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AFP/Getty Images

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Salvador Sobral. A vida do cantor que tem um segundo coração

Em criança, fez longas viagens com a irmã e o pai a ouvir Beatles. Cantou na TV aos 12 anos, passou pelo "Ídolos", apaixonou-se pelo jazz e venceu a Eurovisão. Agora tem um coração novo, uma vida nova

Momentos antes de entrar para o bloco operatório, onde receberia um transplante de coração, Salvador Sobral desejou “boa sorte” ao cirurgião e pediu para ouvir música clássica. Algumas horas depois, o que batia dentro do peito do músico era outro coração — a operação “correu bem”. A recuperação, porém vai ser longa, explicaram os médicos, confiantes de que o vencedor da Eurovisão consiga voltar a ter uma vida normal.

O culpado pela chegada de Salvador Sobral ao jazz tem um nome: Chet Baker. Não fora a obra do cantor e trompetista norte-americano, e talvez o Salvador Sobral artista não existisse como o conhecemos. Tudo começou em Maiorca, quando Salvador cantava em bares e pensava que talvez pudesse fazer vida da música. Numa dessas noites, depois de algumas horas a cantar hits de músicos como Stevie Wonder, Otis Redding e Amy Winehouse, o guitarrista argentino que o acompanhava nessas noites de música ao vivo, fez-lhe uma sugestão: “O Jamie Cullum é ok, mas tens de ouvir isto”, disse-lhe.

O “isto” era uma canção de Chet Baker chamada ‘But Not For Me’. “Deslumbrou-me. Parecia-me uma angústia misturada com esperança, misturada com melancolia, tudo ali, numa só pessoa, no trompete e na voz”, recordou o próprio Salvador sobre essa primeira audição numa entrevista ao El País. “Comecei a ouvir o Chet sem parar, tornei-me obcecado com ele. Li a sua biografia duas vezes, com a esperança de que à segunda vez ele não morresse — mas voltou a morrer. Queria ser como ele: andava como ele, vestia-me como ele, cantava de forma igualzinha.”

"Comecei a ouvir o Chet sem parar, tornei-me obcecado com ele. Li a sua biografia duas vezes, com a esperança de que à segunda vez ele não morresse -- mas voltou a morrer. Queria ser como ele: andava como ele, vestia-me como ele, cantava de forma igualzinha."
Salvador Sobral sobre Chet Baker

A vida de Baker, tantas vezes comparado ao ator James Dean pela sua beleza de ator de Hollywood, dava um filme — tanto que deu, de facto, com “Born to Be Blue” a estrear nas salas de cinema em 2015. Aos 37 anos, o músico teve de reaprender a tocar trompete depois de ter perdido vários dentes numa luta, que também lhe roubou a beleza ao rosto. A sua carreira deixou marca na história do jazz, mas Baker acabaria por morrer em circunstâncias pouco claras, sozinho num quarto de hotel em Amesterdão. A heroína, a par da música, consumiu-lhe a vida.

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Salvador ficou fascinado com esta história de vida, mas, sobretudo, com os dotes musicais de Chet Baker. Aquela noite em que chegou a casa e foi ouvir a “But Not for Me”, recomendada pelo guitarrista, mudou-lhe a vida: “Foi uma epifania musical. Saquei a melodia e a letra… E o solo de trompete e também a intro… E no dia seguinte, quando o voltei a encontrar, disse-lhe: é isto!”, contaria mais tarde ao Expresso.

À altura, Salvador gastava o seu tempo sobretudo nos bares da ilha. Estava ali a fazer Erasmus, enquanto tirava o curso de Psicologia, mas poucas eram as aulas a que ia. No final desse ano, só tinha feito uma cadeira, a de Psicologia da Arte — que concluiu graças à música, com um trabalho de análise da canção ‘Blowin’ in the Wind’, de Bob Dylan. O resto do tempo era passado a cantar em bares, restaurantes, hotéis, faturando todas as noites. Rapidamente Salvador percebeu que poderia sustentar-se com a música e decidiu largar os estudos. Os pais respeitaram a decisão, mas decidiram que deixariam de lhe passar qualquer mesada. “Eles sempre me deram liberdade, mas também não são parvos”, explicou. Esse empurrão, acompanhado dos conselhos da irmã e também cantora Luísa Sobral, levou a que tomasse a decisão de ir estudar música.

