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Tom Holland, autor de “Domínio”: "O Cristianismo tem em si as raízes da sua queda"

"Domínio" é o livro que procura explicar de que forma o Cristianismo moldou o mundo que vivemos hoje. "As nossas raízes cristãs são tão profundas que continuam presentes", diz-nos em entrevista.

A História do Cristianismo confunde-se com a História da Civilização. Daí que Tom Holland tenha escrito Domínio – precisamente sobre a empreitada cristã e sobre o modo como, de Paulo aos dias de hoje, o Cristianismo conseguiu entrar nas consciências e moldar a nossa forma de ver o mundo. Ora, Tom Holland mostra que a influência do Cristianismo vai muito para lá do âmbito religioso e determina até o modo como o Ocidente rejeita a religião.

Tom Holland é autor de vários livros sobre História e Religião, com a Idade Média, o Islão e o Cristianismo entre os temas que mais tem trabalhado. É também autor do programa “Making History” para a BBC4, que é possível ouvir também em podcast.

Até que ponto é legítimo olhar para a História do Cristianismo como uma História de domínio? É possível questionar a própria possibilidade de haver um domínio de uma ideia ao longo dos séculos, seja ela qual for? A verdade é que o Cristianismo de Constantino é muito diferente do Cristianismo de Trento ou do Vaticano II…
Julgo que o ponto está no facto de o Cristianismo não consistir apenas num conjunto de ideias. Na verdade, a sua expressão na história é a de um movimento revolucionário que afectou o modo como toda a cultura se formou, o modo como vemos e percebemos o mundo. E fê-lo de uma forma tão profunda que mesmo hoje, no Ocidente, mesmo que possamos pensar que vivemos num mundo pós-cristão, ainda assim as nossas noções, a nossa moral e mesmo o quadro de sentido em que criticamos e até rejeitamos o cristianismo são cristãs. E a única maneira de o perceber de facto é olhar para o que existia antes do Cristianismo e para o mundo que foi transformado por ele.

A ideia de domínio é possível se considerarmos que o Cristianismo conseguiu dominar os valores naturais, que se tornou o modo natural de ver o mundo. No entanto, há no próprio Cristianismo uma ideia de que, como defendia Lutero, Cristo não preenche a nossa ideia de Bem, subverte-a.
Isso implica a ideia de que há uma espécie de ideia objectiva, quase platónica, de Cristianismo. A minha compreensão não é a de um teólogo, é a de alguém que traça a evolução do cristianismo através da História. E julgo que parte do impacto do Cristianismo vem precisamente de sempre ter havido esta espécie de tensão dentro dele. A tensão entre a ortodoxia, entre a noção de que há uma espécie de sentido e coerência dentro dos credos Cristãos, de tal modo que são estes que definem o Cristianismo, e a ideia de que é o espírito, o impulso para subverter e transformar as estruturas existentes que está no cerne do Cristianismo. De que a Igreja está, ela própria, sujeita a um processo constante de mudança. É claro que Lutero se via a si próprio como alguém que rejeitava o modelo da Igreja vinda da Idade Média; mas em certo sentido, essa Igreja era também ela filha de uma Revolução. Filha daquilo a que no século XI se deu o nome de Reformatio, que atravessou também o século XII de tal modo que aquilo a que hoje chamamos Reforma é uma espécie de actualização disso. Ora, passando para o nosso tempo: é possível ter um Cristianismo sem Cristo? Bom, isso depende fundamentalmente do facto de se ser crente ou não. Se olharmos para o largo espectro do Cristianismo como uma civilização cultural, julgo que é possível. Os pressupostos do Ocidente continuam a ser profundamente cristãos. Não significa isto que as pessoas acreditem que o Senhor Jesus ressuscitou no terceiro dia, mas até o ateísmo é profundamente cristão, no sentido em que é o ponto de chegada de uma lógica que começa com o pensamento Protestante.

