São centenas de milhares de dados estatísticos organizados em 500 indicadores diferentes, provenientes de 80 fontes de informação, cobrindo dados desde 1960 para 193 países. É uma fotografia panorâmica do mundo, constantemente atualizada e sempre disponível para ajudar a entender o planeta e as consequências da globalização. O nome GlobalStat é por isso apropriado. A lógica desta imensa base de dados global é a de ajudar a explicar o mundo de forma gratuita, fácil e intuitiva. Por isso está organizada em 12 áreas temáticas e três áreas transversais que facilitam a consulta dos dados e ajudam a traçar explicações para o mundo.
Como nasceu a Globalstat?
A GlobalStat nasceu de uma vontade de “ir para lá do PIB”, procurando reunir números que ajudem a explicar as assimetrias entre países e regiões do Globo em categorias e índices que vão muito para lá dos indicadores apenas económicos. É uma reunião de esforços entre duas entidades, o Instituto Universitário Europeu (IUE) e a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS).
Miguel Poiares Maduro, hoje ministro adjunto e do desenvolvimento regional, foi diretor de Governança Global no IUE. E foi nessa qualidade que desafiou uma estudante de doutoramento a desenvolver a ideia de uma base de dados da globalização que fosse para lá do PIB – essa estudante era Gaby Umbach, que se veio a tornar na primeira diretora da Globalstat. Com a experiência acumulada da Pordata, a FFMS era um parceiro muito interessante para o desenvolvimento deste modelo – e graças ao entusiasmo do anterior e atual presidentes da fundação portuguesa, António Barreto e Nuno Garoupa, a parceria concretizou-se mesmo.
Depois de muitos meses de trabalho conjunto, a GlobalStat foi apresentada ao mundo em Florença, na sede do IUE, em plena comemoração do Dia da Europa. E foi desde logo elogiada e recomendada por representantes da União Europeia, que se comprometeram a contribuir para o crescimento e desenvolvimento da ferramenta. Isso é importante porque o objetivo não é ficar pela apresentação de informação estatística: os próximos passos incluem ajudar a desenvolver soluções que permitam entender melhor os dados e as suas consequências.
Como usar a Globalstat em cinco passos
Três cliques separam o utilizador de mais 80 fontes de informação cobrindo dados desde 1960 para 193 países, num total de 500 indicadores. Para conseguir os dados e divulgá-los para o público em geral, a Fundação Francisco Manuel dos Santos e o Instituto Universitário Europeu receberam a contribuição de diversas entidades internacionais como a Eurostat, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, o Legatum Institute, o Fund for Peace, a Organização Internacional do Trabalho, o Fundo Monetário Internacional, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, a Sustainable Society Foundation, a Transparência Internacional, as Nações Unidas e o Banco Mundial.
A esta diversidade de dados é agregado um conjunto de metadados responsáveis por explicar os conceitos, metodologia adotada pelas fontes originais, operação estatística para produzir os dados e a sua relevância, de modo que o utilizador possa entender a importância daquela base de dados. Neste sentido, a experiência do Instituto Universitário Europeu e da Fundação Francisco Manuel dos Santos com ferramentas estatísticas online – onde se destaca a Pordata – foram importantes para o desenvolvimento da Globalstat.
Curioso para utilizar a ferramenta? Explicamos em cinco passos como ter acesso às fontes de informação da página.
1) Escolha um tema, um subtema e um indicador
A Globalstat está dividida em 12 áreas temáticas: demografia, desenvolvimento económico e comércio, energia e recursos naturais, meio ambiente, atividades financeiras e estrutura, alimentação, comida e pesca, liberdade, conflitos e risco, governo, saúde e condições de vida, desenvolvimento humano e social, mobilidade humana e desenvolvimento tecnológico.
