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AFP/Getty Images

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Roman Polanski, a condenação eterna e o #MeToo

A 1 de Fevereiro de 1978, há 40 anos, o realizador fugiu dos EUA, depois ser acusado de violar uma rapariga de 13 anos. Bruno Vieira Amaral recorda o caso que agora é reavivado com o movimento #MeToo.

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Sempre que se pensa que o caso Polanski caiu no esquecimento, atirado para a vala comum dos escândalos ambíguos das celebridades, ele reemerge como se ninguém soubesse ao certo o que aconteceu naquela tarde de Março de 1977 em Los Angeles, como se os recorrentes períodos de silêncio encobrissem de novo os factos, como se fosse impossível, a esta distância, revisitar com imparcialidade os acontecimentos, como se a culpa ou a inocência de Roman Polanski dependessem mais das certezas da fé e das inclinações da nossa simpatia do que da análise desapaixonada e racional do sucedido.

O que surpreende quem se aventura pela primeira vez nos meandros do caso é a limpidez dos factos em oposição à incerteza, às sombras e nevoeiro, em que muitos, talvez involuntariamente, os procuram encobrir. Se ouvir alguém dizer, em relação às acusações que recaíram sobre Polanski, que aquilo “não foi bem assim” ou “a história não está bem contada”, numa espécie de defesa que aposta tudo na incerteza e nada no esclarecimento, pode estar certo que essa pessoa está muito mal informada sobre o incidente, porque a primeira coisa que se percebe ao ler parte do muito que se escreveu sobre o assunto é que no dia 10 de Março de 1977, num anexo junto da piscina na mansão de Jack Nicholson em Los Angeles, Roman Polanski drogou e violou uma menina de 13 anos, chamada Samantha Gailey.

No processo que se seguiu, a fama de Polanski desempenhou um papel preponderante inquestionável, a seu favor e contra si. Desde o primeiro momento, o caso foi amplamente mediatizado, não só, como é óbvio, por causa da figura do realizador polaco, mas também pela do juiz Laurence J. Rittenbrand, que era uma espécie de juiz-celebridade (e juiz de casos que envolviam celebridades), numa altura em que o poder de decisão dos juízes no Estado da Califórnia nas sentenças era muito maior do que é hoje. O eixo da discussão, que se transferiu do palco judicial para o das ditas guerras culturais, continua a ser o de haver dois pesos e duas medidas jurídicas e morais, uns para os cidadãos comuns e outros para as intocáveis estrelas de Hollywood: há quem diga que Polanski foi poupado pelo sistema judicial e desculpado pela comunidade de celebridades e há quem diga que Polanski foi perseguido pelo sistema conservador, que sempre considerou Hollywood uma nova Babilónia.

O casamento de Sharon Tate e Roman Polanksi, em 1968

Num artigo publicado em 2009 na New Yorker, quando Polanski foi detido pelas autoridades suíças e houve a possibilidade de ser extraditado para os Estados Unidos, Jeffrey Toobin fez aquele que será provavelmente o resumo mais acertado de todo o caso:

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“No caso de Polanski, o efeito da sua celebridade foi dupla e contraditoriamente pernicioso; não só encobriu a forma brutal como Polanski tratou a sua jovem vítima, como também encobriu a forma brutal como o sistema judicial o tratou a ele.”

A questão fundamental e que nunca teve uma resposta satisfatória é: pagou Roman Polanski pelo crime que cometeu?

Um realizador europeu em Hollywood

Roman Polanski chegou à América em meados dos anos 60, numa altura em que o cinema europeu era reverenciado e realizadores como Federico Fellini, Ingmar Bergman e Jean-Luc Godard eram as referências de uma nova geração de cineastas americanos. Na bagagem levava uma nomeação para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1962 (“A Faca na Água”, a sua primeira longa-metragem, realizada na Polónia) e o sucesso do thriller “Repulsa”, com Catherine Deneuve no principal papel e filmado em Londres. O seu primeiro filme nos Estados Unidos foi a comédia vampiresca “Por Favor Não me Morda o Pescoço”, mas foi com “A Semente do Diabo”, de 1968, que Polanski se tornou um dos realizadores mais famosos de Hollywood. O filme, uma história faustiana e perturbadora, com John Cassavettes e Mia Farrow nos principais papéis, foi um enorme sucesso de bilheteira e consagrou Polanski, que conseguia assim a proeza de ser um artista respeitado e um realizador que dava dinheiro aos estúdios.