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A capa de "Domínio: como o Cristianismo transformou o pensamento ocidental", de Tom Holland (Vogais)

Como é possível falar de um domínio do Cristianismo quando não parece haver sequer uma perspectiva dominante no Cristianismo? Não precisamos sequer de entrar no mundo das heresias, ou das várias heterodoxias do mundo cristão dos princípios, mas mesmo no Cristianismo mais ortodoxo, Agostinho e Tomás de Aquino são diferentes, Tertuliano e Orígenes também….
Isso é um ponto que tem assombrado o Cristianismo desde o princípio dos tempos. A carta de Paulo aos Gálatas é já uma diatribe sobre o modo como Cristo deve ser percebido: quais destas interpretações nascentes sobre o seu nascimento e morte devem prevalecer, e nunca houve um consenso absoluto a este respeito no seio da cristandade. Por outro lado, só quando tentamos sair de uma mentalidade cristã e tentamos imaginar um mundo que não está moldado pelos seus pressupostos é que conseguimos perceber que as tensões e os paradoxos que existem na cristandade não deixam de ser cristãos. Em certo sentido o paradoxo é mesmo a essência do Cristianismo. Daí que o domínio esteja relacionado com a pretensão universal do Cristianismo, com a pretensão de mitigar as diferenças que existiam antes, no mundo Grego e Judaico, entre escravos e livres, homens e mulheres. Se olharmos especificamente para o dilema do cristianismo grego contra o judaico, voltando a Paulo, vemos que desde o princípio que o Cristianismo também alberga controvérsia. Assim, o domínio do Cristianismo gerou oposição, forças de domínio, impulsos persecutórios. Olhando a partir do famoso ensinamento de Cristo, de que os últimos serão os primeiros: o Cristianismo foi o último e tornou-se o primeiro, tornou-se uma força opressiva, de tal modo que renovou a sua própria ideia de que os poderosos devem ser rejeitados. Ora, a rejeição do poder da Igreja é, em si, um impulso cristão. É uma espécie de duplo paradoxo e é esse o grande fascínio da História do Cristianismo.

Mircea Eliade defendia que estudar uma religião a partir do povo acaba por perverter a ideia de Religião, no sentido em que a prática da religião não implica necessariamente um entendimento certo dela. Nesse caso, estudar o domínio da religião cristã não significaria na verdade estudar o domínio do Cristianismo, mas sim estudar a sociedade na sua relação natural com a religião.
Bem, como criações humanas, as religiões são expressão de impulsos próprios do Homem, e o Cristianismo é a versão mais bem sucedida de uma explicação sobre os propósitos do mundo e do Homem. Assim, num sentido puramente Darwiniano, tem de apelar a alguma coisa no próprio Homem. Mas não parece que isso signifique que aquilo que o Cristianismo professa é, de algum modo, auto-explicativo, de tal modo que todos podem chegar naturalmente aos seus princípios. É possível imaginar um mundo em que o Cristianismo não tenha existido. Seria um mundo diferente, mas não há nada de obrigatório ou necessário no Cristianismo. A questão é: o Cristianismo infiltrou-se de tal maneira no nosso modo de pensar que é hoje dificílimo para nós não pensar em termos cristãos. Peguemos num exemplo: dizemos que a religião diz às pessoas como se devem portar. Esta ideia tem dois pressupostos. De que há alguma coisa chamada religião e de que isso é algo que tem uma existência separada do secular. Ora, esta ideia é alimentada por séculos de teologia. Não precisamos de olhar para o que se passa hoje na Turquia ou na Índia para perceber como isto é um pressuposto cultural. A ideia de religião é em si mesma cristã, mas além disso a ideia de que existe para ensinar as pessoas a portarem-se da maneira certa não estaria presente naquilo que religião significaria, digamos, para os Romanos. Religio, para os romanos, seria uma ligação existente entre os Humanos e os Deuses, e era quase como uma espécie de seguro: podíamos pagar para que o Deus cuidasse de nós, mas isto nada teria que ver com ensinar um modo de agir. Daí que só retrocedendo até a uma espécie de mundo pré-cristão é que conseguimos perceber quão cristãos são estes pressupostos.

"Uma das razões fundamentais para o êxito do Cristianismo foi a sua capacidade para, à medida que evoluía, ser capaz de trazer coisas diferentes para diferentes tipos de pessoas. Quando Constantino se converteu, Cristo era a resposta para a pergunta que já ocupara vários Imperadores: “'Como é que posso encontrar um único patrono divino, que modele o papel que o Imperador tem na terra?'”

