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Brad Smith é presidente da Microsoft
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Brad Smith é presidente da Microsoft

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Brad Smith é presidente da Microsoft

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Presidente da Microsoft diz que metaverso vai ser "gradual". "Não é como se daqui a 12 meses estivéssemos a viver num universo alternativo"

Brad Smith diz que a empresa está entusiasmada com o metaverso e a parceria com a Meta, mas põe alguma água na fervura em relação ao tempo que demorará até revelar todo o potencial.

Brad Smith está a caminhar para a marca de 30 anos na Microsoft — e muita coisa mudou desde que o advogado norte-americano se juntou à tecnológica. A relação de Smith com o mundo da tecnologia começou ainda antes de ingressar na Microsoft. É conhecido como o primeiro profissional da história da sociedade de advogados Covington and Burling que, em 1986, percebeu a importância de ter um computador pessoal ao ponto de só aceitar a proposta de trabalho se tivesse um PC na secretária. A condição foi cumprida.

Alguns anos mais tarde, em 1993, passou efetivamente a trabalhar numa tecnológica. Os três primeiros anos na companhia foram passados na Europa, mais concretamente em Paris, onde Smith liderou a equipa dedicada a questões legais. Com o passar do tempo e com algumas promoções no currículo, regressou aos Estados Unidos e tornou-se em 2002 conselheiro-geral da Microsoft.

Eram os tempos quentes da tecnológica na área da concorrência, depois do desfecho do processo de 2001, em que a justiça norte-americana moveu uma ação devido ao domínio do navegador Internet Explorer. Durante uma década, Brad Smith esteve ligado aos temas da área da concorrência e ainda trabalhou no contacto com governos um pouco por todo o mundo. Em 2015, chegou a presidente da tecnológica.

Desde que assumiu a presidência de empresa — embora os poderes executivos estejam reservados a Satya Nadella, presidente do conselho de administração e CEO da Microsoft — Smith tem estado mais associado a temas como a ligação entre a tecnologia e as questões sociais, sustentabilidade ou ainda filantropia.

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Ao longo dos últimos anos, Brad Smith tem sido uma presença assídua na Web Summit, a cimeira dedicada à tecnologia e empreendedorismo. Na semana passada, esteve em Lisboa para intervir no palco principal do evento, mais uma vez para falar sobre alterações climáticas e alertar para o desafio “mais difícil” que a humanidade enfrenta.

A emergência climática não foi o único ponto na agenda do presidente da Microsoft na passagem por Portugal. Numa altura em que a Europa está em guerra, Brad Smith surgiu ao lado de Mykhailo Fedorov, ministro ucraniano para a Transformação Digital, para anunciar o reforço do apoio tecnológico à Ucrânia em 100 milhões de dólares.

Microsoft reforça apoio tecnológico à Ucrânia em 100 milhões de dólares para 2023.

Antes de regressar aos Estados Unidos, Brad Smith falou com o Observador nos escritórios da tecnológica, no Parque das Nações, a alguns minutos de distância da agitação vivida no Altice Arena e nos pavilhões da FIL. Além da sustentabilidade e do apoio à Ucrânia, o advogado que se transformou em presidente da empresa dona do Windows falou também sobre a visão para o metaverso e sobre a relação — que defende que devia ser mais próxima — entre Europa e Estados Unidos, principalmente no que toca a regulação.

Revolução da sustentabilidade “requer uma abordagem multidisciplinar”

