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DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Jorge Moreira da Silva, que vai a eleições contra Luís Montenegro. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 Gaia, Porto JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR
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JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR

JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR

Os bastidores da campanha de Moreira da Silva. A turbulência pró-Montenegro, quilos de feijão-frade e um exército de 'Moreiminions'

Moreira da Silva não tem estruturas, mas um exército de voluntários a trabalhar em call centers e redes sociais. Em busca do voto livre, de carro ou avião, insiste que a sua maior arma é a conversa.

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Assim que se desliga o sinal luminoso do cinto de segurança, Jorge Moreira da Silva, no lugar junto à janela do avião, liga o computador e começa a teclar: “Estou a escrever uma carta aos militantes de Famalicão”. A missão é difícil: convencer os companheiros da sua terra, a terceira maior concelhia do país, de que é o melhor candidato à liderança do PSD. A meio do processo, a turbulência decide ajudar Luís Montenegro, mas o antigo ministro do Ambiente não desiste e termina a tarefa. Perdeu um apoio, mas desta vez foi só o do assento. Jorge Moreira da Silva vai agindo como se estivesse nas nuvens — e estava, no sentido literal — com uma confiança inabalável de que vai ganhar. Os pés não estão, neste caso, bem assentes na terra.

Votómetro Liderança PSD 2022

Jorge Moreira da Silva prossegue bem humorado (“estou animado”, é das frases que mais repete) apesar de o seu adversário nas diretas do PSD continuar a somar importantes apoios em distritais. Na manga que dava acesso ao avião, o candidato percebe que o ex-ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, vai no mesmo voo e comenta com o Observador: “Era a surpresa que tinha para hoje: vai ser o meu mandatário económico“. É uma graça, que mostra o seu estado de espírito nesta reta final. Ainda hesita em esperar pelo antigo governante, com quem se dá “muito bem” por causa da relação OCDE-Governo, mas prossegue para o avião. Tem com Siza algo em comum que não tem com Montenegro: já foram ministros.

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O voo segue para o destino e, mais uma vez, para terrenos difíceis: Ponta Delgada, Açores. O cordão sanitário que quer fazer ao Chega incomodou a estrutura do PSD/A, o presidente do Governo regional tinha feito declarações entendidas como um apoio incondicional a Luís Montenegro e mesmo a Terceira, ilha importante para as contas da região, está com o adversário. “Só vamos onde estamos mal”, diz sem baixar os níveis de confiança.

DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Jorge Moreira da Silva, que vai a eleições contra Luís Montenegro. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 Região Autónoma dos Açores OBSERVADOR DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Jorge Moreira da Silva, que vai a eleições contra Luís Montenegro. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 Região Autónoma dos Açores OBSERVADOR DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Jorge Moreira da Silva, que vai a eleições contra Luís Montenegro. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 Região Autónoma dos Açores OBSERVADOR DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Jorge Moreira da Silva, que vai a eleições contra Luís Montenegro. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 Região Autónoma dos Açores OBSERVADOR

Jorge Moreira da Silva a embarcar para terrenos difíceis: os Açores

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Jorge Moreira da Silva tem apenas um trolley com roupa para um dia, o que significa que estará menos de 16 horas na ilha de São Miguel. A Covid, que apanhou há alguns dias, atrapalhou a agenda. Ainda assim a missão é clara: provar a neutralidade de José Manuel Bolieiro e, quem sabe, trazer mais um apoio de peso. Na ilha, para tentar furar a hegemonia de Montenegro, tem dois encontros privados com dois antigos presidentes do PSD/Açores: Victor Cruz, menos conhecido na política nacional, mas que conta votos; e com o histórico antigo presidente do Governo Regional João Bosco Mota Amaral.

Antes de ir  à audiência no Palácio de Sant’Anna, sede do Governo regional, a convicção de Moreira da Silva é que Bolieiro não só não apoia Montenegro, como repetirá as mesmíssimas palavras sobre si. As declarações à saída vão ser a prova de algodão. Vinte dias antes, o presidente do PSD/Açores tinha, ali mesmo, dito sobre Luís Montenegro o seguinte:  “Tem capacidade de preparação para liderar o PSD rumo a uma vitória eleitoral e ser o próximo primeiro-ministro de Portugal”.

