Alexandre Poço anunciou, a 6 de janeiro, que tinha decidido “suspender as funções de vereador na Câmara Municipal de Oeiras”, no dia anterior, considerando “não reunir condições para a continuidade do mandato”. Também o nome que se seguia, Gonçalo Costa, tomou uma decisão no mesmo sentido, tendo sido a social-democrata Susana Duarte a assumir o lugar vago na autarquia. Cerca de um mês depois, a 14 de fevereiro, Susana Duarte assinou com a mãe de Alexandre Poço um contrato de prestação de serviços de “assessoria técnica e política” por um prazo de onze meses.
O contrato, de 16.500 euros, isto é, 1.500 euros por mês (a que se somam 23% de IVA) foi assinado com Maria Antónia Silva e, ao Observador, o gabinete do PSD rejeita qualquer relação entre a suspensão de mandato de Poço e a contratação da mãe do líder da JSD. “Não teve a mais remota correlação com esta situação [de contratação]”, diz o gabinete que admite, ainda assim, não ter consultado outras pessoas para o mesmo cargo.
Segundo o contrato, Maria Antónia Silva foi selecionada para “serviços de assessoria técnica especializada ao gabinete da Sra. Vereadora Susana Isabel Duarte, em regime de avença”, mas o gabinete do PSD responde ao Observador que se trata de uma “secretária para desempenhar funções de secretariado num gabinete político de apoio à vereação do PSD”.
Para a seleção da funcionária, esclarece o gabinete social-democrata em Oeiras, contou a “confiança política por parte da vereadora do PSD assim como o currículo com mais de duas décadas de experiência profissional em secretariado e assessoria em várias empresas”. Maria Antónia Silva “é militante do PSD há praticamente uma década” e “é uma militante empenhada do PSD, ativa e comprometida com a vida partidária, e é uma cidadã interventiva na vida cívica no concelho de Oeiras.”
Maria Antónia Silva integrou, aliás, em várias ocasiões, as listas do PSD a órgãos autárquicos no concelho de Oeiras. Nas últimas autárquicas, quando o filho concorria à autarquia de Oeiras, Maria Antónia foi um dos nomes que o PSD apresentou na lista candidata à Assembleia de Freguesia de Porto Salvo. Também em 2017 tinha integrado a lista de candidatos ao mesmo órgão na freguesia de Porto Salvo, embora à data estivesse na condição de suplente.
O gabinete do PSD em Oeiras frisa ainda que “Maria Antónia Silva apoiou e participou ativamente nas três últimas campanhas eleitorais das candidaturas lideradas pelo PSD no concelho de Oeiras, desde 2013”, onde se inclui, naturalmente, a do filho Alexandre Poço nas últimas eleições autárquicas, em setembro 201.
“Existe assim uma relação pessoal e política consolidada e estabelecida com as restantes pessoas que compõem o gabinete de apoio à vereação do PSD”, considera o gabinete da vereadora Susana Duarte.
Susana Duarte é uma velha conhecida de Alexandre Poço, tendo caminhado ao lado do atual líder da JSD nas estruturas do partido durante muitos anos. Próximos da cúpula da juventude social-democrata entre 2016 e 2020, no último mandato de Simão Ribeiro e o de Margarida Balseiro Lopes, Susana Duarte teve, por exemplo, funções na direção administrativa e financeira da JSD, enquanto Poço era vice-presidente.
O Observador contactou Alexandre Poço, mas não foi possível obter ainda uma reação do líder da JSD à contratação feita pelo gabinete do PSD na autarquia de Oeiras.
Poço prometeu “dar tudo por Oeiras”, mas acabou a suspender o mandato
A campanha que começou com um cartaz de meias cor de laranja e levou o líder da JSD a saltar de avião prometia um forte compromisso de Alexandre Poço com os oeirenses, mas a “relação séria” apregoada não foi além dos quatro meses. Depois de falhar, tal como as sondagens sempre apontaram, a eleição para a presidência da câmara municipal, Poço manteve-se apenas até ao início de janeiro nos corredores da autarquia que continuou nas mãos de Isaltino Morais.
Durante os dois meses de campanha eleitoral, Alexandre Poço recusava a ideia de que a vitória de Isaltino Morais em Oeiras estava garantida e repetia o mantra de “dar tudo por Oeiras” para tentar mostrar que havia uma alternativa no município. “Nada é eterno, não há terras nem sítios de um homem só”, disse na apresentação da candidatura, numa referência a Isaltino Morais que, a 21 de setembro conseguiu a reeleição sem dificuldade.
Certo é que, de facto, não “correu bem”, como Poço suspirava e Isaltino Morais conseguiu uma esmagadora maioria em Oeiras. Com oito vereadores da lista de Isaltino, sobraram apenas três lugares no executivo para a oposição. Foram divididos irmãmente pelo PS, PSD e pela Coligação Evoluir Oeiras (do Livre, Bloco de Esquerda e Volt).
Com Alexandre Poço a cabeça de lista, a não ter intenção de aceitar os pelouros delegados por Isaltino Morais, a solução do líder da JSD (e do número dois da lista) foi suspender o mandato logo em janeiro. A concelhia do PSD de Oeiras publicou, no mesmo dia, em que Poço anunciou a suspensão do mandato que “aceitava os pelouros” que Isaltino Morais tinha “manifestado vontade em delegar na vereação do Partido Social Democrata”.
Em resultado, Susana Duarte assumiu o cargo de vereadora com os pelouros das Feiras e Mercados, Cemitérios e Atividades Económicas que Alexandre Poço não quis assumir, continuando com o mandato de deputado na Assembleia da República.
Entretanto, com a chegada de Luís Montenegro (que Alexandre Poço apoiou) à liderança do PSD, o líder da JSD subiu na estrutura da bancada parlamentar. Na nova composição, Poço foi proposto pelo líder e eleito como um dos vice-presidentes da bancada — que teve de mudar os estatutos para ser possível passar a ter 12 vice-presidentes (um dos dois novos era precisamente o líder da JSD).