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Os 11 milhões de euros de investimento que o Governo manteve na Web Summit — apesar da cláusula contratual que permitia abdicar deste montante sem que houvesse violação do contrato — eram a polémica do dia. Mas sobre eles, Paddy Cosgrave disse apenas que não se ia “envolver em nenhuma política interna”, que as pessoas “são livres de interpretar o contrato como desejarem” e que, apesar do investimento do Governo numa edição 100% online, esta seria a Web Summit “mais cara” e “mais devastadora” de sempre. Porquê? Porque implica um investimento de perto de mais de 20 milhões de euros (e 250 pessoas) no software — software esse que vai distribuir gratuitamente a alguns dos maiores eventos de tecnologia no próximo ano.
Em 2021, os planos passam por fazer um evento híbrido (70 mil pessoas em Lisboa e 80 mil online) — cenário que o irlandês de 37 anos não considera irrealista — e para o ano seguinte a ambição é maior: ter estrelas e realizadores de cinema nas ruas de Lisboa; e mais de 100 mil pessoas no Altice Arena e naquela que será a nova FIL (se a Câmara Municipal de Lisboa e a FIL chegarem a acordo). Quando questionado sobre como pode garantir às startups que não vão perder nada com a experiência online, respondeu com a “dura realidade”: “Ir à Web Summit nunca garantiu a ninguém que ia conseguir investimento”, disse. E acrescentou logo de seguida: “Não me vou sentar aqui e dizer que lá porque vais à Web Summit o mundo vai mudar para ti. Não vai. É incrivelmente competitivo”.
Em 2018, Paddy Cosgrave assinou um acordo com o Governo português para manter a Web Summit em Lisboa por 10 anos. Em troca, recebe um investimento de 11 milhões de euros por ano, financiado pelo Turismo de Portugal, IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação, I.P. e Fundo de Desenvolvimento Turístico de Lisboa (alimentado pelas receitas geradas pela taxa turística paga por quem visita a capital portuguesa). Três milhões são atribuídos pelo município de Lisboa. A cláusula de rescisão do contrato é de 340 milhões por cada ano não cumprido. A edição deste ano decorre entre 2 e 4 de dezembro num formato exclusivamente online.
Um festival de cinema na Web Summit 2022? “Seria incrível ter estrelas e realizadores nas ruas de Lisboa”
A Web Summit vai ser exclusivamente online este ano. Isto é mesmo uma exceção ou é o futuro dos eventos?
Não acho que seja o futuro dos eventos. Acho que é a melhor mundo possível numa pandemia. E somos a única grande conferência do mundo a fazer algo online. Todas as outras grandes conferências de tecnologia foram canceladas no mundo real e não houve nenhuma alternativa para fazerem algo com escala, online. Por isso, estou pessoalmente muito orgulhoso da equipa. Temos 250 pessoas que trabalharam sem parar durante nove, dez meses para que tudo isto acontecesse.
Mas acha que as pessoas vão continuar a querer ir a conferências como faziam num mundo pré-pandémico? Agora que perceberam que conseguem ver tudo no computador?
A minha opinião era a de que isso ainda levaria algum tempo, mas depois os dados que nos chegaram da China e da parte este da Ásia sugeriram o oposto: que, quando as restrições são levantadas, as pessoas querem ir mais a restaurantes, mais do que iam antes, querem socializar com amigos mais do que antes. E os dados da China, em particular, mostram-nos que as conferências estão mais ativas agora do que estavam antes da Covid-19.
Então, não tem medo?
Não, acho que a Web Summit 2021 vai ser provavelmente… Bem, o evento não vai aumentar de tamanho, por isso não vai poder receber mais pessoas, mas em 2022 talvez tenhamos mais de 100 mil pessoas em Lisboa.
Em relação à edição do próximo ano, li na Reuters que espera receber 70 mil pessoas em Lisboa e outras 80 mil online, numa espécie de evento híbrido. Mas isto é realista? Não é otimista? Com tanta incerteza que ainda existe sobre a pandemia, acha que é possível receber 70 mil pessoas em Lisboa?
Ouvindo os cientistas, não diria isso se o evento decorresse em março ou abril. Sei que há alguns cientistas nos EUA e na Europa que afirmam que vamos estar perto daquilo a que se chama imunidade coletiva, devido à vacina em março ou abril. Não sou cientista, mas parece-me muito otimista. Talvez junho seja razoável, mas acho que em novembro há uma hipótese mesmo muito boa de isso acontecer.
E como vai ser essa Web Summit 2021? Planeia mudanças ou será como as edições pré-2020?
