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MUSEU C.F. OS BELENENSES

MUSEU C.F. OS BELENENSES

O velhinho do Restelo

O estádio do Restelo cumpre a bonita idade de 60 anos, aquela idade em que até os edifícios feios se tornam respeitáveis. Com uma diferença, o Restelo sempre foi “formosíssimo”.

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A primeira casa do clube fundado em 1919 foi o Campo do Pau de Fio, perto da Praça Afonso de Albuquerque. A seguir, o clube mudou-se para o Campo das Salésias, recinto construído numa “faixa de terrenos” cedida pelo Estado a “título precário”. Foi nas Salésias que o clube viveu os anos dourados das décadas de 20 e 30. Ainda hoje, os adeptos belenenses têm orgulho naquele que foi o primeiro campo relvado de Portugal e que também foi o primeiro a ter uma bancada coberta. As condições únicas do campo fizeram das Salésias palco habitual dos jogos da selecção nacional. Era aí que o Belenenses jogava quando conquistou o seu título mais importante, o Campeonato Nacional na época de 1945/46, embora o jogo decisivo tenha sido disputado em Elvas, contra o clube local.

No final da década de 40, o Belenenses era um dos quatro grandes do futebol português mas começou a formar-se a ideia de que, para crescer ainda mais, o clube precisava de melhorar as instalações. Em resposta ao pedido de intervenção, em 1946, a Câmara informou o clube de que dali a seis anos teria de mudar de instalações pois existiam projectos para urbanizar a área onde se situava o Campo das Salésias. Da ideia de melhorar as instalações passou-se para a necessidade de encontrar uma nova casa. Iniciou-se a procura por um espaço até que a Câmara, que prometera ao clube a cedência de terrenos, sugeriu que o novo estádio fosse construído no local de uma antiga pedreira.

Quando os responsáveis do Belenenses sondaram o arquitecto Carlos Ramos sobre a exequibilidade de erguer o estádio naquele local, ele terá dito que seria preciso muita dinamite. E muito dinheiro. Para financiar a construção, o clube endividou-se junto da banca. A nova casa era “um buraco envenenado com pedras.” A 7 de Março de 1953, o estádio começou a ser construído. No fim, o custo total rondou os 35 mil contos (175 mil euros que, na época, equivaleriam a 15 milhões de euros) mas o estádio era uma maravilha com “magníficas instalações sonoras e luminosas, um excelente campo de futebol relvado, uma pista de atletismo e uma lotação para cerca de 44.000 espectadores, dividida por quatro bancadas unidas de forma oval, com duas bancadas cobertas e três delas com dois anéis, um inferior e outro superior”, como se pode ler no site do clube.

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Em 1961, com o clube incapaz de suportar os encargos financeiros, a propriedade do estádio passou para a Câmara, à qual o Belenenses pagava uma renda. Anos mais tarde, sobretudo graças à intervenção de Américo Thomaz, na altura Presidente da República e sócio do clube, o estádio regressou às mãos do Belenenses. Como forma de agradecimento, em Janeiro de 1970, o estádio do Restelo tornou-se no Estádio Almirante Américo Thomaz. Só voltou à denominação original em Maio de 1974, após a revolução. Porém, antes de todas estas peripécias, houve festa.

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O “milagre” de Belém

O estádio do Restelo foi inaugurado a 23 de Setembro de 1956, um domingo, no dia em que o clube cumpria 37 anos. Foi um dia de festa, como recorda o senhor Joel Pereira, sócio desde os cinco anos: “o meu pai fez-me sócio no dia 23 de Dezembro de 1936. Lá em casa era assim, quem não era belenense não comia”, diz a sorrir. A irmã praticava natação no clube e participou no desfile que juntou os atletas de todas as modalidades, as antigas glórias e os sócios fundadores. O senhor Joel assistiu a tudo no topo sul: “lembro-me como se fosse hoje, foi uma alegria, a alegria de ver uma casa nova. E a primeira coisa que se faz numa casa nova é ir à procura das tomadas”, diz-nos algo enigmaticamente.

Recorda também que o speaker contribuiu muito para a festa: “creio que era o [Domingos] Lança Moreira. Era do Porto mas animou bastante. Fazia relatos do hóquei em patins. Foi o primeiro a quem ouvi chamar “aléu” ao stick do hóquei. Fui confirmar ao dicionário e está lá.” (confirmado no Houaiss: “aléu, s.m. 1. Bastão de dois palmos com o qual se impelia a bola no antigo jogo da choca ou do truque 2. O jogo da choca 3. Bastão para hóquei em patins”).