[o trailer de “A Semente do Diabo”:]

No ano seguinte, a vida de Polanski sofreu um abalo que o iria marcar definitivamente, com a morte da mulher, a actriz Sharon Tate, então grávida de oito meses, às mãos de Charles Manson e da sua “família”. Ao que consta, numa primeira fase a polícia terá incluído Polanski no rol de suspeitos, apesar de na altura dos crimes ele se encontrar em Londres. Antes de os verdadeiros assassinos terem sido capturados, Polanski terá suspeitado de alguns dos muitos inimigos que fizera nos poucos anos a viver em Hollywood. As razões eram as mais prosaicas: Polanski, apesar da sua afabilidade e brilhantismo (ou por causa disso mesmo), tinha o hábito de ir para a cama com as mulheres de amigos e conhecidos, e nem mesmo o casamento refreara essa tendência.

Após um desastre comercial e de crítica (“Macbeth”, 1971), Polanski realizou em 1974 um dos filmes de referência dos anos 70, “Chinatown”, com Jack Nicholson e Faye Dunaway como protagonistas, e um brilhante argumento de Robert Towne. O filme recebeu 11 nomeações para os Óscares. Polanski perdeu a estatueta de melhor realizador para Coppola, mas Towne foi premiado e Nicholson transformou-se num dos ícones definitivos da Nova Hollywood.

Os factos do crime

Foi precisamente na casa de Nicholson que, em Março de 1977, Roman Polanski violou Samantha Gailey. No ano anterior, Polanski tinha realizado um filme em Paris, “O Inquilino”, alternando assim entre as grandes produções americanas e os pequenos projetos autorais na Europa. Colaborava também com várias publicações, como a revista francesa Vogue Hommes, que lhe encomendou um portfolio com fotografias de raparigas adolescentes. Foi um amigo que lhe sugeriu Samantha como modelo. Em Fevereiro de 1977, Polanski encontrou-se com Samantha e a mãe desta, Susan Gailey, para acertarem os pormenores do trabalho. Poucos dias depois deste primeiro encontro, Polanski fez a primeira sessão fotográfica a sós com Samantha. Quase no final, pediu-lhe que tirasse a camisola e fotografou-a em topless. Terminada a sessão, combinaram um novo encontro para o dia 10 de Março.

Nesse dia, novamente a sós com Samantha, Polanski levou-a a casa da actriz Jaqueline Bisset e, depois, a casa de Jack Nicholson (que não se encontrava no local) para tirar fotografias. Aí, Polanski deu champanhe à rapariga e fotografou-a. Depois levou-a para o jacuzzi situado no exterior e ofereceu-lhe um comprimido que ela acabou por aceitar. Ambos despidos, a pedido de Polanski, foram para a piscina. Passado pouco tempo, Samantha saiu da piscina e foi para a casa de banho, num anexo. Aí, Polanski começou a beijá-la, fez-lhe sexo oral e, apesar dos pedidos débeis de Samantha para que parasse (estava sob os efeitos do álcool e do sedativo que Polanski lhe tinha dado), penetrou-a, garantido-lhe que não ejacularia dentro dela para evitar uma possível gravidez. De seguida, sodomizou-a. Mais tarde, levou-a a casa e pediu-lhe que não contasse a ninguém o que tinha acontecido. Mas Samantha contou e, nessa mesma noite, Susan Gailey chamou a polícia para apresentar queixa. No dia seguinte, 11 de Março de 1977, Roman Polanski foi detido pela polícia de Los Angeles.

Em 2003, com o filme "O Pianista", a história verídica de um músico judeu que perdeu toda a família durante a II Guerra Mundial e conseguiu fugir do gueto de Varsóvia, Polanski, cuja mãe morreu em Auschwitz, foi distinguido com o Óscar de Melhor Realizador. Na altura, recebeu uma ovação em pé de quase toda a sala. Hoje, é difícil imaginar a Academia a premiar o realizador, quanto mais a aplaudi-lo.

Os factos, com ligeiras variações nos relatos dos envolvidos, são estes. A partir daí, teve início a telenovela jurídico-mediática que continua a ser discutida quarenta anos depois. Duas semanas após a sua detenção, o realizador foi acusado de seis crimes, o mais grave dos quais o de violação com recurso a drogas. A 8 de Agosto de 1977, Polanski, que estava em liberdade, deu-se como culpado do crime menos grave de que era acusado, o de “statutory rape”, que no fundo restringia a acusação à prática de sexo não-forçado com uma menor. Convém dizer que a posição de Polanski e do seu advogado terá resultado de um acordo com o juiz Rittenbrand e com o advogado de defesa de Samantha, que, a fim de a proteger, queria evitar um julgamento em que esta fosse exposta a interrogatórios que geralmente eram bastante penosos para as vítimas.