Ingressou então na prestigiada escola Taller de Músics, em Barcelona. Instalou-se na Avenida de Paral-lel, mesmo em frente ao Teatro Apolo, e passou os dois anos seguintes completamente embrenhado em pautas, instrumentos, aulas de canto. “Eu, que sempre achei que o meu irmão não era feito para escolas, ficava todos os dias fascinada com a dedicação dele”, recordou a irmã Luísa. “Passava horas a estudar harmonia, treino auditivo e piano. Ia a jam sessions todos os dias e já todos os músicos de jazz sabiam quem ele era. Em poucos meses conhecia mais standards [clássicos do jazz] do que eu em três anos, e cantava-os com a segurança de alguém que cresceu com aquela música.” Salvador deixou marca em alguns professores, que falaram ao jornal El Periódico sobre a dedicação do jovem músico: “O Salva é talento puro”, comentou o professor de piano, Jaume Gispert. “É uma pessoa muito emocional, muito sensível”, completou a professora de Harmonia, Laia Vallès. “Vive a música de uma forma extrema e envolve-se muito.”

Das viagens de carro a ouvir Beatles até à passadeira vermelha em Kiev

Foi assim desde sempre, como recordou ao Observador a sua professora de escola primária, Maria José Samuel, em maio: “Era muito querido para todos, era muito boa onda. Não aguentava ver ninguém triste e arranjava sempre maneira de resolver, à socapa, os problemas dos colegas.” Uma criança de emoções à flor da pele, mas também de sorriso fácil, que se ria “às gargalhadas com as parvoeiras dos colegas” e que “alinhava em tudo o que fosse asneira”, como recordou a professora.

Da rivalidade lá de casa à parceria de sucesso. A história dos irmãos Sobral

A música também esteve sempre presente. Com a irmã disputava os concursos de talento caseiros, que envolviam sempre cantar. E as viagens longas para o Algarve, nas férias, eram momentos de partilha musical com o pai, que obrigava Salvador e Luísa a ouvir Simon & Garfunkel, Genesis e, sobretudo, os Beatles. “O meu pai fazia-nos ouvir as letras, ‘oiçam, oiçam o que diz o John Lennon'”, recordou Salvador ao El País. Não admira, por isso, que hoje em dia o músico considere os Beatles “os reis de tudo” e o “ingrediente principal” da sua educação musical. Cujas letras ajudaram, também, a que começasse a aprender inglês.

Essa é uma língua que Salvador viria a dominar com toda a naturalidade, a par do castelhano. É o que acontece quando se vive no estrangeiro e se ganha a familiaridade do dia-a-dia com as palavras e as expressões dos outros. Aos 17 anos, foi terminar o ensino secundário para os Estados Unidos, através de um programa de intercâmbio. Uma experiência pela qual a irmã Luísa já tinha passado e que ajudou a cimentar a relação entre os dois.

Quando regressou, impulsionado por uma namorada que o inscreveu à socapa, mergulhou no mundo da televisão através de uma participação no concurso ‘Ídolos’. Não seria a primeira vez de Salvador em frente a uma câmara — em pequeno cantou ‘O Negro do Rádio de Pilhas’ de Rui Veloso no ‘Bravo Bravíssimo’ –, mas a participação deixar-lhe-ia marcas profundas.