Entre muitas figuras do regime, a inauguração contou com a presença do Subsecretário da Educação: “o Belenenses tem o estádio que merece! Faço agora votos para que complete o conjunto o mais depressa possível”, afirmou ao jornal do clube o Dr. Baltazar Rebelo de Sousa, cujo filho mais velho vive actualmente num palácio não muito distante do estádio.

O espectador nº 1 foi Bernardo Soares, um antigo jogador, como relatado pelo jornal do clube: “Tinha fatalmente que ser um belenense de pura cepa, um belenense de alma e coração que não quisesse perder um só pormenor das muitas cerimónias que haviam de servir de condigno remate à inauguração da grande obra, do grande ‘milagre’ de Belém.”

Apesar de todas as dificuldades, ou talvez por isso mesmo, havia no ar uma certa euforia, a esperança de que, naquele dia, se abrisse uma nova era para o histórico clube. “O Belenenses pode, desde agora, utilizar o seu formoso estádio do Restelo, erguido à custa de muito entusiasmo, de grande dedicação, de extraordinário sentido clubista. Ao dar mais um estádio a Lisboa, que já era, e mais se acentuou, a ‘Cidade dos Estádios’, o clube de Belém traçou, afigura-se-nos, o seu destino, o seu rumo em direcção a maior expansão, a mais profunda projecção”, escrevia-se no Diário de Lisboa.

O estandarte do clube foi levado por um dos sócios fundadores, Francisco Pereira, e, nesse dia, o clube recebeu do Presidente da República, o general Craveiro Lopes, a Medalha de Mérito Desportivo. Georgete Duarte, uma das maiores atletas portuguesas de todos os tempos e que chegou a deter os recordes nacionais nos 200, 400 e 800 metros, não conseguiu segurar as lágrimas no momento da cerimónia: “No instante em que o Chefe de Estado procedia à cerimónia Georgette [sic] não se conteve e desatou a soluçar. Aos olhos dos outros componentes da guarda de honra aos estandarte afloraram também lágrimas rebeldes. Não, não se tratava de um desfalecimento, de uma fraqueza, de um sentimentalismo exacerbado. Era mais um sintoma de brio e de dedicação clubistas, de satisfação pelo dever cumprido, de vontade indómita de trabalhar para o crescente prestígio do Belenenses! O sr. Presidente da República sorriu. Um sorriso de compreensão e de muita simpatia.” Bonito, sem dúvida.

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Entre muitas figuras do regime, a inauguração contou com a presença do Subsecretário da Educação: “o Belenenses tem o estádio que merece! Faço agora votos para que complete o conjunto o mais depressa possível”, afirmou ao jornal do clube o Dr. Baltazar Rebelo de Sousa, cujo filho mais velho vive actualmente num palácio não muito distante do estádio.

O senhor Joel Pereira, que se recorda bem dos festejos, diz que não guarda na memória o jogo inaugural contra o Sporting. É pena porque correu bem ao Belenenses: “A equipa do Belenenses ofereceu ao clube uma exibição compatível com a solenidade do «momento histórico» vencendo um Sporting sem organização”, destacava o Diário de Lisboa. Vitória por 2-1 para os “azuis” do Restelo, com o primeiro golo no novo estádio a ser apontado por Miranda, aos 23 minutos. Fica aqui o primeiro “onze” da equipa de Belém na nova casa: José Pereira, Pires, Raul, Moreira, Carlos Silva, Vicente, Dimas, Di Pace, Miranda, Matateu e Tito.

Inauguração do estádio… outra vez

No dia 25 de Setembro de 1956, o Jardim Zoológico de Lisboa preparava-se para receber duas otárias (como toda a gente sabe, trata-se de um mamífero pinípede da família dos Otariídeos), uma generosa oferta dos senhores Adérito Augusto Sanches e Juventino Ferreira Graça. Para o dia seguinte, no Coliseu dos Recreios, os jornais anunciavam um fabuloso combate de boxe entre o português Júlio Neves e o norte-americano Don Ellis, um pugilista que andava a combater pela Europa mas que, em 1951, chegou a defrontar Sugar Ray Robinson (perdeu por KO num combate em Oklahoma, o último que disputou nos EUA). Este prometia “metralhar” o nosso campeão com toda a força e vigor. “Na América os combates são de matar!” No combate prévio de fanfarronice machista, o português respondia à altura: “Don Ellis vai saber quem são os portugueses! Os meus punhos vão bater como nunca! Lutarei até ao limite das forças e não descansarei um só segundo! Se perder será com honra!”

Mas o grande acontecimento daquela terça-feira era “o 2º Festival de Inauguração do Estádio do Restelo”, para inaugurar a iluminação do estádio, com a presença da equipa francesa do Stade de Reims, um dos colossos da altura. O Reims, como era designado, tinha estado na primeira final da Taça dos Campeões Europeus, no ano anterior, perdendo para o Real Madrid, e tinha conquistado a Taça Latina em 1953, em Lisboa.