Tive oportunidade de ouvir uma das várias sessões que fez na Web Summit, a que esteve mais focada no tema da sustentabilidade. Queria explorar uma das ideias que transmitiu, a de que vão ser necessárias competências para enfrentar as alterações climáticas. De que tipo de competências estamos a falar e quem é que deve ficar responsável pelo seu desenvolvimento?
Vou dividir a questão em duas partes, a primeira sobre as competências necessárias e a outra sobre como é que devemos tentar chegar a essas competências. É interessante porque acho que a revolução da sustentabilidade realmente requer uma abordagem multidisciplinar. Noutras palavras, as pessoas, por um lado, precisam de continuar a desenvolver especializações nos trabalhos que já têm e mas precisam de adicionar competências ligadas à ciência climática ou sustentabilidade. Um bom exemplo é, por exemplo, o das pessoas que estão ligadas à área de compras, que continua obviamente a ser um elemento crítico [para as empresas]. Essas pessoas agora precisam de olhar para este novo fator [da sustentabilidade] quando avaliam fornecedores — quanto carbono é que foi emitido, que tipo de relatórios estão a receber dos fornecedores ou o que sabem sobre ciência climática para perceber as diferentes extensões das emissões de carbono.

Pense na fluência digital: quando entrámos na era digital as pessoas tinham realmente de aprender como usar os computadores e as aplicações de computação. Isso não quer dizer que deixaram de aprender outras coisas. É algo que, nos próximos anos, penso que tornar-se-á parte do trabalho mainstream para a maioria das pessoas. Além disso, haverá também algumas pessoas especialistas em sustentabilidade, tal como há pessoas que escrevem código ou são especialistas em ciências da computação. Mas o maior impacto vai estar numa dimensão mais ampla.

Enfrentar as alterações climáticas “vai ser a coisa mais difícil que a humanidade já fez”, diz presidente da Microsoft

E quem deve ficar responsável?
Se analisar o nosso relatório [de sustentabilidade], fazemos três recomendações para a área das competências. Uma passa pela ideia de conseguir mapear as competências [que vão ser necessárias] e isso requer uma parceria. Em empresas como a Microsoft e o LinkedIn temos muitos dados e temos de partilhá-los com agências governamentais, que, por sua vez, têm de estar focadas nas necessidades da força de trabalho… Do lado das empresas, qualquer negócio precisa de tomar as suas decisões, tem de pensar em como vai investir e em que formação quer dar aos seus trabalhadores. Acho que as empresas vão investir um pouco mais nesta década em formação. Parte do nosso papel enquanto companhia também é o de disponibilizar opções que permitam às pessoas aceder às melhores práticas para usar ferramentas online que lhes permitam aprender nos vários serviços que disponibilizamos. Na educação, num sentido mais geral, acho que vamos ver a ciência climática a entrar em mais áreas e numa idade mais tenra [da formação dos alunos].

Como o seu exemplo da física. [Durante a intervenção na Web Summit, exemplificou que a física passou a estar no currículo das escolas norte-americanas na sequência dos planos para a exploração espacial.]
Exatamente. É até por isso que estamos a adicionar estas pequenas peças ao [jogo] Minecraft, para que as pessoas possam usar o Minecraft desde cedo para começar a expor as crianças a aspetos diferentes da ciência climática. E depois haverá implicações para as universidades: em que é que os estudantes têm oportunidade para realmente estudar e especializarem-se nestes novos trabalhos. É bastante abrangente em relação ao que aí vem e no que precisamos de focar em termos de competências para sustentabilidade.

"Não vejo como é que a humanidade poderá florescer no planeta sem nos mexermos depressa na transição climática que precisamos de fazer."

Muitas empresas parecem usar o termo ESG [a sigla em inglês para Ambiente, Sociedade e Governança] como uma palavra-chave ou mesmo para efeitos de marketing. Qual é a sua visão em relação a isto? As pessoas deviam mesmo estar a olhar para isto com atenção?
Provavelmente é como muitas coisas na vida: um pouco de todas as opções. Acho que é muito importante, porque o ‘E’, o ‘S’ e o ‘G’ são bastante diferentes uns dos outros. A questão ambiental, o ‘E’ [environment], vai ser de importância fundamental, até porque o mundo precisa de se transformar, é uma prioridade tão grande… Não vejo como é que a humanidade poderá florescer no planeta sem avançarmos depressa na transição climática. E todas as empresas precisam de fazer parte disto e irão precisar no futuro — quer queiram ou não — porque a regulação governamental assim vai exigi-lo.