Depois de uma audiência de uma hora com o “bom amigo” Jorge Moreira da Silva, José Manuel Bolieiro começa a emendar o que disse no início do mês: “Jorge Moreira da Silva candidato à liderança do PSD e é um militante preparado para ser líder do PSD. E se for líder do PSD é preparado para ser candidato a primeiro-ministro de Portugal, que foi o que eu também disse relativamente ao outro companheiro.”

Já incomodado com as sucessivas perguntas sobre a disputa no PSD, Bolieiro quer encurtar a conversa: “Aqui é o palácio, sobre o PSD, falamos na sede”. Ainda assim, vai resistindo a dizer que foi mal interpretado sobre o apoio a Montenegro: “O que está dito, está dito. E não me pronunciarei sobre o que foi dito no passado.” O assunto queima, mas fica marcado novo round para uma sessão poucas horas depois na sede do partido.

DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Jorge Moreira da Silva, que vai a eleições contra Luís Montenegro. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 Região Autónoma dos Açores OBSERVADOR DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Jorge Moreira da Silva, que vai a eleições contra Luís Montenegro. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 Região Autónoma dos Açores OBSERVADOR

José Manuel Bolieiro segura o livro de Jorge Moreira da Silva, após audiência no Palácio de Sant'Anna

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O feijão-frade indigesto e o bico ao prego em bolo lêvedo

José Manuel Boleiro marcou encontro com a política partidária para a sede do PSD e pouco depois das oito da noite, menos uma hora do que no continente, lá estava. E, se Moreira da Silva, repetiria que não é como o “feijão-frade”, que não tem duas caras, Bolieiro mostrou duas faces ao ex-líder da JSD: o Bolieiro-bom (que defende o voto livre — argumento de Moreira da Silva) e o Bolieiro-mau (que avisa que nunca aceitará lições de ninguém — incluindo sobre o relacionamento com o Chega).

O presidente do PSD/Açores fez questão de dizer que a região não apoiava ninguém e alinhou no discurso de Jorge Moreira da Silva pelo voto livre. José Manuel Bolieiro diz que “não faz sentido haver um sindicato de votos de orientação” e que votar é um “pleno exercício de liberdade” dos militantes desde que há diretas.

Jorge Moreira da Silva sorriu. Era o suficiente para, minutos depois, elogiar o “gesto de neutralidade e de liberdade” do PSD/Açores que “tivesse sido assumido por todo o país”. A estratégia era clara: provar que Bolieiro estava tanto com ele como Montenegro e que os Açores, como estrutura, não apoiam ninguém. “São homens que pensam pela sua própria cabeça e que exercerão o seu direito de voto de forma inteiramente livre”, elogiava ainda o candidato.

Se Bolieiro disse a Jorge Moreira da Silva o que o candidato queria ouvir em matéria de votos, deixou um recado claro sobre o facto de o antigo ministro ter criticado a opção de ter um acordo com o Chega nos Açores. O presidente do Governo regional avisou que os açorianos não autorizam “intromissões tutoriais de quem quer que seja“. Já quatro horas antes tinha avisado ao lado do candidato: “Não abdico, em circunstância alguma da autonomia das estruturas regionais do PSD”.

Sempre que falava no assunto, Bolieiro mudava o semblante e olhava diretamente para Jorge Moreira da Silva. Mas, na sede do PSD, não esteve sozinho. Havia mais gente da terra a querer cobrar ao candidato a posição sobre o assunto. A sala estava cheia, mas tinha vários apoiantes de Luís Montenegro. O status quo dos Açores não falha. “Aqui somos muito institucionalistas”, comentava um dirigente regional com o Observador.

O presidente da junta de freguesia de São Pedro, a maior dos Açores, José Leal, não deixou de questionar Jorge Moreira da Silva sobre o assunto. Na resposta, o candidato admitia que este era um “tema sensível” e “relativamente ao qual naturalmente” os açorianos o “querem avaliar e escrutinar”.