Seguiremos, claro, as orientações das autoridades de saúde, sejam elas a nível europeu ou de Portugal. Se ainda for obrigatório andar de máscara, claro que as pessoas vão ter de andar de máscara. Em relação ao evento em si, este ano acrescentámos muitas coisas relacionadas com o cinema. Vamos ter o Ridley Scott — adoro sci-fi e tenho de admitir que ele é, para mim, um dos maiores cineastas dos últimos tempos — e mais atores, mais do que alguma vez tivemos. Em 2022, gostava de ter uma grande componente de cinema em Lisboa, ao mesmo tempo [da Web Summit]. Pode ser um festival de cinema, pode ser algo sobre o futuro da indústria cinematográfica. Seria incrível ter estrelas de cinema e realizadores pelas ruas de Lisboa.
Os 11 milhões de investimento do Governo na “Web Summit mais cara” de sempre
A edição de 2020 vai ser totalmente online, mas quem é que tomou esta decisão? Quem deu a última palavra? Foi o Paddy? O Governo português?
Acho que a pandemia tomou a decisão por nós. Na altura do verão, estava otimista. Estava otimista de que quando a primeira vaga tivesse acabado… E acho que muitos países na Europa estavam otimistas de que, no outono, a normalidade estaria a regressar, como estava a acontecer na Nova Zelândia, na Austrália, Taiwan, Coreia… Mas, infelizmente, a segunda vaga, que em muitos casos foi pior do que a primeira, tomou a decisão. Por isso, a decisão foi mesmo tomada pela Covid-19.
Sim, a Covid-19 acabou por tomar a decisão, mas acredito que houve negociações entre a Web Summit e o Governo para encontrar a melhor alternativa. E também li que até chegou a ter propostas de outros países para levar o evento para fora de Portugal. Está correto?
Sim, nunca levámos essas propostas a sério, porque sempre tivemos a ambição de que, ao contrário das outras grandes conferências que cancelaram totalmente as suas edições em 2020, ainda podíamos fazer algo online. Algo que seria bom o suficiente para atrair oradores brilhantes, dezenas de milhares de participantes. E isso parece ter acontecido. O alinhamento de oradores é magnífico, nunca tivemos tantas startups portuguesas a participar, nem tanto comissários europeus. Nem tantos ministros e primeiros-ministros do mundo todo. Por isso…
Sim, mas nenhuma destas pessoas estará aqui em Lisboa. Por isso, será diferente.
Absolutamente.
O Paddy assinou um acordo com o Governo e a Câmara Municipal de Lisboa que prevê um investimento anual de 11 milhões de euros. Este montante chegou a ser negociado nos últimos meses?
Li nos últimos dias na imprensa que a oposição levantou esta questão. E a minha resposta é que acho importante que, em qualquer país, a oposição esteja a tentar dificultar a vida dos governos, levantando questões, mas não me vou envolver em nenhuma política interna, aqui de Portugal.
Mas houve alguma tentativa, da parte do governo português, de renegociar este valor?
Para mim, a grande questão era se íamos ter o evento ou não. E decidimos fazer o evento com um custo massivo. A Web Summit vai perder perto de 30 milhões de euros este ano, tornando-se na Web Summit mais cara e mais devastadora. Teria-nos custado muito menos não fazer o evento, mas investimos grandes quantias de dinheiro para tornar isto possível: mais de 20 milhões de euros. Vai ser um ano terrível, mas acho que fazer o evento é a decisão certa.
Um dos argumentos da oposição é o de que o acordo tem uma cláusula que diz que, numa situação como esta, de pandemia, em caso de incumprimento, “a parte afetada não será considerada como tendo violado” o contrato, “nem será responsabilizada por qualquer incumprimento ou atraso no cumprimento das suas obrigações”. Isto quer dizer que se o Governo tivesse decidido não pagar estes 11 milhões isto não seria uma violação do contrato. Por isso, isto podia ter sido acionado e não foi. Porque não?
Está a citar o contrato de uma forma selecionada, mas existem outros parágrafos que também são muito importantes e que estão disponíveis publicamente, para qualquer pessoa os consultar. Em relação à interpretação do contrato… Acho que os jornalistas e outros são livres de interpretar o contrato como desejarem. E acho importante que estes assuntos sejam discutidos e debatidos.
Há pouco falava do grande investimento que fez na plataforma, mas também li na Reuters que já está a planear vender — não sei se vender é o termo mais indicado — mas li que estaria a planear vender a plataforma a outros eventos por 6 milhões de euros. Portanto, este investimento vai ter um retorno, os custos de fazer uma edição online não são os mesmos de fazer uma edição em Lisboa. E os negócios de Lisboa que todos os anos beneficiam de ter a Web Summit, este ano, não vão ter esses benefícios.
