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Os vencedores

António Costa

O congresso gostou de ouvir Pedro Nuno Santos e gostou de ouvir Francisco Assis; aplaudiu Sócrates e aplaudiu Ana Gomes; sentiu-se maravilhado com tudo e sentiu-se maravilhado com o seu contrário. Haverá algo melhor do que isto para um líder que pretende manter a sua margem de manobra para fazer o que entender depois das eleições? António Costa poderá governar sozinho se tiver maioria absoluta, prolongar a “geringonça” se for conveniente, ou abandonar o PCP e o BE se for preferível. Aconteça o que acontecer, Costa estará “onde sempre esteve” — no local que estiver mais perto do poder, com o PS a aplaudi-lo com zelo.

Pedro Nuno Santos

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Pedro Nuno Santos parece um daqueles empregados de escritório que se sentam na mesa do chefe quando ninguém está a olhar. A ambição de suceder a António Costa é tanta que, a dada altura, se torna um embaraço ter de chamar a atenção para o facto de que o líder da ala esquerda do partido vai ter que esperar alguns anos até chegar ao cargo que julga ser seu por direito. De qualquer forma, há um ponto incontestável: se neste congresso tivesse existido um concurso para eleger o dirigente mais aplaudido, Pedro Nuno Santos ganharia sem oposição. Mais ou menos como Pedro Santana Lopes no PSD.

Karl Marx

O filósofo alemão saiu directamente da campa para o palco do congresso do PS. Foi ressuscitado a golpes de retórica pela voz entusiasmada de Pedro Nuno Santos, que foi buscar ao baú a frase célebre: “De cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades”. Na cabeça do líder da ala esquerda do PS, esta é a definição perfeita de “socialismo”. Ao ouvi-lo elaborar um pouco mais sobre o tema, nota-se, com algum constrangimento, que Pedro Nuno Santos não percebeu o seu significado. “De cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades” não é, definitivamente, uma espécie de definição teórica do Serviço Nacional de Saúde. E, decididamente, não é também a frase fundacional do socialismo — é a frase fundacional do comunismo. Apesar de tudo, há diferenças. De qualquer forma, como diria Francisco Louçã, “Marx vive”. Pelo menos no PS.

Os vencidos

José Sócrates

Prometia um estrondo, acabou num sussurro. José Sócrates transformou-se num daqueles tios velhos em jantares de Natal: todos os familiares temem um escândalo e, para neutralizar a ameaça que pode estragar a refeição, recebem-no com um afago nas costas e um elogio discreto. No primeiro dia, os congressistas aplaudiram quando viram a sua fotografia no ecrã gigante e Costa lembrou o seu europeísmo. Depois, nada. Sócrates rezava por um partido dividido, saiu-lhe um partido indiferente.

Ana Gomes

A eurodeputada disse ao Carpool do Observador que entrou na política “para partir a loiça toda”, mas a verdade é que os pratos Companhia das Índias estiveram a salvo no congresso do PS. Ana Gomes falou sobre corrupção, claro, mas nunca soletrou o nome “Só-cra-tes”. Foi tão suave, tão suave, tão suave que até acabou aplaudida pelo partido que gosta de criticar.

João Galamba

Passou de porta-voz a sem-voz. João Galamba nem sequer foi ao palanque discursar neste congresso. Após ser anunciado que Maria Antónia Almeida Santos seria a sua sucessora, Galamba apressou-se a dizer que saiu “a seu pedido”. O argumento até fez lembrar as exonerações governamentais em que, nos despachos, mesmo que estejam a ser demitido pelos governantes, a versão para efeitos de despacho é sempre que o visado sai “a seu pedido”.

Francisco Assis

Francisco Assis até disse que continua a achar a “geringonça” uma solução má, mas disse que António Costa é um primeiro-ministro bom. Foi à custa de elogios ao seu antigo adversário que conseguiu eliminar o “irritante” que existiria à partida e arrancar aplausos na sala. Mostrou-se ainda disponível para as Europeias, o que soou a auto-convite. E às Europeias e batizados, só vão os convidados. Tentou mostrar que está bem com António Costa e até o tratou por tu, mas amigos, amigos/PS à parte. Conseguiu aplausos, mas perdeu força para o pós-Costa. Esperava-se mais.

Fernando Medina

O medinismo não pegou, ao contrário do pedronunismo. Este foi o primeiro Congresso pós-autárquicas e o homem que conseguiu ganhar a maior câmara do país (apesar de ter perdido a maioria absoluta) não conseguiu capitalizar essa vitória. Tem uma câmara que vale mais que um bom ministério, mas conseguiu que o secretário de Estado-ministro (Pedro Nuno) lhe passasse a perna. Perdeu em toda a linha para aquele que pode ser o seu opositor: no palco, no carisma, nas ideias. Neste momento, é fixe o PS estar à esquerda e, enquanto assim for, Pedro Nuno está à frente do autarca Medina. Também não ajuda ser óbvio para todos que o seu vice-presidente na câmara, Duarte Cordeiro, está do outro lado da barricada.

Os espectadores

António José Seguro

O Congresso trouxe a confirmação de algo que toda a gente sabe no partido há três anos: não há segurismo, nem seguristas. Os que apoiaram “o Tozé” ou renderam-se a Costa ou juntaram-se ao movimento de Daniel Adrião ou ficaram, simplesmente, longe das disputas partidárias. O silêncio até pode ser de ouro para o futuro político de António José Seguro (se é que o quer ter), mas é um nome que aparece cada vez mais como nota de rodapé no partido. Teve, porém, uma pequena vitória. Quando elogiava o legado dos anteriores secretários-gerais, António Costa fez-lhe uma referência simpática. Ainda assim, o seu papel parece reduzido ao retrato que tem na galeria de ex-secretários-gerais no Rato. Ou, de como o chamam nos bastidores, de “exilado das Caldas”.

Rui Rio

O Congresso correu de feição a António Costa. Logo, isso é mau para Rui Rio. Enquanto líder da oposição, por muito que seja mais próximo de Costa do que Passos, qualquer vitória do líder do PS é uma derrota sua. Para Rio é positivo o facto de o PS querer ser “charneira” ao centro, negociando à esquerda e à direita, como referiram Costa e César. Porém, os militantes/delegados do PS — como se vê pelo aplaudómetro e pelas intervenções no palanque — empolgam-se mais com a ideia de “geringonçar” com o pedronunismo do que com a ideia de fazer entendimentos no velho “centrão”. Dupond não ajudou Dupont.

Marcelo Rebelo de Sousa

O Presidente da República aproveitou o Expresso para, de forma didáctica, explicar as regras do jogo aos militantes do PS sobre um dos temas que dominou o congresso, a eutanásia. E as regras são estas: se o PS conseguir aprovar a despenalização, Marcelo veta-a. Talvez por causa disto, António Costa decidiu finalmente assumir em público a sua posição sobre o tema, depois de ter passado um largo tempo a evitar comprometer-se. Ficou claro logo no discurso inicial: o líder do PS é a favor da despenalização da eutanásia. Em casa, agarrado ao televisor, Marcelo deve ter tomado nota.