Se depois passarmos ao ‘G’, que diz respeito a governance, todas as organizações têm, é só uma questão de ser boa ou má. Acho que aquilo que o ‘G’ está realmente a pedir às empresas é que tenham bons sistemas e processos de governança e pensem no que isso representa. Se for uma empresa cotada, começa com ter um bom conselho de administração e com os contributos que se recebe dos acionistas — realmente resume-se a como é que se gere a empresa e a necessidade de conformidade. O maior debate muitas vezes tem a ver com o ‘S’, com o aspeto social. Para mim, pelo menos na Microsoft, quer dizer duas coisas: qual é a nossa missão fundamental e como a definimos. Temos a missão de dar poder a outras pessoas e organizações no planeta para usarem a tecnologia e conseguirem conquistar mais.

E isso também quer dizer vir para Portugal e conseguir trazer mais lucro para o país do que para nós e mais lucro para os nossos parceiros. Se fizermos isso, que é parte daquilo que temos a obrigação de fazer, temos também de olhar para o mercado e perceber como criamos mais iniciativas de broad skilling, que é em parte de natureza filantrópica. Por isso, acho que, mais do que nada, pede-se às empresas que comecem a fazer questões mais profundas: “para que é que se existe?”. Claro que é preciso fazer dinheiro…

Muitas das intervenções de Brad Smith na Web Summit têm alertado para o tema da sustentabilidade.

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Toda a gente precisa.
Mas se a empresa desaparecesse amanhã, alguém sentiria falta? Que parte da sociedade é que poderia ser prejudicada se a empresa desaparecesse? Quando se começa a pensar na razão de se existir e na utilização do conhecimento para ter um impacto mais profundo e benéfico na comunidade com quem se faz negócio… Esse tipo de introspeção, conhecimento e discussão com os empregados e acionistas é realmente muito positiva.

“Portugal tornou-se extraordinariamente dinâmico do ponto de vista tecnológico”

Como é que vê a operação em Portugal? Há alguns planos especiais para o país?
Olhamos todos para qualquer lugar no planeta a partir da nossa própria experiência. E tenho uma experiência muito longa [com Portugal], porque vim para cá em negócios pela primeira vez há 31 anos, em 1991.

"A oportunidade está a surgir não só para as pessoas que vêm para cá mas para quem cresce cá. Criar negócios cá, ingressarem em empresas cá, como na Microsoft. Mas depois também há os problemas que vêm com o crescimento económico: os preços da habitação mais altos."

No princípio da Microsoft em Portugal.
Sim, quando a Microsoft tinha dois empregados cá. Também era realmente o início da indústria de software em Portugal, não havia bem uma indústria dessas cá. O peso da pirataria de software era de 98%, o que não era invulgar na maioria dos países da Europa do Sul na altura. Por isso, a cada ano que venho cá, comparo Portugal: como é que estava no ano passado e como era da primeira vez que vim. Para mim, o ponto interessante é como é que Portugal se tornou extraordinariamente dinâmico do ponto de vista tecnológico e de uma perspetiva de software. Portugal estava a florescer antes da pandemia e, no entanto, a pandemia permitiu ainda a mais pessoas descobrirem Portugal. Abriu a porta às pessoas para trabalharem de forma remota: podiam trabalhar a partir de qualquer parte do mundo e um grande número de pessoas escolheu Portugal. Por isso, da perspetiva tecnológica, Portugal está numa impressionante trajetória ascendente.

Está a ver nascer empresas que começam cá, ficam no país, mas que servem o mundo a partir daqui. E acho que isso é realmente interessante e representa uma grande promessa a nível económico para o futuro de Portugal. A oportunidade está a surgir não só para as pessoas que vêm para cá mas para quem cresce cá. Criar negócios em Portugal, as pessoas ingressarem em empresas cá, como na Microsoft. Mas depois também há os problemas que vêm com o crescimento económico: os preços da habitação mais altos, por exemplo. As pessoas começam a ter mais dificuldade em encontrar um sítio para viver. Por exemplo, se forem um estudante que venha para Lisboa para a universidade — as casas que há três anos estavam disponíveis para os estudantes agora estão a ser arrendadas através do Airbnb a um nómada digital que veio do outro lado do mundo. Todas as coisas na vida têm múltiplas dimensões e vemos Portugal agora a ter de lidar com isso. Para nós, enquanto companhia, este tornou-se o nosso segundo maior hub na Europa, um dos maiores do mundo.

