Já toda a gente sabia que ele ia ganhar mas, ainda assim, a RTP decidiu, depois de alguma ponderação, realizar a final. O dinheiro já estava empatado, o catering estava pago, e era uma pena ir para os gatos.

E decidiu bem, que momentos de televisão como estes não acontecem todos os anos. Quer dizer, acontecem, mas é sempre como se fosse a primeira vez.

Se houve coisa que toda e qualquer pessoa que passou pelos palcos das meias-finais e da final insistiu em frisar foi que “Portugal fez as pazes com o festival”. Não acho. Creio que terá sido o festival que fez as pazes com Portugal. Mas eu sou daquelas pessoas que não tinha percebido que Portugal continuava a ir à Eurovisão. A última música de que me lembro, antes do Salvador, é a da Lúcia Moniz. Em 1996. E nisto, julgo que Portugal me acompanha. Pazes feitas, falemos da 53ª edição do Festival da Canção.

A emissão abre com Inês Lopes Gonçalves, que fez as pazes com os vestidos, e apareceu linda. Está sempre bem, na verdade.

Quem também apareceu linda, mas dentro de outro género, foi Isilda Gomes, presidente da Câmara de Portimão, a cidade anfitriã do evento. Para esta noite, Isilda elegeu umas calças lisas, uma camisa, e um casaco de malha, que já se sabe que aquilo em Portimão à noite arrefece um bocadinho. Trazia o cabelo apanhado, talvez com uma mola que o operador de câmara escolheu não mostrar, e óculos ao peito, presos com uma guita. É mesmo assim, ou se tem ou não se tem, e Isilda Gomes tem. Outra coisa que me pareceu ter foi sotaque do Norte. Ou sonhei? Se calhar, o sotaque de Portimão é mesmo assim. Confesso que não vou lá há anos. E sempre fui mais de ir para Lagos. Ou Legues, no dialeto local.

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Adiante.

De seguida, o responsável pela RTP explica-nos que a importância da descentralização, de pegar nas tralhas e fazer o festival no Algarve. “É isto que é ser uma televisão nacional. É esta a nossa mais-valia”.

Em casa, os espectadores lisboetas, que odeiam esta mania de fazerem coisas fora da capital, pensaram certamente: “Sim, uma mais-valia estar quietos”. Eu, apesar de lisboeta, odeio este tipo de mentalidade.

Surge então, pela primeira de muitas vezes, a figura quintessencial da televisão portuguesa, e dos festivais: Júlio Isidro. Creio que disse que acompanhava o Festival da Canção antes de haver televisão, o que, ou ouvi mal, ou era uma graça. Ou as duas coisas. Numa piscadela de olho ao público mais jovem, Júlio faz uma referência à peça de teatro “Círculo de Giz Caucasiano”, de 1944.

Por falar em 1944, a Júlio Isidro junta-se Margarida Mercês de Melo, ótima como sempre, e ouve-se na Arena de Portimão e em casa um estranho silêncio de breves segundos, enquanto se pensa se serão mesmo eles os apresentadores da noite. Brincadeira, estou só a ser ageist, como se diz agora, para efeitos cómicos. A verdade é que, passados cem anos, Júlio e Margarida continuam a mostrar aos mais novos como se faz televisão.

Mas chegam por fim os apresentadores: Vasco Palmeirim, que se estreia no Festival e Filomena Cautela, que repete, tanto na apresentação como no vestido, que julgo ser o mesmo da edição do ano passado. Se calhar não é, mas uma coisa chata dos vestidos caríssimos é que, às vezes, acabam por ser parecidos uns com os outros. Seja como for, estava deslumbrante, também como sempre. Palmeirim também, mas nisto os homens são sempre um bocadinho mais aborrecidos a vestir. Estava à espera de mais perna, mais decote, mas Vasco apareceu de fato escuro azul com bandas pretas, que era uma mistura impensável no tempo da Madalena Iglésias, mas que agora compõe muito um homem.

E foi precisamente de Vasco Palmeirim o primeiro momento musical da noite. Quem me dera cantar como ele mas, ainda assim, percebe-se porque é que há pessoas que concorrem ao festival e pessoas que apresentam o festival. Mas não foi, nem de longe nem de perto, a música de que menos gostei.

