Contra minha vontade, acabei por ser o centro de uma polémica à portuguesa, misturando mentiras, verdades, ofensas públicas e desculpas privadas, histerias e solidariedades ideológicas, verdadeiras tiradas de ignorância, intolerância e fanatismo, vindas de supostos baluartes da intelectualidade, tolerância e liberdade.
Mas, graças a Deus, houve também provas de honestidade intelectual e de seriedade – e de amizade, solidariedade e simpatia – de gente que ideologicamente não tem nem nunca teve nada que ver comigo.
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Não estando na política partidária, a popularidade e a impopularidade interessam-me pouco e esta polémica já foi muito além daquilo que em tempo e espaço mereceria. Só volto a este ponto final porque, depois do que deveria ter sido o fim, houve quem quisesse, à minha custa e à custa da verdade, reescrever em sua defesa a história, levantando o frenesim de algumas almas perturbadas e a eventual dúvida a quem, de boa fé, acompanhou este folhetim. É para esses que fica o que se segue:
O cerne da questão foi a falsa insinuação de que eu teria concordado com o adiamento da minha conferência na Universidade Nova desde o princípio e antes do tempo da sua (não) realização. Coisa que, obviamente, não fiz.
Os factos
1. Fui convidado pela Nova Portugalidade (NP) a fazer uma conferência na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FSCH) da Universidade Nova de Lisboa (UNL) no dia 7 de Maio às 18h30. O tema da conferência era “Populismo ou Democracia? Brexit, Trump e Marine le Pen”.
2. No domingo, 5 de Março, Rafael Borges da NP informou-me das pressões da direcção da Associação de Estudantes junto da Direcção da FCSH para o cancelamento da conferência, acrescentando que o Director tinha resistido a tais pressões e que a conferência se mantinha.
3. Na segunda-feira, 6 de Março, por volta das 15 horas, o Director da FSCH, Prof. Francisco Caramelo, telefonou-me a dizer que a Associação de Estudantes da FCSH, reunida em RGA, se opusera à realização da conferência, e que, dada a situação latente de confrontação e violência, temia pela minha segurança. Sugeriu-me por isso fazer uma conferência mais tarde em ambiente mais cordato.
Rejeitei a proposta de adiamento e respondi-lhe que estava comprometido com os alunos da FCSH da UN que me tinham convidado e que por isso faria a conferência. Sublinhei ainda que me parecia um mau princípio que uma instituição se deixasse amedrontar e dissuadir por grupos minoritários, a julgar pelo número de intervenientes na RGA que se opunha à realização da conferência e pelas razões ideológicas que alegava.
Não deixei, no entanto, de acrescentar que, sendo o Prof Francisco Caramelo o Director da FCSH, a decisão de cancelar a conferência seria dele.
4. Na sexta-feira, 10 de Março, quatro dias depois do cancelamento da conferência e na sequência do impacto mediático que teve, fui contactado pelo Prof Fernando Rosas a pedido do reitor, Prof António Rendas, para uma conversa na reitoria da UN, onde estive reunido com o Reitor, o Prof Fernando Rosas e o Prof Caramelo.
A conversa foi muito clara: uma vez que a conferência tinha sido cancelada por decisão do Director da FCSH alegando razões de segurança e que o texto ia ser publicado no dia seguinte no jornal Expresso, não faria sentido algum repeti-la. Discutiu-se então, e só então, um “colóquio” a organizar e a realizar a seu tempo para que o caso não comprometesse o nome da Universidade e o do director da Faculdade e se encerrasse o assunto. Concordei de boa-fé com o dito colóquio.
O comunicado do Conselho da Faculdade é uma explicação oficiosa, e por todos entendida como tal, baseada numa proposta feita a posteriori para sanar e encerrar o assunto sem que o bom nome da UN saísse prejudicado.
5. No entanto, no dia 13 de Março, o Director da FCSH fez sair, também em comunicado, uma versão deturpada dos acontecimentos: a conferência nunca tinha sido cancelada e a Direcção da FCSH nunca cedera à pressão e às ameaças dos que, por razões ideológicas, “tudo fariam para que não se realizasse”. Limitara-se a adiar a conferência com a minha concordância dado “o clima de violência latente”.
Este comunicado do Prof Francisco Caramelo e algumas repercussões mediáticas, de que é exemplo o artigo de Daniel Oliveira no Expresso “O dia em que me deixei enganar por Jaime Nogueira Pinto”, obrigaram-me hoje a este esclarecimento.