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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

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O show da 'Fénix' Isaltino, o objetivo nada Curto do PS e as meias da sorte de Poço

Carros, cânticos, bandeiras, magotes: não há aparato igual em Oeiras. "Sou como a fénix”, diz Isaltino. Curto (PS) e Poço (PSD) querem crescer: o 1º à boleia das bandeiras socialistas, o 2º dos jovens

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O refrão do fado-canção reza assim:

Mas é nosso para sempre o seu caminho
está tudo em desatino, voltou o Isaltino
está tudo em desatino, chegou o Isaltino
“.

Para já, ainda é falso alarme: são 10h53 de terça-feira, 21 de setembro, e de Isaltino Morais nem sinal.

O presidente da câmara municipal de Oeiras, que se recandidata a um novo mandato pelo movimento “Isaltino – Inovar Oeiras” — depois de 28 anos como autarca do concelho —, está atrasado mas junto à estação de Barcarena (Massamá-Barcarena) o aparato já está montado para o receber.

Ouve-se a música do hino de campanha (o mesmo de há quatro anos) e está já um carro estacionado com o slogan Inovar Barcarena inscrito. Na campanha de Isaltino Morais há um automóvel personalizado por cada freguesia do concelho, mas desta viatura vem uma mensagem sonora muito concreta: no dia 26, há que preencher “o último quadradinho” do boletim de voto. Em troca, promete-se mais aposta nos “passes sociais” e “um aumento de 38% na oferta de transportes”.

Às 11h, uma hora depois do previsto, Isaltino Morais chega à estação de Barcarena no banco de trás de um carro. Mais impressionante, porém, é o aparato da carrinha Ford Transit que segue atrás e que também chega: dela começam a sair jovens com t-shirts e bandeiras alusivas, a cantar e a dançar. A receção é feita ao som de tambor e de um cântico que se repete:

Yeah, yeah, yeah
Isaltino é que é!

https://www.facebook.com/watch/?v=1594830357205518

O político que foi pela primeira vez eleito para a câmara municipal de Oeiras em 1986, e que só interrompeu as funções de autarca para ir para o Governo, primeiro (em 2002), e por ter sido preso por fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais, depois (em 2013), chega e pergunta: “Estão prontos para a caminhada?”.

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Antes da caminhada, Isaltino Morais senta-se, bebe um café e explica que está feliz: “A campanha é uma atitude extraordinária de cidadania. Durante muitos anos, até ao 25 de abril, não se podia fazer campanha. Esta campanha é um combate à abstenção. Quero que Oeiras tenha a mais baixa taxa de abstenção da Área Metropolitana de Lisboa e se possível do país”.

A juventude é o motor da campanha: está sempre um grupo de jovens, que vai mudando de elementos de ação para ação (só alguns se mantêm sempre). Os apoiantes vão puxando pelas gargantas, qual claque de futebol: cantam "Força Isaltino allez" e "Ninguém para o Isaltino allez oh"

Café rapidamente tomado, começa o cortejo e o “show” Isaltino: a passo rápido, liderando o grupo, o “presidente” (como é tratado por todos) começa a calcorrear as ruas. Para-se junto a um prédio com uma senhora que acena à janela e percebemos que já é conhecida de todos: canta-se “dona Aurora, dona Aurora, dona Aurora!”. Encontram-se funcionários da câmara, a tratar da limpeza da rua, e Isaltino Morais vai dar um abraço, elogiando-lhes o trabalho: “Têm isto tudo impecável, pá”.

A juventude é o motor da campanha: está sempre um grupo de jovens, que vai mudando de membros de ação para ação (só alguns se mantêm sempre), e os apoiantes vão puxando pelas gargantas qual claque de futebol: Força Isaltino allez, Ninguém para o Isaltino allez oh.

De uma cesta tiram-se t-shirts, bonés e canetas. Isaltino Morais vai ouvindo uma ou outra queixa (“tire-me aquele mamarracho dali”) mas a maioria das pessoas que encontra parece estar com ele. Não há muita gente nas ruas mas muitos oeirenses vão à janela: Isaltino saúda-os, ergue-lhes o polegar para cima, levanta o braço direito no ar. É um político, parece uma estrela pop.

Na Rua António Feliciano Castilho, ouve um gracejo de uma eleitora: “O senhor Isaltino está mais velho”. Ele, 71 anos, ri-se e corrige: não estamos todos? Depois, avisa: mudança de planos na agenda de campanha. A agenda é sempre imprevisível, é anunciada mas vai-se alterando (crescendo) com o dia, e Isaltino Morais, formando um círculo à sua volta, vai sempre dando conta do ponto a ir de seguida. “Vamos para Queluz de Baixo”.

O dia começou, ainda que com algum atraso, com uma ação de rua em Barcarena.

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No café Chuva de Tentações distribuem-se jornais de campanha, um homem aperta a mão do candidato e diz-lhe “estamos juntos” e uma mulher pede: “Ó doutor, quero tirar uma fotografia”. Assim é. Velocidade sempre frenética, próxima paragem Queijas.

O candidato continua o mesmo, mas o carro muda — já surge um automóvel personalizado com a mensagem “Inovar – União de Freguesias de Carnaxide e Queijas”. Isaltino Morais ouve um pedido para mudar a localização de umas lombas e diz que vai inteirar-se do assunto, aproxima-se de uma esplanada e encontra uma jovem estudante a tirar um mestrado em neurociências (“vocês é que vão curar bem este país”), é abraçado por uma mulher quase a chorar que lhe diz: “Temos de ganhar!”

Na caminhada por Queijas, acompanhado pelo candidato à União de Freguesias de Carnaxide e Queijas (Inigo Pereira), Isaltino Morais promete a uma mulher que encontra: Oeiras “será o município com mais bibliotecas em Portugal” e todas as freguesias terão uma. À chegada ao mercado, veem-se obras e Isaltino explica: está a construir uma praça.

"Nunca tive uma campanha assim. Ainda dizem que os jovens estão afastados da política! Estão aqui dezenas de jovens do melhor que há. Andam aqui voluntariamente. Estabeleceram alguma ligação com a câmara, querem participar e são de uma grande responsabilidade, oferecem-se para tudo"
Isaltino Morais

O que mais surpresa causa em todo o aparato da comitiva de Isaltino Morais é mesmo a “claque” de jovens. Não se candidatando por um partido, Isaltino não tem uma juventude partidária de peso e com máquina afinada (JS ou JSD) para fazer campanha. Mas os jovens são às dezenas, estão organizados e sempre presentes: uns numas freguesias, outros noutras, tudo canta pelo desatino que causa o Isaltino.