No que diz respeito aos Açores, Moreira da Silva fez uma fuga para a frente. Admitiu que tinha sido contra em 2020, mas que agora José Manuel Bolieiro ia ter maioria absoluta e, portanto, este era um assunto do passado. E tentou meter água na fervura para responder aos olhares mais desconfiados da sala: “Uma coisa é a minha opinião, outra é a minha decisão: opinião, tenho-a; a decisão é vossa. Presumo que não queiram que eu mude de opinião, mas é evidente que também não quero que o partido não tome a decisão”.

A nível nacional, não cedeu um milímetro sobre a relação com o Chega. “Não vim aqui virar o bico ao prego. Espero que, ainda assim, seja merecedor do vosso apoio. Mas não me sentiria bem se viesse aqui dizer o contrário, até porque considero que essas profecias se auto-alimentam e estreitam o nosso potencial eleitoral”.

José Manuel Bolieiro já não estava a ouvir a intervenção de Jorge Moreira da Silva sobre o Chega. Saiu para dar um pulo às marchas populares. “Tenho um compromisso”, disse. Mas antes quis afirmar a total equidade face a Luís Montenegro. Ao estilo de um visitante do programa televisivo Preço Certo, Bolieiro deu a Moreira da Silva os mesmos produtos regionais que tinha oferecido ao adversário. “Queijinho e chá verde“, disse o líder regional antes de sair.

Acabaria por se juntar mais tarde, no restaurante Saca Rolhas, a Jorge Moreira da Silva, onde ficaram até para lá da uma da manhã a recordar os tempos da JSD. Foi ali, nos Açores, num encontro com jovens da JSD/Açores (como o próprio José Manuel Bolieiro e o seu mandatário regional, Luís Maurício), que em 1995 Jorge Moreira da Silva começou por testar a sua popularidade para se candidatar à liderança da JSD. Por aí, também tentou marcar a diferença para Luís Montenegro: “Tenho estado convosco nos últimos 30 anos. Não vim aqui para fazer figura”.

Após duas horas de sono, Jorge Moreira da Silva apanhava o voo da TAP (que não quer privatizar já, ao contrário de Luís Montenegro) com destino ao continente. Pouco depois de aterrar, recebia o prémio da conversa privada que teve com Mota Amaral no Marina Hotel em Ponta Delgada: o apoio do antigo presidente do Governo regional. O encontro tinha resultado, como o próprio Mota Amaral registou: “No seguimento de elucidativa conversa havida com o próprio em Ponta Delgada, declaro o meu convicto apoio à candidatura de Jorge Moreira da Silva à liderança do PSD.”

Um carro onde não falta confiança: dois candidatos a primeiro-ministro

Jorge Moreira da Silva não anda com um grande séquito atrás. Regra geral, dirige-se para as ações de campanha num carro com mais três pessoas: Filipe, o motorista, Francisco Lucena, o assessor de imprensa, e João Maria Jonet, o consultor político. A divisão do carro (Filipe e Francisco à frente; Jorge e João Maria atrás) é menos complexa que a divisão de campanha, digna de um organigrama de qualquer empresa bem organizada.

DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Jorge Moreira da Silva, que vai a eleições contra Luís Montenegro. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 Gaia, Porto JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR

Jorge Moreira da Silva num dos momentos em que seguiu no lugar ao lado do condutor

JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR

A campanha divide-se em dois grandes pilares: a comunicação, que inclui tudo o que é redes sociais e trabalho de voluntários, e a organização no terreno, que inclui a gestão da volta e todo o trabalho de contacto com as estruturas.

O assessor de imprensa é Francisco Lucena, ex-consultor da PT, SGPS, nos tempos mais fulgurantes da gigante das comunicações, tendo depois fundado a empresa que ainda mantém, a Lucena Consulting. Com passado de consultor de comunicação em várias áreas, faz com Moreira da Silva a sua primeira experiência a sério na política e, divertido, confessa gostar da dinâmica de uma campanha — mesmo que esta seja interna de um partido. É dos mais descontraídos e bem humorados da equipa.