Cada um destes temas possui outros subtemas contextuais, que permitem filtrar ainda mais a informação. Num terceiro nível é possível escolher qual é o indicador que melhor responde à questão a ser consultada. Há ainda três áreas transversais que reúnem dados de duas ou mais bases de dados: tendências globais, vida sustentável e prosperidade das nações e bem-estar humano
É através desta relação entre temas, subtemas e indicadores que a Globalstat consegue oferecer de maneira tão ampla os dados sobre diversos aspetos da vida social, cultural, política, económica e ambiental da população mundial. Um exemplo: como saber a proporção em percentagem da população que utiliza Internet em todos os países? Basta clicar no tema “Technological Development”, escolher o subtema “Information & Communication Technologies” e, por fim, selecionar o indicador “Internet users, per 100 people”.
Os três parâmetros encontram-se do lado esquerdo da página.
2) Selecione dados específicos
Seguindo o exemplo acima, e se o utilizador quisesse saber apenas qual é a proporção em percentagem da população que utiliza Internet por continente (e não por países) em 2013? Para isto, existe a opção “Select Data”.
Ela está dividida em dois parâmetros: anos e países e grupos. As bases de dados da Globalstat compreendem um intervalo temporal até o ano de 1960. No entanto, como cada tema e subtema tem as suas próprias características, é possível que o intervalo varie consoante os parâmetros escolhidos.
No caso apresentado, o utilizador deve clicar no separador “Country & Groups”, escolher a opção “Continent or Group” e selecionar todos os continentes. Em seguida, no separador “Years”, deve escolher o ano “2013” e clicar no botão “Update”.
3) Visualize e guarde os dados
Há quatro maneiras de visualizar os dados de uma pesquisa: através de uma tabela, ranking, gráfico de barras verticais ou gráfico de linhas. Cada uma das opções tem as suas vantagens e limitações, de acordo com os dados resultantes da pesquisa realizada. O utilizador pode experimentar os quatro formatos na barra horizontal superior da página.
É de salientar, no entanto, que de acordo com a pesquisa, uma ou mais opções podem estar desativadas por não possuírem os dados mínimos necessários para gerar a visualização.
Ainda na barra superior, um pouco mais abaixo, no ícone “i”, é possível consultar os metadados do indicador, como conceito, fonte e observações. Caso queira exportar o resultado da pesquisa, há duas opções: como tabelas, no formato de folhas de cálculo, ou como imagens no caso dos rankings e gráficos.
4) Partilhar nas redes sociais
O resultado final da pesquisa do utilizador pode ser enviado por email para outras pessoas, a partir de um link gerado pela ferramenta na opção “Share” na barra superior horizontal. Outra opção é partilhar a visualização através do Facebook, Twitter e Google Plus.
5) Resumo rápido de dados sobre um país
É possível fazer uma pesquisa rápida sobre um país, com o resumo dos seus principais dados demográficos e económicos, em oito indicadores prefixados. O resultado é mais imediato, uma vez que não é necessário recorrer aos parâmetros localizados no lado esquerdo da página. No entanto, o resultado não permite a personalização dos indicadores e anos apresentados, sendo os mesmos para qualquer um dos 193 países selecionados.
Para obter este resumo rápido, basta escolher a opção “World ID” na página inicial da Globalstat, no canto inferior central. Em seguida, é só escolher o país ou continente que deseja consultar.
No vídeo abaixo, Joana Martins, coordenadora da Globalstat, explica estes cinco passos:
Alguns exemplos práticos
O Observador testou a ferramenta Globalstat para verificar a sua aplicabilidade como instrumento de compreensão da globalização. O objetivo é trabalhar com um dos principais eixos do projeto: a temporalidade. Como projeto capaz de reunir dados de diferentes parâmetros a partir de 1960, é possível estabelecer comparações importantes para entender como o mundo evoluiu ao longo dos anos.
Comecemos pelo exemplo referente à densidade demográfica, medida que representa a relação entre a população e a superfície do território de um país. Este valor tem servido como parâmetro para o planeamento dos espaços sociais, no que diz respeito ao dimensionamento da infraestrutura e serviços públicos e à alocação de recursos para a melhoria da qualidade de vida dos habitantes de uma região.