No fim da caminhada matinal, o candidato diz: “Nunca tive uma campanha assim. Ainda dizem que os jovens estão afastados da política! Estão aqui dezenas de jovens do melhor que há, ambiciosos, que estão a estudar ou já têm o curso”. Garante: “Andam aqui voluntariamente”. O que lhes dá em troca? “Esperança. Eles sabem que há uma bolsa de estudo para todo o jovem deste concelho. Damos 400 bolsas mas a partir de agora se se inscreverem mil ou dois mil a câmara paga a bolsa a todos, desde que estejam na condição sócio-económica indicada”.

Isaltino Morais diz que “um pouco antes da pandemia” começou a ver “uma série de jovens que se dirigiam à câmara a dizer que gostavam de participar em qualquer coisa”. Jovens “universitários, que estabeleceram alguma ligação com a câmara”. Que ligação? “Todos os anos atribuímos prémios aos melhores alunos do concelho, do 12º ano. Também muitos deles visitei-os na escola quando andavam no 1º ciclo, está a ver? Tiraram fotografias comigo, e tal, mantêm assim uma relação. Enfim, começaram a aparecer, gostavam de participar, perguntavam o que podiam fazer nas atividades da câmara”.

São vários os jovens que estão presentes nas várias ações de campanha do candidato independente.

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O candidato diz que veio depois a Covid-19, a dinâmica travou mas foi começou a sentir uma “adesão invulgar” na pré-campanha. “Eu próprio andava na rua e os jovens perguntavam: presidente, quando é que começa a campanha?”. Só tem elogios para os miúdos que o seguem: “São muito responsáveis. Se têm aulas de manhã, vêm de tarde para a campanha — e vice-versa. Depois temos aí muitos folhetos para entregar e são de uma grande disponibilidade, metemos muita gente a distribuir, eles oferecem-se para tudo, é uma coisa fantástica”.

Numa ação de campanha posterior, uma das jovens diria que fazia parte da “Juventude Oeiras”, um “movimento apartidário” de que fazem parte mais de 20 jovens que eram “presidentes da Associação de Estudantes das escolas do concelho”. Mas para a campanha de Isaltino, diz, “juntaram-se ainda mais” jovens externos a esse movimento. Curiosidade: um dos jovens que seguia na comitiva, a cantar por Isaltino, era Afonso Morais, filho do autarca recandidato.

O guisado de porco, o charuto, a “fresquinha” e as garfadas nos adversários

Acabam as ações de campanha de manhã e Isaltino Morais é assaltado por uma dúvida: onde é que vai almoçar? A comitiva vai aproveitar o almoço da sede de campanha mas o candidato pergunta pelo menu e não fica totalmente convencido com a resposta: salada de bacalhau com grão. Ainda por cima, acabara de ver passar “uma feijoada” num café que estava “com um aspeto divinal”.

Afinal a feijoada não era bem feijoada, era “um guisado de porco”, mas o presidente recandidato à Câmara Municipal de Oeiras estava mais do que convencido: a rapaziada da comitiva podia seguir para sede que ele, Isaltino, ia almoçar ali mesmo, com alguns (poucos) elementos próximos da campanha.

Para acompanhar o guisado, o candidato pede “uma Super Bock fresquinha”. Demora-se perto de uma hora no almoço e entre garfadas na iguaria, aproveita para deixar umas quantas garfadas nos adversários. Fala dos adversários em Oeiras, mas fala também de política nacional, dos partidos, da situação política noutros concelhos. É uma conversa sobre política, que tem com gosto: “A política cada vez me entusiasma mais, pá”.

Garfada nº 1: a IL em Oeiras, “a pior campanha de todas”. Pelo concelho de Oeiras veem-se cartazes da candidatura da Iniciativa Liberal que prometem “desaltinar a câmara” e que acusam o autarca de “servir-se de Oeiras”. Isaltino não se fica: “A pior campanha de todas é a da Iniciativa Liberal. É o único prognóstico que faço: a IL em Oeiras vai ser um desastre. Tiveram uma boa votação nas presidenciais e vão ter um desastre aqui em Oeiras. Este tipo de campanha, nem o BE a faz. Estão a fazer uma campanha muito pessoalizada, contra mim — mas não é contra o que faço, é contra aquilo que dizem que sou. Não há uma proposta, a campanha consiste num ataque ao atual presidente. As pessoas acham mal”.

Garfada nº 2: os “trotskistas” que só são democratas “porque vivemos numa democracia”. Isaltino dispara à direita e à esquerda. Sobre a campanha do Bloco de Esquerda em Oeiras, diz: “É de um paternalismo para as pessoas confrangedor, acham que as pessoas são estúpidas. Tentam capturar os outros através de um pseudo-conhecimento científico: eles é que sabem, estudam, analisam. A verdade é que, sendo minoritários, tentam impor as suas ideias. Se um dia ganhassem as eleições, tínhamos o trotskismo outra vez. Só são democratas porque vivemos em democracia e a democracia exige tolerância. Se esses fulanos ganhassem as eleições em Portugal, tínhamos uma ditadura instalada”.

"Na Amadora [câmara presidida pelo PS] ainda há 5.000 barracas, na Margem Sul há milhares, em Oeiras não há nenhuma. A habitação é um património que este concelho salvaguardou sempre. Tínhamos cinco mil pessoas a viver em barracas, foram todas realojadas e hoje não temos barracas. Nos próximos dez anos, em Oeiras, vamos investir mais de 300 milhões de euros em habitação."
Isaltino Morais

Garfada nº 3: a extrema-esquerda e as alterações climáticas. Notando que a maioria dos jovens com quem fala mostra preocupação com as alterações climáticas, Isaltino Morais diz: “A esquerda quis sempre apropriar-se um bocado disso. O PSD já teve essa bandeira do ambiente mas na minha opinião perdeu-a. A extrema-esquerda procura carregar essa bandeira mas já perdeu. É hoje uma questão transversal, não é partidária — e aqueles que a partidarizam, perdem. Quem faz os negocionistas, de uma forma geral, são os fundamentalistas. Tem de haver moderação e esclarecimento, não radicalismo. Os ativistas radicais que vêm para aqui falar de alterações climáticas não vêm ensinar nada, porque a classe média de Oeiras, que é forte e esclarecida, sabe mais do que esses ativistas e radicais que aí andam”.