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João Maria Jonet e Francisco Lucena enquanto Jorge Moreira da Silva conversa com eleitos e dirigentes do Porto no café Majestic

JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR

Lucena tinha sido referenciado a Jorge Moreira da Silva nas outras duas vezes que este ponderou candidatar-se à liderança, em 2020 e 2021, mas o recuo levou a que a parceria nunca se concretizasse. Até agora. Por Francisco passam os contactos com jornalistas, a marcação de entrevistas, a resposta a inquéritos, a publicação de artigos de opinião. Para esta função, Francisco conta com a ajuda de João Maria Jonet, que gere a parte das redes sociais, dá conselhos de estratégia política e, em conjunto, com o fiscalista Tomás Fragoso, supervisiona a equipa de voluntários.

João Maria Jonet, 24 anos e militante do PSD, é membro de uma espécie de jovens turcos do Twitter, numa informal trupe “tuiteira” que junta amigos de vários partidos. Jonet posiciona-se na ala esquerda do PSD, esteve desde a primeira hora na campanha de Carlos Moedas, ajudou na campanha do PSD nas legislativas e chegou a trabalhar com Luís Newton (apoiante de Montenegro) na junta de freguesia da Estrela. É licenciado em Ciência Política e Relações Internacionais, mas não é por nada disto que se juntou à campanha.

Estava prestes a aceitar um trabalho, quando Jorge Moreira da Silva lhe ligou a dizer que contava com ele. Disse à entidade que o queria contratar que não contasse com ele porque a partir de dia 28 de maio iria trabalhar na sede com o novo presidente do PSD (“o Jorge”, para que não restem dúvidas). Confiante, mas também ambicioso. Os amigos dizem-lhe que vai ser, um dia, primeiro-ministro e Jonet não rejeita a ideia. A brincar, a brincar, a ambição está lá.

DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Jorge Moreira da Silva, que vai a eleições contra Luís Montenegro. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 Gaia, Porto JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Jorge Moreira da Silva, que vai a eleições contra Luís Montenegro. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 Gaia, Porto JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR

João Maria Jonet acompanha o candidato para todo lado e está constantemente a trocar impressões com Jorge Moreira da Silva

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Mas voltemos à campanha de quem também acredita que vai ser primeiro-ministro. Jonet teve uma razão afetiva para aceitar o convite. É um dos melhores amigos de João Moreira da Silva, filho de Jorge Moreira da Silva, que estuda em Londres e que já não pode votar no pai porque, desencantado, já se desfiliou do PSD. Ambos fundaram o jornal Crónico, que se apresenta como “patologicamente inconformado”. Jonet tem como montra a sua exposição política e pública no Twitter, mas a poucos dias das diretas os tempos pedem contenção. Tudo o que escrever, compromete Jorge Moreira da Silva.

O exército de ‘Moreiminions’: do call center à pesquisa histórica

João Maria Jonet supervisiona também o grupo de voluntários que ajuda na campanha: são 300 — mas há quem só trabalhe algumas horas por semana, ajustado à disponibilidade e horário laboral. São uma espécie de “Moreiminions” que têm entre 18 e 35 anos. Quem os coordena de forma mais direta é Tomás Fragoso, um fiscalista que se encontra em trânsito para a Comissão Europeia, mas que, enquanto isso não se concretiza, ajuda na campanha.

Desde logo há um grupo de 20 voluntários que trabalha num call center, só a ligar a militantes do PSD (os números telefónicos são disponibilizados a ambas as campanhas). Apesar de Jorge Moreira da Silva ter a sede no TagusPark, a maior parte dos voluntários faz as chamadas a partir de casa.

Há outro grupo de 15 pessoas que fazem a partilha dos conteúdos nas redes sociais, com uma aposta em três frentes: Twitter, Facebook e Instagram.  O responsável por coordenar esta área é Gaspar Macedo, um jovem que já ajudou o PSD em campanhas eleitorais, e que tem grande tração nas redes sociais. Uma espécie de influencer da área da política (à direita) com mais de 22 mil seguidores no Twitter e mais de 25 mil no Facebook. Rui Rio também chegou a contar com a ajuda de Gaspar Macedo em legislativas.

