “Eu sou meio quadradinha, mas tento adaptar-me. Tento atualizar-me. Mas está difícil”, brinca, afirmando que, no seu caso, não tem nada contra os filhos — que nunca abraçou porque não tem esse costume — arranjarem alguém não japonês para viverem. Só há um  detalhe: “Os rapazes, quando envelhecem, têm aquela memória afetiva da infância. E se ele casa com uma brasileira que não gosta de cozinhar, que quer sair no restaurante todo o dia, eu acho que ele se vai divorciar, não vai dar certo. Os filhos homens têm a ideia da mulher cozinhando comidas japonesas na cabeça. Ou ele tira da cabeça essa imagem…”

Gateball é um jogo tradicional japonês

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O “alemão batata” e a visão de um sul que alavanca o Brasil

Mais acima, na Serra Gaúcha, o tempo começa a ficar mais frio e o verde mais vivo. Do lado de fora da casa de Claudio Hillebrand só se ouve a água do rio a correr — o som divide-se entre o curso normal e o desvio feito para que o moinho gigante da casa de madeira possa funcionar. Ali, em Nova Petrópolis, as famílias são todas descendentes de germânicos — a sua é da região da Boémia, hoje Chequia. Claudio tem 74 anos, está reformado, assim como a mulher, e já ali nasceu, mas o português do Brasil tem sotaque alemão.

A colónia germânica de Nova Petrópolis

Com o fim da Revolução Farroupilha (em 1845), D. Pedro II tentou retomar a colonização do centro da Europa e beneficiou do facto de ser primo do imperador da Áustria, Francisco José I, e casado com a princesa italiana Tereza Cristina. Nova Petrópolis acabaria por ser fundada em setembro de 1858, como Colónia Oficial criada pelo Império. Foi assim que em 1870 começaram a chegar os boémios, vindos de um território hoje pertencente à Chéquia — nessa altura foram 200 famílias que vinham em busca de melhores condições de vida.

A colonização germânica no Rio Grande do Sul começou em 1824, dois anos após a independência de Portugal, mas teve várias interrupções.

Atualmente, a família Hillebrand mantém as suas tradições, criou o Roteiro dos Alemães do Sul, que permite aos turistas verem a serraria e o moinho, mas também o museu da família. Mas aqui a cultura não é só para turista ver, são várias as festas, as bandas e os grupos que mantêm vivas as tradições.

Ainda há quem só fale alemão, mas os mais novos já praticamente só falam português e nem sequer entendem os mais velhos quando a conversa volta às origens. As tradições passam de geração em geração, há livros de famílias sobre receitas práticas da culinária Boémia e até pequenos trabalhos explicativos sobre a história dos boémios nesta região. E, claro, em português, para que nada se perca com o tempo.

Chegaram ali porque o seu bisavô cruzou o Atlântico em 1870, em busca de melhores condições de vida com a promessa por parte do governo imperial de uma terra para recomeçar. Nessa altura chegaram 224 famílias de boémios. Mas já antes, em 1824, logo após a independência do Brasil, tinham chegado outros imigrantes.

“Eles chegaram aqui, no meio da floresta, sem nada. É uma situação muito, muito complicada. Com áreas muito íngremes. Muitos foram embora”, conta. O moinho e a serraria de que hoje toma conta, junto à sua casa, começou a ser feito pelo irmão do seu bisavô e agora é uma das paragens do roteiro rural Alemães do Sul — um passeio turístico com vários pontos de atração, repleto de arquitetura enxaimel.

Mas nem tudo o que ali se passa é para turista ver. As tradições continuam a nível comunitário, os corais, as bandas de música e muitas festas típicas — este mês, Claudio fez um encontro de família típico, que reúne quase cem pessoas. A sua geração ainda fala alemão, mas nesses encontros já praticamente só se fala português, sobretudo entre os mais novos: “A língua está saindo devagarinho. Mas eu encaro como natural, não há o que fazer, vão para a escolinha, veem televisão”.

Serraria e moinho da família Hillebrand foram restaurados por Claudio

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Mesmo o alemão dos mais velhos já não é puro, está “abrasileirado”. Por exemplo, usam a palavra portuguesa “camião” quando dizem em alemão: “O camião passou aí”. E há pessoas no interior que ainda só falam alemão no dia a dia.