Qual é o maior na Europa?
O da Irlanda, continua a ser o maior. Mas acho que tem tanto de extraordinário como entusiasmante ver tudo o que continua a desenrolar-se aqui em Portugal.

Água na fervura no metaverso: “Não é como se daqui a 12 meses estivéssemos a viver num universo alternativo”

Falando em novas formas de trabalhar, a Microsoft está muito focada nas áreas de trabalho remoto e até na possibilidade de trabalhar no metaverso. No ano passado, numa entrevista na Web Summit, minimizou um pouco a expansão desta tendência. Passado um ano e após o anúncio de uma parceria entre a Microsoft e a Meta, como é que vê o metaverso agora?
Bem, não de uma forma tão diferente como via há um ano. Basicamente, a frase que usei no ano passado foi a de que “ainda se está no mundo real, não é como se se morresse e se fosse para o céu quando se está no metaverso”. E penso que a realidade aumentada e a experiência imersiva é algo que complementará muitas coisas diferentes que fazemos. Estamos muito entusiasmados enquanto companhia sobre o que é que pode fazer para permitir a alguém ir ao chão de fábrica noutro local e ajudar a inspecionar e reparar equipamento, por exemplo. Haverá muitos usos diferentes e reais no mundo e acho que esses tornarão o dia-a-dia, o trabalho e os negócios mais produtivos, eficientes e bem-sucedidos. E, ainda assim, continuo a dizer que os melhores usos da tecnologia entrelaçam-se com a vida diária das pessoas de forma a tornar o mundo um lugar melhor.

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Porquê?
Não acho que devemos olhar para a tecnologia como um mundo alternativo. E, infelizmente, acho que esse é um dos efeitos secundários de usar esta palavra [metaverso], faz parecer que estamos numa dimensão alternativa ou num local diferente. E, acho que, quando fazemos isso, às vezes, perdemos o foco das outras ligações que são importantes para a humanidade, para as pessoas entre si. Sim, adoramos o Teams, acreditamos em trabalho virtual e remoto, mas também sabemos que as nossas pessoas precisam de se juntar. Precisam de comer uma refeição real, com pessoas reais, numa mesa real, porque muitas vezes é aí que são forjadas muitas ligações sociais e é onde são resolvidos problemas e se cria confiança. Na minha visão, deverá ser sempre sobre a combinação entre o melhor da tecnologia e o melhor daquilo que emergiu da humanidade ao longo de muitos, muitos milénios. É isso que estamos a tentar atingir enquanto companhia. É aquilo que estamos a tentar fazer em todo o mundo, depois da Covid, e perceber como é que deixamos as pessoas viver e trabalhar onde querem mas também como é que possibilitamos que estejam juntas. É um dos maiores tópicos de conversa em novembro de 2022.

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Portanto, o metaverso não será algo para agora?
Bem, a tecnologia está surgir, as experiências estão a descolar e estas coisas estão a tornar-se maiores, melhores e mais entusiasmantes. E estamos entusiasmados com a nossa parceria com a Meta, não há confusão aí. E, como muitos fenómenos da tecnologia, vai desenrolar-se de forma gradual e ao longo do tempo. Não é como se daqui a 12 meses estivéssemos a viver num universo alternativo. E isso provavelmente é bom (risos). A tecnologia vai permitir-nos fazer as coisas de uma forma mais fácil do que hoje em dia, incluindo ligarmo-nos uns aos outros.