Mas, mais uma vez, há uma supervisão de Jonet e, ainda mais acima, do próprio Jorge Moreira da Silva. Muitas vezes surgem dúvidas sobre publicações. Enquanto ia no carro com o Observador, entre o aeroporto e o centro de Ponta Delgada, Jonet recebe no telemóvel uma dúvida: “O que puxamos de Coimbra?” No dia anterior, a campanha tinha tido uma ação com jovens na escadaria da Sé Velha, em Coimbra, onde decorrem normalmente as serenatas. Era para puxar por uma pintura. É que um artista retratou a sessão e Moreira da Silva, sempre com a confiança em máximos, prometeu levá-lo para a sede nacional, na São Caetano à Lapa. A confiança está sempre lá.

DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Jorge Moreira da Silva, que vai a eleições contra Luís Montenegro. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 Gaia, Porto JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR

O staff de Moreira da Silva conversa enquanto este responde, noite dentro, a militantes numa longa conversa

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Os voluntários também ajudam no combate político. Há um grupo de 15 pessoas que faz pesquisa de atualidade e produz relatórios sobre tudo o que sai nas notícias. E, neste caso, há dois grandes focos: perceber como saem as declarações de Jorge Moreira da Silva na imprensa e recolher todas as declarações de Luís Montenegro. Tudo isto é passado ao candidato para que possa contra-atacar ou afinar o discurso. “O Montenegro disse que queria ser o sucessor do Passos”; “O Montenegro está com o Rui Moreira” — são exemplos simplificados dessa recolha.

Mas a pesquisa não é feita apenas na atualidade. Uma equipa de 15 elementos faz pesquisa histórica em que recupera declarações ditas no passado por Moreira da Silva (que possam ser utilizadas como exemplo de coerência) e frases de Luís Montenegro e dos seus apoiantes que possam ser utilizadas como arma de arremesso político. Um dos materiais recolhidos é um vídeo de Alberto João Jardim com alguns anos em que comenta uma candidatura de Luís Montenegro da seguinte forma: “Acho patético que esse senhor seja candidato seja ao que for, mas ele lá saberá as instruções que tem da maçonaria”. A 20 de maio, João Maria Jonet partilhou o vídeo no seu Twitter.

Há ainda um grupo que trata da logística, também com cerca de uma dezena de pessoas, que é responsável pela marcação de hotéis, voos e compra de material necessário às ações. O orçamento de campanha são 47.500 euros, um valor muito próximo do de Luís Montenegro — que é ligeiramente superior e que ronda os 48.000 euros.

Por fim, ainda na jurisdição de João Maria e Tomás foi criado um grupo, a que se deu o nome de “Gabinete de Estudos JMS” que juntou 53 jovens das mais variadas áreas. Jonet explica que houve preocupação em ter um grupo “paritário” e qualificado nas áreas sobre as quais incidiam (“há no grupo cinco Phd’s”). Tomás Fragoso compilou todas as ideias, que seguiram em forma de contributo para a moção de estratégia global do candidato.

O aparelho, os conselheiros séniores e a campanha de conversas

Jorge Moreira da Silva tem uma rede do think thank que criou em 2011 (a PCS — Plataforma para o Crescimento Sustentável) e, embora mais enferrujada, a esta junta a rede que criou no tempo em que liderou a JSD. Um dos seus principais conselheiros é Abílio Morgado, em particular na área da Segurança e da Defesa. O jurista era até há bem pouco tempo presidente do conselho de fiscalização das secretas. Na área da economia, Moreira da Silva conta com João Moreira Rato, que já organizou até um encontro com economistas na sede do Taguspark. O antigo presidente do IGCP fez parte dos “jovens de Chicago” que coordenaram o programa de Passos para 2015 em resposta à agenda de Mário Centeno.

Depois surge ainda Miguel Goulão, homem da confiança de Jorge Moreira da Silva e secretário-geral da PCS, que é o representante do candidato na parte mais operacional da campanha. Essa parte conta com dois principais protagonistas: o deputado e diretor de campanha, Carlos Eduardo Reis, e o deputado e secretário-geral adjunto do PSD, João Montenegro.

