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Num dos últimos vídeos que João Barbosa (ou Numeiro, como é conhecido) publicou no YouTube explicou como investe o seu dinheiro. Em cerca de onze minutos, o youtuber de 23 anos falou dos investimentos em criptomoedas, dos hábitos de vida — toma banho em água gelada e faz meditação –, deu conselhos para os fãs (como evitarem a masturbação) e disse que queria ter filhos, mas através de uma barriga de aluguer. No fim, revelou que o patrocinador do vídeo é a bettilt, uma casa de apostas. “Tem odds (cotações dadas a determinados resultados de um jogo) excelentes, podem usar em Portugal”, diz. Problema? Esta casa não está autorizada no nosso país. Ou seja, não surge no site do Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRIJ), organismo que é responsável por esta área e por regular as casas que atuam no universo das apostas desportivas em Portugal.
[Veja o vídeo em que Numeiro explica como investe o seu dinheiro]
https://www.youtube.com/watch?v=HTGYA0zLhLM&t=90s&ab_channel=numeiro
A referência à casa de apostas desportivas tem outra explicação: tal como está a acontecer com David GYT e Windoh, Numeiro está a ser acusado por várias pessoas na internet de burlar utilizadores através dos serviços que oferecia (entretanto encerrados), que eram potenciados pelo estilo de vida luxuoso que o youtuber promovia. Vários clientes afirmam estarem insatisfeitos com estes serviços, por terem perdido centenas de euros quando Numeiro lhes prometia “lucro fácil”. É ainda acusado por estas pessoas de alterar as odds e de não emitir faturas e, por isso, de fugir aos impostos. O Observador sabe, aliás, que esta última queixa é a principal de um processo que poderá ser movido contra o youtuber por um grupo de denunciantes. O influenciador nega, contudo, todas as acusações que lhe têm sido feitas e, através da sua empresa, esclarece ao Observador que, caso haja faturas em falta, estas vão ser emitidas ao consumidor final.
Numeiro é um dos nomes que surge na petição pública, lançada há duas semanas, em que perto de 15 mil pessoas pedem que se faça uma investigação aos “esquemas aliciantes” praticados por alguns influenciadores digitais. Ao nome de João Barbosa, somam-se outros, como o de David Soares (David GYT) e o de Diogo Figueiras (Windoh). Mas Numeiro rejeita a ideia de estar envolvido em esquemas ilícitos.
Afinal, qual é o negócio do youtuber e o que é que está em causa?
Dynasty Bet Consulting, uma empresa com um serviço de apostas que durou pouco mais de 9 meses
João Barbosa é o rosto da Dynasty Bet Consulting, uma empresa que até à semana passada — altura em que o youtuber decidiu dar por terminado o projeto — disponibilizava serviços de consultoria em apostas desportivas. No site garante-se uma equipa creditada — sem que seja revelado quem faz parte dela –, com uma abordagem que “passa por uma rigorosa filtragem de jogos cujos indicadores apontem para uma forte probabilidade de ocorrer um empate”.
Para ter acesso às sugestões de apostas, os possíveis clientes teriam de pagar 299 euros por mês. Depois, seria dado acesso a um grupo de mensagens no Telegram, mas também de WhatsApp. O pagamento foi, até certa altura, feito por métodos como Skrill ou PayPal. Há também quem tenha pago por Mbway. No site, recomenda-se uma stake (montante que é apostado) mínima de 50 euros. O negócio começou no verão de 2020, mas durou pouco mais de nove meses.
No último vídeo que disponibilizou no YouTube, Numeiro repondeu às questões levantadas pela petição pública e que estão relacionadas com este negócio. Nega que tenha tido qualquer envolvimento nos alegados esquemas de pirâmide (Forex ou criptomoedas) descritos na petição e que tenha escondido o serviço de apostas desportivas que estava a vender. Diz também que já fazia apostas “há vários anos” e que, a partir do verão do ano passado, começou a apostar “numa fórmula de empates”. Por ter corrido bem, lançou a Dynasty Bet Consulting, constituída por três pessoas: o youtuber e mais dois nomes, que permanecem por identificar.