Garfada nº 4: o PS e a bandeira da habitação. Isaltino Morais diz que o PS está a tentar reclamar para si, em Oeiras e em todos os concelhos a que se candidata, a bandeira do “partido da habitação acessível”. Mas ri-se da tentativa: “As pessoas conhecem a realidade. Na Amadora [câmara presidida pelo PS] ainda há 5.000 barracas, na Margem Sul há milhares, em Oeiras não há nenhuma. A habitação é um património que este concelho salvaguardou sempre. Tínhamos cinco mil pessoas a viver em barracas, foram todas realojadas e hoje não temos barracas. Nos próximos dez anos, em Oeiras, vamos investir mais de 300 milhões de euros em habitação. E vamos fazer duas mil casas, 1.500 de renda acessível — 350 a 750 euros — e 500 para famílias muito carenciadas, com rendas entre os 8 e os 350 euros por mês”.

(Por esta altura, Isaltino Morais atende uma chamada. Para a pessoa que está do outro lado da linha, diz que “em Linda-a-Velha estavam umas 30 pessoas a distribuírem panfletos” e questionou-se “se em Porto Salvo estarão a fazer o mesmo”)

Garfada nº 5: Moedas, a IL e o liberalismo na habitação. O problema do acesso à habitação no país — e em Oeiras — também não” se resolve com as políticas neoliberais que alguns andam aí a defender”, diz Isaltino. “Não é o mercado privado que vai resolver o problema. Quando o Moedas vem dizer que os apartamentos de 250 mil euros deviam ter isenção do IMT, é disparate. Mas quem é que tem 250 mil euros para uma casa?! O problema não é o IMT. Isso são as políticas neoliberais. O mercado privado tem de responder à oferta e procura, servindo famílias de classe média com capacidade. Mas para a classe média-baixa e as famílias necessitadas a solução é renda apoiada e acessível. Não é uma questão ideológica, mas há quem queira fazer disto uma questão ideológica e é disparate. O Estado tem de aumentar o parque público de habitação. Em Portugal é de 2%, em Espanha é de 16% e há países nórdicos onde é 36% a 40%”

Garfada nº 6: Alexandre Poço e uma proposta de transporte escolar. Isaltino Morais diz que o seu programa é o mais transversal. Aliás, garante mais: diz que o 95% do que os outros candidatos propõem, já ele está a fazer. Só há uma proposta que não subscreve: a de Alexandre Poço (PSD) que propõe uma rede de autocarros escolares. “Temos 2.000 alunos, nem fez as contas à quantidade de autocarros e motoristas que eram precisos. Isso é um modelo inspirado nos autocarros escolares dos Estados Unidos, onde não há transporte público. Na Europa Ocidental o transporte escolar é o transporte público. A câmara de Oeiras já gasta milhões no transporte escolar, porque subsidia o transporte público. Com a melhoria que vamos fazer nos transportes públicos temos o problema resolvido”.

Garfada nº 7: o populismo do Chega e extrema-direita. Os populistas de extrema-direita põem “o odioso nos beneficiários” de apoios sociais, defende Isaltino. O que considera errado. “Se há uma pessoa, por exemplo um cigano, que não paga a renda de casa, o problema não é dele — é de quem deixa. Em Oeiras as pessoas pagam as rendas, se não pagam são despejadas e vêm logo propor pagar. A renda apoiada já calcula o valor da renda em função do rendimento, portanto não há desculpa para as pessoas não pagarem. O que está errado é lançar o odioso para as pessoas, chamar-lhes parasitas. Não são. Há pessoas que não têm capacidade de se organizar e precisam de ser ajudadas”.

Garfada nº 8: o PSD que “perdeu muito as áreas urbanas”. Sobre Alexandre Poço, candidato do PSD a Oeiras, Isaltino Morais diz que “tem boa idade” para ter futuro político (isto é: é jovem) e “está a fazer um serviço patriótico” porque “tem consciência da situação em que o PSD se encontra”. E faz uma análise crítica do partido que foi o seu durante muitos anos: “O PSD perdeu muito as áreas urbanas. Esqueceu-se de um pormenor: o contrato social não pode ser violado e a troika violou-o no tempo do Passos Coelho. Não podiam ter cortado nas pensões, não há nada que justifique. Iam buscar o dinheiro a quem o tivesse, não aos pobres. Acho que foi um erro e que alienaram muito do voto urbano por causa disso. Reconquistar essas massas não vai ser fácil”.

Acaba o almoço e Isaltino Morais acende um charuto. Ri-se: “O charuto é que não pode ser, se não os gajos da oposição chateiam-me o juízo”. Perguntamos-lhe porquê, ri-se outra vez: “O Poço tem aí um cartaz, até acho muita piada, a dizer: é altura de mudar de ares. Tem piada! Está ele a apagar o charuto no cinzeiro. Quer acabar com o charuto!”

Bem humorado, deixa uma farpa aos adversários: “Os meus adversários nunca se aperceberam que de quatro em quatro anos sou uma espécie de fénix [ri-se]. Deito fora umas asas e ganho outras, pá. É assim”. Perguntamos-lhe se tem números em mente para o resultado de dia 26, Isaltino faz uma pausa e responde: “Pelo que me é dado a observar, estou convencido de que vamos melhorar”.

Isaltino Morais visita Bairro da Pedreira Italiana, em Caxias.

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Há quatro anos, o candidato tinha vencido com maioria absoluta: regressado da prisão e numa disputa eleitoral com o anterior número dois, Paulo Vistas, que ficara a presidir à câmara, conseguiu seis mandatos em onze. Agora quer ir pelo menos ao sétimo e ainda sonha com o oitavo. Mas aponta: “Vai depender muito da abstenção. Tenho para mim que o pessoal que menos se abstém é o da extrema-esquerda, que é mais ativista, e provavelmente agora também a extrema-direita. Vou buscar muito eleitorado do PS, PSD e CDS e esse é o que se abstém mais”.