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Jorge Moreira da Silva com o diretor de campanha, Carlos Eduardo Reis, durante a visita a uma empresa

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Carlos Eduardo Reis conseguiu que o PSD vencesse a câmara de Barcelos, impondo um candidato contra as estruturas e ficou ainda mais reforçado no distrito de Braga. O deputado e ex-líder da JSD/Braga ajudou Rio a vencer a Rangel em 2021 e ainda se reforçou mais. A juntar a isso a concelhia de Barcelos é agora uma das maiores do país. Carlos Eduardo Reis tem feito um trabalho de formiga a contactar individualmente militantes e líderes de opinião locais.

É também Carlos Eduardo Reis que dá números de telemóvel a Moreira da Silva de militantes a quem este deve ligar. O candidato não se sente, no entanto, muito confortável em apelar ao voto e prefere fazer conversa sobre as suas ideias quando liga aos companheiros de partido. Moreira da Silva orgulha-se de “não prometer cargos a ninguém”, uma indireta a Luís Montenegro. Foi também Carlos Eduardo Reis que convenceu Moreira da Silva a escrever cartas a grupos de militantes específicos, como foi o caso de militantes da concelhia de Famalicão ou de militantes da região autónoma da Madeira. Tudo terrenos difíceis.

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Jorge Moreira da Silva no momento em que escreve carta aos militantes da Madeira

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Entre os operacionais, destaca-se ainda João Montenegro, que é o responsável pela volta nacional. Conhece as estruturas do partido como poucos: fez a volta das legislativas de 2015 com Passos, a volta da campanha de Santana Lopes e as voltas das últimas quatro campanhas de Rio (duas internas e duas legislativas). Apesar do trabalho invisível, é um dos maiores conhecedores do aparelho que Moreira da Silva tem no terreno. Na sombra, já se sabe, está também Salvador Malheiro, a trabalhar arduamente para que o “amigo” de longa data vença o distrito de Aveiro. Seria uma vitória simbólica: vencer no distrito de Montenegro.

Sem o apoio das estruturas regionais, Jorge Moreira da Silva optou por fazer uma campanha com conversas com militantes que andam entre as 20 e as 100 pessoas. Isso contrasta com a estratégia de Montenegro, que enche salas com centenas de pessoas. “Eu não faço comícios”, repete orgulhoso o antigo ministro do Ambiente. Nestas suas sessões, mais intimistas, Jorge Moreira da Silva faz sempre uma intervenção de cerca de 40 minutos para a qual escolhe sempre duas áreas temáticas da sua moção. Depois disso faz um período de pergunta-resposta que dura entre duas a três horas. Fala, fala, fala, fala.  Em resposta a um militante, chega a estar 20 minutos e, não raras vezes, ainda vai falar com ele no fim.

O facto de Jorge Moreira da Silva falar muito já se tornou numa piada interna da campanha. O próprio candidato conta descontraidamente, no fim de uma sessão em Gaia: “Sempre fui assim, quando era miúdo ia para a piscina ao mesmo tempo que os outros miúdos e eu ficava lá horas e horas a nadar”. E depois auto-propõe-se a um desafio: “Tenho dito à minha equipa que um dia faço um discurso de 12 horas”. Jonet, numa alusão ao facto de André Ventura ter chamado a Moreira da Silva o “Rui Tavares do PSD”, atirou: “O Ventura devia tê-lo chamado o Fidel Castro do PSD”.

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Jorge Moreira da Silva discursa perante os militantes na sede do PSD em Gaia

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“O Jorge”: o homem e a mensagem

Jorge Moreira da Silva tem uma particular idiossincrasia: é raro dormir em hotéis. Seja a sessão com militantes em Melgaço ou Vila Real de Santo António, o candidato quer sempre dormir em casa. Homem de família, prefere acordar ao lado da mulher e das filhas. Nas últimas duas semanas de campanha, dormiu apenas três dias em hotéis. “O Jorge é assim”, repete quem o conhece.

Já do ponto de vista estratégico, Jorge Moreira da Silva escolheu marcar as diferenças para o adversário em várias áreas: na posição relativamente ao Chega, no voto livre, na preparação para governar e até na herança do passismo.