É por isso que, para si, este estado é quase um país à parte, ainda que não veja na diversidade do Brasil um problema: “As diferenças não são negativas e nem vejo nada de positivo em movimentos independentistas como esporadicamente [e sem expressão] foram aparecendo”.

Ali à volta tem a sua família, mas já sentiu vontade de morar na Alemanha ou na Chéquia, para sentir mais de perto a tradição, mas do outro lado pesa o que construiu na Serra Gaúcha. “A vida passa tão rápido e felizmente a gente pode olhar para trás e ver tudo o que construímos. Eu não sou gaúcho, mas sou do estado gaúcho. Os gaúchos são aqueles que andam a cavalo, com revolver na cintura. Lula tirou, mas eles têm de novo. Lá não há bandido. Nós temos aqui a nossa cultura”, diz, soltando um sorriso.

Em algumas coisas, essa cultura é menos diferente do que a japonesa. Ao contrário de Iaioi, Claudio vai todos os anos à praia e tem até um pequeno apartamento em Porto Alegre para poder ficar mais perto do mar. Só não vai mais vezes por cria bois e também trabalha na agricultura — planta milho.

Claudio Hillebrand faz criação de bois nas suas terras

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O pior momento que ali passou foi na infância, quando chegou à escola sem saber falar português, aí sentiu mesmo “raiva”: “Chamavam-nos alemães batata, porque a batata inglesa salvou o europeu, não só alemão. A batata é uma cultura rápida e ela se dava em terra ácidas, era o alimento que eles tinham e que podiam fazer de diversas formas.”

Mais tarde, quando finalmente “Getúlio Vargas decidiu entrar na Segunda Guerra Mundial [ao lado dos aliados], começaram dentro do Rio Grande do Sul os ataques aos alemães, que se estenderam até à década de 50, eu tinha castigos por falar em alemão, tinha de trazer escrito 50 vezes: ‘Não devo falar em alemão’”.

“Chamavam-nos alemães batata, porque a batata inglesa salvou o europeu, não só alemão. A batata é uma cultura rápida e ela se dava em terra ácidas, era o alimento que eles tinham e que podiam fazer de diversas formas."
Claudio Hillebrand, morador de Nova Petrópolis

Umas casas ao lado, junto ao museu da família, vive o seu primo Ovídio Hillebrand, de 83 anos, que não viveu esses problemas na escola, e a sua mulher Adélia Sachette, de 75 anos. Ele boémio — e recebe o Observador, no seu quintal, em alemão –, ela descendente de italianos que chegaram ao Brasil na mesma época que os Hillebrand — e que vieram pelos mesmos motivos: “Por necessidade de paz, de um lugar para plantar, de ter uma propriedade, um futuro melhor para os filhos”.

O que mais os diferencia é a forma como mantêm a cultura: Adélia não fala o Talien (dialeto inspirado no italiano falado nas colónias) como Ovídio fala alemão: “Apaixonei-me pela história deles, porque mantém as tradições, mantêm documentos históricos”.

Num português do Brasil irrepreensível, ao contrário de Ovídio que não tira os olhos do computador, Adélia explica que foi mais fácil para os italianos adaptarem-se e socializar, porque a língua é muito mais idêntica. Além disso, as terras destinadas aos germânicos eram muito íngremes e desterradas.

Ovídio Hillebrand e Adélia Sachette tomam conta do museu dos boémios

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Para si, os idiomas nunca foram um obstáculo, nem mesmo quando foi viver para a colónia dos boémios: “Eu e a minha sogra, que eu só falava em alemão, entendíamo-nos com a mímica. Tudo isso é comunicação. E não precisa ir muito longe, mas no interior vais encontrar muitas famílias que ainda se comunicam em alemão”.

A sua família veio do norte de Itália, mas há muito tempo que está desligada da sua cultura, abraçou por completo a dos boémios. Na verdade, mesmo quando era pequena já não havia muito orgulho em falar Talien, era antiquado, dava-se já mais valor ao português.

