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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Punhais, mágoa e três vices fora. O dia turbulento do Chega que abalou a unidade do partido

Acusações de traição, nepotismo, rutura e ajustes de contas. O segundo dia de congresso do Chega ficou marcado pela despromoção de três vices e por críticas ao excesso de protagonismo de um clã.

André Ventura decidiu despromover três fundadores de uma só assentada: Nuno Afonso, Pacheco Amorim e José Dias. Se o ideólogo Pacheco Amorim terá sido o mentor da “renovação”, o mesmo não se pode dizer dos restantes. Nuno Afonso, o militante número dois e que ganhava protagonismo no partido, dizia horas antes da decisão ao Observador que “ficaria magoado” se Ventura o retirasse do cargo. Foi o que aconteceu. Já depois ouvir-se-ia a Mesa a anunciar: “O Nuno Afonso quer-vos dizer umas palavras”. E do púlpito enviou várias indiretas a Ventura e opositores internos: “Mesmo ferido, apunhalado e magoado, não vou desistir nunca de lutar pelo meu país”. Por isso mesmo, aceitou ficar como vogal.

Nuno Afonso saiu emocionado do palco, num discurso em que contestou a tese de que André Ventura ergueu o partido sozinho, já que ele, esteve lá desde o início. Literalmente: foi ele o grande responsável pela recolha de assinaturas que formalizou o nascimento do partido, o que lhe mereceu acusações e denúncias de irregularidades nesse processo. Antes de o partido arrancar: foi candidato autárquico do PSD em Loures, em 2017, ao lado de Ventura. São amigos há 20 anos.

Mas a rutura tornou-se evidente no discurso do até agora vice-presidente. Ao ponto de Nuno Afonso ter contestado o filme que abriu o primeiro dia do III Congresso do Chega e que falava no “milagre” de Ventura. “O vídeo que abriu ontem [sexta-feira] o congresso começou com as palavras ‘um homem sozinho que criou um partido’. O André não esteve sozinho e é importante que isto fique bem esclarecido”. Saiu aplaudido. Ventura teve mais uma demonstração de força: despromoveu o número dois, coordenador autárquico e candidato à Câmara Municipal de Sintra. E saiu por cima.

José Dias também saiu zangado com Ventura, mesmo que no palco tenha dito que não contesta as decisões do líder. Também em entrevista na rubrica “A Cadeira do Poder Autárquico”, do Observador — que será publicada este domingo –, ainda antes de ser conhecida formalmente o afastamento dos três ‘vices’, José Dias confessava a mágoa por o presidente do Chega não ter falado com ele. “Não me explicou porquê“, desabafava.

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“Gostava muito que ele tivesse tido tempo para falar comigo, revelava outra preocupação”, notava o militante nº14 do partido. E puxava dos pergaminhos dos tempos em que o partido começou do zero: “Sou fundador, tenho o meu nome no Tribunal Constitucional. O meu património responde pelo partido. Assim, inclusive, alguns contratos de algumas sedes do partido Chega, da sede nacional. Portanto, vou continuar a ser militante do Chega.”

José Dias sai beliscado da guerra com a ala mais religiosa do partido. Pedro Frazão, do Opus Dei, sobe de vogal a vice-presidente, apesar de ter sido visado por uma moção temática crítica do crescimento dos membros da prelatura no partido — moção que acabou chumbada.

Também o Partido Pró-Vida, de Manuel Matias, continua a manter a sua influência e o antigo presidente do PPV é mesmo candidato ao cargo mais poderoso do partido a seguir ao líder: presidente da Mesa do Congresso. A filha, Rita Matias, mantém-se como vogal e rosto da Juventude do Chega.

No palco, José Dias apontou diretamente a mira às ligações familiares, advertindo André Ventura de que o Chega é um “local para competência” em que os “amigos têm de ficar à porta, assim como os familiares”.

Rui Paulo Sousa

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Em entrevista ao Observador, horas antes de Nuno Afonso e José Dias terem falado sobre a questão no palco, Pacheco Amorim não atribuia grande importância ao mal-estar interno.