Cantou depois Filomena Cautela, que se defendeu melhor, ao meu ouvido. A música ajudava. Mas eles são apresentadores, não são cantores. E verdade seja dita: se todos os nossos concorrentes à Eurovisão fossem tão bons a cantar como eles são a apresentar, era uma chatice, que ganhávamos outra vez. E depois lá tínhamos de organizar aquilo. Já estou a ver Mondim de Basto à chapada com Rio Tinto, “Queremos o festival no nosso polidesportivo”.

Durante a canção de Filomena, uma versão da Tourada, percebi a importância de ver o festival sem desviar os olhos da televisão por um segundo que seja. Se eu estivesse, por exemplo, com um olho na televisão e outro no Facebook, poderia ter perdido um dos momentos altos da noite, quando Serenella Andrade saiu de dentro de uma caixa. Só faço anos em dezembro, mas já sei o que quero na minha festa: a Serenella a sair de dentro do meu bolo. Façam isso acontecer, e terão o meu amor para sempre.

Já com Serenella sentada na primeira fila, vê-se então uma panorâmica geral da plateia: o Arena rebenta pelas costuras. Talvez seja ignorância minha, mas não fazia ideia que morava tanta gente em Portimão. Respect.

Seguiu-se um ligeiro número cómico, com uma senhora da limpeza a varrer a green room. Não achei grande graça, mas quem sou eu para criticar piadas feitas à custa de uma criada, não é?

Se Palmeirim e Cautela estavam perfeitos no palco principal, Lopes Gonçalves estava perfeitíssima no green room. É engraçado, ao contrário do inglês, em que tratar as pessoas só pelos apelidos soa perfeitamente normal, em português fica estranhíssimo.

De volta ao festival: este ano, pelo menos a mim pareceu-me, não se perdeu tanto tempo com viagens no tempo às canções antigas do festival nem com as obrigatórias homenagens à Simone, e foi-se mais depressa ao que nos trazia aqui: os concorrentes deste ano.

(ler o nome do intérprete e da canção com a voz da Margarida Mercês de Melo)

Calema

“A Dois”

Eles são giros como o caraças, é um facto. A roupa é gira como o caraças, é um facto. São uma espécie de versão mais moderna dos Anjos. Não, desculpem, baralhei as minhas notas, não são uma versão mais moderna, são só uma versão dos Anjos. O que não é necessariamente mau. Nem necessariamente bom. Como a própria canção.

(ler o nome do intérprete e da canção com a voz do Júlio Isidro)

Mariana Bragada

“Mar Doce”

A minha mãe tinha-me ligado a dizer que era a sua canção preferida. Ficou em último, creio. Mas percebo a minha mãe. Mariana é gira, trazia um vestido amarelo bonito, elegante e sexy sem ser vulgar. Ou seja, Mariana Bragada é a namorada que a minha mãe queria que eu tivesse, mas que sabe que nunca terei. Não achei a música péssima. Lembrou-me a Mafalda Veiga. Estas duas frases parecem um contrassenso, mas não é obrigatoriamente assim. Aliás, quem criou o vídeo do cenário deve ter pensado o mesmo que eu, porque às tantas atravessam uns pássaros a voar, em direção ao Sul. Numa nota mais negativa, reparei que Mariana disse «éjuteu olhar» em vez de «és o teu olhar». Ou estou só a ser lisboeta? Numa nota mais positiva: durante toda a canção, percebi sempre «môr» em vez de «mar». Môr, deixa-te levar. Môr, deixa-te amar. Quando percebi que não era, achei um bocadinho menos romântico. A música acaba de repente, sem aqueles acordes finais, o que eu gosto sempre.

(ler o nome do intérprete e da canção com a voz do Eládio Clímaco)

Matay

“Perfeito”

Adorei Matay. Era tudo ótimo. Grande voz. Grande presença. Star quality por todos os poros. E depois, o que ganha sempre o meu coração, tinha um quarteto de cordas: um piano, uma harpa, dois violinos e um violoncelo. Sim, eu sei que isto dá cinco, e que é um quinteto. Era só para ver se ainda estavam com atenção. O público aplaude de pé. Não queremos Matay na Eurovisão! Queremos Matay em Nova Iorque! Queremos Matay na Broadway! Seja onde for! Em qualquer lado menos na Eurovisão. Afinal de contas, musicais são bonitos, mas estamos em 2019.

