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É uma Super Lua porque a fase de Lua Cheia acontece muito perto do momento em que ela faz a segunda aproximação mais rasante ao nosso planeta. É uma Lua Vermelha ou de Sangue — mas esse é apenas um nome popular — porque, tal como em todos os eclipses lunares, é essa a cor que o nosso satélite natural vai assumir quando passar no centro da sombra da Terra. E é uma Lua de Lobo porque é a primeira Lua Cheia do ano, embora esse também seja uma nome meramente popular e que nada tem a ver com ciência.
Portugal vai assistir ao único eclipse lunar total do ano na madrugada deste domingo para segunda-feira. É um espetáculo de cinco horas e 25 minutos que, embora não seja tão raro quanto isso — os eclipses do Sol são muito mais raros —, também obriga a uma certa pontaria astronómica para que aconteça. Tem de estar escrito nas estrelas, por assim dizer. Além do mais, este eclipse não vem sozinho: nesta mesma noite vai haver outro eclipse no nosso céu. E outra Lua vermelha que nada tem a ver com a do eclipse.
É verdade que acontece a altas horas da noite, antes do primeiro dia de uma semana de trabalho, mas há realmente muitas conjugações astronómicas que convidam os mais conhecedores, os curiosos (e também os mais corajosos) a ficarem de olhos pregados no céu noite dentro. Em primeiro lugar, a meteorologia vai ajudar: não vai chover — não vai mesmo, diz o Instituto Português do Mar e da Atmosfera — e as nuvens também vão dar tréguas durante quase toda a noite. E em segundo lugar, o horário também tem vantagens: desta vez não precisa de ter vista desimpedida para o horizonte se quiser ver a Lua. Basta ter uma janela virada para poente e não viver num sítio com prédios muitos altos. O único problema pode ser o frio, já que as temperaturas mínimas vão baixar (ainda mais).
Eis aquilo que precisa de saber para entender a Super Lua Vermelha de esta noite.
A fotografia que ilustra este artigo foi captada em Santarém pelo astrofotógrafo Pedro Ré durante um eclipse lunar total.
Porque é que esta é uma Super Lua Vermelha Sangue de Lobo?
Tem (quase) tudo a ver com ciência
Diz-se que este eclipse surge de uma Super Lua porque a fase de Lua Cheia acontece muito próxima ao perigeu — o momento de maior aproximação entre o nosso satélite natural e a Terra — e do ponto máximo do fenómeno. A Lua vai entrar em fase Cheia quando forem 05h16, isto é, apenas quatro minutos depois de o nosso astro vizinho passar no ma zona mais escura da sombra terrestre, ficando totalmente vermelha. Umas horas mais tarde, às 19h59, a Lua Cheia vai ficar a apenas 357.342 quilómetros e 247 metros da Terra. Essa é a segunda maior aproximação da Lua à Terra. A maior de todas acontece a 19 de fevereiro às 09h03, quando a Lua estiver a 356.760 quilómetros e 687 metros do nosso planeta.
Tudo isto vai contribuir para uma Lua que nos parecerá “14% maior, comparando o tamanho com quando está o mais afastada da Terra”, explica Rui Agostinho, diretor do Observatório Astronómico de Lisboa, ao Observador. Além disso, a Lua também será “30% mais brilhante” exatamente graças à proximidade entre ela e a Terra: “Quando há uma lâmpada acesa e alguém aproxima o rosto dela, sente mais luz por milímetro quadrado de cara. Neste caso é o mesmo: ao aproximar-se de nós, a luz que recebemos da Lua atinge a Terra em maior quantidade por metro quadrado. E isso resulta, na linguagem popular, no aumento do brilho da Lua”, descreve o astrónomo.
Além de uma Super Lua, o eclipse desta madrugada vai mostrar-nos uma Lua vermelha ou de sangue. Isto acontece porque, durante um eclipse lunar total, a Lua não desaparece realmente. Em vez disso, quando fica coberta pela sombra terrestre, ganha uma coloração vermelha. Isso acontece por causa de um fenómeno chamado Dispersão de Rayleigh, em que os raios de comprimentos de onda maiores — como é o caso do vermelho — são menos desviados que os outros e, por isso, acabam por entrar na sombra da Terra. É por isso que a sombra do nosso planeta não é realmente escura. Mas voltaremos a este tópico mais à frente.
