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A detenção para interrogatório de Nicolas Sarkozy esta terça-feira de manhã é o mais recente episódio de uma história que envolve malas cheias de notas de €500, viagens misteriosas entre a Líbia e França e a venda de quadros e de mansões a preços suspeitos.
Depois de ter feito uma carreira política que começou na militância de base e culminou na presidência de França, o perfil público do político de centro-direita tem sido marcado por suspeitas nalguns dos casos mais sonantes da justiça francesa. Seis anos depois de ter deixado o poder, Nicolas Sarkozy é um político que vive debaixo de uma constante nuvem carregada de dúvidas.
Porém, antes de todos esses casos onde Nicolas Sarkozy é suspeito, já tinham sido levantadas suspeitas em torno do possível financiamento da sua campanha eleitoral de 2007 com dinheiro da Líbia de Muhammar Kadhafi. Ao longo de vários anos, Nicolas Sarkozy e pessoas da sua confiança viajaram até àquele país do norte de África, anunciando ao mundo os acordos e os contratos alcançados entre as duas partes.
Sarkozy detido: suspeitas de campanha de 2007 financiada por Kadhafi
Mas será que, entre a pompa e circunstância com que era anunciado o sucesso das relações entre a França e Líbia, Nicolas Sarkozy terá acordado com Muhammar Kadhafi um esquema ilícito de financiamento da sua campanha eleitoral de 2007, com valores entre os 5 e os 50 milhões de euros?
Esta pergunta voltou à ordem do dia na manhã desta terça-feira, depois de o ex-presidente francês ter sido detido pelas autoridades francesas para depor perante os juízes de instrução pela primeira vez a propósito deste caso. Nicolas Sarkozy poderá ficar sob custódia até 48 horas — ao longo das quais os juízes de instrução procurarão passar a pente fino a relação entre Nicolas Sarkozy e Muhammar Kadhafi, repleta de alianças, traições e esquemas.
Quando a Líbia de Muhammar Kadhafi era um pária
Na Europa e nos EUA, havia razões de sobra para considerar a Líbia de Muhammar Kadhafi um Estado pária.
O primeiro sinal foi em 1985, quando, em simultâneo, terroristas árabes dispararam e atiraram granadas no aeroporto de Roma e de Viena, matando 19 pessoas. Os EUA apontaram o dedo à Líbia, acusando o regime de Muhammar Kadhafi de financiar aquele ataque. Em 1986, aquele país do Norte de África voltou a ser acusado de estar por trás de um atentado bombista numa discoteca em Berlim Ocidental, onde morreram três pessoas, entre os quais dois militares norte-americanos.
O golpe mais mortífero aconteceu em 1988, com o atentado contra o voo Pan Am 103. Partiu de Frankfurt, com escala prevista em Londres e destino final nos EUA, mas acabou por explodir enquanto sobrevoava Lockerbie, na Escócia. Morreram as 270 pessoas que estavam a bordo, entre as quais 179 tinham nacionalidade norte-americana. Abdeldaset al-Megrahi e Lamin Khalifah Fhimah, dois funcionários da companhia estatal líbia, sendo que o primeiro tinha ligações aos serviços secretos de Muhammar Kadhafi, foram anunciados como suspeitos de preparar o atentado.
Em 1989, um novo atentado. Desta vez, o voo UTA 772 explodiu enquanto sobrevoava o Níger, matando cada uma das 170 pessoas que seguiam a bordo. Entre as vítimas, a nacionalidade mais comum era a francesa, com um total de 54 mortos. Mais tarde, as autoridades de Paris viriam a identificar seis suspeitos, todos de nacionalidade líbia. Entre eles, destacava-se Abdallah Senoussi, cunhado de Muhammar Kadhafi e então número dois das secretas líbias.
Além disso, a Líbia era também suspeita de ajudar o terrorismo um pouco por todo o mundo. Grupos terroristas na Palestina, o IRA na Irlanda, a ETA no País Basco, a Frente Revolucionária Unida na Serra Leoa ou o Abu Sayyaf nas Filipinas fazem parte da lista de organizações que terão recebido apoio financeiro, logístico ou militar de Muhammar Khadafi.