O que lhe dá confiança? Por um lado, os indicadores socio-económicos: “Somos o segundo município do país em geração de riqueza, geramos mais 14 mil milhões de riqueza por ano do que o Porto, que é a segunda maior cidade do país”. Por outro, o trabalho feito ao longo dos anos que angariou votos: nessa tarde de terça-feira, por exemplo, visita o Bairro da Pedreira Italiana, em Caxias — que “era um bairro clandestino” onde “havia muita tensão com a GNR” e que começou a ser requalificado em 1986, no primeiro mandato de Isaltino em Oeiras — e diz: “Isto é tudo gente que vota em mim, se não viesse cá ficavam zangados. A generalidade dos partidos nem vem fazer campanha para estes sítios”.

Fernando Curto (PS): contra um homem todo-poderoso, atirar o peso de um partido

Afirmar-se como “o voto útil” nas alternativas a Isaltino Morais: esta tem sido a estratégia do Partido Socialista e do seu candidato às próximas eleições autárquicas em Oeiras, Fernando Curto, que tenta capitalizar a popularidade atual do PS no país indiciada pelas sondagens para crescer.

O objetivo oficialmente anunciado é ganhar. O próprio candidato não foge ao tom e ao Observador aponta: “O nosso objetivo é ganhar, um bom resultado é ganhar. Quando parto para estas batalhas é para ganhar. Temos aqui uma equipa e um programa para vencer e governar. Depois do dia 26 vamos ver”.

Ganhar, porém, é altamente improvável para o PS. Não existem sondagens oficiais, pelo que ninguém consegue ter uma base de projeções para estimar as intenções de voto, mas conhece-se a dificuldade da missão.

Há quatro anos, saído da prisão e frente a um adversário teoricamente mais capaz de lhe capturar votos (o seu antigo “vice”, que ficou como autarca e nessa condição enfrentou a batalha autárquica contra Isaltino Morais em 2017), Isaltino venceu com maioria absoluta. Obteve 41,65% dos votos e elegeu seis mandatos em onze. Já o PS teve apenas 13,42% dos votos, elegendo apenas um mandato, tal como a coligação PSD/CDS (que ainda teve menos votos, 8,77%) e menos do que o movimento de Paulo Vistas, que conseguiu 14,18% e dois mandatos.

Na campanha assume-se entredentes que ser a segunda força mais votada, subir consideravelmente a votação (conseguindo mais mandatos, idealmente mais dois) e evitar uma maioria absoluta de Isaltino Morais já configuraria uma vitória. Isso, Fernando Curto não assume mas o candidato socialista reconhece que evitar uma maioria absoluta era positivo: “Era importante, efetivamente, que ele não estivesse em maioria. Os próprios partidos dizem isso, todos eles”.

Esta quarta-feira, 22 de setembro, Fernando Curto e PS apostaram as fichas num dia de campanha com figuras socialistas de peso para tentarem ganhar mais votos de descontentes com Isaltino Morais. A figura maior? António Costa.

Por volta das 13h, sentia-se já a azáfama na estação de Algés: dos telemóveis iam chegando indicações mas era preciso ter a certeza que Fernando Curto entraria na carruagem certa do comboio para Cascais das 13h11, para se sentar ao lado de António Costa, do ministro Pedro Nuno Santos e do secretário de Estado e presidente da Federação Distrital de Lisboa do PS, Duarte Cordeiro

O primeiro-ministro e secretário-geral do PS, que tem andado a fazer campanha em favor dos vários candidatos socialistas das autárquicas, participou numa viagem de comboio que juntou vários candidatos do PS a Lisboa.

Por volta das 13h, sentia-se já a azáfama na estação de Algés: dos telemóveis iam chegando indicações mas era preciso ter a certeza que Fernando Curto entraria na carruagem certa do comboio para Cascais das 13h11, para se sentar ao lado de António Costa, do ministro Pedro Nuno Santos e do secretário de Estado e presidente da Federação Distrital de Lisboa do PS, Duarte Cordeiro.

A viagem de comboio de Algés até Cascais foi feita na companhia de António Costa, Pedro Nuno Santos e Duarte Cordeiro.

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Antes de entrar na carruagem, o candidato socialista ainda diria ao Observador que considerava “importante” a presença de António Costa para dar força à candidatura: “É um homem com reconhecido mérito, um grande líder do PS e um grande governante. E é o nosso secretário-geral e o nosso líder. É sempre importante estar ao pé de nós. Conheço-o já há muito tempo, de quando ele era presidente da câmara de Lisboa, e tenho por ele um grande apreço, estima e consideração que vão até além da política”.

Fernando Curto aproveitava já, aliás, para apanhar a boleia do PS nacional para a sua campanha: “Os autarcas do PS têm um fio condutor que nos une a todos. Há um grande trabalho e valorização do esforço autárquico que podemos ter como referência, que podemos aproveitar para discutir ideias, corrigir situações anómalas e criar uma uniformidade de políticas a nível nacional”.

O candidato, aqui, é menos importante do que o partido: como numa disputa a dois entre Fernando Curto e Isaltino Morais o segundo levaria larga vantagem (pelo mediatismo, eleições sucessivas vencidas e anos acumulados de poder), a tentativa passa por atirar o PS para o ringue deste combate político em que o adversário é Isaltino Morais

A estratégia ficava clara: para combater a popularidade de um homem todo-poderoso em Oeiras, que convence o eleitorado pela sua figura e que seca tudo à volta, contrapor tentando afirmar uma outra candidatura não pela pessoa que a encabeça, mas pela popularidade nacional que tem neste momento o partido que a suporta.

O candidato, aqui, é menos importante do que o partido: como numa disputa a dois entre Fernando Curto e Isaltino Morais o segundo levaria larga vantagem (pelo mediatismo, eleições sucessivas vencidas e anos acumulados de poder), a tentativa passa por atirar o PS para o ringue deste combate político em que o adversário é Isaltino.

Uns segundos depois da paragem do comboio que seguiria para Cascais, às 13h11, na estação de Algés, um grito (“é aqui, Fernando!”) motivava correria. Mas o candidato entraria mesmo na carruagem correta, sem percalços.

