Os portugueses apoiam a opção de Portugal de enviar armamento para a Ucrânia, atribuem a culpa da guerra à Rússia e dão a melhor nota na gestão do conflito — entre 12 líderes políticos europeus e mundiais — ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. As conclusões são de uma sondagem da Euroskopia — uma aliança de empresas de sondagens europeia — que mostra ainda que os portugueses são a favor da adesão da Ucrânia à União Europeia e da criação de exército europeu comum que rivalize com EUA, Rússia e China.
Os portugueses têm a posição mais pró-europeísta e uma das mais pró-americanas entre os nove países abrangidos pelo estudo de opinião, realizado entre 8 de junho e 9 de julho, e que tem por base 1000 entrevistas realizadas em cada um dos países (Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Áustria, Holanda, Polónia e Grécia).
Zelensky o preferido, seguido de Ursula e Biden. Putin é o odiado
Sobre a atuação de doze líderes europeus e mundiais em relação ao conflito na Ucrânia, os portugueses deram a melhor nota ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky (7,8 de 0 a 10) e a pior ao presidente russo, Vladimir Putin (1, de 0 a 10). A seguir a Zelensky, os portugueses pontuaram com as notas mais altas a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen (6,5), e o presidente dos EUA, Joe Biden, fechou o pódio (com 6).
O primeiro-ministro britânico Boris Johnson foi a quarta figura (das doze apresentadas) com melhor pontuação atribuída pelos portugueses (5,9). Seguiu-se o presidente francês, Emmanuel Macron — que só conseguiu 5,2 pontos de nota dos inquiridos franceses, mas os portugueses deram-lhe a quinta melhor nota (5,8).
Quanto às piores notas atribuídas pelos portugueses, além do 1 dado Vladimir Putin, o presidente chinês Xi Jinping tem a segunda pior nota (3). A seguir aos líderes russo e chinês, o pior classificado entre os portugueses é o primeiro-ministro polaco Mateusz Morawiecki, que fecha o rol de líderes políticos a quem os portugueses deram em média menos de 5 (teve 4,9).
Portugal quer ver Ucrânia na UE
Os portugueses voltam a ser os mais entusiastas da adesão da Ucrânia à União Europeia. Dos nove países estudados, Portugal é o que mais quer a adesão de Kiev: 69%. A Ucrânia é mesmo o único país candidato que merece a aprovação da maioria dos inquiridos portugueses. O segundo país que merece mais concordância é Montenegro (46% dos portugueses concordam com a adesão), seguido da Bósnia e Macedónia do Norte (ambos com 44%). A Albânia e a Sérvia recolhem ambos 43% da votação, enquanto apenas 38% dizem ‘sim’ à entrada do Kosovo e 37% à entrada da Turquia.
Sobre se a guerra da Ucrânia tornou os países europeus mais ou menos unidos, 67% dos portugueses acreditam que a unidade europeia foi reforçada. Portugal — que por norma é sempre dos países mais europeístas em estudos de opinião — ultrapassa o otimismo de 60% de holandeses e 53% de alemães e espanhóis, que acreditam que os países europeus ficaram mais unidos após o conflito.
Portugueses são a favor do envio de armamento e culpam Rússia
Oito em cada 10 portugueses (78%) concordam com a opção de Portugal enviar armamento para a Ucrânia e apenas 14% discordam desta opção. Dos restantes oito países do estudo só a Áustria (77%) e a Holanda (75%) se aproximam deste valor. A Grécia destaca-se por 60% dos inquiridos estarem contra o envio de armamento para o Governo de Kiev. Os valores de Portugal estão acima da média de 57% de concordância entre nove países em análise.
Em matéria de responsabilidade do conflito, Portugal é o país que atribui mais responsabilidade à Rússia. Com possibilidade de resposta múltipla, 94% dos portugueses atribuem aos russos a responsabilidade pela guerra ter ocorrido. Há depois 17% dos entrevistados que atribuem a responsabilidade à Ucrânia, 16% aos EUA e apenas 6% apontam o dedo à UE. Em média, nos países que fazem parte do estudo, 78% apontam o dedo à Rússia, 23% aos EUA, 15% à Ucrânia e 8% à UE. Portugal é o terceiro país que menos responsabiliza Washington (apenas na Holanda e na Polónia houve menos inquiridos a apontar o dedo aos EUA).