“Eles não, eles têm orgulho do seu berço”, diz, ainda que defenda que tão importante como o orgulho de um determinado povo é a capacidade de se sentir o país de forma multicultural: “Eu acho que a reciprocidade de culturas, de conhecimentos, fez com que ficasse muito mais rico, os vários estados distinguem-se pela culinária, pela arquitetura e pelo tipo físico das pessoas. Mesmo aqui não tem como você ficar isolado, você não é uma ilha, então você absorve tudo o que você gosta mais”.

"Eu vejo a diversidade como natural. O sul, os alemães, muito trabalhadores, depois vão lá para cima compram as terras e produzem, são mais produtores do que os de lá"
Ovídio Hillebrand, morador de Nova Petrópolis

Numa pequena divisão da sua casa, com sofás e um computador, Ovídio vai escutando tudo e contrapondo com a sua opinião. Acha que os italianos até mantêm bem a cultura e não é tão aberto à diversidade. Hoje já não pensa na hipótese de separatismo, mas explica o porquê de nem sempre ter tido esta posição: “A gente vê que certas regiões lá ainda hoje não trabalham, não produzem. Nós pagamos impostos e eles só vêm pedir ajuda. Nas eleições deste ano está-se vendo isso, claro, uma bipolarização muito grande”.

Tal como o primo Claudio, acha que o país precisa de seguir o rumo que vem sendo traçado pelo executivo de Jair Bolsonaro, ainda que queira mostrar que é a favor das diferenças culturais: “Eu vejo a diversidade como natural. O sul, os alemães, muito trabalhadores, depois vão lá para cima compram as terras e produzem, são mais produtores do que os de lá”.

Ovídio Hillebrand é descendente de germânicos e casou-se com Adélia Sachette, de famílias italianas

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Jair Krischke não podia estar mais longe desta visão de ‘nós versus eles’. Também é descendente de alemães, mas escolheu ser 100% brasileiro. Sempre foi. É um ativista, lutou durante anos contra a ditadura militar — ajudou a levar para o Uruguai dirigentes políticos, estudantis e sindicais perseguidos pela ditadura — e hoje é presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos. O seu bisavô era um alemão, comerciante de Hamburgo, que rodava o mundo a vender mercadoria, na sua rota o último porto era sempre o sul do Brasil. Até que um dia o navio naufragou e ele tornou-se pastor anglicano. Foi aí e nessa condição que viajou para o Brasil definitivamente, “no final dos anos 1800”. Agora, aos 84 anos, Jair lembra que não basta nascer neste país: “Nasci no Brasil, mas, mais do que isso, fiz uma opção por ser brasileiro. É um país encantador, com muita coisa por ser feita”.

Não vive numa colónia, nem percebe muito do que lá se passa, sobretudo depois do período conturbado que ele e os da sua idade viveram na juventude. “Sabe que eu não consigo entender, não consigo entender [como é que há pessoas nas colónias de extrema direita] e não são uma nem duas”. Tanto nas colónias italianas como nas alemãs tem tido conhecimento de casos de defensores do fascismo e do nazismo, e isso é algo que, não sendo transversal a toda a comunidade, diz acontecer com frequência: “Alguns em terceira, quarta, quinta geração e não se sentem brasileiros, até publicam obras que são pesadas”.

Por outro lado, Jair não tem dúvidas de que, apesar de serem sinais de perigo, os movimentos separatistas que vão aparecendo acabarão por evaporar-se de vez, até porque basta olhar para eles para se perceber que já viraram “chacota”, diz.

Jair Krischke é presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos. A sua família tem origem alemã, mas sente-se totalmente brasileiro

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Manter a cultura polaca numa grande cidade, longe das colónias

Letícia Wierzchowsky é outra descendente de imigrantes que também vive na cidade Porto Alegre, sem pertencer a qualquer colónia. Vários dos livros que escreveu constam do plano oficial de leitura do Ministério da Educação do Brasil, mas foi com a Casa das Sete mulheres, adaptada pela TV Globo, que acabou por ter o reconhecimento do grande público. O avô, sabe-o hoje, foi a sua primeira personagem, ainda em criança. Talvez por isso sinta tanta vontade de espalhar o que a Polónia tem de bom, o que lhe ensinou e como os polacos acabaram por ser condenados a imigrantes de segunda, que tanto sofriam o preconceito contra os alemães (ninguém os distiguia), como ainda sofriam com a imagem de preguiçosos — “A Polaquinha” era a única obra que Letícia conhecia no Brasil até há poucos anos sobre a Polónia e era em referência a uma prostituta. Esse foi um dos motivos que a levou a escrever cinco livros sobre o país europeu, um deles é a história da sua família: “Uma ponte para Terebin”.

