Passear pela região dos Vinhos Verdes, sobretudo a partir da primavera, é também conhecer os seus usos e costumes associados às romarias e peregrinações, a maior parte das vezes de cunho religioso e profano, onde muitas delas remontando a alguns séculos atrás. Acontecem em pequenas povoações, vilas e aldeias e grande parte desses costumes são muito antigos, alguns ainda anteriores à nacionalidade, como é o caso de Barcelos, conhecido pelo artesanato de barro. Ali as festas começam no final de abril – com as conhecidas Festas das Cruzes.
Para além das celebrações religiosas, durante alguns dias há muitas atividades populares e imensos divertimentos. Há mesmo uma divertida batalha de flores, que ali leva cada vez mais gente todos os anos. Os comes e bebes, claro, estão por todo o lado.
Outra terra conhecida pelos vinhos, mas também pela excelente produção de calçado, é Felgueiras, que tem festas locais em honra de Santa Quitéria, com um pequeno santuário no Monte Columbino.
No final de maio acontecem as festas e a romaria, já com grande tradição. Terra em que o pão de ló é famoso, tem vários restaurantes a servir muito bem, destacando-se o bacalhau e o cabrito assados no forno. Na freguesia de Refontoura encontra o restaurante Brazão, do chefe António Carvalho, considerado uma referência nacional. Com fornos de lenha onde se fazem maravilhas, pode degustar uma sopa de peixe (pargo ou garoupa), bacalhau à Zé do Pipo, rojões muito completos, costela de boi no bafo e um excelente cabrito assado no forno, na companhia de um arroz de forno indescritível. Vinhos de blend com Loureiro e Trajadura muito típicos nesta sub-região são o par perfeito para esta gastronomia tradicional.
Terras de Felgueiras: a história que nasceu em 1957
A Cooperativa Agrícola de Felgueiras – Terras de Felgueiras – foi fundada em 1957. A sua principal atividade é a produção de Vinho Verde, mas comercializa também outros produtos agrícolas dos seus associados, como batatas, legumes e vários tipos de fruta. Destacam-se os espargos e kiwis, uma vez que Felgueiras é o maior produtor nacional.
Na adega os velhos depósitos de cimento foram recuperados, e são muito interessantes esteticamente, além de serem úteis para armazenar muitos milhares de litros de vinho. Todo o espaço é utilizado para enoturismo, com muitas atividades possíveis e onde se pretende transmitir ao visitante um bom conhecimento dos Vinhos Verdes. Termina-se sempre com a prova de alguns dos vinhos da Cooperativa.
Outra cidade com muita história é Amarante, atravessada pelo rio Tâmega, que conta com muita arte e festividades ao longo do ano. As mais famosas são as festas de S. Gonçalo, que durante o mês de junho recebem milhares de pessoas: umas que vão à procura da parte religiosa, em honra de S. Gonçalo; outras que querem encontrar o divertimento que está presente durante este mês. Para além disso, nunca faltam as tasquinhas, onde se servem petiscos variados, com destaque para a doçaria de ovos e, claro, muito Vinho Verde, uma vez que é terra dele.
Continuando a viajar pela região, encontramos Valongo, uma localidade famosa pela regueifa e os biscoitos. Na freguesia de Sobrado acontece a festa da Bugiada e Mouriscada, no dia 24 de Junho, durante a celebração das festas Sanjoaninas da vila. Uma lenda que conta a luta pela posse de uma imagem milagrosa de S. João Baptista, deu origem a Bugios e Mourisqueiros, que protagonizam a réplica dessa luta, cheia de cor e alegria, de participação popular.
Quinta das Arcas: o crescimento do enoturismo
Ali mesmo na vila de Sobrado encontra-se a Quinta das Arcas, um grande produtor de Vinho Verde, pertença da mesma família há 3 gerações. Com cerca de 230 hectares de vinhas em Santo Tirso, Penafiel, Valongo e Paredes, com as castas Loureiro, Arinto, Trajadura, Alvarinho e Vinhão. Uma adega muito moderna, recentemente remodelada, tem todas as condições técnicas para produzir vinhos de qualidade. O enoturismo é uma atividade em constante crescimento neste produtor, que pode começar com um passeio nas vinhas a bordo de um simpático comboio, e terminar numa prova de vários vinhos da enorme produção. Numa simpática loja, estão disponíveis todos os produtos da casa. Para além disso, lá ainda encontra uma sala de prova que é motivo de paragem.
Rumo ao interior, em pleno Gerês, situa-se a povoação de Terras de Bouro e o santuário de São Bento da Porta Aberta. Ali, entre 10 e 15 de agosto, acontece a grande romaria popular a este santuário. Há mesmo quem vá até lá a pé, em peregrinação, mas também quem vá para apreciar o Parque Natural da Peneda-Gerês e gozar a festa e o divertimento, boa comida regional e muito vinho verde.
Porém, é em Viana do Castelo que acontece, no fim de semana a seguir a 15 de Agosto, aquela que é talvez a romaria mais famosa de toda a região dos vinhos verdes – a Senhora da Agonia. Inclui habitualmente cortejos etnográficos, desfile das mordomas – as célebres mulheres vianesas com os belíssimos trajes tradicionais – e os cordões de ouro ao peito. Há desfile de gigantones e cabeçudos, procissões terrestres e procissões fluviais no rio Lima com embarcações engalanadas. Por todo o lado, sobretudo na zona histórica da cidade, encontra muita música, comes e bebes e muito divertimento.