O artigo da Reuters não citou bem o que disse [à jornalista]. Houve alguém que nos ofereceu 6,5 milhões de euros para usar o software, mas vamos anunciar na Web Summit que vamos disponibilizar este software de forma gratuita a alguns dos maiores eventos do mundo, em 2021. Por isso, a questão era legítima se a citação da Reuters estivesse correta, mas não representa bem aquilo que disse.
Ok, mas está a pensar ajudar os negócios portugueses de outra forma, então?
Sim, claro. No decorrer da Web Summit, por exemplo. Mas vamos começar pela base. Alocámos mais de 50 mil bilhetes a estudantes. Percebi que há meio milhão de estudantes nas universidades em Portugal. Não vamos chegar a toda a gente, mas acho que é um grande número de bilhetes que custam 220 euros. É um custo massivo de oportunidade para nós, de 10 ou 11 milhões de euros. E espero que alguns destes estudantes passem um bom bocado, que se inspirem para lançar negócios ou que encontrem boas empresas portuguesas para onde possam ir trabalhar. Há mais empresas portuguesas a participar na Web Summit, em todos os nossos programas, sem custos. E essas empresas têm muitas mais reuniões marcadas com investidores internacionais e jornalistas e empresas do que antes. É suficiente? Não. Não conseguimos resolver a crise que estamos todos a viver, mas acho que estamos a fazer um esforço bom e justo. E estes são apenas alguns dos programas. Há muitos outros para ajudar as empresas portuguesas bem como facilitar milhares de reuniões entre instituições portuguesas, agências do governo, políticos, empresas internacionais, jornalistas e investidores por todo o mundo.
Quantos bilhetes vendeu para esta Web Summit?
Estes últimos dias são os mais concorridos, como vimos no evento online de junho, o Collision. Por isso, espero dar-vos um número final na quarta-feira.
Guerra entre a FIL e a CML: “O que sei é que está tudo bem e que não tenho razões para me preocupar”
Noutro tópico, que também é importante, uma das notícias mais recentes dizia que a FIL e a Câmara Municipal de Lisboa ainda não tinham chegado a um acordo sobre a expansão que a Web Summit quer que aconteça na FIL para ficar em Lisboa. Se não chegarem a um acordo, o que pode acontecer? Considera sair de Lisboa?
Isso é uma questão hipotética. Tendo a focar-me naquilo que sei no presente e aquilo que sei é que está tudo bem, que não tenho razões para me preocupar e que, hipoteticamente, no futuro, muitas coisas podem acontecer: a vacina pode não funcionar, apesar das atuais evidências, e pode nem sequer haver a possibilidade de fazer o evento em Lisboa durante mais dois ou três anos. Mas isto é tudo hipotético.
Apesar de no próximo ano esperar o mesmo número de pessoas das últimas edições, em 2022 já espera ter mais de 100 mil pessoas. E para isso é preciso ter uma FIL maior ou um outro espaço maior que acolha o evento. Está confiante de que isso vai mesmo acontecer?
Sim, acho que sim. O maior evento da Europa foi construído em 23 meses. Chama-se Fiera Milano e tem 500 mil metros quadrados, que é 10 vezes o tamanho da FIL como está agora. Foi construído em 23 meses com duas estações subterrâneas e uma estação de comboio no meio. E também construíram hotéis. A construção deste tipo de projetos em muitos outros países são feitos muito, muito rapidamente, porque a complexidade não é particularmente elevada. Tenho confiança de que a velocidade da construção [em Portugal] vá ser semelhante à de outros sítios na Europa.
Também disse que está a planear lançar outro evento na Ásia e já anunciou outro no Brasil. Estava aqui a pensar se este amor que tem por Lisboa vai ser de facto suficiente para manter este casamento a funcionar até 2028…
O meu pressentimento é o de que vai prolongar-se para lá de 2028. Tenho esperança que isso aconteça. Temos muitos portugueses a trabalhar para nós em Lisboa, no Porto e noutros escritórios à volta do mundo. Acho que a Web Summit se enquadra mesmo com a marca de Lisboa, mas também com a de Portugal. E espero que em 2038 ou 2048, se ainda estiver por cá, a Web Summit ainda se realize em Lisboa.
Voltando a esta pandemia, a verdade é que fez com que todos nós, no mundo todo, usássemos cada vez mais tecnologia e que a nossa vida fosse ainda mais digitalizada. A que custo? Porque isto é bom, mas também pode ter várias consequências. Concorda?