Em última análise, e por acordo com a acusação, seria o juiz a decidir a pena a aplicar a Polanski e se este beneficiaria ou não de pena suspensa. O relatório com base no qual o juiz teria de tomar a decisão foi bastante favorável a Polanski e, por isso, foi com surpresa que, em Setembro, a defesa foi informada de que o juiz Rittenbrand decidira enviar Polanski para uma prisão estadual a fim de lhe ser feita uma avaliação psiquiátrica. Apesar da surpresa, a defesa não contestou a decisão e Polanski acabou por ficar detido durante 42 dias, sendo libertado a 29 de Janeiro de 1978 e com leitura da sentença marcada para 1 de Fevereiro. Só que o juiz Rittenbrand achou o relatório psiquiátrico demasiado brando e deu a entender aos advogados que havia a possibilidade de condenar o realizador a uma pena de prisão efectiva. Em alternativa, propunha que Polanski fosse novamente detido para avaliação psiquiátrica durante 48 dias, para completar o máximo de 90 dias permitido por este tipo de procedimento, desde que Polanski se comprometesse a sair dos Estados Unidos após esse período. Foi esta mudança de atitude do juiz, deixando em aberto a possibilidade de uma condenação a um mínimo de três anos de prisão, que levou Roman Polanski a resolver fugir do país, o que fez a 1 de Fevereiro de 1978 — há 40 anos.

Uma vida tranquila de fugitivo

Roman Polanski nunca mais voltou aos Estados Unidos, mas também nunca deixou de trabalhar, e com alguns dos nomes mais importantes do cinema norte-americano, como Harrison Ford, Sigourney Weaver e Johnny Depp, por exemplo. Em 1989, o realizador casou-se com a actriz francesa Emmanuelle Seigner, com quem continua casado e de quem tem dois filhos. Em 2003, com o filme “O Pianista”, a história verídica de um músico judeu que perdeu toda a família durante a II Guerra Mundial e conseguiu fugir do gueto de Varsóvia, Polanski, cuja mãe morreu em Auschwitz, foi distinguido com o Óscar de Melhor Realizador. Na altura, recebeu uma ovação em pé de quase toda a sala (foi Harrison Ford quem aceitou o prémio por Polanski). Hoje, é difícil imaginar a Academia a premiar o realizador, quanto mais a aplaudi-lo (lembre-se que em 1999, o realizador Elia Kazan, que denunciou vários colegas durante a Caça às Bruxas, recebeu um Óscar honorário e a sala, ao contrário do que aconteceu com Polanski, dividiu-se entre aplausos e apupos).

[a aclamação de Polanksi nos Óscares em 2003:]

Em 2009, quando estava na Suíça para receber um prémio de carreira no Festival de Zurique, Polanski foi detido, a pedido das autoridades norte-americanas, e esteve preso durante 10 semanas numa prisão de alta segurança, enquanto aguardava a decisão quanto à possível extradição para os Estados Unidos, pedido que foi rejeitado em Julho de 2010. Polanski entretanto pagara uma fiança de 4,5 milhões de dólares, mas ainda lhe deverá ter custado mais ver o seu crime de regresso às manchetes e o reacendimento das discussões sobre se tinha sido beneficiado por ser quem era, se os 42 dias que estivera detido eram pena suficiente para o crime que cometera e se não era injusto que um homem que confessadamente abusara de uma criança tivesse vivido uma vida tão faustosa e recolhido os elogios e a desculpabilização da comunidade cinematográfica.

A bem da verdade, o debate já tinha sido recuperado em 2008, com o documentário de Marina Zenovich, “Roman Polanski: Wanted and Desired”, que fazia do juiz Rittenbrand o grande vilão da história. Muitas pessoas, como o crítico da Salon, consideraram que o filme branqueava o crime de Polanski, um sentimento partilhado pela opinião pública nos Estados Unidos, na França e na Suíça, que, em 2009, se mostrou favorável à deportação de Polanski, então já com 76 anos.

[O trailer de “Roman Polanski: Wanted and Desired”:]

#MeToo e o reavivar da polémica

Era natural que, em plena campanha #MeToo e com a denúncia de figuras importantes da indústria do entretenimento, o caso Polanski voltasse à ribalta. Dez dias após a publicação das primeiras notícias que davam conta dos abusos de Harvey Weinstein, Samantha Gailey deu uma entrevista a um programa da BBC em que voltou a insistir que tinha superado o trauma e que há muito perdoara Roman Polanski. A reacção do jornalista Piers Morgan é demonstrativa do reforço de uma tendência nada favorável ao realizador: “Muitas pessoas devem pensar que uma estadia de 42 dias na prisão por relações sexuais entre uma rapariga de 13 anos e um realizador de Hollywood de 43 anos é uma pena bastante leve” (itálico nosso).