Porque é que o Cristianismo entrou tão bem em Roma? Na tradição, quando Paulo vai pregar aos gregos só converte Dionísio; no entanto, em Roma o Cristianismo tem uma ascensão muito mais rápida.
Bom, não sei se podemos separar as coisas desse modo. Quando Constantino se converte, a verdade é que as duas partes do Império têm grandes centros Cristãos: Alexandria, Antioquia, Constantinopla, tornam-se grandes centros Cristãos. E julgo que a razão para isso é que, embora o Cristianismo seja um movimento radical de grande mudança, não vem do nada. É uma fusão de diferentes impulsões culturais. Se pensarmos no Império Romano como uma espécie de grande misturada em que pela primeira vez se encontram pessoas com raízes culturais completamente diferentes nas grandes cidades, encontraremos lá judeus, gregos – a tradição filosófica será muito importante – persas, e tudo isso será importante para o Cristianismo. Também Roma será, a própria ideia de Ordem Universal, que Roma acredita personificar, será muito importante para a ideia cristã de que todo o mundo pode ser trazido para o Cristianismo. Isto está presente na própria História do Cristianismo. Trezentos anos depois da morte de Cristo, Eusébio, o grande bispo, faz essa pergunta: porque é que Cristo terá encarnado quando encarnou? E a resposta é que Deus quis que o mundo fosse uno, para ser possível aos apóstolos viajarem livremente através do Mediterrâneo, o grande mar Romano. Deus, para Eusébio, teria criado o Império Romano para facilitar a transmissão da mensagem de Cristo.

A esse propósito, porque é tão importante o elo entre o Cristianismo e a filosofia?
Julgo que uma das razões fundamentais para o êxito do Cristianismo foi a sua capacidade para, à medida que evoluía, ser capaz de trazer coisas diferentes para diferentes tipos de pessoas. Quando Constantino se converteu, Cristo era a resposta para a pergunta que já ocupara vários Imperadores: “Como é que posso encontrar um único patrono divino, que modele o papel que o Imperador tem na terra?”. Constantino conseguiu encontrar o modelo para o seu governo autocrático num Deus que era também uno, de tal modo que o Cristianismo é especialmente indicado para os Imperadores. Ao mesmo tempo, o Cristianismo também é bom para os pobres e oprimidos. De repente são, para uma corrente do pensamento, iguais aos ricos. Ora, o Cristianismo também tem um apelo para os filósofos. Para mim, a figura mais fascinante desse ponto de vista é Orígenes de Alexandria, um grande intelectual, produto ao mesmo tempo das tradições grega e judaica. Orígenes consegue fundir estas tradições de um modo que terá grande influência. Ele explica que há alturas em que o mistério da fé Cristã é de tal maneira absorvente que nem a filosofia consegue responder à ideia de um Deus feito bebé. Ele tem a percepção de que este é um mistério que o espanta tanto a ele como espantaria a qualquer homem. Nesse sentido, a filosofia não dá resposta à verdade que todos são igualmente capazes de chegar à salvação. Orígenes democratiza, a partir do Cristianismo, aquilo que foi durante tanto tempo uma prática de elite — a filosofia. E isto, mais uma vez, com o tempo terá grandes consequências.

Austrian Priest Holds Daily Mass, His Congregation Represented By Photos

"A Civilização Cristã da Idade Média é aquilo de que tudo o resto acaba por brotar. Estabelece ciclos, vivências, aquilo que temos sobretudo a partir do século XI é um modo particular de Cristianismo"

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O mundo Antigo tem uma série de religiões em conflito. No entanto, poucas têm o impulso prosélito do Cristianismo. O Judaísmo é a religião de um povo, os romanos não se importam de temperar o seu culto com outros, porque é que o Cristianismo se quer espalhar?
Se pensarmos no modo como são entendidas as escrituras hebraicas no primeiro século depois de Cristo, não é fácil dar uma resposta a essa pergunta. Isto porque havia várias interpretações da Escritura. De um lado, a ideia de que o Deus de Israel é de Israel, de que aquele é o povo escolhido e que por isso os judeus têm um estatuto privilegiado. Por outro lado, havia uma interpretação que defendia que, como vem no Genesis, Deus criou tudo e, com isso, todos os homens. A pergunta é o que se escolhia enfatizar, o Deus de Israel ou o Deus que criou todo o mundo? Ora, ao longo do primeiro e segundos séculos aquilo que era uma espécie de coexistência foi-se transformando em correntes de existência separada.