Embora o metaverso só esteja numa fase inicial, algumas pessoas já estão a falar sobre a necessidade de regulação. Qual é o seu ponto de vista neste tema? É uma conversa para se ter nesta altura?
Acho que é bom que a conversa comece agora. Não devemos esperar pelo metaverso para regular as questões que existem hoje em dia. E, de todas as questões que possam surgir sobre o metaverso, acho que uma das mais importantes é a da segurança digital e da proteção das crianças, especialmente se elas vão passar mais tempo neste tipo de domínios. Temos muito trabalho a fazer agora no que diz respeito à proteção das crianças nos jogos, redes sociais e em muitos outros sítios. Espero que se faça mais para abordar os problemas que atualmente temos. Pensem no futuro, liguem estas duas coisas e usem os avanços regulatórios de que precisamos hoje para ter uma fundação mais forte para o que será a próxima geração de questões que surgirá da próxima geração da tecnologia.

Apoio à Ucrânia poderá ser analisado “ano a ano”

Teve um anúncio com o ministro da Ucrânia, na Web Summit. Quão importante é para a Microsoft disponibilizar este apoio à Ucrânia e em que moldes é que isto será feito?
Em primeiro lugar, acho que representa o papel que desempenhamos hoje no mundo. Para mim, isso é um dos fatores que nos define enquanto empresa e mundo da tecnologia em 2022. Fundamentalmente, temos um papel de proteger não só os indivíduos e organizações que são nossos clientes, mas também temos um papel na proteção de países. Temos um papel a proteger Portugal, por exemplo, mas obviamente em proteger a Ucrânia. A subsistência e até a sobrevivência da Ucrânia, enquanto governo, como país e sociedade, depende em parte de o governo mover a sua infraestrutura digital para a cloud da Microsoft e da nossa capacidade de dispersar os seus dados pela cloud pública e centros de dados na Europa ocidental, fora do alcance dos mísseis russos. Além disso, a todas as horas de todos os dias, temos toda a nossa proteção de cibersegurança, que desempenha um papel tão importante nesta guerra. Aquilo que anunciei [na Web Summit] foi que toda a tecnologia que estamos a disponibilizar gratuitamente à Ucrânia desde que a guerra começou, a capacidade de executarem a sua infraestrutura digital na cloud, vai continuar até ao fim de 2023. E isso é um compromisso de cerca de 100 milhões de dólares de valor adicional.

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E veem a possibilidade de prolongar esse apoio além de 2023?
Não estamos a impor um prazo rígido de 31 de dezembro de 2023 para este apoio, mas estamos a olhar para a questão numa base de análise ano a ano. Estamos todos com esperança de que cheguemos a um ano em que esta guerra termine com um desfecho positivo e vamos ter de esperar para ver quando é que isso acontece. Mas o anúncio reflete o nosso compromisso para com a Ucrânia, enquanto país, e para com o governo. Foi uma oportunidade muito boa a de reunir com o ministro Fedorov [responsável pela pasta da Transformação Digital na Ucrânia] para anunciar o apoio publicamente. Acho que é obviamente importante para o nosso papel enquanto companhia e também penso que é uma área onde o setor tecnológico tem estado a fazer um bom trabalho. Uma série de empresas chegaram-se à frente e avançaram para trabalhar em conjunto. Nós já trabalhámos com diferentes governos e o papel que estamos a ter é tão importante quanto o de outras companhias [do setor].

A guerra e o tema da inflação têm sido difíceis para muitas empresas. O próprio setor da tecnologia e a Microsoft têm estado a ser afetados por este contexto. Voltando à sustentabilidade, acha que este ambiente macroeconómico pode afetar a forma como as empresas olham para os esforços nesta área?
É uma pergunta muito interessante e tenho pensado muito nisso, especialmente a propósito da COP27, no Egito. Acho que, a curto prazo, as pessoas olham para as pressões da guerra, a subida dos preços da energia e a falta de acesso ao gás russo como fatores que representam um risco de retrocesso para as empresas e países, especialmente na Europa ocidental. E isso é compreensível, as pessoas precisam de enfrentar o inverno, precisam de aquecer as casas, escritórios, fábricas. E, se precisarem de se virar para o carvão ou para outros combustíveis fósseis, podemos ver isso a acontecer. E é isso que está a deixar as pessoas mais pessimistas.