Tudo isto levou a um isolamento internacional da Líbia. Primeiro, foi submetida a um embargo norte-americano em 1986. Depois, em 1992, juntaram-se as sanções das Nações Unidas, que proibiram a venda de armas à Líbia e também as ligações aéreas àquele país.
As sanções tiveram o resultado desejado. Isolado e a braços com uma crise económica por não conseguir vender petróleo aos principais compradores mundiais, Muhammar Kadhafi e a Líbia não voltaram a ser acusados de ligações a atentados terroristas. A travessia no deserto que durou grande parte da década de 1990 terminou em 1999, quando o ditador líbio decidiu cooperar com as autoridades europeias que investigavam os atentados de Lockerbie e do voo da UTA. Um a um, Muhammar Kadhafi entregou às autoridades britânicas e francesas os principais suspeitos, para serem julgados. Além disso, a Líbia indemnizou as famílias de cada uma das vítimas destes dois atentados.
Não por acaso, no maior atentado com aviões que aconteceu após o volte-face de Muammar Kadhafi, o ataque ao World Trade Center de 11 de setembro de 2001, o ditador não só lamentou o sucedido como partilhou com os EUA informações que acreditava serem úteis para investigar o caso.
À altura, as palavras de Muhammar Kadhafi de reação ao 11 de setembro apanharam meio mundo de surpresa. “Independentemente do conflito com a América, enquanto seres humanos temos o dever de demonstrar compaixão com o povo americano e de estar ao lado deles depois deste incidente horroroso, que deve alertar a consciência humana”, disse o ditador líbio.
Tudo isto, dito pela boca do homem que menos de duas décadas antes tinha sido acusado de estar por trás da morte de centenas de civis europeus e norte-americanos, não era menos do que um desesperado grito de ajuda. E, em França, ele foi bem ouvido. À escuta, entre outros, estava Nicolas Sarkozy.
Quando Chirac e Sarkozy abriram França ao dinheiro da Líbia
Não havia tempo a perder. As sanções internacionais contra a Líbia foram totalmente levantadas em 2004 e, precisamente nesse ano, Jacques Chirac foi o primeiro Presidente francês a fazer uma visita oficial àquele país desde a declaração de independência, em 1951. E, antes do chefe de Estado francês, já lá tinham estado Tony Blair (primeiro-ministro doReino Unido), José Maria Aznar (presidente de governo de Espanha), Silvio Berlusconi (primeiro-ministro de Itália), Gerhard Schröder (chanceler da Alemanha) e William Burns (então responsável pela Médio Oriente do Departamento de Estado dos EUA). Em 2005, também Portugal se estreou naquelas andanças, com o então primeiro-ministro José Sócrates a ser recebido em Tripoli por Muhammar Kadhafi.
Quando chegou à Líbia, Jacques Chirac tinha ao seu lado vários empresários franceses prontos a investir na Líbia, sobretudo na área do petróleo e da construção.
Além disso, também a Líbia investiu nos países que, até há pouco tempo, o tinham como um Estado-pária. Segundo um relatório de setembro de 2010 da Autoridade Líbia para o Investimento, um fundo soberano público, a Líbia tinha 64 milhões de dólares em ações nalgumas das empresas mais conhecidas em todo o mundo: Coca-Cola, McDonald’s, Exxon Mobil, Bayer ou Siemens. No caso particular da França, a Líbia investiu nalgumas das empresas mais importantes do país: empresas de telecomunicações (France Telecom e Vivendi), energéticas (GDF e EDF), o Grupo Danone ou a farmacêutica Roche.
A aproximação económica entre os dois países é preparada por dois homens, que o Le Monde descreve como “rivais”. De um lado, está Ziad Takieddine, logo em 2004. Do outro, está Alexandre Djouhri, que chegou mais tarde, em 2005.
Ainda como ministro do Interior, Nicolas Sarkozy fez uma visita à Líbia em 2005. Nessa ocasião, terá estado reunido com aqueles dois homens — e o alegado conteúdo, e também resultado, dessas conversações estão por trás desta sua detenção, 13 anos depois.
