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Campanhas para as eleições legislativas de 2022: Arruada em Espinho do candidato pelo Partido Socialista, António Costa, secretário-geral do PS e candidato a primeiro-ministro. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de janeiro de 2022. Espinho, 22 de janeiro de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Papões, diabos e Pedro Nuno. Como Costa tenta (cada vez mais) diabolizar Rio

Em Espinho, o discurso socialista foi bem mais espinhado do que as rosas sem espinhos que distribui. Tem sido assim por todo o país, mais acentuado nas últimas horas. É Rio o único debaixo de fogo.

Em Espinho, depois do almoço de um sábado solarengo, passeia-se pela marginal. António Costa fala aos jornalistas, enquadrado na moldura de socialistas mais significativa até aqui, ao lado do homem do PS-Aveiro e do PS-geringonça e do PS-futuro Pedro Nuno Santos. Repete, mais uma vez, o mantra insistente dos últimos dias: como a direita se prepara para fazer tudo recuar aos tempos dos cortes da troika (que não refere). É o diabo. Ali ao lado, um pensionista ouve atentamente o líder do PS dizer que está a “responder à crise de uma forma muito diferente”: “Não andámos a cortar pensões e salários e a fazer um enorme aumento de impostos”. Não resiste e interrompe Costa que pára quando percebe que é fogo amigo: “O PS é mais humanitário… o PSD é uma idolatria… são uns idiotas”.

O socialista trava ali a fundo o chorrilho de impropérios que se prepara — “isso não” — mas é este sentimento que quer explorar nesta segunda semana de campanha. Tocar na memória da troika, mesmo que ela tenha pouco a ver (diretamente) com o PSD de Rui Rio. Encaminha para a bipolarização que é o que o PS acredita, nesta altura, que pode fazer a diferença quando as contas apertam (e estão a apertar nas sondagens publicadas) e aponta apenas e só a Rui Rio. E na terra em que Rio, poucos minutos depois de a caravana nacional do PS ter abandonado o local, pisou solo para um contacto com a população ao lado do seu desafiador Luís Montenegro, Costa aproveitou o seu putativo sucessor, Pedro Nuno Santos, para juntar à lista de ataques a Rio, mais um.

Sendo certo que a lista de argumentos para usar em campanha está feita, há uma geometria variável na sua aplicação e, neste momento, o que está a dar é malhar no PSD e, sempre que possível, apontar diretamente a Rui Rio.

Ataque um. Rio não inclui

Que ataques são esses? O que apareceu este sábado, com Pedro Nuno a inspirar, foi a falta de capacidade de inclusão e de diálogo de Rui Rio. Costa tem gabado várias vezes as suas próprias capacidades de negociação e este sábado misturou num elogio ao seu ministro das Infraestruturas, esse mesmo, ao dizer que tinha ali ao seu lado um “grande cabeça de lista — não só em altura — mas também politicamente. Eu gosto de trabalhar em equipa e de ter os melhores na minha equipa. Sou  dos que gosto de integrar, Há outros que é outro género, gostam mais de excluir”.

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É uma tentativa de meter a colher na vida interna do PSD, dividido na liderança de Rio, que afastou das listas de candidatos a deputados os opositores internos. E, com isto, evidenciar as capacidades que lhe apontam. Ainda esta terça-feira em Machico (Madeira), Paulo Cafôfo elogiava Costa, o “homem de diálogo e do consenso” por oposição a Rio, “uma personalidade autoritária e centralista”.

O aparecimento de Pedro Nuno Santos, que se coloca como um possível sucessor de Costa e a quem a esquerda e a direita (por razões diferentes) têm apontando, serviu o objetivo nesse tiro ao alvo. O próprio não poupou, quando foi confrontado com o “papão” que Rio tem agitado desde o congresso sobre ser ele quem verdadeiramente vai governar o PS a breve prazo. “Se Rui Rio acha que eu sou um papão, só tem uma solução, que é votar em António Costa”.