[A entrevista de Samantha Gailey a Piers Morgan:]

Já esta semana, Hadley Freeman, jornalista do Guardian, foi mais longe ao questionar o significado da reverência de Hollywood por um “violador de crianças”. Na opinião da jornalista, essa reverência, patente, por exemplo, nos aplausos de Meryl Streep ao realizador aquando do anúncio do Óscar para melhor realizador em 2003, tem um significado claro: é uma celebração explícita de um violador de crianças condenado pela justiça. A introdução das subtilezas que anteriomente marcavam estas discussões – é preciso separar o artista do homem, ou, neste caso, o realizador de cinema do “violador de crianças” – é totalmente contraproducente no contexto atual, funcionando quase como prova de cumplicidade ou, no mínimo, de condescendência.

Também é justo dizer-se que a linha de argumentação de muitos defensores de Polanski, mais do que procurar separar o artista do homem, insistia numa tentativa despudorada de desvalorizar as suas acções (a vítima tem todo o direito de o fazer, até por uma questão de auto-preservação mental, mas é a única que tem esse direito, e o facto é que Samantha processou Polanski em 1988, e terão chegado a um acordo extra-judicial que previa o pagamento de meio milhão de dólares). Hadley Freeman dá alguns exemplos dessa defesa, desde Debra Winger a considerar que a prisão de Polanski em 2009 era resultado de um “conluio de filisteus” até uma carta aberta que Weinstein dirigiu ao realizador e em que dizia: “Pense-se aquilo que se pensar sobre o suposto crime, Polanski já cumpriu a sua pena.” (itálico nosso).

Pouco tempo depois de ter fugido dos Estados Unidos, Polanski deu uma entrevista ao escritor Martin Amis em que disse o seguinte: “Os juízes querem foder rapariguinhas. Os membros do júri querem foder rapariguinhas – toda a gente quer foder rapariguinhas!” É óbvio que Polanski nunca viu aquilo que fez como uma violação.

Em certa medida, sim, é verdade: os anos passaram, a vida de Polanski ficou condicionada (mesmo em termos profissionais), ocasionalmente volta a falar-se do assunto como se tudo tivesse acontecido ontem, a vítima parece estar em paz e o realizador nunca mais foi acusado de qualquer crime semelhante. Porém, há o reverso da medalha: a verdade é que, confrontado com a possibilidade de ser condenado a uma pena de prisão efectiva, Polanski fugiu, ou seja, não prestou todas as contas à justiça, e beneficiou da benevolência dos seus pares e de muitas figuras da indústria para continuar a trabalhar em condições de que um outro fugitivo dificilmente disporia.

Pouco tempo depois de ter fugido dos Estados Unidos, Polanski deu uma entrevista ao escritor Martin Amis em que disse o seguinte: “Os juízes querem foder rapariguinhas. Os membros do júri querem foder rapariguinhas – toda a gente quer foder rapariguinhas!” É óbvio que Polanski nunca viu aquilo que fez como uma violação (ou, para usar as palavras de Whoopi Goldberg, aquilo não foi bem uma “violação-violação”). Isso ficou claro na forma como relatou os acontecimentos na sua autobiografia, o que significa que nunca mostrou verdadeiro “arrependimento-arrependimento”, visto que ninguém se pode arrepender sinceramente de algo que acredita sinceramente que não fez.

[Documentário de 2011 sobre Roman Polanski. O realizador fala sobre o caso à 1h09m]

Apurados os factos, mas mantendo-se o impasse jurídico (a acusação nunca foi retirada), o que é que se pretende com a recuperação periódica do caso? O objectivo é que se faça justiça? Será que não se quer deixar o caso cair no esquecimento para provar que o sistema judicial norte-americano tem dois pesos e duas medidas Ou pretende-se apenas usar o caso como arma de arremesso para, por exemplo, acusar de hipocrisia a indústria do entretenimento?

Sim, os 42 dias que Polanski passou na prisão parecem ser uma pena demasiado leve para o crime que cometeu. No entanto, também os 40 anos que tem passado num limbo jurídico e moral (embora num paraíso material) parecem ser uma pena demasiado pesada para o crime, a não ser que apenas se considere como justo o degredo e a total ostracização do réu e a reiterada e eterna condenação pública dos seus actos, como se de cada vez que disséssemos Roman Polanski devêssemos acrescentar “realizador e violador de crianças”. Como bem apontou Jeffrey Toobin, ambas as situações, a de privilégio e a de prejuízo, são consequência da celebridade de Polanski. A celebridade que lhe deu a imunidade é a celebridade que continuará a atrair acusações até ao fim da sua vida e, provavelmente, até muito depois disso. A lua de mel e a lua de fel de Polanski são uma só.

Bruno Vieira Amaral é crítico literário, tradutor e autor do romance As Primeiras Coisas, vencedor do prémio José Saramago em 2015, e de “Hoje Estarás Comigo no Paraíso”

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