Nos restaurantes locais o bacalhau e o peixe fresco daquele mar são muito populares. A juntar a estes pratos, os rojões à moda do Minho e o cabrito assado no forno também são bastante procurados. É ali perto, já em pleno rio Lima, em Santa Marta de Portuzelo, que está o restaurante Camelo, onde encontra comida regional a sério, como: os filetes de pescada e o polvo frescos, na época a lampreia e o sável; os rojões à moda do Minho; o soberbo cozido à portuguesa; e o arroz de galo de cabidela, aqui conhecido como Pica no Chão. Os tradicionais Vinhos Verdes da casta Loureiro para os pratos de peixe, e os Vinhos Verdes da casta Vinhão para os pratos de carne são a comunhão perfeita para esta gastronomia.
Ainda no rio Lima, mas muito para o interior, é a romaria de S. Bartolomeu, em Ponde da Barca, que tem destaque no final do mês de Agosto. São seis dias de festa intensa, em que a vila vive e partilha muitas tradições populares, incluindo alguns usos e costumes da região. Há jogos tradicionais, cantares ao desafio, concertinas e a feira do linho. Não faltam as tasquinhas, onde se podem apreciar petiscos populares e o Vinho Verde, normalmente servido em caneca de loiça branca e malguinhas. O ponto alto desta festa popular é a noite do dia 23 de agosto, quando as Rusgas desfilam pelas ruas históricas da vila e levam consigo milhares de foliões, que por ali se vão divertir até de manhã.
Já em plena serra d´Arga, no lugar de Arga de Baixo, concelho de Caminha, encontra-se o mosteiro de S. João d´Arga, junto a uma capela. No dia 28 de Agosto, acontece uma curiosa romaria religiosa e profana, onde as populações das aldeias sobem, ao fim da tarde, a serra d´Arga em direção ao convento e à pequena capela, sempre na companhia de música popular. Manda a tradição que, ao chegar lá acima, devem dar três voltas à capela e oferecer duas esmolas: uma para o santo, outra para o diabo. Depois é arranjar lugar à volta do convento, comer e beber e passar toda a noite, até de manhã, em festa rija.
Não longe dali, em Vila Praia de Âncora, nos primeiros dias de setembro, celebra-se a festa de Nossa Senhora da Bonança, uma festa popular fortemente implantada na comunidade piscatória da vila, que inclui uma procissão naval, onde aos barcos de pesca da vila, se juntam os barcos de Caminha, ambos engalanados, em honra de nossa Senhora da Ínsua. Numa cerimónia diferente, são lançados foguetes a partir dos barcos. Depois, em terra, o divertimento habitual acontece com direito a procissão, muita música, comida regional e Vinhos Verdes.
Perto de Vila Praia de Âncora, em Afife, famosa pelas suas praias, santuários de surfistas, há um restaurante famoso pela frescura e confeção dos seus peixes: A Mariana. Embora tenha dois ou três pratos de carne muito bons, é o marisco e peixe fresco da lota de Âncora que são mais procurados. Percebes, camarão da costa e amêijoas para começar. No entanto, um dos pratos mais procurados é a grelhada com vários peixes, cozinhada a vapor com algas trazidas pelos pescadores que chegam do mar. A frescura dos espumantes dos Vinhos Verdes com o Marisco, e os Alvarinhos da sub-região vizinha de Monção e Melgaço para os pratos de peixe, harmonizam e exponenciam esta experiência gastronómica.
Subindo um pouco o rio Minho, em Lanhelas, concelho de Caminha, entre 2 e 4 de setembro, é muito popular a festa em honra do Senhor da Saúde e de Santa Rita de Cássia, que coincide com a Festa das Solhas. As solhas, bastante abundantes, depois de pescadas são limpas e secam à sombra durante alguns dias. Era tradição as populações guardarem-nas, quando não havia frigoríficos, para comerem durante o Inverno. Frescas, podem ser grelhadas ou fritas em azeite e alho, sendo acompanhadas por batatas cozidas. Ali perto, em Seixas do Minho, são também fritas e acompanham com arroz de ervilhas. Mais recentemente também são fumadas, depois de limpas as espinhas e pele, borrifadas com salsa, regadas de azeite e comidas de seguida, sendo um excelente petisco.
Rumando a sul, já para lá do rio Douro, tendo por companhia o rio Paiva, todos os anos, em meados de setembro em Castelo de Paiva, acontece a romaria de Santa Eufémia, uma das mais importantes festas profano-religiosas da região. Os produtos da região estão sempre presentes, incluindo uma feira de gado bovino e as tasquinhas de comidas e dos vários Vinhos Verdes que ali se produzem.
A caminhar para o final do ano, nos dias 10 e 11 de novembro, acontece a grande festa dos vinhos verdes por toda a região: os Magustos. É então que se abrem os primeiros vinhos já da colheita do ano, também chamado vinho novo, que é acompanhado pelos petiscos e pratos tradicionais, mas sobretudo para fazer ótima companhia às castanhas assadas. Depois salta-se às fogueiras enormes, bebe-se Jeropiga, e viva a festa!
Para terminar o ano velho e dar as boas-vindas ao Ano Novo, é a 31 de dezembro e a 1 de janeiro que se realiza no Portinho de Vila Praia de Âncora a festa popular em honra de Nosso Senhor dos Aflitos, mais uma vez organizada pelas gentes do mar. E assim se entra no novo ano, todos anos.
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