Em Cascais, recebida a comitiva de peso na estação ao som de gritos pelo “PS” e pela “JS”, Fernando Curto discursaria: lembraria “a criação do passe social em 97” pelo PS — recordando que “o PSD votou contra esta medida na Assembleia da República” — e entrava no comboio dos autarcas socialistas que Isaltino vai travando: “Nós, candidatos socialistas, sabemos bem que a mobilidade é um feito fundamental das políticas autárquicas que visam a melhoria da qualidade de vida dos nossos cidadãos”.

Defendendo a importância de uma “parceria estratégica” entre “Governo e autarquias locais” para melhorar a mobilidade e os transportes públicos do país, Fernando Curto ainda visaria Carlos Moedas, candidato à Câmara Municipal de Lisboa: “Não posso deixar de olhar com espanto para algumas ideias, de quem acha que os problemas em Lisboa se resolvem com a construção de parques dissuasores” fora da cidade. Acrescentava: “Oeiras não aceita ser tratada como uma espécie de armário para arrumar os carros de Lisboa!”.

Galvanizado, Fernando Curto defenderia que “Oeiras merece mais e melhor” e “nós, PS, podemos fazer mais e melhor”. Ainda que reconhecendo a dificuldade da sua missão, apontava: “Em democracia não há donos dos votos nem eleições ganhas à partida. Em Oeiras, não nos conformamos. Como dizia Mário Soares, só é derrotado quem desiste de lutar. O nosso também saudoso Jorge Sampaio dizia: não há portugueses dispensáveis. Eu digo aqui hoje: não há oeirenses dispensáveis. Nunca desistimos e nenhum de nós está a autorizado a desistir. Viva o PS, viva Oeiras, viva Portugal!”.

Costa ouvia e aplaudia, pedindo depois que “os municípios de Oeiras e Cascais possam tirar pleno proveito deste grande investimento que estamos a fazer na linha de Cascais”. Não deixaria de desejar que “o Fernando Curto e o PS em Oeiras tenham um grande resultado, uma vitória, e se juntem a este esforço nacional”, pedindo de forma clara aos oeirenses: “Votem PS em Oeiras!”

“Boa tarde, sou o candidato à câmara pelo Partido Socialista”

Se por volta da hora de almoço (para quem almoçar tardiamente) Fernando Curto tivera o apoio expresso de António Costa, à tarde continuaria a ter por perto Duarte Cordeiro. Juntos, percorreriam a Avenida dos Combatentes e algumas ruas laterais, numa “arruada” possível face ao pequeno número de pessoas nas ruas.

Levando consigo alguns folhetos de campanha, a dupla lideraria a marcha abordando comerciantes, transeuntes e gente sentada em esplanadas. Eram acompanhados por um carro do qual saíam mensagens de apelo ao voto: “Inovar e mudar é possível, vote Partido Socialista”.

Uma evidência da dificuldade que o PS teria para afirmar a sua candidatura em Oeiras pela popularidade ou mediatismo era a própria forma como Fernando Curto abordava as pessoas nesse percurso a pé. Invariavelmente, cumprimentava as pessoas e apresentava-se assim: “Sou o candidato à câmara pelo Partido Socialista”.

Na Avenida dos Combatentes, que serviu para esta quarta-feira para uma "arruada" possível do PS (estava pouca gente na rua), já houve episódios de violência: há 12 anos, a campanha de Isaltino Morais e a do PS colidiram, resultando em confrontos físicos e numa cena de pancadaria violenta.

Fernando Curto pedia o voto e deixava o programa eleitoral em formato folheto para que as pessoas o pudessem “ler e analisar”. Ao Observador, recordava momentos de tensão vividos naquela avenida há 12 anos, quando — segundo a sua versão — Isaltino Morais e os seus apoiantes estavam a fazer campanha tal como o PS (de Marcos Perestrello, que seguia na companhia do secretário-geral José Sócrates) não respeitaram o percurso previsto para não se encontrarem diretamente com os socialistas e acabaram frente a frente, com agressões físicas mútuas e uma situação de pancadaria “muito desagradável para a imagem da política, do concelho e dos próprios candidatos”.

O orçamento da campanha do PS é significativamente inferior ao do movimento independente de Isaltino Morais (seis vezes inferior, ao que Isaltino contrapõe com o IVA que o movimento paga e de que os partidos estão isentos) e isso nota-se: com a comitiva segue apenas um carro, cujas mensagens são emitidas num volume moderado, e o aparato é bem menor do que o da campanha de Isaltino Morais.

Ainda assim, há as clássicas canetas como brinde (retiradas de um saco de pano) e há uma abordagem próxima do candidato, que coloca o braço em cima das pessoas e lhes fala de forma afável e calorosa. À juventude diz: “Ó juventude, eu preciso de vocês, pá! Vocês é que vão herdar isto”

Quando a sua proposta não tem eco, é cordial: “Independentemente disso, desejo-lhe muita saúde e um dia feliz”. Mesmo quando ouve uma cética dizer que “a política é assim: dão um chouriço a quem lhes der um porco”. Pede “uma oportunidade ao PS, depois dizem se correu bem ou não”. E fica feliz com as mensagens de apoio, como as de uma mulher de 85 anos que lhe deseja “muita força e muita sorte” e de um ou outro eleitor que, da varanda, grita pelo PS.

Já no fim da arruada a comitiva encontra-se com a candidatura da CDU, que vai distribuindo folhetos num mesmo café. Fernando Curto aproxima-se para cumprimentar, pergunta “está tudo a correr bem convosco?”, desafia “a ver se a gente faz alguma coisa” para mudar Oeiras e deseja “boa sorte para vocês”. Até porque há um grande adversário em comum: o todo-poderoso Isaltino Morais.

Sentado com o Observador depois da ação de campanha, Fernando Curto lamentaria casos como o de Dinis Antunes, presidente da Junta de Freguesia de Porto Salvo eleito pelo PS que agora se candidata pelo movimento de Isaltino Morais. “É lamentável. Quando nos candidatamos temos de ter convicções e respeito, esse senhor não teve — nem pelos que votaram nele. Estamos habituados que em Oeiras que ande tudo a degladiar-se para fazer parte das listas do Isaltino — ou o Isaltino compra os candidatos, ou os candidatos se oferecem para entrar nas listas do Isaltino. Mas nós temos uma candidatura que o substituiu muito bem e se tudo correr bem vamos ganhar a junta de freguesia de Porto Salvo”.