Sim a um exército europeu, mas sim à aliança com os EUA também
Quanto à existência de um exército europeu comum, acompanhado de um aumento de recursos dos vários países, que permitisse competir com EUA, China e Rússia, Portugal é, dos nove países em estudo, o que mais apoia a ideia. Dois terços dos portugueses concordam com um exército europeu e só 12% discordam da ideia. Dos nove países em estudo só na Áustria uma maioria de inquiridos não se manifesta a favor desta opção.
E se Joe Biden é o terceiro líder mundial com melhor pontuação na forma como gere o conflito com a Ucrânia, o que pensam os portugueses sobre a aliança europeia com os EUA? A maior parte, 40%, defende que a relação deve ficar como está e 36% querem mesmo que a aliança com os EUA seja fortalecida. São apenas 12% os portugueses que consideram que se deve desincentivar essa relação.
Mais uma vez, os gregos são os mais céticos relativamente aos norte-americanos, já que, dos nove países em estudo, são mais o que querem esfriar a aliança entre Europa e EUA (37%) do que manter (28%) ou reforçar (28%). Já na Polónia, país que faz fronteira com a Ucrânia, 62% dos inquiridos pedem que seja fortalecida a aliança.
Já a adesão da Finlândia e da Suécia à NATO suscita dúvidas, também aos portugueses, sobre os efeitos que poderá vir a ter. Numa grande divisão, 33% dos portugueses acreditam que estas adesões diminuem o risco de guerra na Europa e 32% que aumentam esse risco. Ainda assim, Portugal destaca-se como o segundo país (só ultrapassado pela Polónia) que mais vê a chegada destes novos membros à aliança atlântica como efeito dissuasor de uma guerra à escala europeia.
Sanções à Rússia, mesmo com energia mais cara
Sempre que o assunto é responsabilizar ou castigar a Rússia, os portugueses são líderes. Dos nove países em causa, os portugueses são os que mais acham (74%) que os países Europeus devem impor sanções ao petróleo e gás russos, mesmo que isso implique um aumento ainda maior dos preços da energia. Mais uma vez, no extremo oposto, 53% dos gregos são contra essas sanções.
Em matéria de preço da energia, as entidades que os portugueses mais culpam (32%) são as empresas privadas que fornecem energia. Em segundo lugar, os portugueses atribuem responsabilidades à Rússia (28%) e só depois ao Governo (26%). Entre os inquiridos portugueses, apenas 6% responsabilizam Bruxelas por este aumento. Por outro lado, no mesmo estudo, 67% estão insatisfeitos com a resposta do Governo a este aumento e 63% com a resposta da União Europeia.
A nível de preocupação com subida dos preços da energia, 91% dos portugueses assumem que o sentiram (50% que sentiram muito, 41% que sentiram de alguma forma). Há também, de acordo com o mesmo estudo, 94% dos portugueses estão preocupados com o aumento do preço das mercadorias, dos quais 71% estão muito preocupados e 23% de alguma forma preocupados. Só mesmo os gregos estão mais preocupados que os portugueses.
Pelo fim do poder de veto e sem entusiasmo pelo PRR
Sobre o poder de veto no Conselho Europeu — que qualquer Estado continua a ter em várias matérias essenciais — 44% dos portugueses consideram que tem de ser removido e apenas 34% acham que deve ser mantido.
Em todo o estudo há uma posição genericamente pró-europeia dos portugueses, mas — comparando com outras posições relacionadas com a UE e fundos comunitários — há um ceticismo maior do que o habitual relativamente aos fundos comunitários: 38% dos portugueses considera que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) vai ter um impacto positivo, mas também há 33% de portugueses que consideram que não vai ter efeito nenhum. É um terço de descrentes no PRR.
Ficha técnica
Amostra: 1000 cidadãos com idade igual ou superior a 18 anos em cada país (total 9447 entrevistas); amostras estratificadas por área geográfica (nut2), sexo e idade.
Recolha de dados: CATI-CAWI
Trabalho de campo: 8 Junho a 9 Julho 2022
Margem de erro para cada país: +/- 3.1%.
O que é a Euroskopia?
A Euroskopia é uma aliança entre empresas europeias de pesquisa de mercado e media na União Europeia. A aliança de empresas de sondagem assume que tem como “objetivo gerar e divulgar estudos de opinião sobre os assuntos atuais na União Europeia, as suas instituições, os seus líderes, as suas políticas e as principais tendências sociais.”
As empresas de sondagens que fazem desta aliança são a Pitagórica (Portugal), a Sigma Dos (Espanha), a SWG (Itália), a Opinionway (França), a Insa-Consulere GmbH (Alemanha e Áustria), a Prorata (Grécia), a I&O Research (Holanda) e a IBRiS (Polónia).