Mas há um lado bom, na minha opinião, que é todo este foco na transição de ir para além do gás russo, que está a levar as pessoas, especialmente a nível governamental, a trabalhar para acelerar a transição para energias mais renováveis. E não podemos ter novas novas fontes de energia solar ou eólica no inverno de 2022, mas acho que em 2023, 2024 ou 2025, vamos ver a adoção de energia renovável a acelerar em parte devido a estes mesmos fatores. A curto prazo as coisas vão tornar-se mais difíceis ou piores, mas a médio prazo vai ajudar-nos a transitar o mundo para as energias renováveis mais depressa. E isso é importante para a Microsoft, porque estamos focados em ter energia renovável para os nossos data centers.

Europa tem de ser “20% mais lenta” e EUA “200% mais rápidos” para se moverem ao mesmo ritmo na regulação

A Europa aprovou novas regras, o DSA [Ato dos Serviços Digitais] e o DMA [Ato dos Mercados Digitais], como é que isso poderá afetar as relações entre Europa e Estados Unidos? E vai haver algum impacto para a Microsoft?
Em primeiro lugar, na relação entre a Europa e os Estados Unidos, o que é realmente preciso fazer é encorajar os dois governos dos dois lados do Atlântico a trabalharem de forma mais próxima. Uma parte já começa a acontecer.

Estão a tentar.
Sim, estão a tentar e acho que há algum progresso a ser feito. Neste momento, a União Europeia está a mover-se de forma mais rápida do que os Estados Unidos no que diz respeito à regulação de tecnologia. Acho que vamos continuar a ver esse ritmo mais rápido na Europa ao longo dos próximos 12 meses, por aí. No próximo ano, mais ou menos quando estivermos nesta altura, então a Comissão Europeia começará a focar-se no processo de sucessão. E, quando se entrar nessa fase, o ritmo de regulação habitualmente abranda um pouco. Neste momento a Europa está a mover-se de forma rápida e os Estados Unidos precisam de focar-se mais em como ter mais regulação em ação para que haja uma maior capacidade de avançar de forma mais semelhante, consistente ou mesmo coordenada. Isso seria algo bom.

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E para a Microsoft?
Em termos do que significa para uma empresa como a Microsoft, quer dizer que temos de pensar de forma séria em como é que nos adaptamos a esta nova era de regulação tecnológica. Isso é outra questão em que  estamos a trabalhar. Temos projetos dentro da Microsoft que estão virados para governança regulatória. Voltando aos critérios ESG, a governança para uma empresa tecnológica realmente traduz-se em como é que internalizamos algo que é regulação externa. E, depois, em como é que implementamos isso nos vários processos de governança e como é que os modernizamos para nos adaptarmos a um mundo onde há mais regulação. Requer mais diálogo entre nós e os reguladores, também para que possamos partilhar para onde é que achamos que a tecnologia está a ir e para podermos aprender mais sobre o que [reguladores] querem em termos de regulação e em como é que podemos usar isso.

Tentamos aprender, eles tentam aprender e tentamos fazer avançar isto em conjunto. Às vezes preocupa-me que o ritmo de regulação possa ser tão rápido que se torna difícil aprender a partir da experiência. Mas vamos acompanhar e acho que, à medida que os anos passem, vamos todos tornar-nos melhores nisso. Mas também acho que será preciso haver melhor coordenação regulatória entre os governos além-fronteiras e, talvez de forma mais importante, entre os dois lados do Atlântico.

E o que é que pensa que seria um bom ritmo de regulação?
Se a Europa fosse 20% mais lenta e os Estados Unidos 200% mais rápidos, estariam ambos a mover-se praticamente ao mesmo passo. E isso talvez não fosse a pior coisa do mundo.

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