"Para qualquer jovem é complicado residir em Oeiras. É mais fácil fazer uma viagem de uma freguesia para a área metropolitana do que circular no próprio município. E também nunca construiria um obelisco que custa 600 ou 700 mil euros quando temos escolas em Paço de Arcos onde os alunos não têm água quente, quando há piscinas em Barcarena que estão degradadas e quando há outras obras que poderiam ter prioridade."
Fernando Curto

Desafiado a eleger algumas áreas em que a sua candidatura mais se distancia das propostas de Isaltino Morais, Fernando Curto falou da área da habitação — “para qualquer jovem é complicado residir em Oeiras” pelo preço dos imóveis — e da área da mobilidade, onde aponta críticas à inação do presidente de câmara recandidato: “É mais fácil fazer uma viagem de uma freguesia para a área metropolitana do que circular no próprio município. Em freguesias como Barcarena, Paço de Arcos e Caxias, as pessoas que estão lá não têm condições de circulação”.

O candidato critica ainda o “despesimo muito grande” do município. “Nunca construiria um obelisco que custa 600 ou 700 mil euros quando temos escolas em Paço de Arcos onde os alunos não têm água quente, quando há piscinas em Barcarena que estão degradadas e quando há outras obras que poderiam ter prioridade, nomeadamente para servir os idosos”.

O PS, diz Fernando Curto, “não está preocupado em obras do regime” mas sim com as dificuldades de habitação em Oeiras e com o facto do concelho estar, por causa disso, com “cada vez mais idosos e cada vez menos jovens”. E o candidato pede “uma oportunidade” aos socialistas para “serem poder”, manifestando confiança numa “mudança” dia 26.

A ação de rua pelas ruas de Algés contou com a presença do Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

A mesma esperança tem Duarte Cordeiro. O presidente da presidente da Federação Distrital de Lisboa do PS afirmava estar presença para “dar força” à candidatura e para “lembrar a diferença entre a oportunidade que é ter uma câmara do PS e a ter uma câmara de um movimento de direita ou mesmo de um partido de direita”.

Reclamando para os socialistas as bandeiras das políticas de “habitação acessível” ou de investimento nos transportes — políticas que “permitam que famílias com rendimentos médios consigam viver nos nossos concelhos” —, Duarte Cordeiro defenderia não encontrar essas prioridades “noutras candidaturas” que não as socialistas.

Lembrando ainda que tinha sido promovida nesta semana “uma iniciativa conjunta com o PS para as várias câmaras da área urbana de Lisboa, com um compromisso que todos os candidatos assumiram partilhando uma visão”, Duarte Cordeiro remataria: “Estamos todos envolvidos e comprometidos com estes objetivos comuns”.

O socialista e membro do Governo reconhecia a dificuldade e os maus resultados do PS em Oeiras em anteriores autárquicas: “O O PS tem em várias eleições [como as legislativas] resultados elevados em Oeiras. Nas autárquicas nem sempre acontece termos a mesma confiança que merecemos noutras eleições. Vimos aqui dizer que vale a pena dar uma oportunidade ao PS no concelho de Oeiras, para se apostar numa gestão diferente, idêntica àquela que temos noutros concelhos”. Essa gestão, defendia, permitiria “incluir todos mas tendo uma preocupação clara com o futuro: garantindo habitação acessível, transportes disponíveis para as pessoas, um alargamento da oferta de transportes e uma rede de creches gratuitas”.

Se a linha que cose o PS ao Oeiras ao PS nacional é robusta o suficiente para resistir ao impacto da popularidade e da capacidade de mobilização popular de Isaltino Morais, parece uma missão espinhosa — mas dificilmente o PS não crescerá em número de votos face a 2017, depois de um resultado muito baixo das expectativas no concelho nas anteriores autárquicas. Resta saber se o crescimento será significativo.

Poço (PSD) quer Oeiras a mudar de ares (e com “oposição construtiva”)

Para Oeiras, o PSD — que chegou a discutir se apoiava Isaltino Morais — apostou numa candidatura arrojada: Alexandre Poço, líder da Juventude Social Democrata (JSD), vai a votos para tentar fazer crescer o resultado do partido em 2017. Também por isto a aposta é um risco calculado: quer Alexandre Poço quer o PSD sabem que não será difícil fazer melhor do que há quatro anos.

O objetivo é aliás assumido: “Aquilo que para nós é objetivo é crescer em mandatos, em votação e em percentagem face ao resultado há quatro anos”, refere Poço.

Sem o movimento independente de Paulo Vistas (“Oeiras Mais à Frente”) no caminho, há 14.18% dos votos e dois mandatos que ficam por conquistar. É certo que Isaltino Morais até está em posição teoricamente mais favorável do que em 2017, podendo conquistar alguns desses votos, e que à direita há um novo concorrente, a Iniciativa Liberal, que o PSD também tenta relegar para segundo plano com a aposta num candidato jovem e disruptivo (e digital) na comunicação. Mas para Poço e para o PSD, que coligado com PPM e CDS teve 8,77% há quatro anos, o difícil será não subir a votação, desta vez coligado com o MPT.

A candidatura de Alexandre Poço é também uma aposta em dois sentidos paralelos. Por um lado, há uma tentativa de captação de um eleitorado jovem e que cresceu já com Oeiras como município desenvolvido e requalificado: Poço tenta captar os votos dos jovens que não assistiram à transformação e requalificação de Oeiras nos anos dos mandatos mais populares de Isaltino Morais. Nesse sentido, há uma disputa de eleitorado quer com o PS (nomeadamente na caça a anteriores abstencionistas), quer com a Iniciativa Liberal. Por outro lado, a candidatura posiciona já o seu candidato e o PSD para uma eventual solução para o pós-Isaltino, que poderá ser em 2025 (caso Isaltino, então com 75 anos, não se recandidate) ou no limite daqui a oito anos, em 2029.