Campanhas para as eleições legislativas de 2022: Arruada em Espinho do candidato pelo Partido Socialista, António Costa, secretário-geral do PS e candidato a primeiro-ministro. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de janeiro de 2022. Espinho, 22 de janeiro de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Ataque dois. Rio não quer aumentar o salário mínimo, nem nenhum salário

Quem não quer subir os salários é Rui Rio. A ideia tem sido repetida de várias formas por António Costa, agarrado a uma declaração que o líder do PSD fez durante a pandemia, quando as empresas estavam com a corda no pescoço. O social-democrata, em campanha, tem apontado sobretudo ao salário médio, embora no programa defenda um aumento do mínimo “em linha com a inflação mais os ganhos de produtividade”. Costa tem tentado minar esse terreno ao desafiar alguém a dizer se acredita que “quem não quer aumentar o salário mínimo, vai querer aumentar os outros salários”.

Fact Check. Rui Rio é contra o aumento do salário mínimo, como sugeriu António Costa?

“Quem não quer subir o salário mínimo, muito menos vai querer subir salários médios. Esse é mesmo o princípio para o aumento geral dos salários”, afirmou nos Açores. Em Castelo Branco afinou o golpe, ao atacar a “ideia de Rui Rio de que a economia cresce com base nos baixos salários”, que é, afirmou, “de uma economia que já não existe no mundo desenvolvido e europeu”. E, no Funchal, lembrou “aquela ideia da direita de que aumentar o salário mínimo prejudicava a competitividade porque vinha aí o diabo e a verdade é que o diabo não veio”.

E o papão que Costa levanta até serve para usar no meio da rua, como quando em Espinho encontrou uma senhora que se aproximou só para dizer que “é preciso aumentar os salários em Portugal, o salário mínimo é muito pouco”. E Costa aproveitou logo o gancho para dizer que propõe um aumento de 900 euros até 2026 mas também que “é preciso ter muita atenção porque o PSD não o quer aumentar”. “Isso não pode ser”, respondeu a sua interlocutora num diálogo que, encomendado, não teria saído mais conveniente ao socialista.

Campanhas para as eleições legislativas de 2022: Arruada em Espinho do candidato pelo Partido Socialista, António Costa, secretário-geral do PS e candidato a primeiro-ministro. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de janeiro de 2022. Espinho, 22 de janeiro de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR Campanhas para as eleições legislativas de 2022: Arruada em Espinho do candidato pelo Partido Socialista, António Costa, secretário-geral do PS e candidato a primeiro-ministro. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de janeiro de 2022. Espinho, 22 de janeiro de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Ataque três. Rio quer pôr classe média a pagar a saúde

Não há comício em que falte uma das propostas que Costa acusa o PSD de avançar “de forma pianinho” nestas eleições, quando avança com a sua proposta de revisão constitucional em matéria de Serviço Nacional de Saúde. António Costa vai de distrito em distrito nesta campanha, a avisar que “eles querem mudar” o sistema e “defendem que a classe média deve passar a pagar”: Deixa de ser tendencialmente gratuito e passe a ser tendencialmente pago”. Foi o que aconteceu na Guarda, mas também em Viseu ou em qualquer outro dos distritos que o PS pisou nesta campanha.

Ataque quatro. Rio quer colocar parte das pensões na aventura da bolsa

Na Guarda, onde a cabeça de lista é precisamente a atual ministra da Segurança Social, Ana Mendes Godinho, Costa foi especialmente detalhado num dos ataques que é constante. “O que o PSD propõe é uma aventura, descrevem com ar sorridente um sistema misto” em que parte da pensão é do Estado “e outra entregue para o mercado, com a sua arte mágica de gestão, poder valorizar”. Em causa está o sistema misto de pensões, uma “reforma global” do sistema que passará  por “criar um sistema único e universal para todos os trabalhadores, sejam eles do setor público e do setor privado, dependentes ou independentes, sem regimes especiais ou tratamentos mais favoráveis para determinados grupos”.

São, segundo diz Costa, “palavras doces” do PSD que na verdade “o que diz aos portugueses é que deixamos de ter segurança na sustentabilidade da Segurança Social”: “E com a Segurança Social não se brinca”, conclui sempre. Nos Açores, apelou mesmo à proximidade açoriana com os EUA para que se lembrassem do que aconteceu por lá “quando o mercado faliu e as pensões deixaram de estar garantidas”.