Relativamente ao Chega, o candidato nem nos Açores cedeu e tem insistido em entrevistas que Luís Montenegro está a desperdiçar capital eleitoral quando não rejeita um solução governativa com o apoio do Chega. O resto do capítulo Chega está no início deste texto. Há, no entanto, outras diferenças a destacar.

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Diferença 1. Passismo: o pin na lapela é outro

A equipa de Jorge Moreira da Silva garante que tem visto pelo país uma “taxa de rejeição muito grande” de Luís Montenegro, daí que esteja a apostar em marcar as diferenças para o antigo líder parlamentar. Desde logo no Passismo: apesar de ter o ‘pin’ na lapela, o candidato tem optado por se demarcar mais de Passos Coelho.

Na terça-feira, Luís Montenegro disse, na praia de Esmoriz — terreno favorável a Moreira da Silva –, que está pronto para “suceder a Pedro Passos Coelho como próximo primeiro-ministro do PSD”. Poucos minutos depois, nos Açores, Moreira da Silva considerava de “muito mau tom” e um “momento menos feliz do adversário” estar a “instrumentalizar” o antigo primeiro-ministro do PSD. Lembrava ainda que, como “sucessor de Passos Coelho na JSD” e “número dois no partido durante seis anos”, estaria “em melhores condições” de fazer essa colagem e nunca o utilizou politicamente.

No dia seguinte, já numa sessão com militantes em Gaia, Jorge Moreira da Silva lembrava que — apesar de ter sido o número dois de Passos Coelho — nunca deixou de “ter um pensamento próprio”. Isto depois de ter dito que “é altura de o deixarmos [a Passos Coelho] em paz”.

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O pin na lapela, o bloco (vermelho) com as notas e os tópicos de um discurso escrito de Jorge Moreira da Silva

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Diferença 2. O voto livre vs. caciquismo

O PSD/Gaia, uma das maiores concelhias do PSD, está praticamente toda do lado de Luís Montenegro, e isso notou-se na pouca afluência de militantes para a sessão de Jorge Moreira da Silva na quarta-feira na cidade. A sessão só começaria 43 minutos depois da hora, para ter um pouco mais pessoas na audiência, que até se compôs com a sala orientada ao contrário (que só ocupa metade da capacidade).

Nesta concelhia, Luís Montenegro conta com as duas fações (a de Cancela Moura e a de Firmino Pereira, que estavam dividas nas últimas diretas). A sede do PSD/Gaia é assim o sítio ideal para a candidatura de Moreira da Silva (que tem, por seu lado, Salvador Malheiro nas suas fileiras) atacar o caciquismo e defender o voto livre.

O apoiante de Moreira da Silva, Pedro Dantas, foi o primeiro a falar, para atacar o “caciquismo bacoco, desmesurado e tribalista” que existe muitas vezes no PSD. A certa altura, Pedro Dantas diz que é preciso dizer “chega” a estas práticas no partido e, na audiência, alguém solta logo um inusitado aparte: “Chega não, Chega é que não”.

Depois, chegaria a vez de Moreira da Silva dizer uma frase que podia ter sido tirada a papel químico de frases de Rui Rio nas últimas diretas relativamente à então hegemonia de Paulo Rangel nas estruturas: “Os militantes perceberam, não sei se os dirigentes perceberam, que o PSD é um partido de quem vota pela própria cabeça. E esses militantes estão até indignados com o pressuposto de que há quem decida por eles. Eu conheço o PSD e cada militante tem um voto e pensa pela sua cabeça”.

Em Gaia, Jorge Moreira da Silva foi também questionado por um entusiasta na regionalização, mas também não se adaptou à plateia e manteve que era contra essa solução, defendendo que deve passar sempre por um referendo. Teve, no entanto, uma surpresa de um dos militantes: “Tenho o privilégio de votar em si pela segunda vez, já votei [em 1995] Viseu [no Congresso da JSD]”.

