Num momento de impasse no país, não faltam candidatos para governar a Grécia. O Syriza de Alexis Tsipras é a força mais destacada na corrida, mas o partido Nova Democracia do primeiro-ministro Antonis Samaras quer impedir a ascensão da extrema-esquerda a todo o custo. Também um rio que quer ser de mudança, o partido To Potami, entra na intrincada aritmética das legislativas, com menos de 10 meses, mas com a possibilidade de atingir os 5% de votação. Caras antigas também se renovaram em 2015, com o antigo primeiro-ministro George Papandreou a criar um novo partido, para esvaziar ainda mais o centro-esquerda.
Com um pé dentro, mas cada vez mais decadente está o PASOK, liderado por Evangelos Venizelos. O partido socialista da Grécia, que foi governo com o Nova Democracia está em queda nas sondagens desde 2011 e deverá ficar completamente afastado do poder nestas legislativas, com uma percentagem estimada em 4% dos votos no domingo.
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Em dois anos, Alexis Tsipras fez um caminho que demora décadas na política grega e na política europeia. Passou de inspiração e ponto de esperança em plena crise a líder da oposição nas eleições de 2012. Em 2014, foi candidato a presidente da Comissão Europeia e, em 2015, pode chegar a primeiro-ministro. Uma ascensão rápida, que não foi isenta de polémicas e que agitou toda a Europa, desafiando o poder de Berlim e apresentado como exemplo em Lisboa, Madrid ou Dublin.
https://twitter.com/tsipras_eu/status/557924049389907969
Foi uma das vozes mais assertivas e consistentes na luta contra a austeridade e tal como soube unir vários partidos sob a mesma frente política – o Syriza é uma força política que agregou vários partidos da esquerda radical -, espalhou a palavra pelos vários países europeus em dificuldades financeiras, deslocando-se várias vezes a Portugal nos últimos anos. Aquando as eleições de 2012, Tsipras ameaçou cancelar o programa de ajustamento e deixar de pagar os juros do empréstimo da troika caso chegasse ao poder.
“Ou se implementa o programa ou se cancela o programa. Não há um programa melhor ou pior tal como não há um medicamento mau que faça bem”
Mas, entretanto, o Syriza suavizou o discurso. Caso ganhe as eleições, o político, de 40 anos, já disse que quer promover uma Conferência Europeia da Dívida, semelhante à que foi realizada em Londres em 1953 e onde foi celebrado o Acordo para as Dívidas Externas Alemãs – alguns líderes europeus já acederam a este pedido, nomeadamente os países que passaram por maiores dificuldades durante a crise. “Um governo do Syriza vai respeitar as obrigações gregas, como membro da zona euro, compromete-se a manter um orçamento equilibrado e vai ter em atenção as metas orçamentais”, garantiu esta semana o líder do Syriza.
A nível interno, o Syriza quer lançar um programa de apoio aos mais pobres e auxiliar quem mais perdeu com a crise, estando também a preparar um imposto de 75% para os mais ricos.
O partido diz que quer acabar com a “humilhação” vivida pelo país nos últimos quase cinco anos, entre odisseias de resgates e instabilidade política. No entanto, o maior desafio de Tsipras, caso consiga formar com sucesso um governo de coligação – as sondagens mostram que o Syriza não terá maioria absoluta -, será controlar o seu próprio partido composto por muitas forças de extrema-esquerda, com ideias e dogmas muito diferentes. Nalgumas fações do Syriza, uma vitória em 2015 é vista como uma vingança em relação à guerra civil que assolou o país entre 46 e 49, derrotou os comunistas e lançou as bases para a instabilidade política que lhe seguiu, culminando na instauração de uma ditadura militar em 1967.
Entre a desilusão do PASOK e a irreverência do Syriza, há um espaço que há 10 meses está a ser preenchido pelo partido To Potami (o rio, em português), fundado pelo jornalista Stavros Theodorakis. A primeira prova de fogo, as eleições europeias, quando o partido tinha apenas dois meses de existência, deu-lhe 6,6% dos votos, conseguindo eleger dois eurodeputados. Agora, o rio prepara-se para se tornar mar, com as sondagens a apontar o Potami como a terceira força política nas eleições de dia 25 e a possível chave para uma solução de governação na Grécia.
Stavros Theodorakis tem 51 anos e é jornalista de investigação e estrela da televisão grega. Como jornalista, tratou temas pouco populares na sociedade grega como o acesso à educação por parte das crianças ciganas e fez investigações que lhe valeram prestígio no meio do jornalismo. Em 2000, tornou-se apresentador de um talk show intitulado “Protagonistas”, batendo recordes de popularidade. A sua notoriedade, aliada à ideia da democratização do poder político e a uma postura informal, fizeram de Stravos um fenómeno político.
O jornalista apresentou o seu partido como europeísta e deu novas caras à política grega. Ele próprio não se candidatou às europeias, não só por uma questão de estratégia política para estar disponível nas legislativas, mas também porque admitiu que não falava muito bem inglês. Defende desde o início da formação da sua força política que a questão da dívida se deve resolver juntamente com os credores e que o setor público da Grécia não era grande, era sim, “mal gerido”. O Potami é um partido de centro-esquerda e os seus eurodeputados estão no grupo dos socialistas europeus no Parlamento Europeu.
“O euro é a nossa moeda e a Europa é a nossa casa. Todo o debate sobre a saída do euro, que é para consumo interno dos políticos, só prejudica o país”.