Portanto, é uma Super Lua. E é uma Lua Vermelha ou de sangue. Mas há também quem lhe chame Lua de Lobo, nome popular que se dá à primeira Lua Cheia do ano. No entanto, esse nome não tem qualquer fundamentação científica, alerta Rui Agostinho: “Eu na brincadeira até já perguntei se é um lobo do Alasca ou um lobo ibérico. Uma pessoa explicou-me que era uma referência normalmente usada na ficção científica, mas ficar-se-á por aí. Do ponto de vista científico não faz sentido nenhum dizer que é uma Lua de lobo, de urso ou de cavalo ou de outra coisa qualquer. Ainda por cima não existe qualquer constelação com esse nome, por isso não há sequer espaço à imaginação por esse lado”. Apenas talvez apenas aos lobisomens, normalmente associados a qualquer Lua Cheia e a sangue… quanto mais a uma como esta.
Como é que tudo vai acontecer?
As cinco horas e 25 minutos de espetáculo
Na sua longa viagem de 365 dias em redor da nossa estrela, o planeta Terra vai ficar entre o Sol e a Lua. Os três astros vão alinhar-se num fenómeno celestial que se chama sizígia, que ocorre quando três corpos celestes pertencentes ao mesmo sistema gravitacional — como os objetos que compõem o Sistema Solar — se alinham no espaço. Quando ficam alinhados, a Terra tapa a luz do Sol que numa situação normal chegaria à superfície lunar. O resultado? Um eclipse total da Lua. Se os três astros ficarem alinhados, assistimos a um eclipse total; mas se não ficarem alinhados, então ocorre apenas um eclipse parcial da Lua. Esta madrugada acontece o primeiro caso. Será o único eclipse total da Lua deste ano. Vai haver outro, mas apenas parcial, a 16 de julho.
https://www.facebook.com/cjpneves/posts/2316690038564904
Para entender o fenómeno é preciso, em primeiro lugar, conhecer como funciona a sombra da Terra. A sombra do nosso planeta tem duas partes: uma menos escura chamada penumbra e outra, no centro desta, que é mais pequena e escura, que se chama umbra. Quando forem duas horas, 36 minutos e 30 segundos da madrugada deste domingo para segunda-feira, a Lua vai começar a entrar na penumbra da Terra e ficará completamente tapada por ela quando forem três horas, 33 minutos e 54 segundos. É a essa hora que começará a entrar na umbra e a ficar vermelha. Vai lá ficar até durante três horas, 16 minutos e 45 segundos. Quando forem seis horas, 50 minutos e 39 segundos, a Lua já terá saído da zona mais escura da sombra da Terra e estará de regressado à zona mesmo escura dela. Às sete horas e 48 minutos em ponto, o eclipse acaba.
Mas a fase mais interessante do eclipse lunar vai acontecer das quatro horas, 41 minutos e 17 segundos até às cinco horas, 43 minutos e 16 segundos. Sim, terá mesmo de acordar a meio da noite se quiser ver este espetáculo único. É durante esse intervalo que a Lua vai ficar toda vermelha e acontece o ponto máximo do eclipse, quando a Lua passa no centro da sombra da Terra. Isso acontecerá às 05h12 de já da manhã segunda-feira.
Como o fenómeno acontece tão tarde (ou tão cedo, conforme a perspetiva), se planeia participar numa atividade de observação noturna, o melhor é agasalhar-se bem e beber coisas quentes. Além disso, como o eclipse durante tanto tempo, também deve preparar alguma comida.
De qualquer modo, se tiver uma janela virada para poente, o mais provável é nem sequer ter de sair de casa para ver o eclipse e o resto deste acontecimento astronómico. Vai tudo acontecer quando a Lua estiver alta no céu, antes de se por. Por isso, a não ser que viva num lugar com prédios muito altos, como numa avenida ou numa cidade muito povoada, é possível que consiga assistir a tudo no conforto do lar.
Porque é que a Lua vai ficar vermelha e não desaparece?
A culpa é da nossa atmosfera
Os eclipses lunares totais acontecem quando o Sol, a Terra e a Lua se alinham e o nosso satélite natural entra no cone de sombra terrestre. Era de esperar que a Lua desaparecesse atrás dessa sombra, uma vez que a Terra taparia a luz do Sol e a impediria de chegar à superfície lunar. E era isso que aconteceria se a Terra não tivesse atmosfera. Só que o nosso planeta tem uma camada gasosa à superfície com 800 quilómetros de altura que absorve a radiação ultravioleta para manter o planeta a uma temperatura viável para o desenvolvimento de vida; e que nos protege de colisão de corpos celestes vindos do espaço. É por causa da nossa atmosfera que a Lua não desaparece durante um eclipse. Em vez disso, fica vermelha.