Diferença 3. Experiência de governar

Jorge Moreira da Silva tem insistido na mensagem que está mais bem preparado para governar do que Luís Montenegro, puxando várias vezes dos galões de já ter tido funções executivas (como ministro do Ambiente). Na visita a uma fábrica de calçado em Felgueiras, a Marisport, na quinta-feira à tarde, fez essas contas: “A minha candidatura dá um dois em um: um líder da oposição e um potencial candidato a primeiro-ministro. O PSD não se pode dar ao luxo de fazer 1+1, que é escolher agora alguém para ser oposição e depois daqui a dois anos escolher alguém que possa ser candidato a primeiro-ministro. Isso é um erro.”

DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Jorge Moreira da Silva, que vai a eleições contra Luís Montenegro. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 Gaia, Porto JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR

Jorge Moreira da Silva durante a visita à Marisport, uma fábrica de calçado em Felgueiras

JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR

A agenda privada e os apoios na sombra

Jorge Moreira da Silva tem o apoio de parte da máquina de Rui Rio, mas a estrutura está longe de ser exatamente a mesma. Ainda assim, vai tendo vários encontros privados que não são publicitados na imprensa. Aconteceu com notáveis, como Mota Amaral, mas também com figuras menos conhecidas como a vice-presidente do PSD, Isaura Morais (importante apoio em Rio Maior), que o apoia e com quem teve um almoço de três horas.

Sem apoio de nenhum presidente de distrital, a campanha de Moreira da Silva garante ter “entre 20 a 30” presidentes de concelhia do seu lado. A juntar a outros apoios mais discretos como Ricardo Sousa em Espinho (para furar na terra de Montenegro), Rui Vilar em Arouca, Rui Cristina em Loulé, Rogério Bacalhau em Faro, Vasco Estrela em Mação ou Bruno Ferreira em Mondim de Basto. E são só alguns exemplos.

DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Jorge Moreira da Silva, que vai a eleições contra Luís Montenegro. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 Gaia, Porto JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR

Jorge Moreira da Silva no Majestic, com dirigentes do Porto

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Já na reta final, Moreira da Silva teve também um encontro no café Majestic, no Porto, ao qual o Observador assistiu, com rioistas, eleitos do Porto e até antigos apoiantes de Paulo Rangel. À mesa do café estavam Sebestião Feyo de Azevedo, que é presidente da Assembleia Municipal do Porto, Vladimiro Feliz, vereador e antigo candidato do PSD à autarquia, o presidente da concelhia do PSD/Porto, Miguel Seabra, o presidente da JSD/Porto, Rodrigo Passos, e ainda o presidente da Santa Casa da Misericórdia do Porto e rioísta, António Tavares. A campanha passou os últimos dias a apostar forte no chamado G4: as distritais de Lisboa, Porto, Braga e Aveiro.

Além destes encontros semi-privados, o Observador sabe que Moreira da Silva ainda não se encontrou com Carlos Moedas nem com Rui Rio presencialmente, embora tenha falado com ambos ao telefone. Quanto ao autarca de Lisboa, não é expectável que tenha um encontro com Moreira da Silva como teve com o amigo Paulo Rangel em vésperas de eleições (até porque o seu chefe de gabinete, António Valle, é próximo da ala montenegrista). Sobre Rui Rio, Moreira da Silva vai-se esforçando por provar que não há um apoio na sombra, explicando que só fala com o líder do PSD quando o próprio o solicita, como aconteceu na revisão constitucional ou a propósito do convite para ir ao Congresso do PPE em Roterdão a 1 e 2 de junho.

DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Jorge Moreira da Silva, que vai a eleições contra Luís Montenegro. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 Gaia, Porto JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR

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Na reta final da campanha, o próprio Jorge Moreira da Silva admite que está a correr atrás do prejuízo, sem assumir outra meta que não seja ganhar. Entre os seus apoiantes, que para fasquias não dão a cara, há quem defina metas menos ambiciosas: chegar aos 30% ou, no mínimo dos mínimos, passar os 10% (sem Madeira) de Miguel Pinto Luz. Apesar de as contas anteciparem algo longe da vitória, tanto nas nuvens (a bordo da SATA e da TAP), como com os pés bem assentes na terra, o próprio não dá o braço a torcer, nem em momentos mais descontraídos: “Vamos ganhar. Vou ganhar”. Amanhã já se saberá se tem razão.

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