Pouco depois do início da sua presidência, Nicolas Sarkozy viajou em visita oficial para a Líbia. Na primeira vez que o fez, em agosto de 2007, conseguiu a libertação de um médico palestiniano e de cinco enfermeiras búlgaros, presos na Líbia por alegadamente terem contaminado centenas de crianças com o vírus VIH de forma deliberada. Este feito foi uma espécie de coroa de louros para o Presidente francês.
Mas a sua relação com a Líbia também foi alvo de críticas logo no início — sobretudo por ter fechado contratos de vendas de armas ao regime de Muhammar Kadhafi. Sobre este último caso, Nicolas Sarkozy, já quando era Presidente, responderia assim aos ataques que lhe dirigiram: “Criticam-me porquê? Por conseguir contratos? Por criar empregos para os trabalhadores franceses?”. Ziad Takiedinne, o primeiro intermediário dos franceses na Líbia, terá estado por trás do negócio da venda de armas.
E quando Sarkozy ajudou a derrubar Kadhafi
A polémica levou quatro anos até estalar — e numa altura em que, depois de um breve interregno, a Líbia de Muhammar Kadhafi voltou a ser considerada um país inimigo. Em 2011, o ano da Primavera Árabe, depois da Tunísia e do Egito, tornou-se evidente que a Líbia seria a próxima peça do dominó a cair. Ou, em concreto, o regime de Muhammar Kadhafi, que durou 42 anos.
A queda de Muhammar Kadhafi deixou de ser uma questão de “se” para passar a ser uma questão de “quando” no momento em que a coligação da NATO decidiu fazer bombardeamentos aéreos contra posições militares do regime líbio. A ideia foi apoiada por vários países (Reino Unido, EUA, entre outros), mas surgiu de um país e de uma pessoa em particular: a França de Nicolas Sarkozy.
“Os bombardeamentos serão feitos apenas numa perspetiva defensiva, caso Kadhafi utilize armas químicas ou faça ataques aéreos contra manifestantes pacíficos”, propôs, em março de 2011. “Kadhafi tem de sair”, sublinhou Nicolas Sarkozy. No mesmo mês, a França foi o primeiro país a reconhecer a legitimidade dos rebeldes líbios, pedindo-lhes que destacassem diplomatas da sua escolha para França, ao mesmo tempo que deixou de reconhecer os diplomatas de Muhammar Kadhafi.
Aos poucos, Nicolas Sarkozy recolheu apoio por toda a Europa e nos EUA para ajudarem neste esforço. Até a Itália de Silvio Berlusconi, que ainda hoje sublinha que era amigo de Muhammar Kadhafi, participou nos bombardeamentos — apesar de o então primeiro-ministro dizer que foi o parlamento que o deixou de “mãos e pés atados”, sem meios para impedir essa via.
É neste contexto que a polémica finalmente estala, quando o filho mais velho de Muhammar Kadhafi, Saïf Al-Islam Kadhafi, dá uma entrevista à Euronews. Nela, acusa Nicolas Sarkozy de receber dinheiro líbio para financiar a sua campanha presidencial de 2007. “Para já, Sarkozy tem devolver todo o dinheiro que aceitou da Líbia para financiar a sua campanha eleitoral”, disse o filho de Muhammar Kadhafi. “Fomos nós que financiámos essa campanha, temos todos os detalhes e estamos prontos para torná-los públicos. Por isso, a primeira coisa que pedimos a esse palhaço do Sarkozy é que devolva o seu dinheiro ao povo líbio. Ajudámo-lo a chegar a Presidente porque achámos que isso ia ajudar o povo líbio, mas ele desiludiu-nos.”
A entrevista de Saïf Al-Islam Kadhafi foi para o ar a 16 de março de 2011. Três dias mais tarde, começavam os bombardeamentos da NATO, idealizados por Nicolas Sarkozy. Só viriam a terminar no dia 31 de outubro — um dia depois de o regime de Muhammar Kadhafi ser deposto, facto consumado pelo seu assassinato em plena rua, em Sirte. Desde então, a Líbia nunca mais voltou a ter um governo nacional e continua a ser o palco de uma guerra civil e de uma crise humanitária sem fim à vista.