A experiência foi, segundo o próprio, “traumática”. “Fez-me super popular sem saber ainda quem era como ser humano e musicalmente. É injusto ser exibido dessa forma quando ainda não se é alguém maduro”, desabafou. “O sensacionalismo da televisão”, as abordagens na rua, as capas das revistas, a forma como o tentaram “transformar no crooner” de serviço [termo dado a alguns cantores americanos de jazz popular como Frank Sinatra] que só cantava Michael Bublé, tudo isso desagradou a Salvador, que optou por se afastar da música por uns tempos. Foi estudar Psicologia, trabalhou numa loja da cadeia Starbucks em Belém e partiu, por fim, para Maiorca em Erasmus. Aí, tudo mudaria. E, graças também a Chet Baker, Salvador descobriu finalmente quem era — pelo menos musicalmente.

De regresso a Portugal, envolveu-se no jazz da capital lisboeta, participando em jam sessions no Hot Club e na Fábrica Braço de Prata. Foi no famoso clube de jazz da Praça da Alegria que ele conheceu o pianista Júlio Resende, que viria a produzir o seu álbum, ‘Excuse Me’, lançado em 2016. O músico estava então como peixe na água, a lançar a sua carreira no estilo musical onde se sentia confortável. Foi também por isso que encarou com ceticismo o convite da irmã para participar no Festival da Canção. Ainda incomodado com a experiência nos ‘Ídolos’, só depois de saber que outros nomes da música que admirava (como Samuel Úria e Márcia) iam participar, é que aceitou. E, depois de ouvir ‘Amar pelos Dois’, ficou rendido à canção.

A vitória esmagadora foi uma surpresa total. E, em menos de nada, Salvador estava dentro de um carro em Kiev, com uma guia ucraniana que repetia em inglês “estamos atrasados!”, a caminho de uma passadeira vermelha onde dezenas de pessoas o esperavam. Tudo isto numa Eurovisão de que Salvador não era espectador habitual e que, regra geral, não respeitava.

Por vezes, sentiu que se estava “a vender” a uma “Euro Disney”, como definiu em tempos o festival ao Observador. Mas sentiu também que esta podia ser a oportunidade para fazer algo diferente. “Algumas pessoas acreditaram nisto e estava a representá-las também. Era um bocado mimado da minha parte estar contra isto”, resumiu, ainda em Kiev.

“Ganhar a Eurovisão? É-me indiferente. Com a quantidade de concertos e as pessoas a cantarem a música, eu já ganhei”

Pelo meio, aproveitou a oportunidade para falar dos temas que lhe são caros. Apareceu numa conferência de imprensa com uma camisola onde se podia ler “S.O.S. Refugees”, um gesto que lhe podia ter valido a expulsão do concurso. “Eu sempre que puder vou falar das coisas em que acredito”, disse mais tarde numa entrevista à RTP, explicando que também aborda frequentemente a questão da Venezuela — país do amigo Leo Aldrey, com quem compõe várias músicas. Nessa mesma entrevista, Salvador explicou que recusou a proposta da ONU para ser embaixador relativamente ao tema dos refugiados. “Não quero ser um ativista, sou simplesmente um humanista. É igual quando eu digo que o Governo está a trazer uma boa mudança, já querem que eu seja embaixador dos Capitães de Abril… Eu não sou nada disso”, comentou entre risos.

Salvador Sobral foi o único português a vencer o Festival da Eurovisão (MANUEL DE ALMEIDA / LUSA)

MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Embaixador de um certo tipo de música, talvez. Pelo menos foi isso que transpareceu em Kiev, quando a vitória de ‘Amar pelos Dois’ provocou um abalo na estrutura kitsch da Eurovisão e levou Salvador a fazer um discurso que deixou muitos de lágrima ao canto do olho: “Vivemos num mundo de música descartável, de música fast-food sem qualquer conteúdo. Isto pode ser uma vitória da música, das pessoas que fazem música que de facto significa alguma coisa. A música não é fogo-de-artifício, é sentimento. Vamos tentar mudar isto. É altura de trazer a música de volta, que é o que verdadeiramente interessa.”