De que forma?
A ênfase no Deus de Israel tornou-se aquilo a que hoje chamamos Judaísmo, e a ênfase no Deus criador de tudo e de cada pessoa tornou-se o Cristianismo. Ora, a ênfase do Cristianismo está precisamente neste Criador universal que Paulo identifica como revelado pela Ressurreição. É por isso que ele diz que não existe judeu ou grego, que não há escravo ou homem livre, homem ou mulher, Cristo é universal. Quando se acredita que a salvação é para todos, é preciso partilhá-la com todos. Por isso é que há uma espécie de desejo inerente ao Cristianismo de espalhá-lo pelo mundo. Mas o interessante é que, na verdade, os romanos têm dificuldades com isto. Eles percebem as implicações das Escrituras, percebem o que está em causa mas, ainda assim, querem mantê-lo para si próprios. É por isso que Gregório, o Grande, um aristocrata Romano, tem todo o gosto em mandar missionários para a Grã-Bretanha – porque ela faz parte do Mundo Romano – mas não se interessa muito em mandar missionário para lá daí. Por outro lado, quando os Saxões se convertem, vão sem dificuldade até à Germânia, porque não têm os mesmos problemas. É quando os limites do Império Romano deixam de ser os limites do Cristianismo que este impulso missionário cresce de facto e começamos a ver o seu sentido verdadeiramente universal, que será fundamental para a diáspora europeia em torno do mundo.

"Do mesmo modo que os cristãos baniram o sobrenatural do mundo natural, o ateísmo bane o sobrenatural de todo o mundo. E fazem-no por aquilo que julgam ser razões morais, como se estivessem a trazer as pessoas para a verdade, o que fará deles melhores."

Como é que o Cristianismo se torna de uma religião assente na consciência num sistema de leis? Há conflito entre a religião Cristã e a ideia de Civilização Cristã, em que os pressupostos religiosos se tornam políticos?
Bom, a ideia de Religião Cristã é, só por si, um produto da civilização Cristã. A Civilização Cristã da Idade Média é aquilo de que tudo o resto acaba por brotar. Estabelece ciclos, vivências, de tal modo que aquilo que temos sobretudo a partir do século XI é um modo muito particular de entender o Cristianismo. Aquilo que temos é essencialmente uma tentativa de purificar o corpo de crentes que constituem a cristandade. Isto dará origem aos radicais que veremos chegar à cúpula da Igreja, precisará deles para controlar o Imperador e levá-lo a abdicar de ser o árbitro do sobrenatural que ele sempre foi ao longo dos tempos. O momento mais emblemático desta revolução que subverte as estruturas de poder típicas da Europa e da Ásia é a humilhação do Imperador. Desta revolução nascerá a vontade de fazer o mundo um lugar melhor. Será daqui que nascerão as Universidades ou as figuras dos guerreiros religiosos que espalharão a fé pelas armas. Este movimento gerará, ao mesmo tempo, uma certa ansiedade pelos revolucionários que estão a ir longe de mais. Ora, este movimento é apenas uma expressão dos vários tipos de sociedades revolucionárias que a Europa produziu ao longo dos séculos e que produz ainda hoje. A Idade Média é revolucionária, como será a Reforma, como a França Iluminista, a Revolução Russa ou a sociedade em que vivemos hoje, com os seus impulsos para purificar o mundo e deitar abaixo todas as estruturas opressivas e garantir que o primeiro é o último e o último o primeiro. É nesse sentido que acho que continuamos a ser profundamente cristãos.