[O vídeo que o youtuber fez para responder às denúncias que têm vindo a público]
https://www.youtube.com/watch?v=7GqfwCeKy2M&ab_channel=numeiro
Segundo Numeiro, o primeiro mês correu bem, o segundo “mais ou menos” e o terceiro “bem melhor do que o primeiro”. O problema aconteceu em novembro e dezembro: “Foram terríveis e anularam o que foi feito”, diz no mesmo vídeo. “Devia ter parado, tive a ambição de recuperar, limitei-me a parar a publicidade e a promoção”, confessa. Deu ainda outra garantia: nunca disse que era apostador profissional, não falsificou odds nem prometeu qualquer tipo de aliciamento. Ou seja, nega todas as acusações de que é alvo. “Já vivia bem e tinha dinheiro antes disto”, finaliza.
O Observador tentou contactar Numeiro, através do advogado Márcio Serafim Teixeira, que tinha representado o youtuber num artigo anterior. A indicação, no entanto, foi a de que, para este caso, seria o advogado André Matias Almeida o responsável por responder por João Barbosa — mal tal acabou por não acontecer. Numa nova indicação, passou a ser José Almeida Ribeiro, da agência Omertà — mas foi de novo um engano.
Pouco tempo depois, a Dynasty Bet Consulting responderia ao Observador, reforçando que as acusações “não tinham qualquer sentido” e que “vai agir contra todos os que a difamaram, exigindo todas as indemnizações a que acredita ter direito”. Nega também ter “qualquer conhecimento de investigação do Ministério Público” e que interpelará a instituição caso tenha sido aberto algum processo, demonstrando-se disponível para colaborar. Mais nenhuns esclarecimentos foram prestados.
Vamos às redes sociais. Numa primeira análise, percebe-se que existem algumas semelhanças com David GYT e Windoh (Diogo Figueiras), até porque surgem juntos em diferentes vídeos. Ou seja, parecem ser amigos. Contudo, numa entrevista que Diogo Figueiras deu recentemente à Notícias Magazine, este recusa falar de David GYT e não responde à pergunta que incide sobre a sua amizade com João Barbosa. “O que é ser amigo?”, respondeu.
A verdade é que há pontos em comum entre os três youtubers: têm negócios arriscados em áreas que movimentam muito dinheiro e aparentam (na internet) ter uma vida de luxo, com viagens paradisíacas e automóveis topo de gama. Mas, neste momento, no caso de Numeiro não existe qualquer referência a apostas desportivas nem à Dynasty Bet nas suas redes sociais. Nem no Twitter, nem no Facebook, Youtube ou Instagram.
[Veja o vídeo em que Numeiro e David GYT explicam como ganham dinheiro]
https://www.youtube.com/watch?v=OuLjehVx70I&ab_channel=numeiro
Atualmente, só mesmo acedendo a um dos grupos de Telegram do youtuber, criado a 12 de maio de 2020 e que conta com mais de dez mil subscritores, se consegue perceber o que estava a acontecer no seu negócio. Muitos greens (resultados positivos]), partilha de print screens (capturas de ecrã) de clientes satisfeitos e promessas de que o serviço não é para “quem está desesperado por fazer dinheiro à força toda”. A última publicação é de 23 de fevereiro deste ano.
A certa altura lê-se também o seguinte: “Estou cada vez mais certo e confiante de que vos posso oferecer este serviço com a garantia de que serão lucrativos a longo prazo”. Desde janeiro deste ano até ao fim do negócio que, tal como o próprio admite, só teve nove inscrições (“2.700 euros, o salário bruto de uma pessoa da empresa”, alega no vídeo de resposta). Antes, terão sido mais e terão registado perdas, segundo as acusações de que Numeiro é alvo.
Na conta pessoal de Instagram do youtuber, criada a 7 de outubro de 2018, Numeiro tem 296 mil seguidores. A publicação que fez, a 26 de janeiro deste ano, é um alerta para quem esteja a precisar de bens de primeira necessidade. A primeira publicação disponível data de 25 de janeiro de 2019.
Quanto à página oficial da Dynasty, com 22,5 mil seguidores, tem apenas três publicações. A primeira de 16 de julho do ano passado. Dos comentários disponíveis, há uma palavra comum: “Scam” (esquema). Na biografia, é-se encaminhado para um chat de WhastApp com o mesmo nome da empresa. Na verdade, as redes sociais do youtuber e da DynastyBet quase não têm registo de atividade nos últimos meses. O Observador questionou a empresa sobre isto, mas não obteve resposta.