A campanha tem como slogan “A dar tudo por Oeiras” e tentou, através de uma parceria com uma agência de comunicação e publicidade, afirmar e dar a conhecer ao máximo o candidato com recurso ao humor. Entre cartazes muito falados, vídeos de entrevistas feitas a comer asas de frango picantes (hot wings), saltos de pára-quedas e apresentação de um programa eleitoral acompanhado por cachorros bebés, Poço fez de tudo para tentar aligeirar os métodos de comunicação de modo a chegar aos eleitores, dando-lhes a conhecer propostas que vinca serem sérias.

“A dar tudo por Oeiras” e “sem missões impossíveis”. O que Alexandre Poço fez para não ser um “político que se leva demasiado a sério”

Ao final da tarde de esta quarta-feira, 22 de setembro, o candidato juntou apoiantes, membros da lista e elementos da JSD de Oeiras (a que Poço já presidiu) para uma ação de campanha pelas esplanadas, cafés e restaurantes que ficam junto ao Centro Cívico de Carnaxide, no concelho de Oeiras.

Nas t-shirts dos apoiantes via-se um slogan com um trocadilho: “Sim, eu Poço”. E o candidato laranja ia percorrendo as mesas, abordando as pessoas com uma pergunta: “Desculpe interromper, posso deixar aqui um folheto?”. Apresentava-se também: “Prazer, sou o Alexandre Poço, sou candidato à câmara municipal. Se quiserem mudar de ares ou não souberem em quem votar têm esta opção”.

"Quando nasci, Isaltino Morais já era presidente de câmara há seis anos. É tempo de Oeiras começar a olhar para o futuro, mudar de ares e mostrar que não é terra de um homem só."
Alexandre Poço

Ao Observador, o candidato explicava o que significa mudar de ares: “Quando nasci, Isaltino Morais já era presidente de câmara há seis anos. É tempo de Oeiras começar a olhar para o futuro. A nossa candidatura representa alternativa de futuro para todos aqueles oeirenses que não querem votar em Isaltino Morais. Todos os que sentem que é tempo de olhar para o futuro, têm nesta candidatura com novos rostos a possibilidade de mudar de ares e garantir que Oeiras não é a terra de um homem só, que há novas ideias que também contarão para o futuro do concelho”.

Em alguns casos, Poço ia recordando às pessoas com quem se cruzava o slogan da campanha (“A Dar Tudo Por Oeira”). Mas o que tinha mais saída era mesmo um brinde inusitado, umas meias cor-de-laranja. Sugeria até: “No domingo podem ir votar com as meias, acho que estas meias laranja dão sorte”. A maioria dos oeirenses interpelados achava piada: “Pelo menos criativo é”.

Alexandre Poço salta de avião para mostrar que não há missões impossíveis nem “terras de um homem só”

Poço ia fazendo várias piadas. Dizia “olhe que estamos na mudança de estação mas o verão ainda está bom para o laranja” ou “pela simpatia ganhamos, somos sempre simpáticos”. Admitindo um “choque inicial” com um modo de comunicar com os eleitores mais ligeiro, Poço ia notando que o importante era “garantir que as pessoas ficavam a conhecer a nossa candidatura” e as propostas para o município.

Sentada numa mesa de café, uma oeirense, Susana, dizia ao Observador que achava a estratégia de comunicação interessante para quem tem uma “mente aberta” e para um eleitorado mais jovem. “Tenho 52 anos mas tenho uma mente aberta, tenho filhos mais novos e acho ótima a estratégia, desde que haja um contraponto entre os cartazes e a mensagem do candidato. Se tivesse um discurso patético não inspirava confiança mas percebeu-se o intuito, a comunicação é engraçada. Talvez as pessoas mais conservadoras não percebam o humor, mas conhecendo-o vemos que é uma pessoa perfeitamente normal, coerente. Acho que isto pode gerar empatia com algumas pessoas”.

Por ali circulavam também dois miúdos, curiosamente vestidos de forma eclética: chapéu da candidatura de Isaltino Morais na cabeça, meias laranjas calçadas e t-shirt da candidatura de Alexandre Poço vestida. Pediam um skate park, Poço (como os restantes candidatos o tinham feito) prometeu aceder.

Durante a ação de rua, Alexandre Poço foi distribuindo vários pares de meias laranjas.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

A meio da arruada, um pequeno problema: “Esgotaram-se as meias, pá”. Nada que não se resolvesse com uma reposição de stock. Junto a uma popular franchise nacional de pão e doçaria, Poço ouvia um eleitor fazer-lhe uma piada com um cartaz em que aparecia Poço, em pose “Tom Cruise”, a dizer que “não há missões impossíveis”. E respondia-lhe, sorridente: “A missão fica menos impossível se nos ajudar no domingo”.

A rapaziada da JSD que o seguia ia cantando “nós só queremos o Poço a presidente” e, entre cânticos, o “jota” Francisco Herdeiro assumia que a candidatura tem uma “situação adversa” no concelho, já que Isaltino Morais “é adorado pela maioria da população, tem uma obra feita e bem feita e há muita gente que lhe tem uma dívida de gratidão”. Ainda assim, vale a pena ir à luta: “Vale sempre a pena. Não vivemos em democracia se durante 36 anos for sempre a mesma pessoa a mandar. Agora, teremos de ter o bom senso — e o Alexandre Poço tem dito isso muitas vezes — de não destruir o que foi bem feito em Oeiras”.

Há pontos de diferenciação programático entre a candidatura de Alexandre Poço (PSD) e Isaltino Morais, mas acima de tudo a tentativa é fazer vingar a necessidade de pensar o futuro de Oeiras e de refrescar o município com um novo presidente. Até porque Poço não tem ilusões: já disse por múltiplas vezes que Isaltino Morais “é eleitoralmente imbatível” e que deixa “obra” bem feita no concelho.

Ainda assim, o candidato vinca: “Uma eleição não é só sobre ganhar e perder, é também sobre quem estará a representar as alternativas e sobre quem será a voz da oposição construtiva. Acredito que teremos todas as condições para marcar com impacto positivo o futuro do concelho”.

David Justino: “Vamos ganhar capital para daqui a quatro anos”

Não é habitual um vice-presidente de um dos dois maiores partidos do país ser o candidato à Assembleia Municipal de um concelho que não Lisboa e Porto, mas isso acontece nesta candidatura conjunta do PSD com o PTM. O candidato é David Justino, vice-presidente dos sociais-democratas e que seguia com Poço nesta ação de campanha de quarta-feira.