(ler o nome do intérprete e da canção com a voz de Henrique Mendes)

Surma

“Pugna”

Não tenho falado dos vídeos de apresentação de cada concorrente, mas aqui vou abrir uma exceção. Queridos, o Algarve, não sendo a região mais bonita do país, nem de perto nem de longe, também não merece uma vista aérea de uns prédios sinistros dos anos 70, provavelmente Quarteira, ou Armação de Pera. Mas foi um detalhe, um grãozinho de areia num espetáculo que foi tecnicamente irrepreensível. Mesmo. Mas Surma. Gosto dela. Tem pinta. É gira. Vem de preto, de pé, com cinco bailarinos espalhados pelo chão. A voz lembra-me Bjork, mas por não ter muito a ver com a cantora islandesa. Às tantas há um twist: alguns bailarinos afinal têm microfones e também cantam. A sonoridade é nova e fresca. A letra tinha ar de ser ótima, mas não percebi uma palavra. Mas, who cares? Isto é o Festival da Canção, não é um sarau de poesia.

(ler o nome do intérprete e da canção com a voz da Manuela Moura Guedes)

NBC

“Igual a ti”

NBC, com este seu “Igual a Ti” foi igual a si mesmo. O que foi bom, por acaso. Boa voz. Não adorei a música. Acho eu. A verdade é que já não me lembro da música. E escrevi isto dois minutos depois de ele ter cantado. Agora que penso nisso, talvez tenha sido ele que ficou em último. Já puxo a box para trás para confirmar.

(ler o nome do intérprete e da canção com a voz da Ana Zanatti)

Madrepaz

“Mundo a Mudar”

Gosto muito do look, e estou cansado das piadas com as máscaras que traziam pintadas na cara. Esse tipo de comentários é mesmo coisa de gente que não viaja. Abram os vossos horizontes. A música é suficientemente péssima para dispensar que se fale das pinturas na cara. Estou a brincar, foi das que gostei mais, por acaso. Juro. E, se não fosse impensável mandarmos folclore à Eurovisão, teríamos aqui um sério candidato a representar Portugal.

(ler o nome do intérprete e da canção com a voz do Fialho Gouveia)

Conan Osíris

“Telemóveis”

Que dizer do vencedor depois de ganhar? Conan, por ter tantas coisas que as pessoas adoram repreender, consegue ser irrepreensível. E, para mim, foi isso que ele foi esta noite. Irrepreensível. Mas já lá volto.

(ler o nome do intérprete e da canção com a voz da Inês Lopes Gonçalves, da Filomena Cautela e do Vasco Palmeirim ao mesmo tempo)

Ana Cláudia

“Inércia”

Gostei. Imagino-me numa tarde de verão, à beira de uma piscina, a ouvir esta música e a perder-me em doces pensamentos. Até aparecer algum amigo e dizer: “Eh pá! Tira isso! A partir de agora, quem escolhe a música sou eu!”. Mas, como nostálgico que sou, ganhou pontos no meu coração o facto de cantar “Meu bem, meu mal”, que era o nome de uma novela brasileira de quando eu era pequeno. Só por isso, gostei.  Ah, e da presença em palco, que era francamente boa.

Terminada a enxurrada de músicas, os apresentadores voltaram ao comando da noite, com uns efeitos divertidos de passarem coisas do palco principal para a green room pelo ecrã partido em dois. Ri-me com vontade das três vezes que fizeram. Não estou a ser irónico, que às vezes parece. Tentei imitar em casa. Não deu.

Altura do primeiro intervalo.

Nota positiva para o Fairy Platinum Plus. Pelo que me pareceu, tira mesmo aquela gordura mais difícil das frigideiras. Fiquei com vontade de experimentar.