“É evidente que qualquer alteração ao statu quo é sempre fonte de alguma turbulência. Mas há turbulências saudáveis e turbulências pouco saudáveis. Esta parece-me saudável porque traz uma hipótese de renovação, de dar palco a outras pessoas. Há muita coisa para fazer no partido”, remata.

Mudanças provocaram ruturas

José Dias não aceitou em paz a saída da direção e decidiu candidatar-se ao Conselho Nacional de Jurisdição, à revelia do líder. Com quem não falou André Ventura, que não apoia oficialmente nenhuma lista.  Oficiosamente é diferente: o líder apoia a lista de Rodrigo Taxa, homem da confiança do presidente do Chega e assessor jurídico do partido na Assembleia da República. Há ainda outra lista contra a que é mais próxima do líder, liderada por Carlos Monteiro.

Os avanços de José Dias e de Carlos Monteiro com listas para o Conselho de Jurisdição mereceu resposta à altura de Rui Paulo Sousa, homem de confiança de Ventura, diretor da campanha presidencial, vogal da direção e presidente da Comissão de Ética.

O dirigente do Chegou subiu ao palco para atirar a doer. “Os nossos inimigos não estão todos lá fora“, disse, colando Carlos Monteiro e José Dias a uma linha anti-Ventura.

Rita Matias

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Denúncia de nepotismo e Carlos César

A renovação da direção do partido foi apenas uma das frentes de batalha que a direção teve enfrentar. A influência da famíla Matias no partido — à cabeça Manuel Matias, ex-líder do extinto PPV e da filha Rita Matias, vogal da direção; mas não só — tem provocado urticária numa ala do Chega.

Por dois motivos, um ideológico e outro de equilíbrios internos. O partido sempre congregou militantes com várias sensibilidades: católicos, evangélicos, liberais, conservadores, sociais-democratas… O excessivo pendor religioso traduzido pela família Matias causa alguns anticorpos.

Aliás, outra novidade que reflete bem a tensão entre sensibilidades no partidos: Lucinda Ribeiro, cristã evangélica ultraconservadora, apoiante de primeira hora de Ventura, acabou por deixar a direção, onde era vogal.

Depois, há questão da distribuição de lugares: desde agosto de 2020, altura em que o PPV, então liderado por Manuel Matias, se fundiu com o Chega, o clã tem ocupado lugares de destaque na cúpula do partido e no aparelho local. Rita Matias, por exemplo, entrou diretamente para a direção do Chega no dramático congresso de Évora.

A denúncia de uma alegada cultura de nepotismo no partido foi várias vezes denunciada ao longo do segundo dia de congresso. Mas houve quem o metesse mesmo no papel: Pedro Boaventura, militante do partido pelo distrito de Braga, apresentou uma moção onde se queixava da “enorme e completa ‘cunhalização‘ nos lugares nomeados e distribuídos dentro das estruturas, quer seja por serem familiares, por serem amigos, por serem clientes ou mesmo parceiros de interesses, de outros meandros.”

Este militante chegava mesmo a usar o exemplo de Carlos César, presidente do PS, para atacar diretamente a direção do partido. “Tanto falamos e tanto ‘batemos’ publicamente no nepotismo de Carlos César do PS Açores! Ao fazê-lo, nunca poderemos ignorar o que temos dentro de portas do nosso partido, não podemos continuar a fechar os olhos aos vários casos de nepotismo já instalados nas várias estruturas, espalhadas um pouco por todo o País, e aos casos que já se adivinham nos próximos e breves tempos.”

A moção acabou por ser rejeitada por larga maioria e, no momento em que foi anunciada, provocou apupos na sala, com vários militantes a gritarem ‘vergonha’. Mas se há coisa que ficou evidente é que o partido já está a sentir as suas próprias dores de crescimento: não há lugares para todos; e cheira a protagonismo e a poder no ar.

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