Artigo atualizado ao longo do dia
A rota de Pedro Marques, por este dias, tem-se feito de empresas escolhidas por uma de duas razões: ou é um exemplo em matéria de fundos comunitários, ou é um exemplo em matéria de investimento social. Isto para apanhar uma de duas valências do socialista, como ex-governante negociador do próximo quadro comunitário e futuro eurodeputado e como ex-governante que trabalhou com instituições sociais. Mas esta quarta-feira de manhã foi mais bolos. E tortas também. A comitiva socialista passou pela Dan Cake, em Póvoa de Santa Iria, que não se enquadra em nenhuma daquelas frentes. Aliás, o candidato do PS até ouviu queixas sobre isso mesmo. À tarde já alinhou outra vez pelos fundos, na segunda — e última iniciativa — do dia (fora comício), depois de perguntas dos jornalistas sobre as queixas da manhã.
Kantilal Jamnadas, presidente e fundador da empresa, fez as honras da sua fábrica. Apresentou linhas de produção, fez adivinhas sobre bolachas folhadas e apresentou os trabalhadores da Dan Cake aos candidatos socialistas Pedro Marques e Margarida Marques (número quatro da lista do PS às Europeias). Mas a grande dinamizadora da visita foi a antiga autarca de Vila Franca de Xira, a socialista Maria da Luz Rosinha, que nos 16 anos à frente do município estreitou laços com uma das fábricas mais importantes do concelho. Um caso de sucesso, de iniciativa empresarial individual que se orgulha (ou queixa) que “o único apoio” que teve em 40 anos “foram 250 mil contos quando se investiu nestas instalações”.
O fundador da Dan Cake (e líder da comunidade hindu em Portugal) queixou-se desta falta de apoios, em comparação com os países com que concorre, especialmente Espanha onde o IVA é mais baixo e os apoios existem. Já a sua empresa, “porque tem 5oo trabalhadores, já não é uma Pequena e Média Empresa”, por isso não é elegível para fundos europeus. “Os grandes projetos têm tudo, mas os de média dimensão não”, disse Kantilal Jamnadas que se queixa, por isso mesmo, de ter dificuldades em competir com os países que o rodeiam, nomeadamente Espanha, onde a taxa de IVA pelos mesmos produtos que saem da fábrica de Jamnadas a 23% é de 10%.
“É giro estarmos a discutir Europa. Temo feito pouco isso”
Pedro Marques havia de responder à tarde, questionado pelos jornalistas, para dizer que defende a “aproximação da base fiscal” entre Estados-membros. “Há países que têm bases fiscais que não têm a ver com a taxa de imposto mas com a parte de rendimentos que são ou não tributados que são diferentes de uns países para os outros. E isso tem permitido uma certa offshorização fiscal dentro do espaço da União Europeia”. Deu mesmo exemplos de países, como a Holanda, para reconhecer que “na perspectiva fiscal há diferenças competitivas que temos de ir alisando para termos todos uma base de competitividade idêntica”.
Depois destas afirmações espantou-se consigo mesmo: ” É giro que dentro desta conversa convosco estamos a discutir um bocadinho da Europa, temos feito tão pouco isso nesta campanha. E afinal até estamos, a pretexto de uma vista do PS, esta manhã a discutir um bocadinho do futuro da Europa e só por isso já valeu pena”. Desta vez a crítica é à comunicação social — que afinal o tinha questionado sobre estes mesmos temas –, mas aplica-a quase sempre a Paulo Rangel, de quem não quer dizer mal…dizendo.
Abstenção é o “pior inimigo” (e Rangel o mais criticado)
Depois de visitar a Tekever (a empresa portuguesa que se dedica à produção de drones e que tem fábrica no aeródromo de Ponte de Sôr), Pedro Marques atirou ao adversário dizendo que “tem faltado muita elevação à candidatura do PSD desde que começou esta campanha. Tem faltado manifestamente paciência para falar com as pessoas, até para falar com os jornalistas, parece. E depois houve esse momento lamentável a ideia de sobrevoar a dor daquelas pessoas e daquele território é num certo sentido como foi dito por aquele autarca uma afronta, em particular da Pampilhosa”, disse, insistindo no episódio que o fez fazer o discurso mais forte da campanha, anteontem à noite em Faro.
Rangel “escolheu sobrevoar a dor das pessoas”, acusa Pedro Marques
Ainda aconselha o PSD a “arrepiar caminho” e a “mudar de estratégia de campanha”, deixar de “dizer mal por dizer mal”. E promete, por seu lado, tentar “não andar a dizer mal dos adversários porque isso não ajuda a combater a abstenção e esse, garante é o seu “pior inimigo”. Mas a crítica à estratégia estava feita.
Quanto a si garantiu na terceira pessoa: “O Pedro Marques está calmíssimo e empenhadíssimo em falar com as pessoas, em explicar propostas para a Europa, em explicar porque a Europa é importante”. E depois ataca de novo o lado de lá dizendo que não foi “a campanha do PS que escolheu andar a sobrevoar a região centro em ves de falar com as pessoas afectadas”.
Quanto à abstenção, é um inimigo a abater e que, neste terceiro dia de campanha, o candidato socialista não se cansou de referir. Na reunião com os trabalhadores da Dan Cake esteve a sensibilizar para a necessidade de votar a 26 de maio. “Deixar os outros escolher por nós é muito perigoso”, disse Pedro Marques apontando para o que aconteceu no Brexit, quando muitos jovens deixaram de exercer o seu direito. No auditório da empresa estavam cerca de 30 trabalhadores que ouviram o mesmo apelo dos dois socialistas.
“O objetivo é votar, é fundamental votar”, dizia Margarida Marques. Foi a mesma mensagem que foram passando por cada trabalhador que encontraram na fábrica, com Maria da Luz Rosinha a dar uma ajuda preciosa na apresentação dos visitantes aos trabalhadores: “Estes são os nossos candidatos, o primeiro da lista, Pedro Marques, e a número quatro, Margarida Marques. São os dois Marques, mas não têm nada a ver um como outro”. “Somos uma equipa”, acrescentava o candidato. Mas era sobretudo Rosinha que fazia o combate à abstenção. Por aqueles corredores estreitos, quentes, entre máquinas e cheiro a bolos, sempre que apanhava alguém disparava: “É tão importante votar na Europa como nas autárquicas”.
Estas duas empresas foram as duas únicas iniciativas públicas que Pedro Marques teve nesta quarta-feira, dia em que voltará a contar com António Costa na sua campanha — no jantar-comício da noite, em Almeirim. É o segundo dia consecutivo em que o líder se junta à caravana socialista, depois do comício de Faro. Um momento alto depois de mais um dia sem a agitação típica de uma campanha eleitoral .