Volta a emissão. Vasco e Filomena, assumem, sem complexos, que toda a gente (menos eu) estava a ver o Benfica e fazem um resumo de todas em canções como se de um relato de futebol se tratasse. Uma pessoa maldosa escreveria “que foi menos penoso do que as canções em si”. E eu não sou uma pessoa maldosa. Mas que tem graça, tem.

O segundo grande momento da noite, depois do momento Marilyn Monroe de Serenella Andrade foi Filomena Cautela a cantar “Total Eclipse of the Heart”. Retiro o que escrevi no início, Filomena Cautela não só é ótima apresentadora, como é ótima cantora. É de ter esta sua faceta debaixo de olho para o próximo ano.

Entra Armando Gama. Numa coincidência espantosa, lembro-me de uma piada que me contaram esta mesma tarde e que homenageia, de uma penada, duas pessoas que fazem parte da história do Festival da Canção:

“Se o Armando Gama, o que é que a Rosa Lobato Faria?”

Nesta noite, Gama cantou uma versão mais atualizada da música “Esta Balada Que Te Dou”. Que é mais ou menos a mesma coisa que dizer que alguém foi morto por uma versão mais atualizada da guilhotina. Mexer numa música péssima é sempre ótima ideia.

Se Cautela encantou com Bonnie Tyler, Palmeirim não fez pior figura num playback de “Playback”, de Carlos Paião.

Entra Anabela. Uma das melhores músicas de sempre do Festival. Segundo a minha mãe. O que, como já se viu, vale o que vale. A música também foi atualizada. Mas aqui resultou bem, ao contrário da música de Gama. Estou a brincar, a música ficou péssima, mas quem nos dera a todos envelhecer tão bem como a cara da Jane Fonda e a voz da Anabela.

Há um plano de pormenor do público, e Júlio Isidro é apanhado a olhar para o telemóvel.

Os nervos começam a aumentar, está quase, quase o momento das votações do júri regional. Faz-me impressão escrever a palavra regional. Mas agora já está. Desculpem, sou lisboeta.

Faz-se nova viagem no tempo, até às edições em que as votações eram num quadro de giz. O que era indiferente, até podiam ser projetadas a laser na parede porque, como se sabe, isto passava-se numa altura em que a taxa de analfabetismo em Portugal rondava os 87%. Veio-me uma lágrima ao olho com as meninas do PBX. E com o fumo do cigarro.

Novo momento musical com novo arranjo, desta vez para uma música que, segundo os apresentadores, fez história no Festival: “Senhora do Mar”, por Vânia Fernandes. Na minha história pessoal, recordarei para sempre este dia como a primeira vez que ouvi esta música, pelo que não sei dizer se a versão era melhor ou pior que o original. Mas, sem querer ser mau, deve ser melhor, que pior não seria fácil. Exagero. Mas, já se sabe, exagerar é a melhor coisa da vida. A propósito, acho que houve um genérico de uma novela com esta música. Se não houve, vai haver. Escrevam o que eu digo.

Novo intervalo. Desta vez, ficou-me debaixo de olho um aparelho de limpeza a alta pressão do LIDL. Apontei para não me esquecer de ver se há aqui na loja de Xabregas. Serviço público também é isto.

Terceira e última parte, a mais importante, em que iremos ficar a saber quem nos representará em Tel Aviv. Eu escrevo separado, mas há quem escreva tudo junto. Gente que, seguramente, não sabe que Tel significa colina, ou monte, pelo que o nome quer dizer Monte Aviv e, portanto, não faz sentido nenhum escrever tudo junto. Mas façam como quiserem, a figura é vossa.

Novo momento musical, desta vez com as nossas representantes do ano passado. Apesar de ter passaporte holandês, escrevo “nossas” para criar maior intimidade com o leitor. Mas não me sinto de todo representado.

Brincadeira, claro que sinto! Não me podia sentir mais representado!

Cláudia Pascoal cantou “Ter ou Não Ter”, com um cavaquinho. Gostei da voz. Aliás, gosto muito deste tipo de vozes. De todas elas. Aquelas vozes todas iguais a estas. Que Portugal adora. É o que eu chamo vozes-de-irmãs-de-únicos-vencedores-portugueses -da-eurovisão. Para não dizer nomes. Mas pareceu-me super querida.