As malas de dinheiro, os quadros sobrevalorizados e as mansões ao quintuplo do preço
A partir da entrevista de Saïf Al-Islam Kadhafi, as dúvidas formaram um imenso burburinho que veio a explodir em março de 2012, menos de dois meses depois das eleições que Nicolas Sarkozy viria a perder para François Hollande. Nessa altura, o jornal Mediapart deu conta de um documento oficial sírio onde era referido um acordo de financiamento de 50 milhões para a campanha de Nicolas Sarkozy em 2007. Os detalhes teriam sido acertados com Brice Hortefeux, amigo pessoal de Nicolas Sarkozy, de quem chegou mais tarde a ser ministro da Imigração (2007 a 2009) e do Interior (2009 a 2011).
Brice Hortefeux negou as acusações. Reconhecendo que teve uma reunião com Ziad Takieddine, desmentiu ainda assim ter sido discutido o financiamento da campanha de Sarkozy em 2007. “Nunca falámos de questões de financiamento político, nem de perto nem de longe”, reagiu, em 2012. E o porta-voz de Nicolas Sarkozy também negou rotundamente as acusações: “Há anos que uns e outros tentam fazer declarações deste tipo, mas nunca acabam por demonstrar provas, ficando-se pela tentativa de ligar o chefe de Estado a um caso que não lhe diz respeito”.
O próprio Nicolas Sarkozy tem desmentido todas as suspeitas levantadas em seu torno neste caso, acusando o filho de Muhammar Kadhafi de ser um “fala-barato”.
Porém, ao longo dos anos que se seguiram, Ziad Takieddine — que está em França depois de ter sido detido com uma mala de 1,5 milhões, cujo fim não é conhecido — falou várias vezes sobre o caso. A primeira vez que o fez em maior detalhe foi numa entrevista ao jornal online Mediapart, onde contava ter ele mesmo feito a passagem de três malas cheias de dinheiro desde a Líbia até a próximos de Nicolas Sarkozy ou ao próprio.
No relato feito ao jornal online Mediapart, Ziad Takieddine detalhou que as malas continham notas de €500, “totalmente novas”. Em duas ocasiões em que entregou o dinheiro, o empresário libanês e francês conta que encontrou o próprio Nicolas Sarkozy. “Acredito que ele soubesse muito bem o que é que eu estava a fazer ali”, disse ao Mediapart o homem que disse haver um “sistema mafioso” com o ex-Presidente “à cabeça”.
A seguir às revelações feitas ao Mediapart, Ziad Takieddine foi constituído arguido pelas autoridades francesas, com as quais tem colaborado com depoimentos que podem ajudar a incriminar Nicolas Sarkozy e alguns dos homens mais próximos do ex-Presidente. Os depoimentos do empresário libanês-francês levaram as autoridades francesas a abrir oficialmente a investigação do caso Sarkozy-Líbia em 2013.
Segundo os relatos do empresário de dupla nacionalidade libanesa e francesa, houve três envios de dinheiro. Dois foram feitos para o chefe de gabinete de Nicolas Sarkozy no ministério, Claude Guéant — homem que, mais tarde, viria a ser chefe de gabinete de Nicolas Sarkozy no Eliseu e também ministro do Interior. O outro foi feito diretamente com o então candidato a Presidente.
A primeira mala com dinheiro a partir da Líbia em direção a Paris terá chegado em 2006. Teria 1,5 milhões de euros. Dez dias depois, uma nova mala transportaria outros 2 milhões de euros. Por fim, um novo carregamento de notas no valor 1,5 milhões de euros seria entregue “diretamente a Nicolas Sarkozy”, de acordo com Ziad Takieddine. Enquanto isso, Claude Guéant alugou um cofre de grandes dimensões na agência do banco BNP na zona de Opéra, em Paris — sendo que o próprio dizia que ali guardavam discursos e arquivos.
Estas alegadas trocas também foram corroboradas por Abdallah Senoussi, o cunhado de Muhammar Kadhafi suspeito de ter estado por trás dos atentados aos aviões de Lockerbie e do Niger, e que está atualmente preso na Líbia.