“Tive prejuízos diários com a Dynasty. Quando apostei por mim recuperei o dinheiro”
“Já fazia apostas e algum dinheiro antes de entrar no serviço do Numeiro. Como o seguia, vi a publicidade, muitos greens, informação e promessas de um tratamento VIP. Pareceu-me uma boa alternativa, mas foi a pior decisão de sempre”. É assim que Gonçalo Mendonça, de 30 anos, que investe em mercados financeiros — não sendo essa a sua atividade profissional — explica ao Observador como foi a sua experiência com a Dynasty. Fez o contacto via WhastApp, pagou por Paypal. Chegou a ter uma folha na qual apontava os resultados, tal era o entusiasmo. “Nos últimos dias já não registava nada, estava conformado que nunca mais ia recuperar o dinheiro investido”, afirma.
O antigo cliente percebeu que os resultados negativos “raramente” surgiam publicados e que o acompanhamento “deixava muito a desejar”. Perdeu cerca de dois mil euros. Pagou apenas um mês. Quanto às odds mais altas conta que eram encontradas em casas de apostas menos confiáveis. Neste momento, está a ponderar falar com um advogado para perceber “se vale a pena fazer queixa”. “Mas, ao mesmo tempo, não me apetece gastar mais dinheiro nesta história”, diz.
Quanto a Nuno, de 25 anos, entrou no serviço em dezembro do ano passado, mesmo já fazendo apostas sozinho. Viu uma promoção de subscrição no valor de 99 euros por três meses. Mesmo tendo dúvidas e algum feedback negativo, decidiu entrar e pagou por MbWay — ou seja, não tem fatura.
Conta que, além da promoção, ficou de olho num passatempo, na altura do Natal do ano passado, de um BMW série 4, patrocinado por Numeiro nas suas redes sociais — e que muitos alegam que nem sequer chegou a ser entregue, apesar de nesta última quarta-feira, 17 de março, o youtuber ter feito uma publicação com a entrega do automóvel. “Não gostei da experiência, as apostas não eram certeiras frequentemente, causando prejuízos diários. Acabei por recuperar essas perdas apostando por mim, sem seguir as apostas do Numeiro”, conta.
Nuno chegou a perder 700 euros, mas recuperou-os. Ao Observador, critica ainda o atendimento ao cliente — uma pergunta demorou duas semanas a ser respondida. Dessas questões, destaca uma: o porquê de a Dynasty Bet Consulting colocar jogos para apostar em casas ilegais, ou seja, odds altas que não estão em casas de apostas legalizadas em Portugal. “Disseram-me que não podiam recomendar nenhum site para apostar e que o cliente é que geria”, diz.
Nuno também pediu tabelas mensais, para “ter noção do prejuízo em que todos os clientes se encontravam”, mas não chegou a ter resposta. Ou seja, ainda que o youtuber negue qualquer envolvimento com casas de apostas ilegais — apesar da referência a uma delas num dos vídeos –, há clientes que o contrariam. “O grupo de apostas recomendava, sim, sites de apostas ilegais com odds mais altas. É triste que apresentassem uma média irreal de lucros de 45%”, confessa.
Apesar de se sentir “lesado”, diz que não vai apresentar queixa às autoridades. “Nem pensei muito nisso até o Numeiro ser denunciado. E depois senti que, apesar de ele poder estar a cometer ilegalidades, não sabendo se o eram, sendo que cabia às autoridades investigá-lo, optei por não fazer queixa”, diz.
O Observador falou também com um rapaz de 19 anos, que preferiu manter o anonimato, e que também aproveitou uma promoção na época natalícia do ano passado. Pagou 140 euros para se inscrever, através do site, com cartão de crédito. A isso somaram-se mais 500 euros em apostas. No final, perdeu entre 800 e 900 euros. Confirma que, das publicações a que teve acesso, não havia uma sugestão direta de lucro fácil, mas nunca chegou sequer a perceber quem era a tal equipa certificada de que o youtuber falava.
“Sempre disse o contrário, mas mostrava o luxo e os lucros dos dias positivos”, diz ao Observador. Mesmo assim, deixou de seguir as sugestões de Numeiro quando as perdas já tinham atingido os 500 euros. Pretende ter um reembolso, mas também não vai apresentar queixa. “Fui burlado no preço e na qualidade do serviço, mas não me senti assim tão burlado para a apresentar”, garante. Quanto às odds, conta que, olhando para aplicação de apostas que usava (Placard), “eram muito mais baixas” do que as que a Dynasty aconselhava.
