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Patrick Drahi garantiu que Armando Pereira não tem qualquer ação da Altice

AFP via Getty Images

Patrick Drahi garantiu que Armando Pereira não tem qualquer ação da Altice

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Patrick Drahi põe cerca sanitária à volta de Armando Pereira com quem tem acordo "pessoal". Armando pediu para Drahi não saber dos negócios

Armando Pereira pediu ao telefone cuidado para que Drahi não soubesse de alguns dos negócios com a Altice. Drahi falou, agora, pela primeira vez sobre o caso e tentou pôr cerca à volta de sócio.

Desde que foi alvo de buscas e detido para interrogatório, encontrando-se agora em prisão domiciliária, Armando Pereira tem sido referido como ex-acionista do grupo Altice, do qual foi, com Patrick Drahi, co-fundador. A Altice Europe deixou de estar cotada e, como tal, a sua estrutura acionista final deixou de estar divulgada. Nos documentos referentes à Altice USA, também, não há referências à participação do português do Minho nas participações sociais. Patrick Drahi garante agora que o português não tem qualquer ação da Altice, mas tem interesses indiretos.

Nunca se soube, aliás, ao certo quanto detinha Armando Pereira na Altice. Quando este grupo comprou a então Portugal Telecom (PT) falava-se de uma posição em torno dos 20 a 30%.

No âmbito da investigação Operação Picoas, Armando Pereira terá revelado que ainda tem 22% da multinacional ligada às telecomunicações, segundo confirmou o Observador uma informação já avançada pela SIC.

A cascata de empresas da Altice, até chegar ao controlo da operação portuguesa, não é fácil e, estando muitas sediadas em outros países, a estrutura acionista não é fácil de entender. Aliás, esta segunda-feira Patrick Drahi, que falou pela primeira vez da investigação em Portugal — dizendo-se que, a ser verdade, se sente “traído e enganado” por um “pequeno grupo de pessoas, incluindo um dos mais antigos colegas” –, tentou traçar um cerco à volta de Armando Pereira. Mas ainda assim dizendo que Armando Pereira tem garantidos 20% de interesses económicos por uma posição de Drahi.

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“Desde 2005 que não detém uma única ação ou direito [de voto] em qualquer entidade da Altice, mas mantém, simplesmente, uma participação de cerca de 20% sobre o meu direito económico pessoal”, garantiu Drahi, escusando-se a explicar melhor. O fundador da Altice falava aos obrigacionistas no âmbito da apresentação de resultados da Altice International, a holding que detém a participação da Altice Portugal.

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Há negócios que passam pela venda de participação, mas o ex-detentor fica com direito a juros ou dividendos futuros. Deverá ser um desses negócios que está aqui em causa. Mas não é conhecida a estrutura acionista até ao beneficiário último. Patrick Drahi garantiu, aos credores, que detém 100% da Next Alt, que por sua vez detém 90% da Altice Group SA. Segundo pesquisas feitas pelo Observador, há dois outros acionistas — veículos de investimento — que dão pelo nome de AFP I e AFP II, ambas sediadas também no Luxemburgo.

E por serem veículos, muitos no Luxemburgo, não se sabe o beneficiário último. Patrick Drahi também não explicou melhor porque disse: “esses 20% são sobre mim, não tem impacto sobre a Altice International ou qualquer outra companhia [da Altice]. É um assunto pessoal e não quero falar disso”, declarou quando questionado se tinha forma de se desfazer desse compromisso. E foi também aí que garantiu que se se provasse a má conduta do “sócio”, “há várias possibilidades”.

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Drahi tentou, em toda a sua intervenção, separar águas. Até negou que Armando Pereira fosse cofundador da Altice. “Quando fundei a Altice em 2001 criei uma equipa de gestão, no âmbito da primeira aquisição, e então contratei Armando Pereira em 2003, além de outros”, assumiu Drahi aos credores. “Ele estava encarregado das operações técnicas, incluindo compras técnicas. Como parte do seu papel, tal como outros gestores no grupo, Armando Pereira fez um pequeno investimento na primeira aquisição da Altice, representando menos de 1% do capital e recebeu um interesse económico [uma compensação] indexado aos investidores de private equity da Altice”. Com o tempo, continuou Drahi, “esta forma de interesse económico evoluiu e desde 2005 não detém uma única ação ou direito em qualquer entidade da Altice, mas simplesmente essa compensação de 20% da minha posição económica pessoal”.

Depois de estar envolvido na reestruturação do negócio na República Dominicana, em 2014, e depois em Portugal em 2015/6 [quando a Altice comprou a PT Portugal], não ficou mais envolvido na operação em qualquer subsidiária da Altice International”. Mas remeteu para terça-feira, para outra conversa com analistas, a propósito dos resultados da Altice France, a participação de Armando Pereira nessa geografia.

A Altice France também suspendeu gestores. Uma das pessoas que ficou em licença foi Tatiana Agova-Bregou, segundo avançou a Bloomberg, referindo que a executiva estava ligada ao negócio de conteúdos, aquisições e parcerias desde 2019. Segundo apurou o Observador, Tatiana Agova-Bregou é referida no processo Operação Picoas porque terá recebido um imóvel em Paris, adquirido em nome da sociedade Primevilla Investiments, controlada por Hernâni Vaz Antunes, que, segundo os investidores, nunca terá visto essa casa que terá sido entregue à gestão, um contacto pessoal de Armando Pereira.

A Altice USA tomou medidas idênticas. Nesse caso foi suspenso o genro de Armando Pereira, Yossi Benchetrit, que era o responsável pelas compras nessa geografia, depois de ter estado em Portugal quando a Altice detinha a Cabovisão, antes de comprar a PT.