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Nessa noite, em que houve alguns problemas com a iluminação, com as balizas quase às escuras, o Belenenses voltou a vencer, desta vez por 2-0, com golos de Miranda, uma vez mais, e de Matateu, o primeiro do mítico avançado no novo estádio. Na equipa adversária destacavam-se dois nomes que iriam ficar na história do futebol por razões diferentes: Michel Hidalgo, que foi o treinador da selecção francesa no Euro 84, na primeira grande conquista internacional dos gauleses, e Just Fontaine que, dois anos depois, no Mundial de 58, na Suécia, estabeleceu o recorde de golos numa só fase final do campeonato do mundo, 13.

O senhor Joel Pereira não assistiu a esse jogo mas lembra-se de muitos outros momentos marcantes na vida do clube, de grandes jogadores que ficaram no coração dos adeptos, como Elói, “o maior malabarista em futebol”, Artur Quaresma, “o jogador mais tecnicista que vi jogar” ou Zé Pedro, outro tecnicista, que “corria com os pés para dentro”. Quando lhe perguntamos qual foi o melhor jogo a que assistiu no Restelo, não demora muito tempo a responder: “Foi um jogo contra o Benfica em que ganhámos por 4-2. Foi a maior enchente de sempre, um dia espectacular.” O autor de um dos golos do Belenenses foi Artur Jorge que, segundo o senhor Joel, se tornou um inimigo do clube: “uma vez ganhámos aqui ao Porto para a Taça de Portugal e ele disse que o Belenenses era um clube de merda.”

Memórias de um adepto

“Ainda sou do tempo do Campo do Pau de Fio, veja bem. Depois fizeram aí o mercado de Belém que mandaram abaixo por causa da Exposição do Mundo Português, em 1940. Nas Salésias o maior espectáculo era a entrada das equipas em campo, vinham dos balneários a correr. Agora parece que vão para o matadouro”, recorda o sócio nº 79. “Antes da actualização era o 411 e fico triste por agora ser o 79 porque significa que algum dos meus amigos morreu ou deixou de ser sócio.” Mesmo que o Belenenses nunca tenha recuperado a pujança dos anos 30, 40 e 50 do século passado, o senhor Joel, como todos os verdadeiros belenenses, vive intensamente o seu clube: “antes dos jogos faço sempre a minha preparação. Como me enervo muito, tomo o meu lexotan e pronto. Quando o jogo dá na televisão vou espreitando para ver o resultado e quanto tempo falta.”

Joel Pereira, o sócio nº 79 do Belenenses

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

Do lugar onde nos sentamos a falar com o senhor Joel, vê-se o rio e, do outro lado, Trafaria. A vista é magnífica. Mais abaixo, perto da loja do clube, está o monumento de homenagem a José Manoel Soares, Pepe, uma das grandes figuras da história do Belenenses, que morreu a 24 de Outubro de 1931, vítima de envenenamento em circunstâncias que nunca se esclareceram. Do lado esquerdo, há uma placa que regista a gratidão ao capitão Soares da Cunha, o “Homem do Estádio” (era presidente da direcção do clube quando a obra ficou concluída). Do lado oposto, outra placa assinala a missa aqui celebrada pelo Papa João Paulo II no dia 10 de Maio de 1991, perante 100 mil fiéis. Todas estas memórias constituem o património afectivo de um clube que se vê obrigado a competir com dois gigantes da mesma cidade: “à partida, a cidade só comporta dois clubes de grande dimensão”, diz-nos o senhor Joel. Acrescenta, sombrio: “isso é que nos mata.” Ou talvez seja isso que mantém o clube vivo. “Quando me perguntam, digo que sou do clube que não dá desgostos.” Como declaração de amor é tão serena como o rio que se vê daqui de cima, deste “formosíssimo” estádio do Restelo, casa de um clube que não dá desgostos aos que o amam.

Momentos especiais no Restelo

Vitória sobre o Bayer Leverkusen

A 12 de Outubro de 1988, o Belenenses realizou a sua maior façanha nas competições europeias, ao eliminar da Taça Uefa o Bayer Leverkusen, vencedor da edição transacta da competição e orientado pelo pai da “laranja mecânica”, Rinus Michels. O clube lisboeta já tinha ganhado a primeira mão na Alemanha por 1-0, golo do búlgaro Mladenov. Como as expectativas eram altas, o Restelo recebeu 15 mil adeptos prontos a testemunhar o feito e que deixaram nos cofres do clube 15 mil contos (75 mil euros). Aos 40 minutos da segunda parte, Adão, como se diz na gíria futebolística, “sentenciou a eliminatória”, com um golo de livre. N’A Bola, o grande Aurélio Márcio escrevia que a “última tentação de Adão” tinha sido não deixar que outro colega marcasse o livro. Mas a manchete do Diário de Lisboa era ainda mais inspirada: “Adão põe Belenenses no paraíso”.