Ao Observador, David Justino explicava que nasceu e morou desde sempre em Oeiras — “sou um oeirense de gema” — e que ficou “muito sensibilizado pela disponibilidade do Alexandre Poço em dar a cara por uma candidatura”. Admite que foi “um processo muito difícil” e diz que é de “enaltecer a vontade de um jovem, presidente da JSD”, para enfrentar Isaltino Morais. “Não me senti moralmente liberto para dizer que não. Face ao exemplo deles, tinha de estar aqui. Convidaram-me e aceitei logo”, apontava David Justino, acrescentando: “Tinha prometido em 2013 à minha família e a mim próprio que nunca mais seria candidato à Câmara de Oeiras, mas sendo à Assembleia Municipal é diferente”.

Alexandre Poço acompanhado por David Justino e por Alexandra Machado da Silva.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

O vice-presidente do PSD lembrava ainda que esteve “oito anos como vereador” na câmara e trabalhou na “erradicação de barracas em Oeiras”, pelo que considerou que “a experiência e o conhecimento” que tem poderiam ser “úteis” à candidatura. “Foi como descer do pedestal e vir dar a cara”, refere.

Lembrando que se apoiasse Isaltino Morais esta seria “a primeira vez na história das eleições aqui em Oeiras, desde 1976, que o PSD não se apresentava com uma candidatura à câmara”, David Justino assume que houve uma tentativa de “integrar antigos militantes do PSD que estão nas listas” de Isaltino para “integrarem uma coligação encabeçada pelo PSD”. Entre esses militantes, o próprio autarca. Como não foi possível, o partido decidiu avançar com candidatura própria.

"Mesmo que não ganhemos agora, vamos ganhar capital para daqui a quatro anos. Estamos a olhar para a frente, apostando nos mais jovens, em pessoas já com alguma experiência mas que têm muito tempo para se afirmar."

David Justino admite a divisão nos sociais-democratas em relação a Isaltino Morais: “Neste momento fazem parte das listas do dr. Isaltino cerca de 46 militantes do PSD. Foi um rombo forte. Não digo ex-militantes porque não foram expulsos, é um problema para resolver a seguir com o Conselho de Jurisdição, mas alguns eram dirigentes”, aponta, acrescentando: “O próprio presidente da concelhia acabou por sair, pelo que foi um esforço enorme reunirmos com os militantes que restavam e com simpatizantes para formarmos as listas”.

O vice-presidente do partido fez ainda referência a palavras ali proferidas poucos dias antes por Rui Rio, presidente do PSD: “Mesmo que não ganhemos agora, vamos ganhar capital para daqui a quatro anos. Estamos a olhar para a frente, apostando nos mais jovens, em pessoas já com alguma experiência mas que têm muito tempo para se afirmar”.

Já o candidato à Câmara Municipal, Alexandre Poço, defendia em conversa com o Observador acreditar que parte do eleitorado de centro-direita e direita que começou a votar nos últimos anos na Iniciativa Liberal fê-lo também pelas estratégias de comunicação mais arrojadas (com cartazes chamativos e desempoeirados e com uma grande aposta na comunicação digital nas redes sociais) deste novo partido.

“Há um certo cansaço do eleitorado, nomeadamente de eleitores abaixo dos 40 e 45 anos, de fórmulas de comunicação e abordagens que estão gastas, muito repetidas. Há que inovar na forma para facilitar a transmissão de propostas concretas, que tenham qualidade e substância”, aponta.

O impacto da sua candidatura deve aliás ser um alerta para a forma de comunicar do partido, “independentemente do resultado” (como vinca por duas vezes) do próximo domingo. “Acredito que a comunicação política de futuro, e neste caso também do meu partido, tem de ser mais inovadora, mais distintiva, tem de ter mais capacidade de chegar às pessoas. As fórmulas de comunicação do passado não conseguem chegar a muita gente de um eleitorado mais jovem. Não vale a pena insistir numa fórmula que não gera adesão, entusiasmo ou paixão, que gera indiferença”.

A candidatura, apontou Alexandre Poço, tem tentado “captar a atenção das pessoas através de formatos ousados, arriscados, com um risco calculado da nossa parte”. O candidato acredita que a abordagem “irá fazer caminho” e que será possível ao PSD tirar uma mais-valia para o futuro “do impacto que esta candidatura gerou”.

Poço elencava ainda um “conjunto de preocupações” que considera que só a sua candidatura afirma como prioritárias. Propõe, por exemplo, “uma rede de residências de abrigo de emergência para vítimas de violência doméstica”, a “criação de um autocarro escolar elétrico para todos os estudantes do concelho” e que “cada jovem que faça 20 anos receba um voucher de 500 euros para gastar em cultura”, uma medida inspirada num exemplo “tomado recentemente pelo Governo francês”.

"O tempo político de Isaltino Morais não durará para sempre" e Poço diz estar "disponível para o futuro do concelho". O PSD "ao apostar em alguém jovem como candidato à CM está a dar esse sinal de que estamos cá para o futuro."

Sem deixar de reconhecer o que considera ter sido um bom trabalho de Isaltino Morais na câmara municipal, Poço lembra que Oeiras era “um concelho pobre” nos anos 1980 e 1990 e hoje é muito diferente e tem desafios distintos pela frente. “É tempo de Oeiras, num país estagnado e que não consegue sair da cauda da Europa, dar o exemplo de que é possível através das políticas municipais transformar a vida das pessoas e colocar o elevador social a mexer”.

Sem assumir quaisquer compromissos com futuras eleições autárquicas, o candidato constata que “o tempo político de Isaltino Morais não durará para sempre” e diz desde já que estará “disponível para o futuro do concelho”, reconhecendo que “o PSD ao apostar em alguém jovem como candidato à CM está a dar esse sinal de que estamos cá para o futuro”.

Quanto ao seu trajeto político a longo prazo, e confrontado com a quantidade de antigos líderes da JSD que acabaram a presidir ao partido, Poço diz apenas: “No futuro há algo que sei — terei sempre a vocação para a política. Se vou andar por cá ou não logo se vê, mas há uma grande vocação para a política e para apresentar um programa alternativo ao PS na sociedade portuguesa para sair de uma vez da cauda da Europa e convergir com os países mais ricos da UE”.

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