Sim, consequências enormes. Na Irlanda, sei que a depressão e a ansiedade aumentou massivamente. A prescrição dos medicamentos usados para lidar com estas situações também aumentou. Existe uma pandemia, mas também existe uma epidemia de solidão, depressão e ansiedade. E acho que quanto mais depressa nos permitirem voltar a estar todos juntos, para celebrar e estar com a família e amigos, apenas para jantarmos ou almoçarmos ao fim de semana, melhor.
Qual é a sua opinião sobre as apps de rastreio de contactos? São eficientes?
Organizo uma conferência, mas não sou um especialista. E acho que há muitos especialistas e emergir em todo o lado, na Europa e pelo mundo todo, para falar sobre isso.
Sim, mas acredito que seja um especialista em tecnologia. Por isso, acha que havia outras formas de a tecnologia ser usada para evitar a propagação da Covid-19?
É uma boa pergunta. Acho que se responde comparando o sucesso relativo de diferentes países e as suas abordagens e acho que quando chegarmos a 2022 vão emergir muitas aprendizagens, das melhores práticas. E não tenho dúvidas de que se pegares na Europa, vai haver 30 coisas que cada um dos países devia fazer. E talvez todo os países europeus tenham feito uma coisa melhor do que os outros. E há sempre coisas em que os países podem melhorar, mas, às vezes, por razões de geografias, fronteiras, alguns podem fazer coisas que para outros são mais difíceis. Por exemplo, se partilhares uma fronteira terrestre com outro país é muito difícil controlar o movimento na fronteira. Se fores uma ilha como a Islândia, Singapura ou Taiwan, Austrália ou Nova Zelândia, acho que pode ser um caso diferente. É mais fácil, porque não tens uma fronteira terrestre.
Está a construir esta grande plataforma para eventos online, para a qual já teve uma oferta de 6 milhões de euros. Não tem receio de estar a desenvolver aquilo que vai matar o seu primeiro negócio?
É uma boa questão. Houve momentos em que me perguntei como é que o mundo seria quando as pessoas voltassem para a vida normal. E há uma resposta a essa pergunta, que é a China. O que aconteceu às videochamadas e conferências online? Caíram de forma dramática e as interações no mundo real aumentaram acima dos níveis pré-covid. Parece que o choque da pandemia reforçou nas nossas mentes o quão importante a interação social é. De facto, devíamos ver os nossos pais mais vezes ou devíamos passar mais tempo com amigos. A minha expectativa é a de que, em 2021 ou em 2022 (mas acho que já em 2021), teremos a maior e mais sustentada festa desde, provavelmente, 1946, porque temos estado todos a viver um período muito difícil, muito isolado, muito deprimido. E a última coisa que vamos querer fazer é estar a perder mais tempo com tecnologia. Vamos querer passar mais tempo uns com os outros.
E as pessoas vão querer passar esse tempo numa conferência de tecnologia?
Na China, passaram, sem dúvida. E noutros países da parte este da Ásia. É por isso que as ações das maiores empresas organizadoras de eventos, apesar de não terem organizado evento nenhum, voltaram aos preços de 2019, de um mundo pré-covid. E isto diz-te que pelo menos alguns dos investidores mais inteligentes do mundo acham que aquilo que estão a ver na Ásia, em países que já regressaram ao normal, vai ser igual na Europa e nos EUA. Acho que estas conclusões são suportadas por provas e são conclusões razoáveis.
“O resultado de quase todas as startups é o fracasso. E isto pode estar a soar muito sombrio, mas é a dura realidade”
Disse, antes, que afinal não está a planear vender este software, que vai ser gratuito, mas isto significa que não vai ter retorno deste investimento. Não está a planear ganhar dinheiro com isto?
Para nós é uma questão de longo prazo, de construir relações com outras conferências grandes e de as ajudar num momento em que não têm outra alternativa. Parte da razão pela qual nenhuma grande conferência foi capaz de ter um evento online é porque o custo de desenvolverem o software é tão elevado, os requerimentos técnicos e o tamanho da equipa que precisas, tudo isso é tão elevado que nenhuma foi capaz de o fazer. Fomos os únicos. Corremos um grande risco, porque fizemos um investimento massivo para tornar a Web Summit deste ano possível, mas acho que, no longo prazo, criar estas relações com outras grandes conferências abre a porta para que possamos fazer mais com estes eventos. Por isso, quando o mundo real regressar, os eventos online não vão ser assim tão valiosos para as grandes empresas. Para pequenos eventos e webinares, acho que é uma grande oportunidade, mas as grandes CES ou Mobile World Congress estão a voltar ao mundo real. E adoraríamos poder ajudá-los com os registos, as apps para os participantes, para as empresas que vão expôr. E já temos isso tudo construído há mais de uma década, antes de a pandemia ter acontecido. E, na minha opinião, é aí que está o verdadeiro valor, não é em disponibilizar o software para estas grandes conferências online.