A Maior Enchente

Exatamente treze anos antes, a 12 de Outubro de 1975, o Restelo registou a maior enchente da sua história, num jogo contra o Benfica, aquele que o senhor Joel Pereira diz ter sido o maior espectáculo que alguma vez viu no estádio. Os jornais da época confirmam. No Diário de Lisboa, Neves de Sousa não se poupava nas palavras: “ontem, no Restelo, unicamente uma imagem sem capricho ou enfeudamento: só, apenas, exclusivamente um dos mais soberbos desafios de futebol até hoje jogado em campeonatos da moderna idade portuguesa. […] O Belenenses rubricara uma das mais belas páginas do seu historial.” N’A Bola, o jornalista Santos Neves viu o mesmo jogo: “Que maravilha de desafio, senhores! Que super-espectáculo aquela hora e meia! Que vibrante “Vivó Futebol!” tiveram vontade de gritar, de berrar, as cerca de sessenta mil pessoas que estiveram, ontem, no Restelo, cheiinho, talvez não coubesse lá uma agulha.” No final, vitória do Belenenses por 4-2.

Maior Vitória e Maior Derrota

A derrota mais expressiva que o Belenenses sofreu no Restelo também foi contra o Benfica, a 29 de Novembro de 1964. As “águias” ganharam por 6-0. “Mortandade em Belém” era o título d’A Bola. Perante 25 mil espectadores, os golos do Benfica foram apontados por Pedras (2), Torres, Eusébio (2) e José Augusto. Cinco anos antes, a 8 de Março de 1959, o Belenenses obteve a maior goleada em jogos para o campeonato nacional no Restelo. 9-1. Vítima: Vitória de Setúbal. Para Silva Resende, que assinou a crónica no jornal da Travessa da Queimada, o mais significativo era que todos os dez golos tinham sido marcados por “homens de cor.” “Fantasmas negros assombraram o Vitória”, “também o golo do Setúbal foi marcado pelo colored Mendonça” ou “dez golos africanos.” Mas aquele que viria a ser, anos mais tarde, presidente da FPF, viu mais do que a cor dos jogadores: “Esse frágil Yauca, cuja compleição de arbusto o parece condenar irremissivelmente ao vendaval do jogo, é um verdadeiro compêndio de fantasia exuberante, de beleza de movimentos, de eficácia desconcertante, de espontaneidade com a bola.” Eis os autores dos nove golos da equipa belenense: Matateu (4), Abdul (2) e Yauca (3).

A visita do Papa João Paulo II

Em 1991, o Papa João Paulo II visitou Portugal pela segunda vez. Como tal, não houve beijo no solo pátrio quando o sumo pontífice aterrou em Portugal no avião da Alitalia. A 10 de Maio, uma sexta-feira, o Papa celebrou uma missa no estádio do Restelo, com a presença estimada de 100 mil fiéis (e muitos milhares no exterior do recinto), e alguns nem tanto, como o então Presidente da República, Mário Soares, que fez questão de sublinhar que a “Igreja Católica e valores cristãos estão ligados à identidade portuguesa.” Obrigado, senhor Presidente, passemos agora a palavra a “Sua Santidade” que, naquele dia, condenou o “fundamentalismo e a intolerância” (um clássico). Tanta euforia com a visita do Papa levou os socialistas a exibirem um enorme cartaz na sede do partido, no Largo do Rato: “Os socialistas saúdam Sua Santidade.” O Diário de Notícias descrevia assim a chegada triunfal de João Paulo II ao Restelo: “A monumental assembleia cristã aclamou o Pastor Universal cantando “Tu és Pedro” quando o cortejo processional surgiu à entrada do estádio, com os cerimoniários, acólitos e diáconos de serviço ao altar, levando à frente a cruz.” A homilia, que durou 25 minutos, não agradou a alguns jovens timorenses que criticaram o Papa por se ter referido à Indonésia sem mencionar a situação em Timor-Leste. A algumas jovens raparigas católicas, certamente piedosas, os protestos dos timorenses não caíram lá muito bem: “eles protestam mas há outros que estão aqui para comungar com o Papa este momento tão importante para os portugueses.” Amén!

Bruno Vieira Amaral é crítico literário, tradutor e autor do romance As Primeiras Coisas, vencedor do prémio José Saramago em 2015.

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