Sobre os resultados mensais alegadamente negativos, a página analisador_traders, que tem exposto vários youtubers como Numeiro, fez contas e alega que a Dynasty Bet Consulting, nos cerca de nove meses de atividade, registou prejuízos totais que rondam 3.124 euros, com perdas mensais, por cliente, a rondar os 440 euros. Segundo esta página, os piores meses serão aqueles que Numeiro afirma terem sido os mais difíceis. As contas feitas por esta página de Instagram — cujos autores não são públicos e conta com mais de 29 mil seguidores — não contabilizam os meses de janeiro e fevereiro e não são oficiais.
Tendo também em conta uma publicação de Instagram, Numeiro parece ter contratado um agente de segurança privada durante um curto período de tempo em 2020. O Observador questionou o youtuber (através da sua empresa) sobre esta questão, mas até à publicação deste artigo não obteve resposta.
Consultoria em apostas desportivas: o SRIJ não pode atuar, mas devia?
Para procurar esclarecer se o negócio de João Barbosa poderia estar a incorrer em práticas ilícitas, o Observador contactou o SRIJ, que “exerce as funções de controlo, inspeção e regulação sobre as entidades às quais foi atribuída licença para exploração de jogos e apostas online”. “Sobre a atividade de consultoria de apostas desportivas, conforme desenvolvida pelo referido youtuber, a mesma encontra-se fora da esfera de intervenção do SRIJ”, respondeu ao Observador. Ou seja, sobre Numeiro pouco ou nenhum esclarecimento deu, porque diz não ser da sua competência.
O Observador também contactou a Associação Portuguesa de Apostas e Jogos Online que nega ter recebido qualquer queixa — ou ter feito uma — relativa ao serviço de Numeiro e remeteu mais esclarecimentos para o SRIJ, que é quem tem competência reguladora nesta área. Quanto à publicidade direta ou indireta a sites de jogo ilegal, que foi alvo de uma reportagem da Rádio Renascença em 2019, o SRIJ, sem se referir ao caso em concreto, revela que “já foram removidos mais de uma centena de vídeos que efetuavam apelo ao jogo em sites de jogo ilegal”.
É importante fazer uma distinção: há dois anos, vários youtubers estariam a produzir conteúdo associado (e patrocinado) por casas de apostas ilegais; já João Barbosa poderá ter direcionado os seus clientes para essas casas, mas sem uma promoção direta. Contudo, tal como dito no início, há pelo menos um vídeo online em que o youtuber confessa ter sido patrocinado por uma casa de apostas ilegal em Portugal.
Quanto a leis, é importante destacar duas: o Código de Publicidade (artigo 21º do decreto lei 330/90), onde estão as regras sobre publicidade ao jogo e apostas; e o Regime Jurídico dos Jogos e Apostas online (decreto-lei 66/2015), onde se incluem as multas — ou penas de prisão — para quem não esteja devidamente autorizado a explorar, promover, organizar ou consentir a exploração de jogos e apostas online.
Neste caso, se o SRIJ não pode intervir, quem pode? Se a consultoria em apostas desportivas não é regulada no país — e também não é ilegal per si–, não existe uma entidade específica que garanta a sua supervisão. Restam as outras autoridades: Ministério Público e os tribunais, por exemplo, ou no caso de queixas/denúncias de alegados crimes, a Polícia Judiciária.
Contudo, ao que o Observador apurou, caso o SRIJ tenha conhecimento de que uma pessoa está a promover uma casa de apostas ilegal, pode tomar medidas perante o operador ou a pessoa em causa, nem que seja reportar o caso, para que seja instaurado um procedimento criminal. Para já, e recusando-se a responder a mais questões, o SRIJ parece não querer intervir mais.
Depois, só existe burla caso se comprovem as acusações de odds manipuladas e promoção indireta a casas de apostas não licenciadas, por exemplo. “Poderá estar em causa o crime de burla, isto se, a pessoa em questão, com a intenção de obter para si (ou para terceiro) enriquecimento ilegítimo, por meio de erro ou engano sobre factos que astuciosamente provocou, determinar a outras pessoas a atos que lhes causem prejuízo patrimonial”, afirma ao Observador o advogado Filipe Mayer, da CCA Law Firm.