“Sempre falei duas vezes antes de pensar”

Em Portugal, a vitória de Salvador foi encarada com euforia atípica, embalada pela visita papal e pela conquista do campeonato pelo Benfica, no mesmo dia. Daí à receção apoteótica no Aeroporto de Lisboa, foi um pulo. “Tudo isto culmina com uma chegada ao aeroporto que só tinha visto com equipas de futebol. Os seguranças avisaram-nos, mas eu não ia preparada para aquilo que encontrei. Um mar de gente”, resumiu Luísa Sobral.

Salvador ficou meio abananado, como revelam as imagens televisivas, sem acreditar no que estava a acontecer. Mas ficou feliz, muito feliz. Sobretudo quando ouviu e leu os elogios de ídolos como o cantor Caetano Veloso ou do escritor Miguel Esteves Cardoso. Para o brasileiro, Salvador era “bom demais”; para o cronista, o cantor, “sem se armar em bom”, mostrou “que a arte e a alma andam juntas e que nada há nesta vida e neste mundo que seja mais forte”. “Tenho quase vergonha de ler essas palavras tão bonitas sobre mim”, diria o próprio pouco depois.

"Tudo isto culmina com uma chegada ao aeroporto que só tinha visto com equipas de futebol. Os seguranças avisaram-nos, mas eu não ia preparada para aquilo que encontrei. Um mar de gente"
Luísa Sobral sobre a chegada ao aeroporto após a vitória na Eurovisão

Os elogios sucederam-se, mas rapidamente chegou também o lado mais negativo. Ele não hesitava em expressar as coisas que lhe desagradavam na fama e que lhe faziam recordar os tempos do ‘Ídolos’, agora adaptados aos tempos das selfies e das redes sociais. No seu primeiro concerto após a vitória na Eurovisão, no Marco de Canaveses, improvisou uma mensagem críptica em inglês onde falava em coisas que “não são música a sério”, “Eurovisão” e “pessoas que não são bem vindas”. Mas, com a mesma candura, e apoiando-se nos membros da banda (Júlio Resende no piano, André Rosinha no contrabaixo, Bruno Pedroso na bateria) para ir fazendo conversa ao longo do espetáculo, brincou com o facto de não poder tocar logo ‘Amar pelos Dois’, correndo o risco de toda a audiência debandar de seguida. E admitiu, sem reservas: “Nunca tive tanto público na minha vida”.

Essa sinceridade sem filtros já tinha dado o ar da sua graça em Kiev, quando disse em tom de brincadeira, após a vitória, “isto está tudo comprado”. Era um tipo de humor encarado como um traço de personalidade curioso, que colocava Salvador aos olhos dos portugueses como uma figura exótica, difícil de classificar, mas a quem a maioria achava piada. E ninguém contestava que era genuíno. Só que o estado de graça terminaria em finais de junho, quando arriscou uma piada no concerto solidário ‘Juntos por Pedrógão’: “Eu sinto que posso fazer qualquer coisa que vocês aplaudem. Vou mandar um peido a ver o que é que acontece”, disse, arrancando algumas gargalhadas à plateia.

As reações extremadas das horas seguintes, sobretudo no Facebook, levaram Salvador a emitir um comunicado onde pedia desculpa aos que tinha ofendido e reiterava que não tinha essa intenção. “Sempre falei duas vezes antes de pensar”, resumiu, numa espécie de auto-retrato que parafraseava a canção composta por Chico Buarque (e também cantada pelo seu ídolo Caetano Veloso), ‘Bom Conselho’. “Sou muito inconveniente, sempre fui, e inoportuno também. Não reparo nas coisas que digo”, já tinha admitido antes do episódio ao El País. “Mas esse também é o espírito do jazz: a improvisação, o que te sai.”

