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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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The Weeknd. Da Paiva Couceiro para o Passeio Marítimo, todos os dias são bons para jurar amor por Lisboa

Abel Tesfaye despediu-se da paradisíaca Penha de França e em Algés mostrou que sabe o que faz: inícios amorfos de concertos são esquecidos por finais apoteóticos. Foi assim que aconteceu.

Abel Tesfaye, o artista anteriormente conhecido como The Weeknd, teve umas semanas conturbadas antes de subir ao palco do Passeio Marítimo de Algés para o primeiro concerto, há muito esgotado, da segunda metade da tournée de «After Hours til Dawn», de apresentação dos seus dois últimos álbuns de estúdio (respetivamente, After Hours e Dawn FM). Em meados de maio, mudara oficialmente de identidade nas redes sociais, tendo regressado ao nome de batismo e sugerido o iminente fim de The Weeknd. Ficou então por explicar se isso implicaria que esta tournée seria a última oportunidade para ouvir as músicas que compôs nos últimos catorze anos, garantindo apenas que “enquanto The Weeknd já disse tudo o que tinha a dizer”. Já esta semana, estreou na HBO The Idol, a série protagonizada pelo músico que tem sido recebida com pouquíssimo entusiasmo pela crítica.

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Indiferente às polémicas, Abel Tesfaye passou os últimos dias a passear pela Praça Paiva Couceiro, a comer hambúrgueres junto ao Arco do Cego e a partilhar fotografias da sua robot gigante japonesa, que participou ontem pela primeira vez num concerto do artista.

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Decidido a deixar para trás os infortúnios cinematográficos e as paisagens paradisíacas da Penha de França, Abel Tesfaye arranca o concerto pontualmente às oito da noite com Take My Breath, recebido por sessenta mil pessoas de telemóvel em punho, prontas a captar o mais ínfimo movimento do artista que aparece mascarado em palco. Tornar-se-ia logo aí evidente o principal problema do concerto: The Weeknd apostou forte nas luzes, nas pulseiras eletrónicas (salvo seja), numa lua quase à escala 1:1, no cenário e num grupo de bailarinas, mas o concerto parece pensado para grandes estádios, levando a que grande parte do público não conseguisse ver o que se passava em cima do palco, o que foi notório, por exemplo, na constante desorientação dos telemóveis incapazes de perceber para onde deveriam apontar, o que lamentavelmente terá impedido os seus portadores de fazerem inveja aos pobres coitados que não puderam estar presentes.

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Talvez isso tenha contribuído para um início de concerto algo amorfo, apenas contrariado à quarta música, com o sucesso Can’t Feel My Face, seguido da estreia ao vivo de Lost in the Fire, que motivaria a primeira (e maior) explosão de fogo em palco. Apesar de todos estes percalços, era já evidente a competência dos três elementos da banda (em particular do baterista, Ricky Lewis), os méritos vocais de The Weeknd e a qualidade bastante apreciável do som, ao contrário do que por vezes acontece naquele recinto.

O artista começa aos poucos a soltar-se, diz que tinha saudades de Portugal, promete voltar em breve e o concerto, ainda a meio-gás, avança até chegar Starboy, que leva a multidão ao rubro enquanto o cenário da cidade (na qual os três membros da banda estão camuflados, quase invisíveis) vai mudando de cor.

Lá ao longe, a prometida robot revela-se afinal uma simples estátua, que vai girando lentamente, rodeada (pareceu, mas é impossível garantir porque pouco se via do que ali se passava) do grupo de dançarinas. Não cospe fogo, não destrói a baixa da cidade que serve de cenário ao concerto, não compõe poemas em versos alexandrinos acerca de criptomoedas, mas deita luz dos olhos. Apesar de tudo, desiludiu, tamanhas eram as expectativas criadas pela imprensa portuguesa nos últimos dias.

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Até que The Weeknd, já sem máscara, interrompe durante uns segundos o concerto após I Feel It Coming, fica em silêncio, aparentemente comovido, garantindo depois que se sente em casa em Lisboa. Pergunta ao público se morreria por ele, enquanto promete que estaria disposto a morrer por Lisboa, o que galvaniza a multidão para o grande momento da noite, a muito aguardada Die For You. Pouco depois, ao som de I Was Never There, as luzes em redor da estátua-robot convergem para o alto (acompanhadas, claro está, de milhares de telefones) parecendo cravar um buraco no céu enquanto Abel Tesfaye pergunta: “Do you motherfucking love me?” A multidão, rendida, assegura-lhe que sim.

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The Weeknd sabe o que faz e percebe que inícios amorfos são esquecidos por finais apoteóticos, pelo que a partir daqui já só voltará a abrandar muito perto do fim. Ainda aproveita para recordar o concerto que dera precisamente ali, no NOS Alive de 2017, dizendo que foi um dos melhores da sua vida, canta a que diz ser a sua música preferida, The Morning, e os sucessos vêm uns atrás dos outros, primeiro com os apoteóticos Save Your Tears e Blinding Lights, que pela primeira vez não encerrou um concerto nesta tournée, e, no final ainda presenteia o público com Creepin, a versão de Weeknd para o clássico I Don’t Wanna Know, de Mario Winans com P. Diddy e Enya. Em jeito de despedida, já com algum público a abandonar o recinto onde começa a chover, estreia ao vivo Popular e deixa juras de amor a Lisboa, enquanto lá fora, muitas dezenas de pais esperam os filhos, porque hoje até pode ser noite de Weeknd mas amanhã é dia de escola.

Alinhamento:

Take My Breath

Sacrifice

How Do I Make You Love Me?

Can’t Feel My Face

Lost in the Fire

Hurricane

The Hills

Often

Crew Love

Starboy

House of Balloons / Glass Table Girls

Heartless

Low Life

Reminder

Party Monster

Faith

After Hours

Out of Time

I Feel It Coming

Die for You

Is There Someone Else?

I Was Never There

Wicked Games

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