Há dois motivos para que isso acontece, explica ao Observador o astrónomo Rui Agostinho. Os raios solares que entram na nossa atmosfera e que iriam passar tangentes à Terra — porque não estão direcionados para chegar à superfície — sofrem uma mudança de direção. O que atmosfera faz é defletir ligeiramente a trajetória desses raios solares , fazendo com que os raios que deviam ir em frente acabem por entrar dentro do cone de sombra da Terra. Por isso é que a sombra da Terra não é completamente escura e a Lua não desaparece quando entra dentro dela.
Se fosse só assim, a Lua continuaria com a iluminação que tem naturalmente. Ao invés disso, fica vermelha porque “a atmosfera faz outra coisa”, sublinha Rui Agostinho. “Os raios de luz que entram na atmosfera são compostas por todas as cores, desde o violeta até ao vermelho. Acontece que a atmosfera desvia de maneira diferente a direção desses raios. E os raios azulados são aqueles que são dispersos em todas as direções. Por isso é que o céu é azul”, explica o astrónomo. Ora, se os raios mais azuis são aqueles que ficam dentro da atmosfera, os raios mais avermelhados são os que seguem em frente: “Quanto mais vermelha é a luz, mais em frente ela vai porque menos dispersa é. E quanto mais azul for a luz, mais dispersa é e menos vai em frente. É por isso que a luz que entra no cone de sombra da Terra é essencialmente vermelha”, concretiza o cientista. E é por isso que a Lua, ao ser atingida por esses raios, fica vermelha.
Tudo isto tem uma justificação na física: é a Dispersão de Rayleigh. Segundo essa lei, “a eficiência da dispersão varia com o inverso do comprimento de onda à quarta”, acrescenta o astrónomo. “Quanto maior o comprimento de onda, menor é este efeito de desvio. Ora, os comprimentos de onda maiores são os vermelhos por isso eles são os menos desviados e seguem na mesma trajetória. Os azuis são os que têm menos comprimento de onda, por isso são mais desviados”, finaliza Rui Agostinho.
Onde é que posso ver este eclipse?
Um mapa das observações noturnas pelo país fora
Há muitos locais espalhados pelo país que vão abrir portas para receber os mais curiosos — e mais corajosos e menos sonolentos — por um eclipse que acontece já esta madrugada, numa noite de domingo para segunda-feira, antes do primeiro dia de uma semana de trabalho. Nas ilhas, o Observatório Astronómico de Santana e a Associação de Astronomia da Madeira vão abrir portas para receber os observadores do céu noturno. No Algarve, o Centro de Ciência Viva em Faro também tem uma atividade organizada para esta madrugada, mas tem de se inscrever através do e-mail inscricoes@ccvalg.pt. E quando chegar ligue para Filipe Dias, responsável pelo AstroClube, através do número +351 969 523 661.
Se estiver no Porto e quiser companhia durante o eclipse, o Observatório de Astronomia do Parque Biológico de Gaia vai estar aberto para que o público possa assistir ao fenómeno. A mesma iniciativa foi tomada pelo Observatório Geofísica e Astronómico da Universidade de Coimbra, pelo Centro de Ciência Viva de Constância (Santarém) e pelo Observatório Astronómico do Alqueva (Évora). De resto, também o Observatório Stella Maris, de Cristóvão Cunha, vai receber até 60 pessoas em Aguiar da Beira, distrito da Guarda. Só tem de ligar com antecedência para o número +351 926 670 528 para se inscrever. Clique nos links para saber mais sobre cada uma das atividades.
Se preferir ficar por casa, essa também é uma hipótese a considerar. Basta que tenha alguma janela com vista para poente e que não viva num local com prédios muito altos para conseguir ver a Lua. O eclipse acontece já durante a madrugada, quando o astro já está alto no céu, por isso não necessita obrigatoriamente de ter uma vista desimpedida para o horizonte.
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Como é que o posso fotografar?