A seguir, Isaura canta “Liga-Desliga”. Dominou a coisa. Com a vantagem de estar a passar a letra num ecrã lá atrás. Deu para fazer um karaokezinho em casa. Depois, cantaram juntas a música que perdeu o ano passado. Desta feita, sem novas roupagens, que em equipa perdedora não se mexe.

Novo plano de pormenor do público, e Serenella Andrade é apanhada a bater palmas.

Nova chamada à green room. Um a um, Inês Lopes Gonçalves enxovalha todos os participantes, obrigando-os a ler comentários vários das redes sociais. Terceiro melhor momento da noite, Inês não se desmancha, mas percebe-se que tem vontade de rir.

Entra um momento de puxar à lágrima, uma espécie de In Memoriam dos Oscars, mas com uma homenagem bonita e justa a todos os apresentadores destes mais de cinquenta anos de Festivais. Com toda a propriedade, foi Isidro e Mercês de Melo quem introduziu esta parte. E pelo ecrã desfilaram os 63 apresentadores das edições passadas. Amei Lurdes Norberto apresentado Simone. Vénia especial de Júlio Isidro a Eládio Clímaco. Em casa, Portugal faz também a mesma vénia. Clímaco merece-o. Neste meu relato do Festival, que quem sabe só você está a ler, tentei fazer o mesmo, não sei se reparou, quando enumerei as canções. Se não reparou, volte atrás e repare. Se saltou essa parte, pior. Volte mesmo atrás para ler, se faz favor. Que maçada…

Como nem só de apresentadores vive o Festival, a homenagem estendeu-se a todos que, de uma forma ou outra, ajudaram a fazer esta festa que foi, não esqueçamos nunca, durante muitos anos o dia maior da televisão em Portugal. Hoje viu-se que pode voltar a ser. Pronto, caraças, agora tudo o que eu escrevo parece irónico. Estou mesmo a falar a sério.

A sério também, falou o júri regional. Eu desconfio que estavam todos nos bastidores lá no Algarve a fingir que estavam nas várias regiões. Se por acaso estavam mesmo, olha, haja dinheiro para pagar aquelas equipas de filmagem todas.

O vencedor foi unânime em todas as regiões: Conan Osíris.

Recebeu os doze pontos do Norte, do Centro, de Lisboa e Vale do Tejo (por falar nisso, nunca percebi o que é o Vale do Tejo. Mas também, como sou de Lisboa, não é uma dúvida que me tire o sono), do Alentejo, dos Açores, da Madeira…

Ai, espera! Não! De todos não! Os doze pontos do Algarve foram para NBC. É por estas e por outras que durante séculos se dizia Reino de Portugal e dos Algarves. Que mania de serem diferentes, caraças.

E, finalmente, o aguardado voto do público, já com Conan à frente, salvo seja. E voltamos ao início, às BREAKING NEWS: Conan Osíris ganhou o Festival da Canção.

Debaixo de uma chuva de aplausos, Filomena Cautela pergunta a Osíris se alguma vez pensou que iria ganhar.

“Népia. Eu mal tinha segurado um microfone, quanto mais…”. Como não amar Conan?

A noite fecha, claro, com “Telemóveis”. “Já posso estragar isto agora?”, pergunta Conan Osíris. Mas não estragou. Pelo contrário.

Agora a sério: uma noite de televisão flawless, os apresentadores irrepreensíveis, não houve uma hesitação, um momento parvo. Toda a gente cantou bem, umas músicas melhores que outras, que isto é mesmo assim. E adoro o Júlio Isidro. E adoro a Margarida Mercês de Melo.

E adoro sobretudo que, numa altura em que parece que as mentes tacanhas, com mais ou menos responsabilidades, começam a perder a vergonha e a saltar das suas tocas, quem votou esta noite tenha escolhido em peso o Conan Osíris, e a sua música sobre telemóveis que é muito mais do que sobre telemóveis, e o seu bailarino, e a sua máscara na cara que sim, parecem colheres, e o seu borrifanço para o que dizem dele.

Well done, kid.

Hugo van der Ding é autor (“A Criada Malcriada”), ilustrador e cómico em geral