Porto Alegre, a cidade fundada por açorianos

É comum falar-se da colonização de famílias do centro europeu e do Japão no Rio Grande do Sul, mas “a primeira iniciativa oficial organizada está fazendo aniversário de 250 anos e foi a instalação de 60 casais açorianos no que hoje é a cidade de Porto Alegre”. Tiago Antunes, 51 anos, é descendente dessas famílias. Um tio-avô pediu um estudo sobre a árvore genealógica e as conclusões foram precisas. Traçou-se a linhagem da primeira criança desses 60 casais, que se chamava Mateus, e percebeu-se que a sua avó materna era descendente dele.

Tiago, que faz incorporação imobiliária e tem projetos que, no futuro, podem passar por Portugal, diz que o que sobra da cultura portuguesa é tudo e nada. Por um lado, não há colónias com costumes e tradições congeladas no tempo; por outro, os portugueses também não precisavam, porque o Brasil tem muitos traços comuns: a língua, os costumes, as tradições. Tudo está enraizado.

Como já viveu no Canadá, sabe como os açorianos tentam preservar as suas tradições quando estão numa outra cultura: “Conheci diversos descendentes de açorianos e alguns já sabiam a história da colonização do Rio Grande do Sul, uma cidade importante fundada por açorianos. E em Toronto há muitas associações, porque lá são a minoria”. É o que acontece os com alemães, os japoneses e os polacos no seu estado.

Mas também os açorianos tiveram dificuldades: “Eram ilhéus, acostumados a trabalhar um solo muito difícil e a confiar na pesca. E aqui eles tinham muita terra e um solo bastante fértil, então teve uma adaptação muito grande”.

“Esse aqui é o meu avô polonês, tá?”, apresenta, assim que recebe o Observador na sua sala de jantar, em Porto Alegre, apontando para um grande quadro na parede com um homem fardado. O avô chegou sozinho em 1936 “com uns 24 anos”. Tinha mais quatro irmãos e estudara engenharia. “Morou uns oito meses na Alemanha, quando Hitler estava ganhando o poder (1933) e percebeu logo que as coisas não iam ficar boas, sempre foi intuitivo. E decidiu que estava na hora de recomeçar a sua vida longe dali e de preferência num país com o clima ameno, porque a mulher estava adoentada.”

O Brasil aparece nos planos porque tinha um tio que havia se estabelecido no país, mas sabia que teria de “abrir mão do seu título, do seu curso superior, ninguém queria doutores no Brasil, queriam era mãos para a lavoura”. Era um problema que teria de resolver à chegada, porque nunca quis fazer a vida no campo. Mas o problema maior surgiu logo à chegada, quando o estado de saúde da mulher, que era sua prima, se agravou. Tinha tuberculose. Na altura, os imigrantes faziam quarentena no Rio de Janeiro antes de seguirem o seu destino para outras partes do Brasil.

"Eu era fascinada pelo meu avô, lá em casa eles falavam diferente, comiam diferente, na Páscoa sumia carne da mesa. Ele foi o primeiro personagem que eu conheci. O meu avô viveu a revolução, a primeira guerra, a gripe espanhola, a revolução russa e a segunda guerra"
Letícia Wierzchowski, escritora de origem polaca

“Ficou viúvo à chegada, sem falar uma única palavra de português”. Letícia conta que a seguir teve de resolver o outro problema: “Vendeu as terras que lhe tinham sido destinadas e veio para Porto Alegre, para a cidade”. Foi aí que se interessou por uma jovem brasileira, de origem polaca. Os pais dela só o deixaram casar-se com a filha mais velha, Ana — a avó materna de Letícia.