A Web Summit está a planear várias coisas para que os empreendedores não sintam a falta de nada no evento online, mas como é que, na verdade, pode garantir isso? Porque é difícil quando não há a experiência cara a cara, que permita falar com investidores, mostrar o produto. Não receia que se percam coisas com esta experiência online?
O investimento em startups não parou durante a pandemia. E os investidores estão a tomar decisões na base de não se encontrarem com as pessoas. Por isso, a dinâmica de as startups fazerem o pitch a investidores e os investidores tomarem a decisão de investir não mudou. E isso é bom para as startups. O que nós sabemos do nosso último evento, o Collision, em junho, que decorreu nesta nossa plataforma, é que por causa da plataforma é mais eficiente para as startups conhecerem mais investidores. Consegues conhecer mais investidores no decorrer destes três dias. Esses investidores continuam a investir, mas concordo plenamente que o sentido humano de conhecer um investidor cara a cara é insubstituível. Com isto dito, estes investidores recebem dinheiro de outros investidores e ainda estão a investir. Independentemente do que possa acontecer, eles precisam de encontrar startups. E as startups têm encontrado investidores durante a pandemia e vice-versa, em videochamadas. E é isso que estamos a facilitar.
Ir à Web Summit nunca garantiu a ninguém que ia conseguir investimento. É muito, muito competitivo. Nove em dez, ou 19 em 20 startups que encontram investimento não têm sucesso. Acho que é de doidos lançar uma empresa. É uma ideia louca, porque as probabilidades dizem que o mais provável é que nunca vás conseguir investimento. Se encontrares investimento — e nem sequer é absolutamente necessário que encontres investimento, mas muitas vezes é a única opção que tens para sobreviveres –, digamos que isso acontece na Web Summit, as probabilidades dizem-nos que não vais sobreviver mais um ano ou dois. E admiro as pessoas que estão dispostas a correr esse risco. Mas não me vou sentar aqui e dizer que lá porque vais à Web Summit o mundo vai mudar para ti. Não vai. É incrivelmente competitivo. Isso muda, todos os anos, para algumas startups que vêm à Web Summit? Absolutamente. Mas nunca subo ao palco e tento fingir que vai ser esse o resultado final para cada uma das startups. O resultado de quase todas as startups é o fracasso. E isto pode estar a soar muito sombrio, mas é a dura realidade. É como o futebol. Todos os adolescentes têm este sonho de jogar na final da Liga dos Campeões e isso acaba em falhanço para milhões de crianças, todos os anos, pelo mundo fora. E não é diferente com as startups. Exceto o facto de, neste caso, as pessoas não estarem a investir o seu tempo, estão a investir tempo e dinheiro. E são adultos, regra geral. E as consequências do falhanço são muito mais sérias…
E essa é uma diferença muito grande…
De qualquer forma, estou a tentar dissuadir as pessoas de serem empreendedoras. Mas admiro realmente que agarram a oportunidade de construírem algo.
E diz isto tendo em conta que é o fundador de um grande evento de empreendedorismo e tecnologia.
Sim, porque é o que é responsável dizer. Porque é a realidade. Muitos dos meus amigos eram atletas profissionais em muitos desportos e mesmo que tenham chegado perto do topo do seu desporto foi muito duro. Não é fácil. Cristiano Ronaldo faz com que pareça fácil, mas vai às academias… Parece uma luta de cães apenas para passar da academia para uma equipa. É isto é o mesmo que ter uma startup. Sim, podes argumentar que a Web Summit é a liga dos campeões das startups. Tens as melhores startups e os melhores investidores no mundo, e os melhores jornalistas do mundo, mas é uma luta para qualquer pessoa sobreviver no primeiro ano, quanto mais no segundo e no terceiro.
Tenho uma pergunta final muito rápida: qual é a pior coisa que pode acontecer à Web Summit de 2020?
Acho que a pior coisa que pode acontecer é… A Cisco e a Altice tentaram certificar-se smpre que o Wi-Fi funcionava sem perturbações e tem sido incrível. Mas agora a responsabilidade está em todos os nossos participantes, que se certifiquem de que o seu Wi-Fi está a funcionar bem durante todo o tempo. Por isso, acho que grande parte das coisas que podem acontecer vão ter a ver com as casas das pessoas, mas esperamos que tudo funcione bem para toda a gente. E que tenha uma boa Web Summit.