“Para estender o apoio [da Líbia] a personalidades ocidentais de modo a que estas chegassem ao poder, um total de 5 milhões de euros foi canalizado para a campanha do Presidente francês Nicolas Sarkozy em 2006 e 2007”, disse Abdallah Senoussi, num depoimento possível através de um protocolo de cooperação judicial entre França e as autoridades líbias. “Da minha parte, supervisionei pessoalmente a transferência dessa soma através de um intermediário francês, o chefe de gabinete do ministro do Interior. Sarkozy era então ministro do Interior”, disse. E depois acrescentou: “Confirmo que aquela soma foi recebida com sucesso por Sarkozy”.
Terá sido o próprio cunhado de Khadafi a interpelar Ziad Takkiedine, no sentido de ser encontrado um esquema de financiamento da campanha de Nicolas Sarkozy. Num dos seus depoimentos perante a justiça francesa, contou a conversa que o cunhado do ditador teve consigo. “O senhor Senoussi perguntou-me diretamente se sabia qual seria o custo de uma campanha presidencial em França. Eu perguntei-lhe porque é que queria saber e eu dei-lhe uma ideia, dentro dos meus poucos conhecimentos do tema, que seria cerca de 20 milhões de euros”, contou. “Ele respondeu-me: ‘O teu amigo pediu uma ajuda para o financiamento da sua campanha ao Líder’.”
Por “teu amigo”, entenda-se Nicolas Sarkozy. Por “Líder”, leia-se Muhammar Kadhafi.
Há ainda outro eixo do alegado esquema de financiamento da campanha de Nicolas Sarkozy: Alexandre Djouhri, o segundo intermediário dos franceses na Líbia de Muhammar Kadhafi. Detido em Londres desde janeiro deste ano, Alexandre Djohri (originalmente Ahmed), mudou o nome para homenagear Alexandre o Grande.
Descrito frequentemente pela imprensa francesa como um homem “excêntrico”, Alexandre Djouhri terá estado por trás de um pagamento no valor de 500 mil euros a Claude Guéant do artista flamenco Andries van Eertvelt a Sivajothi Rajendram, advogado residente da Malásia. A venda daqueles dois quadros, que terão sido comprados pela mulher de Claude Guéant, entretanto falecida, em 1993, despertou a atenção das autoridades francesas, pelo seu elevado valor — poderia aquele meio milhão de euros ter tido outro destino?
Os investigadores perceberam que, dois dias antes da compra dos dois quadros, o advogado malaio tinha recebido duas transferências cuja soma era próxima de 500 milhões de dólares. O depositante era o empresário saudita Khaled Bugshan que, por sua vez, tinha participações no fundo da Autoridade Líbia para o Investimento.
As autoridades suspeitam que aqueles 500 milhões de euros tenham sido transferidos para financiar a campanha eleitoral de Nicolas Sarkozy em 2007 — e chegaram a colocar em causa que Claude Guéant alguma vez tenha sido proprietário dos dois quadros de Andries van Eertvelt.
As suspeitas em torno de Alexandre Djouhri também contemplam a venda de uma casa em Mouguins, localidade a 15 minutos de Cannes, ao fundo da Autoridade Líbia para o Investimento por 10 milhões de euros — um valor cinco vezes superior ao valor real daquela casa.
Poucos apostam numa conclusão rápida deste caso que começou com as declarações do filho mais velho de Muhammar Kadhafi. Este, por sua vez, já reagiu à notícia da detenção para interrogatório de Nicolas Sarkozy. “É uma pena que a detenção aconteça com atraso e depois de sete anos de guerra. É uma pena, porque eu já apresentei as provas deste caso, mas nem a justiça francesa nem a justiça internacional se mexeram na altura”, disse.
Saïf Al-Islam Kadhafi falou esta terça-feira, um dia depois de ter anunciado que é candidato às eleições presidenciais líbias, previstas para antes de setembro deste ano. E lançou um apelo ao atual Presidente francês, Emmanuel Macron. “Peço ao Presidente Macron que tome as medidas necessárias para apoiar as eleições na Líbia, para que estas possam corrigir aquilo que o seu antecessor fez”, disse. Estará à vista uma nova aliança entre um Presidente francês e um Kadhafi?