E estes argumentos parecem ter dado frutos. As sondagens dão agora o terceiro lugar ao Potami nestas eleições, num intervalo entre 5 e 6 pontos percentuais – os últimos números indicam que está muito perto do partido de extrema-direita Aurora Dourada. Um lugar importante, já que os três partidos mais votados são convidados a tentar estabelecer coligações de forma consecutiva, de maneira a formar governo. Assim caso o primeiro e o segundo não consigam, caberá ao Potami estabelecer governo. Uma das opções é unir a Nova Democracia e o Syriza, uma tarefa difícil, mas que parece ser a opção preferida dos gregos, formando assim uma grande coligação da esquerda à direita.
Falta saber se Theodorakis terá habilidade política para levar a cabo esta iniciativa.
“Vamos ganhar e vamos acabar com o populismo na Grécia”, garante Antonis Samaras, primeiro-ministro demissionário e candidato a liderar novamente a Grécia através do partido Nova Democracia (centro-direita). A reta final da campanha de Samaras tem sido dedicada a descredibilizar o Syriza e a alertar para as consequências internacionais da ascensão de Tsipras, assustando o eleitorado com a possibilidade de saída do euro e da União Europeia.
Como primeiro-ministro, Samaras tentou conciliar os esforços internacionais para o reforço dos programas de ajustamento com um discurso interno de promessa de abrandamento de austeridade. No entanto, Samaras aumentou os impostos sobre o consumo, continuando a insistir nos cortes em salários e pensões. O próprio primeiro-ministro grego admitiu que uma das suas prioridades era a dinamização do mercado de trabalho, defendendo ainda que a consolidação fiscal é que permitiu manter a credibilidade da Grécia junto dos mercados e juntos dos credores.
“O que quer que eu tenha feito, fi-lo com os meus parceiros por uma razão: para que os gregos possam ter esperança. No estrangeiro enfrentei a desconfiança e a nível interno, os meus esforços foram diminuídos por quem nos crítica agora. Trabalhámos dia e noite para manter este país de pé”
Samaras tem atualmente 63 anos e grande parte da sua vida foi passada na arena política. Vem de uma família abastada que enriqueceu com o algodão, jogou ténis durante juventude e partilhou quarto na universidade com George Papandreou, que viria a ser líder do PASOK. Aos 26 foi eleito como deputado e nos anos 80 integrou os governos do partido Nova Democracia. Saiu zangado com o partido e com o seu mentor, Konstantinos Mitsotakis, no início dos anos 90 para voltar triunfante nos anos 2000. Em 2009, derrotou mesmo a filha de Mitsotakis na luta pela liderança do partido.
Até domingo, Samaras quer convencer os gregos que o Syriza é a recusa da Europa e vai afastar o país das oportunidades que planos como o que foi lançado na quinta-feira por Mario Draghi podem oferecer ao país. Espera até ao final conseguir fazer do seu partido a primeira força política da Grécia – até agora, o Nova <a é o segundo partido nas sondagens – e para isso, o primeiro-ministro diz mesmo que o Syriza vai virar a Europa contra a Grécia.
Após alguns anos de silêncio e na sombra política, George Papandreou, primeiro-ministro da Grécia até 2011, abandonou o PASOK (equivalente ao PS em Portugal) e formou em janeiro um novo partido. O Movimento para a Mudança ou Kinima quer ser a terceira força política na Grécia e representar “ideias progressistas”.
A sustentar a relevância do partido nas intenções de voto (calcula-se um intervalo entre 1,5% a 5%) está a popularidade do nome de Papandreou, descendente de uma das maiores dinastias políticas da Grécia – o seu pai fundou o PASOK. Papandreou nasceu nos Estados Unidos – alegadamente fala melhor inglês do que grego -, estudou na London School of Economics, fez investigação em Harvard e regressou ao seu país apenas depois da queda da ditadura militar. Exerceu vários cargos em governos socialistas até chegar à liderança do PASOK em 2004.
“Chegou a altura e construirmos a nossa nova casa política, onde vão figurar os nossos valores progressistas, valores que nos uniram no passado e que ainda nos unem”.
No entanto, e apesar da sua história familiar, nada o preparou para um dos mandatos mais difíceis à frente do seu país. George Papandreou foi ministro entre 2009 e 2011, tendo protagonizado o primeiro pedido de ajuda internacional da Grécia e saindo do Governo depois de propor um referendo ao programa de resgate, que depois de contestação internacional, acabou por suspender. Esta foi a solução encontrada pelo socialista na altura para lidar com a instabilidade social que tinha tomado conta do país com violentas manifestações e confrontos entre os manifestantes e a polícia nas ruas de várias cidades gregas.
Desde 2012, Papandreou manteve o seu lugar no Parlamento e deu várias conferências nos Estados Unidos e na Ásia falando sobre a crise económica. Ao mesmo tempo, afastado da liderança do PASOK, o antigo primeiro-ministro não poupou críticas a Vernizelos, líder do partido e membro do Governo em coligação com a Nova Democracia. O PASOK acusa Papandreou de ter destruído o partido, reduzindo-o a intenções de voto de menos de 10%, devido a conflitos pessoais com Vernizelos. O antigo primeiro-ministro escreveu mesmo uma carta pública a Vernizelos dizendo-lhe que o partido “não ia a lado nenhum”.
O novo partido é acusado de não apresentar soluções para assuntos específicos e assim viver à sombra da popularidade do seu líder. Este partido só entrará no Parlamento se conseguir ter mais de 3% dos votos, uma percentagem que ainda não é garantida devido à pulverização de partidos à esquerda.
Nota: Imagens e animação da página por Milton Cappelletti