Como é que o poder temporal do Papa cresce na Idade Média?
O bispo de Roma reclama a primazia por ser em Roma que estão as relíquias dos martirizados apóstolos Pedro e Paulo. Roma é a capital imperial, mas essencialmente o bispo de Roma é apenas um primus inter pares. O que muda isto é esta revolução do século XI. Porque os reformadores reconhecem no papado uma oportunidade para esvaziar o Imperador dos seus poderes sagrados e tornar a sociedade menos opressiva. A pergunta é se o poder do papa não seria também ele opressivo. Esta é a pergunta clássica que todos os revolucionários farão, e é preciso cuidado com ela porque ao operar a mudança, os revolucionários tornam-se eles próprios no tipo de poder que rejeitaram.

O escritor inglês Tom Holland nasceu em Oxford em 1968

Isso é interessante porque o fim da Idade Média vê surgir a escola de Oxford, de Olivi ou Ockham, como opositores ao poder do Papa. Essa perspectiva poria Ockham como o conservador, opositor da revolução?
Diria que todos os filósofos desse tempo estão imersos no ambiente intelectual do século XI. Acho que todos tomam por garantido que o entendimento que têm da verdade cristã é eterno. Não me parece que restaurem o ambiente pré-século XI. E o que torna radical a reforma protestante é o grau a que tentaram restaurá-lo, ir até a um tempo anterior à revolução Papal e à imergência do bispo de Roma. O que os Protestantes tentam fazer é trazer as pessoas de novo para a luz depois de um tempo de trevas. Ora, o Iluminismo procura fazer a mesma coisa: olha para o Cristianismo como trevas e tenta trazer de volta um tempo anterior e melhor, a Grécia Antiga, por exemplo. Esta contraposição entre a luz e as trevas é, em si, cristã.

O Cristianismo tem em si as raízes da sua queda?
Podemos dizer que sim, tem. Se pensarmos nos profetas hebraicos, eles condenam os ídolos da Babilónia ou de outros sítios como simples pedra ou madeira e rejeitam a ideia de que há algo sagrado nas árvores ou nas montanhas. Banem o sagrado do mundo natural. No princípio da Idade Média, os missionários cristãos fazem o mesmo. São Bonifácio na Saxónia, por exemplo, Isidoro de Sevilha… Eles retiram o sentido de sobrenatural do mundo natural. Na Reforma, os reformadores farão o mesmo: vão às Igrejas e deitam abaixo estátuas de santos ou imagens de Cristo. Fazem pouco dos sacramentos, da liturgia eucarística… Essencialmente, o ateísmo moderno faz o mesmo. Do mesmo modo que os cristãos baniram o sobrenatural do mundo natural, o ateísmo bane o sobrenatural de todo o mundo. E fazem-no por aquilo que julgam ser razões morais, como se estivessem a trazer as pessoas para a verdade, o que fará deles melhores. Em vários sentidos, Richard Dawkins parece-me uma figura marcadamente Cristã. Muito evangélico, mais confiante espiritualmente do que muitos bispos.

O seu livro menciona a derrocada intelectual do Cristianismo em vários sentidos, sendo Darwin um dos grandes adversários deste Cristianismo. Ora, como é que o Cristianismo tem uma capacidade tão grande de enfrentar os adversários intelectuais e de se reciclar a ponto de continuar a durar?
Acho que Darwin é de facto radicalmente anti-Cristão nas suas implicações. E mesmo que ele não tenha cunhado a frase sobrevivência dos mais aptos, ela tornou-se rapidamente a expressão mais clara do pensamento dele. E embora Darwin não fosse um imperialista, esta ideia dá uma licença a quem quer para se portar como quer, para tomar o mundo e fazer o que quiser fazer. Em última análise, isto cabe naquilo que se tornará o fascismo. Os mais fracos podem ser destratados. Algumas pessoas são melhores do que outras. E o choque desta ideia é tão profundo que os cientistas que se opõem a isto tentam provar os seus valores nos mesmos termos, o que obviamente faz pouco sentido. Continuamos firmes na nossa ideia de que os mais fracos devem ser protegidos, de que os mais fortes têm um dever de proteger os mais fracos; e mesmo que já não acreditemos nisto porque acreditamos que Cristo venceu a morte, acreditamos porque vemos que o contrário foi tão mau que não queremos acreditar nisso. E só achamos que o contrário foi mau porque as nossas raízes cristãs são tão profundas que continuam presentes em nós.

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