Siga os conselhos dos especialistas
O fotógrafo Miguel Ventura, que vai estar em Braga na Casa da Ciência a 9 de março para um workshop sobre astrofotografia, explicou ao Observador que, “num caso de eclipse lunar, ao contrário do que aconselho para astrofotografia, não é preciso fugir das luzes da cidade pois é facilmente observável mesmo da nossa janela”: “Qualquer máquina dá para fotografar. Aqui o mais importante é mesmo a lente. É altamente recomendável uma telezoom, ou seja, uma lente que nos permita ampliar a distância focal”, afirma. Neste caso, Miguel Ventura aconselha os mais inexperiente a usar uma 70-200 ou uma 150-600.
Além do cuidado que deve ter com a lente, também teve ter sempre um tripé consigo, diz o astrofotógrafo, independentemente do tipo de câmara que tiver — mesmo que seja apenas um telemóvel. Aliás, se pretender fotografar o fenómeno com um smartphone, “se a câmara o permitir o melhor é fazer algo como um timelapse”. “Mas num telemóvel mesmo os topo de gama existem limitações, como o zoom, por exemplo”, avisa Miguel Ventura. E acrescenta: “Defendo que estamos longe ainda de um telemóvel estar sequer perto do nível de uma máquina fotográfica”.
Em matéria de edição, Miguel Ventura diz que o mais usual é fazer uma composição de várias fotografias tiradas com cinco minutos de diferença. Se não tem uma experiência na edição de fotografias únicas, este astrofotógrafo recomenda fotografar sobretudo no momento em que o eclipse atinge a plenitude, às 05h12. “Recomendo sempre que, ao tirar as fotos, se mantenha em mente que a Lua, por causa da luz do Sol, é em si um ponto luminoso. Logo, temos de ter especial cuidado a parâmetros como ISO [sensibilidade da câmara à luz], tempo de exposição e abertura da lente”, alerta o artista. Tendo tudo isso em conta, Miguel Ventura recomenda uma ISO 800, tempo 1/500 e uma abertura F8.
Esses conselhos vão ao encontros dos dados por Pedro Ré, o autor da fotografia que ilustra este artigo, ao Observador. Segundo este astrofotógrafo, para conseguir bons resultados o melhor mesmo é usar uma teleobjetiva ou um telescópio. “Quem tiver uma teleobjetiva deve usar uma DSLR no mínimo de 200 milímetros senão não se vê nada, só um pontinho. Mas o melhor era um telescópio: coloca-se a máquina no foco principal do telescópio e fotografa-se”, descreve ele.
Pedro Ré também chama a atenção para o facto de, em fotografias tiradas durante os eclipses, ser preciso reservar um tempo de exposição de alguns segundos, por isso é que “é preciso fazer uma montagem equatorial com seguimento, senão não fica nada de especial”, alerta o fotógrafo. Se não se fizer isso, as fotografias vão sair arrastadas. “Fica tudo arrastado. Mesmo com uma teleobjetiva com 200 milímetros, se se fizer uma exposição com mais de 10 segundos a fotografia já vai sair arrastada”, explica ele.
Vai estar bom tempo?
Espera-se uma noite clara, mas fria
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera diz ao Observador que a noite de domingo para segunda vai ser geralmente limpa e sem chuva, tal como se quer em noite de espetáculo astronómico. Apesar de este sábado ter trazido tempo bastante nublado e alguma precipitação a Portugal Continental e ao arquipélago dos Açores, domingo já vai acordar com outra cara e trazer um tempo mais amigo dos amantes de eclipses.
De acordo com o instituto, pode haver alguns períodos de céu nublado, principalmente no interior norte do país, mas serão apenas pontuais. A acontecerem, acontecerão sobretudo entre as cinco e as sete da manhã, portanto não deverão atrapalhar a visualização do eclipse. O maior problema será mesmo o frio: as temperaturas mínimas vão descer e não devem passar dos 10ºC. Até há locais, mais a norte, onde se prevêem temperaturas negativas, provavelmente entre os -3ºC e o 1ºC.
Como seria o eclipse para alguém que estivesse na Lua?
Um eclipse lunar visto da Lua é um eclipse solar
Se houver alguém na Lua no momento em que o eclipse está a acontecer, o que essa pessoa verá é um eclipse solar: a Terra, que parecerá uma bola escura porque o lado em que está de noite é que o que está voltado para o satélite natural, irá colocar-se progressivamente à frente do Sol até o tapar completamente. No momento em que os três astros estiverem alinhados, a Terra irá parecer uma bola escura circundada por um anel vermelho.