Campanhas para as eleições legislativas de 2022: Arruada em Espinho do candidato pelo Partido Socialista, António Costa, secretário-geral do PS e candidato a primeiro-ministro. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de janeiro de 2022. Espinho, 22 de janeiro de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Ataque cinco. Rio que não quer reduzir o IRS

A redução que Rio propõe é “só lá para para 2024, 2025 ou 2026”. Em Santarém, num comício ao final do dia de quinta-feira, o socialista repetiu a ideia que já vem do primeiro dia de campanha:  “De um lado temos o PS que quer baixar já em 2022 o IRS, para todos os que ganham 80 mil euros por ano, para que todas as famílias com filhos tenham já uma redução e uma majoração da dedução para o segundo filho, e  do outro lado o que temos é um PSD que diz que não vai baixar o IRS em 2022, 2023, e 2024 e se tuuuuudoooo correr muito bem começará a pensar em baixar em 2025 e 2026”.

A conclusão é sempre a mesma: “Os portugueses não podem esperar por 2025 e 2016”. É também um argumento a que recorre com frequência na rua quando alguém o interpela com queixas sobre rendimentos insuficientes.

Ataque seis. Enfim, Rio o herdeiro da política de austeridade

A conclusão final, que vai em crescendo nesta altura da campanha é que António Costa é uma espécie de anti-Passos. Uma tese que Carlos Pereira, candidato do PS-Madeira, explorou logo no comício de Machico ao dizer que PSD e CDS “puniram os madeirenses que foram proibidos de receber o subsídio de insularidade”. Ao contrário de Costa que “devolveu rendimentos às pessoas e os madeirenses sentiram no bolso”, afirmou.

Daí a colar o atual PSD a esse PSD das políticas de austeridade foi um tiro que foi disparado logo por Jamila Madeira, cabeça de lista por Faro, na quarta-feira passada, Chamou a Rio “delfim de Manuela Ferreira Leite”, mas antes disso já tinha dito que é “o homem  dos ses: sobe o salário mínimo se, sobe as pensões se. E se isso não se verificar? Promoverá a austeridade”, respondeu a si mesma.

Nas últimas horas, António Costa tem, ele mesmo, aproveitado toda essa memória. Em Viseu apelou mesmo a que todos recordassem o ano de 2015, em que “a taxa de desemprego era de 12,8%. Hoje mesmo, depois de estarmos a atravessar uma pandemia brutal, já está nos 6,4%”. O candidato do PS diz que a sua política é outra. “Estamos a responder a esta crise de forma muito diferente”, afirma sempre que se refere à contração da economia devido à pandemia. “Não andámos a cortar pensões e salário e a fazer um enorme aumento de impostos”.

Campanhas para as eleições legislativas de 2022: Arruada em Espinho do candidato pelo Partido Socialista, António Costa, secretário-geral do PS e candidato a primeiro-ministro. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de janeiro de 2022. Espinho, 22 de janeiro de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR Campanhas para as eleições legislativas de 2022: Arruada em Espinho do candidato pelo Partido Socialista, António Costa, secretário-geral do PS e candidato a primeiro-ministro. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de janeiro de 2022. Espinho, 22 de janeiro de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR Campanhas para as eleições legislativas de 2022: Comício em Viseu do candidato pelo Partido Socialista, António Costa, secretário-geral do PS e candidato a primeiro-ministro. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de janeiro de 2022. Viseu, 22 de janeiro de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR Campanhas para as eleições legislativas de 2022: Comício em Castelo Branco do candidato pelo Partido Socialista, António Costa, secretário-geral do PS e candidato a primeiro-ministro. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de janeiro de 2022. Guarda, 21 de janeiro de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Aliás, sobre a era de Passos Coelho, chegou mesmo, num comício na Guarda, a relembrar outro capítulo. Aquele em que “o Governo PSD/CDS pôs em causa as pensões em pagamento, quebrando o contrato de confiança, que o Tribunal Constitucional veio dizer que a Constituição não permitia”.

Assim, quando foi questionado, em Espinho, sobre se ali ao seu lado tinha um “papão”, respondendo ao medo que Rio espicaça quando diz ao eleitorado de centro que se votar em Costa pode ter uma surpresa. Costa respondeu de pronto que “o que é verdadeiramente um papão é o que seria o país governado por Rui Rio”. Lá atrás, o pensionista do início deste texto teve outra liberdade, quando ouviu o socialista atirar ao adversário. Atirou um “o rio só ‘tá bom para desaguar no mar, mais nada!”. Ao seu lado uma senhora colocou um ponto final na frase: “E p’ra tirar lampreia!”

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