Salvador Sobral pede desculpa por piada em concerto solidário

O pedido de desculpas não impediu, contudo, as críticas. Salvador evitava ler o que escreviam sobre si, pedindo à sua agente para que fizesse esse papel de filtrar a informação que lhe chegava. Mas, apesar de aos 27 anos já ter uma carapaça mais dura do que aos 19, não conseguia evitar ficar magoado com algumas das coisas que diziam sobre ele. Sobretudo no que toca à sua doença cardíaca, que preferia não partilhar com o público, mas que foi frequentemente capa de revista. Salvador reagiu várias vezes nos concertos, através da música, fazendo um discurso improvisado por cima de um solo de bateria em que gritava coisas como: “Diz-nos, Salvador, vais morrer? Diz-nos em que dia vais morrer para aumentarmos a tiragem!”.

A escolha pelo recato e pela privacidade acentuou-se nos últimos meses, à medida que a situação de saúde do cantor parecia agravar-se. “Fontes anónimas”, “familiares” ou “próximas da família” iam revelando às revistas que Salvador aguardava por um transplante cardíaco. O seu internamento nos Cuidados Intensivos do Hospital Santa Cruz, em Carnaxide, acabou por deixar mais a nu a gravidade do seu estado. O presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, Manuel Carrageta, acabaria por revelar ao Correio da Manhã que Salvador estava “à frente na lista [de espera]” e que procuravam então um coração compatível, de um jovem com menos de 35 anos. A família e os amigos preferiram não se pronunciar.

Dançando com as dores, feliz em cima de um palco

Até mesmo aqueles que há alguns meses não hesitavam em falar sobre o amigo Salvador Sobral, passaram a optar pelo silêncio. Mas as palavras que usaram para o descrever em tempos mantiveram-se: “Ele é um tipo muito feliz, mas a alegria dele é uma alegria muito trágica. É uma alegria nietzschiana, de quem está à beira do abismo e canta à beira do abismo e isso nota-se em palco, esse sofrimento. Aquelas mãos, aquele pescoço que cai em colapso, a perna que levanta. É o modo como ele vai dançando com as suas dores“, dizia em maio ao Observador Nuno Nabais, fundador da Fábrica Braço de Prata e amigo do músico.

Salvador e a irmã Luísa, em cima do palco (JOÃO PORFÍRIO /OBSERVADOR)

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Todos são unânimes em referir essa felicidade peculiar e, sobretudo, a forma profunda como sentia a música. “Percebi que estava ali alguém com uma capacidade de cantar para lá da competência e da eficiência. Era uma coisa emocional“, recordou Júlio Resende ao Público sobre o seu primeiro encontro com o cantor, no Hot Club. Descontraído por natureza, sempre pronto para uma piada ou um reparo irónico, Salvador encarava a sua profissão com muita naturalidade. “Nunca fiquei nervoso nos concertos. Nunca fui esse gajo”, confessou uma vez. A única exceção foi em Kiev, onde subiu ao palco “com a boca seca”. O melhor elogio que lhe podiam fazer — e os seus colegas de banda, por exemplo, fizeram-no muitas vezes — era dizer-lhe que ele é um músico e não apenas um intérprete.

Mas, quer quisesse quer não, foi como intérprete que Salvador brilhou. E, precisamente para não passar a vida a “cantar as coisas dos outros”, a irmã Luísa compôs-lhe uma vez uma música inspirada no estilo de Chet Baker, de que Salvador se pudesse apropriar. Chama-se ‘I Might Just Stay Away’ onde, a certa altura, ele canta assim:

“Due to the look in your eyes

And all the accidental things they can see

I might, I might just stay away

Before they even look at me”

É uma canção de amor, mas quando cantava alguns destes versos, talvez ele os sentisse de outro modo, como que a explicar por que se resguardou tantas vezes dos holofotes que o procuravam. É em palco que Salvador se sente leve, sem ter de se justificar de nada, só sentindo: “Ali não há problemas de saúde, nem de dinheiro. Todos estamos em diálogo e é isso que é o jazz, essa onda de improvisação. De que tudo na vida é possível“. E se tudo correr pelo melhor, é lá que ele vai estar novamente, em breve. Uma segunda vida, com um segundo coração.

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