A 15 de abril de 2014, a Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (NASA), a agência espacial norte-americana, fez um vídeo que ilustrava como seria um eclipse da Lua — ou, na perspetiva lunar, um eclipse solar — visto a partir do nosso satélite natural. “Com o horizonte lunar em primeiro plano, a Terra passa em frente ao Sol, revelando o anel vermelho dos amanheceres e entardeceres ao longo do limite da Terra”, descreveu a NASA. Veja como é aqui em baixo.
Este fenómeno é assim tão especial?
Um eclipse também exige pontaria
O eclipse total lunar da madrugada deste domingo para segunda-feira é especial porque é o único a acontecer este ano. Vai haver outro eclipse na noite de 16 para 17 de julho que vai ser visível em Portugal, mas será apenas parcial, isto é, apenas parte da superfície lunar vai ser tapada pela sombra da Terra. De resto, a próxima Super Lua Vermelha será a 26 de maio de 2021 e não será visível no nosso país.
Além disso, há mais um pormenor que tornam os eclipses especiais. Para o compreender precisa de saber o que é um nodo lunar. Imagine que, à medida que a Lua rodeia a Terra, deixa um rasto azul que retrata o trajeto que faz em redor do nosso planeta. Agora imagine uma projeção a amarelo da trajetória aparente do Sol observada a partir da Terra, como se fosse a estrela a andar à nossa volta e não o contrário. Os lugares onde o trajeto da Lua e a projeção da trajetória do Sol se cruzam chamam-se nodos lunares.
Há dois — um descendente, que ocorre a sul da eclíptica, e outro ascendente, que ocorre a norte — e os eclipses só acontecem perto deles. Isto é, só pode haver eclipses quando a Lua se aproxima de um desses nodos lunares. Portanto, para que haja um fenómeno como esses, são precisas três condições: que a Lua, o Sol e a Terra fiquem alinhados; que a Terra fique no meio dos outros dois astros; e que a Lua Cheia aconteça a uma longitude celestial máxima de 11º38′. No caso dos eclipses solares, a lógica é parecida, mas nesses casos é a Lua que tem de estar entre a Terra e o Sol; e a Lua Nova tem de acontecer a uma longitude de 17º25′.
Há outros fenómenos a que possa assistir esta noite?
O outro eclipse da noite e a Lua vermelha antes de o ser
Sim. O primeiro fenómeno a que pode assistir esta noite é a aproximação da Lua Cheia ao perigeu, isto é, ao ponto mais próximo da Terra. Isso mesmo é o que explica o Observatório Astronómico de Lisboa: “Normalmente a Super Lua apresenta-se 30% mais brilhante do que uma Lua cheia habitual. Ora, isto não acontecerá durante um eclipse, em que há uma diminuição de luminosidade. A melhor altura para observar a Super Lua em todo o seu esplendor é, como habitualmente no seu nascimento, que no dia 20 [este domingo] ocorre às 17h06min“, explica o observatório na página de Internet.
Essa Super Lua vai ser vermelha ainda antes de o eclipse começar, antecipam os astronómos. E o Observatório conta porquê: “A Super Lua aparecerá no horizonte como uma Lua gigante avermelhada. Note-se no entanto que este avermelhamento da Lua é diferente do que ocorre durante o eclipse. Enquanto que durante o eclipse a Lua é iluminada por luz avermelhada, durante o ocaso a Lua é iluminada por luz branca que é posteriormente refletida para a Terra e se torna avermelhada quando dispersa na atmosfera terrestre”.
Além disto, há outro eclipse a acontecer esta noite: o de Algol. Esse é um dos nomes dados à segunda estrela mais brilhante da constelação de Perseus, cujo nome científico é Beta Persei. Na verdade, este astro é uma estrela binária: é composto por duas estrelas que orbitam uma em volta da outra. É o mesmo que acontece com Sirius, a estrela mais brilhante no céu noturno, que pertence à constelação de Cão Maior e que pode ser vista a partir de qualquer ponto na Terra. Sírus é um sistema de duas estrelas brancas que orbitam entre si a 20 unidades astronómicas uma da outra — a mesma distância que separa o Sol de Úrano, ou 20 vezes a que separa a Terra da nossa estrela.
Ora, na mesma noite em que vai acontecer o eclipse lunar total, também vai haver um eclipse de Algol. Uma das estrelas que compõem esse sistema binário vai passar à frente da outra na perspetiva de quem está aqui na Terra. O Observatório Astronómico de Santana vai preparar a noite de observação de modo a que os telescópios estejam apontados também a esse fenómeno, que acontece muitas vezes mas que nos pode passar despercebida a olho nu.