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Também com ligações a todo o grupo, no qual era co-CEO além de chairman da Altice USA e da Altice Portugal, Alexandre Fonseca mantém funções suspensas.  Na Altice Portugal ainda está suspenso o administrador João Zúquete da Silva que tinha o pelouro do imobiliário. 

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A Altice assume que no grupo, ao todo, suspendeu um total de 15 pessoas.

Sobre Armando Pereira, Drahi garante que o português nunca participou na Teads (empresa da Altice para a publicidade), nem na operação de Israel (“não fala hebraico”). À República Dominicana não vai desde 2017. E em Portugal não participa em reuniões com gestores e não teve impacto no negócio há cerca de dois anos ou mais. Sobre França remeteu informações para mais tarde.

O  cofundador da Altice e chairman da PT, Armando Pereira, durante a intervenção na sessão de apresentação da Altice Labs, centro de inovação do grupo Altice, com sede e coordenação em Portugal, Aveiro, 20 de janeiro de 2016. PAULO NOVAIS/LUSA

Armando Pereira deixou de ser administrador em Portugal em 2017

PAULO NOVAIS/LUSA

Armando Pereira é suspeito de estar ligado a negócios com Hernâni Vaz Antunes que prejudicaram a Altice, em compras e fornecimentos da empresa, além das vendas de imobiliário. A investigação suspeita que altos quadros da Altice terão recebido contrapartidas de pelo menos 7,8 milhões de euros para que Armando Pereira e Hernâni Vaz Antunes faturassem cerca de 660 milhões de euros ao grupo francês.

E foi no âmbito desta investigação, denominada Operação Picoas, que Armando Pereira terá referido ainda deter uma participação de 22% do capital da Altice. Mas ao que o Observador apurou o Ministério Público chegou a pedir para Armando Pereira uma caução de 10 milhões, como medida de coação, porque esse seria o montante de dividendos que o arguido diz receber anualmente. Armando Pereira ficou em prisão domiciliária — tal como Hernâni Vaz Antunes — sem possibilidade de caução, indiciado de 11 crimes, incluindo corrupção e branqueamento.

Nas escutas a que foi sujeito, no decurso das investigações, Armando Pereira terá referido, segundo apurou o Observador, que os detalhes dos contactos e contratos na esfera do grupo Altice, nomeadamente os que envolvem Vaz Antunes, não podem chegar ao conhecimento do sócio maioritário da Altice, Patrick Drahi. Nas declarações que fez, no interrogatório com Carlos Alexandre depois de ter sido detido, Armando Pereira tentou, numa primeira abordagem, negar a proximidade com Vaz Antunes. 

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Negócios com Altice continuaram em 2023

A Altice comprou a PT Portugal em 2015, e desde então o Ministério Público suspeita que foi lesada com os contratos de fornecimentos que passavam por empresas de Hernâni Vaz Antunes, contratos de infraestruturas e outros. A Altice estima que podem estar em causa 5% das compras, mas refere não ser materialmente relevante para o grupo e, por isso, também não fez qualquer revisão das metas financeiras a atingir quer em 2023 quer nos anos seguintes. “Uma pequena parte das compras globais”, apontando mesmo para uma fatia de apenas um dígito (baixo ou médio) da totalidade das despesas, concentradas em compras técnicas, admitindo-se comissões ou margens adicionais nessas compras. Mas se o impacto financeiro leva a Altice a qualificá-lo de reduzido, Patrick Drahi já fez saber que, caso seja provado que a Altice foi lesada, irá pedir ressarcimento. Ou seja, ameaça desde já recorrer a tribunal para que a Altice seja compensada pelo dinheiro desembolsado a mais.

Há vários negócios a serem investigados. Alguns ligados a fornecimentos com a Cisco, Huawei e Xiaomi e outros mais pequenos, até de máquinas de vending colocadas nos edifícios da empresa terão passado por Vaz Antunes/Armando Pereira. A extensão dos contratos vai longe até nos anos, desde que a PT passou para a esfera da Altice, em 2015. Mas mesmo não tendo Armando Pereira ligação já direta à Altice Portugal — Drahi até disse que Armando Pereira não terá ligações há pelo menos dois anos — ainda há empresas ligadas a Vaz Antunes com contratos recentes com a Altice. Isso mesmo está indicado na investigação. Há um caso específico, a da Wedo Payment Solutions, registada na República Dominicana, e que tem Álvaro Gil Loureiro (também arguido na Operação Picoas) como diretor, que começou a ser fornecedora do grupo Altice este ano.

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A Altice comprou a PT em 2015

Miguel A. Lopes/LUSA

E na investigação surgem, mesmo, várias empresas criadas em 2023 na esfera dos arguidos, como é o caso da Aciernet PT (detida por Álvaro Gil Loureiro e Cátia Macedo), a Answer Talent Unipessoal (constituída através do fundo Global Growth e que tem, segundo os registos, como gerentes António Mello Campello e Rui Pedroso) e a Akhema Unipessoal (de Melissa Antunes e sob sua gerência).

Patrick Drahi garantiu, na mesma conversa com obrigacionistas, que foi pedido a todos os presidentes executivos das subsidiárias (em Portugal é Ana Figueiredo) para implementarem um conjunto de medidas, incluindo a suspensão de pagamentos e de novas compras a entidades potencialmente implicadas na investigação judicial. “Em casos limitados, em que os fornecedores são de serviços críticos para o negócio e que não podem ser substituídos em semanas, avançámos com um plano para mudar esses fornecedores assim que for possível”.

O grupo avançou, ele próprio, com algumas investigações internas, tendo a assessoria da Ropes & Gray e da DLA Piper France. A empresa assume que há detalhes que não pode, por sigilo judicial, fornecer e prometeu realizar um roadshow com investidores (ronda de encontros) em Londres e Nova Iorque, em setembro.

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