Era a partir do Rio Grande do Sul que acompanhava o que ia acontecendo na Europa, sobretudo os problemas na pátria. E o avô acabou mesmo por regressar para defender a sua terra, no início de 1941: “Foi para a Escócia para ser treinado para o desembarque da Normandia e estava na Alemanha quando o Hitler se matou. Mas no fim da guerra não pôde ir à Polónia, por causa dos comunistas”. Estava tão perto e tão longe. As cartas que os seus lhe enviavam eram recebidas no sul do Brasil, a única morada que tinham dele. Quem as lia era Ana, que ficara sozinha com o filho. Depois de dois anos e meio, sem hipótese de entrar na Polónia, decidiu voltar ao Brasil — Joãozinho, o filho, tinha adoecido e não resistiu.

Na sala de jantar de Leticia Wierzchowski há um quadro com a fotografia do avô

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“Eu era fascinada pelo meu avô, lá em casa eles falavam diferente, comiam diferente, na Páscoa sumia carne da mesa. Ele foi o primeiro personagem que eu conheci. O meu avô viveu a revolução, a Primeira Guerra, a gripe espanhola, a revolução russa e a Segunda Guerra”, diz, lembrando que ele era “um mulherengo absoluto”. “Nesse intervalo que passou na Europa ainda viveu com uma enfermeira e chegou a ter várias famílias.”

A vida no Brasil não estava a ser o recomeço que pensava e é já na década de 50 que tenta virar a sua sorte, com uma empresa de construções. “A imigração polonesa foi a terceira ou quarta, receberam as piores terras e não se adaptaram. E acabaram por ser considerados preguiçosos, porque preferiram trabalhar em serviços terceirizados nas cidades. E muitas mulheres polonesas que eram bonitas acabaram virando prostitutas. Então, durante muitos anos, aqui, dizer polaca era sinónimo de prostituta.”

Pelas cartas, ia sabendo das atrocidades que foram cometidas, das mortes dos amigos e familiares — o seu pai ficou sem um olho, porque um alemão o arrancou com uma colher de chá no meio da rua, por exemplo. Uns anos mais tarde, naturalizou-se brasileiro para poder ir à Polónia comunista. “Tinha 20 anos que não via o pai. O que ouviu mostra como os polacos são com o seu país: ‘Só te abro a porta porque sei que lutaste pelo nosso país’.”

No Brasil, os avós de Letícia ajudaram muitos polacos apátridas que queriam fixar-se no país. E um desses casos é demonstrativo das misturas que aconteceram lá atrás e que são a origem do Rio Grande do Sul. “O meu avô levou uma família para uma casa pequena que eles tinham e depois de lhes dar o jantar disse que, no dia seguinte, iria com a minha avó levar-lhes o café da manhã, até porque eles tinham uma criança pequena e nem falavam português.”

Leticia Wierzchowski é uma autora consagrada de origem polaca

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

No dia seguinte, a avó acordou “super cedo, fez o pão, ferveu o leite e botou tudo numa cesta”. “Mas quando eles chegaram, às 7 e meia da manhã, porque esses polacos acordavam com o raiar do Sol, estava já o homem sentado no alpendre da casa super alegre, dizendo ao meu avô que já tinha tomado o café da manhã, que os vizinhos lhes tinham oferecido.”

A história não os convenceu, até porque já tinham morado ali e os vizinhos nunca tinham oferecido nada. “O meu avô achou aquilo estranho — até cachaça havia — e pediu para entrar. Quando chegou dentro de casa, em cima da mesa havia um enorme despacho de macumba. A casa ficava numa encruzilhada e alguém foi lá deixar. Eles já tinham comido tudo: até quindim e pipoca. E a mulher estava depenando o frango para cozinhar de almoço. Estavam felizes da vida e o meu avô preferiu nem dizer nada, eles haveriam de descobrir sozinhos”, ri-se Letícia, dizendo que quando era criança lhe disseram que quem tocasse num despacho ficaria sem um dedo, mas que a dona Júlia, que fez o frango para o almoço, viveu até ao 102 anos.

Letícia é essa mistura. É brasileira, sente-se polaca, é filha de santo — ou seja, tem uma religião afro — e não trocaria por nada a vida gaúcha, que é próxima da europeia. Mas orgulha-se da multiculturalidade do Brasil e quer um país com igualdade de oportunidades para todos: “Quando alguns dos meus parentes dizem que vão votar em Bolsonaro, eu pergunto: ‘Vem cá, vocês não conhecem a história do avô de vocês?’”

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