Portanto, é necessário provar essa intenção para se perceber se está a incorrer numa prática criminal. “Ora, quem surge no espaço público a sugerir apostas em operadores ilegais mais não está do que a promover o jogo não licenciado, logo, está a praticar um crime.”, diz Filipe Mayer, que garante não ter assistido a nenhum conteúdo do youtuber relacionado com este tema.
No entanto, tal como explica o advogado ouvido pelo Observador, é necessário entender que o facto de um influenciador promover unicamente resultados positivos não quer dizer que queira enganar outras pessoas. E também é verdade que nos grupos de Telegram e WhatsApp, a Dynasty revelou aos clientes ter tido dias menos positivos.
Só que a promoção do jogo tem regras bem apertadas, especialmente para proteger menores de idade, bem como outros grupos de risco. “A promoção do jogo deve privilegiar o aspeto lúdico da atividade, não menosprezando os não jogadores, não apelando a aspetos que prendam com a obtenção fácil de um ganho, não sugerindo sucesso, êxito social ou especiais aptidões por efeito do jogo, nem encorajando práticas excessivas de jogo ou apostas”, finaliza Filipe Mayer, citando as leis anteriormente referidas.
“É uma chico-espertice em apostas”
Tito de Morais pertence ao projeto “Miúdos Seguros na Net”, que ajuda “famílias, escolas e comunidades a promover a segurança online de crianças e jovens”. Alega que teve conhecimento do negócio do youtuber português, não conseguindo, por isso, considerá-lo um serviço de consultoria. “É um eufemismo para chico-espertice em apostas desportivas tal como aconteceu com a promoção direta de casinos por parte de youtubers, que não passava de publicidade camuflada. Uma prática nada ética e ilegal”, refere.
Por outro lado, confessa que não tem elementos para comprovar que Numeiro tenha aliciado jovens clientes a apostar em casas ilegais. Quanto à acusação da existência de menores de idade terem entrado na Dynasty, deixa uma pergunta: “Onde é que um menor de idade arranja 300 euros para fazer apostas?”. A pergunta só poderá ser respondida pelos próprios pais.
Sem ter conhecimento de casos concretos remete possíveis denúncias para o SRIJ. Mas deixa um aviso aos pais: “Importa prevenir e não apenas remediar. É importante para os pais que controlem a sua própria ganância porque os filhos modelam todos os comportamentos dos pais e do grupo”. E claro, nunca ceder os dados bancários ou guardar informações financeiras nos dispositivos tecnológicos dos filhos.
Já o psicólogo Pedro Hubert, do Instituto de Apoio ao Jogador, sem se referir ao caso em concreto, tem dúvidas de que “quem ganha dinheiro com apostas vá dar aulas a ensinar como é que se deve fazer para se ganhar”. Por outro lado, fala também de um “aliciamento não direto” por parte dos youtubers através das redes sociais, que se liga com a tal promoção de uma vida luxuosa. “Estão constantemente a ser assediados com uma promoção de um estilo de vida: ‘Eu já ganhei isto, ando com este automóvel, consigo ter uma vida que os outros que trabalham o dia todo não conseguem”, refere.
Quanto à possibilidade de menores terem entrado na Dynasty — algo negado pela empresa ao Observador –, Pedro Hubert inverte o sentido dessa hipótese: mesmo que não possam subscrever, “já estão a ser aliciados, assim que fizerem 18 anos estão convencidos de que se conseguem safar com apostas, o que acaba por ter até reflexos nos resultados escolares”, afirma ao Observador.
Para o psicólogo, a lei de 2015 não é suficiente. Diz que é preciso mais regularização, mas não a proibição. Aliás, chegou mesmo pedir sugestões aos seus pacientes para depois indicar ao SRIJ de forma a tornar os “jogos de azar” cada vez mais responsáveis. Foram unânimes: todos referiram a publicidade como um problema a resolver.
Sobre os pais, há quem esteja “completamente a leste” do que os filhos fazem ou veem. “Há muita falta de informação, há pais mais jovens que dão carta branca aos filhos. As empresas e youtubers que estão envolvidos nesta área deviam promover um tipo de jogo responsável”, finaliza.