Os mapas abaixo comparam a densidade demográfica nos anos de 1963 (à esquerda) e 2013 (à direita). Na parte superior há uma escala de cores que representa a variação de valores. Mova lateralmente o cursor localizado no meio das imagens para contrastar os resultados.
Em 1963, a Mongólia (em verde escuro) era o país com a menor densidade demográfica, com 0,67 pessoas por quilómetro quadrado, seguida da Namíbia (0,79), Líbia (0,90), Mauritânia (0,91) e Botswana (1,00). Na Europa, o país com o valor mais baixo em 1963 era a Islândia, com 1,85 habitantes por quilómetro quadrado. Comparativamente, a densidade demográfica de Portugal em 1963 era de 98,69 pessoas por quilómetro quadrado.
No outro lado da escala de valores, Mónaco com 11.584,50 liderava o ranking neste parâmetro com quase cinco vezes mais habitantes por quilómetro quadrado que o segundo lugar, Singapura (2.679,10). Em seguida, aparecem Malta (1.007,97), Barbados (543,07) e Bangladesh (414,14).
E o que mudou em 50 anos? A África deixou de ser o quarto para tornar-se o segundo continente em densidade demográfica, saltando de 10,41 para 39,25 habitantes por quilómetro quadrado como valor médio. A Europa aparece como terceiro continente mais populoso (de 27,81 a 33,45), seguida pela América, que supera o dobro do seu valor em 1963 (de 11,57 a 25,08).
Os extremos da tabela seguem a mesma tendência. A Ásia passa de 57,69 a 137 habitantes por quilómetro quadrado em 50 anos, enquanto a Oceania vai de 2 a 4,53 habitantes por quilómetro quadrado no mesmo período de tempo.
Entre os países, o top 5 permanece praticamente o mesmo: Mónaco (18.915,50), Bangladesh (1.203,00), Malta (1.322,76), Bahrain (1.752,86) e Singapura (7.713,14). Do outro lado do ranking, a Mongólia fecha a lista (1,83), seguida da Namíbia (2,80), Austrália (3,01), Islândia (3,22) e Suriname (3,46).
Aprofundando a pesquisa
Ainda sobre a questão da distribuição espacial da população nos países, vamos utilizar a base de dados referente à percentagem da população rural em comparação ao total da população, de modo a entender como se deu o fluxo de pessoas em relação ao território. Novamente, iremos contrastar os resultados nos anos 1963 e 2013 para descobrir quais são os sete países com os maiores e menores valores.
Tanto em 1963 quanto em 2013, Mónaco e Singapura aparecem com valor nulo em percentagem de população rural em comparação à população total. Isto se explica pela natureza única destes países, uma vez que Singapura é uma cidade-estado e Mónaco é um principado, ambos com áreas territoriais diminutas.
Em 1963, apenas 7,17% da população da Bélgica vivia no espaço rural. Seguem-lhe Malta (10,05%), Qatar (13,50%), Austrália (17,27%) e Bahrain (17,63%). Em 2013, o Qatar assume o menor valor registado, com 0,94%, e o Kuwait aparece em segundo lugar, com 1,69%. A continuação aparecem Bélgica (2,22%), Malta (4,86%) e Uruguai (5,02%).
Vejamos agora os valores mais altos da base de dados.
Em 1963, quatro dos setes países com maior população rural encontravam-se na África, enquanto os outros três estavam no continente asiático. Lideravam o ranking Botsuana (96,83%), Ruanda (97,23%) e Burundi (97,81%).
Já em 2013, Trindade e Tobago, na América Central, é o país com a maior taxa de população rural em relação à população total, com 91,33%. Em seguida, estão Burundi (88,53%), Papua Nova Guiné (87,02%) e Liechtenstein (85,67%).
Comparativamente, a população rural de Portugal em relação à população total diminuiu quase pela metade em 50 anos, passando de 63,90% em 1963 a 37,66% em 2013.